Radu Jude captura não somente a problemática capitalista da sociedade romena, mas de todo mundo ocidental em fase cada vez maior de exploração e alienação. É uma sátira cínica e seca, filmada sob a luz do absurdo, um senso de melancolia de uma tragédia anunciada. A vida cada vez mais difícil, precarização, trabalhadores constantemente sendo solicitados a fazer mais por menos, lucros cada vez maiores das corporações, exploração de pessoas, exploração de países. O mundo é dos alienados.

O horror praticado em nome de Deus, em nome de alguma ideia abstrata de moral. Horror que se impregna nas pessoas, aliena suas consciências, torna suas vidas mais amargas e sombrias. O protagonista sente esse peso, carrega esse medo, essa melancolia opressiva na alma, essa sensação constante de deslocamento. Cillian Murphy é uma força em cena. A direção é segura e contemplativa. Um belo e triste filme. Uma história que precisava ser contada.

Vai se construindo como um labirinto tortuoso de memórias falsas, mas que podem conter alguma verdade. É intrigante enquanto um filme purgatório, de imagens e palavras em contradição. Confesso que conheço pouco da obra de Alain Robbe-Grillet para pensar melhor o filme. De qualquer forma gosto bastante do senso estético das imagens, do seu desafio em termos de lógica, da atmosfera ilusória. Belo achado!

Talvez a mais estranha adaptação de Crime e Castigo (Dostoiévsky). O visual é inebriante. Aleksandr Sokurov elaborou imagens que parecem se desprender do livro, que nascem do amargor russo, da dimensão singular das obras de Dostoiévsky. O problema é que só funciona para quem já leu o livro. Pode não ser um problema para alguns, para mim é. O filme precisa existir por si mesmo. Ainda vale muito a pena, mas fica o grave porém.