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A conferência de Wannsee, a reunião da UE sobre Gaza e um bom conselho

Daniel Vaz de Carvalho[*]

Cartoon sarcástico sobre a agressividade do imperialismo para com o Irão.

AConferência de Wannsee reuniu líderes das SS e membros da administração nazi, em Janeiro de 1942. O objetivo era assegurar a cooperação e o secretismo na realização da solução final da questão judaica. Uma das principais preocupações era o aspeto “humanitário” das matanças, não em relação às vítimas, mas nos efeitos psicológicos que matanças anteriores tinham feito nos soldados e nas consequências quanto ao apoio da população e credibilidade na defesa da “civilização europeia”, se esta questão fosse conhecida. Manter o secretismo dos crimes nazis tinha também que ver com a atitude de países neutros de que necessitavam e da Cruz Vermelha.

Nos tempos que correm parte destas preocupações parecem ter desaparecido no ocidente quando se trata de “eliminar” os que se opõem a Israel – e regra geral ao ocidente. O secretismo da violação do Direito Internacional, parece não ser grande preocupação nem para Israel nem para os EUA. Na UE é relativamente diferente. A ida de líderes da UE a Telavive, tem pontos que tocam os de Wannsee: matem-nos (o Hamas, isto é, os palestinos, pois, como disse Saramago noutra circunstância, Deus há-de fazer a escolha de uns e outros) mas de forma que não choque as populações e comprometa o que o poder instituído diz que defende.

Criminalizar apoios e reprimir manifestações tem custos. No RU o histerismo chegou ao ponto de o ex-diplomata Craig Murray ser detido por apoiar a causa palestina, enfrentando umainvestigação por terrorismo sem direito a advogado. Declarações claramente genocidas contra os palestinos de responsáveis israelenses, congressistas nos EUA e mediáticos, têm também o conteúdo nazi sobre a eliminação da população da União Soviética.

Um dos problemas dos nazis era matar com eficiência. Métodos anteriores – fuzilamentos em massa, envenenamento em camiões – eram caros e pouco “produtivos” na indústria da morte. Tal é também o problema de Israel, uma média diária de 400 mortes, 1200 feridos, de palestinos é caro e “pouco produtivo”, a este rimo, mesmo admitindo que 30% dos feridos morre, para liquidar metade da população de Gaza, demorariam cerca de 4,5 anos e ainda faltariam mais de 1 milhão de “animais humanos”. Claro que o bloqueio ajuda à sua eliminação pela fome e doença.

As preocupações na reunião da UE foram semelhantes às dos civis em Wannsee. Na UE pediu-se uma “pausa” (vagamente mencionada) e fornecimento de alimentos – sem especificar a qualidade e quantidade, não mexendo uma palha para o concretizar, ficando tudo ao critério da “democracia israelense”, isto é, das práticas nazis em campos de concentração, cuja quantidade de calorias fornecida em certos casos implicava a morte ao fim de alguns meses.

A intenção de expulsar palestinos de Gaza, cujas condições de tal êxodo implicariam sempre crueldade, mesmo que fosse realizável – os países limítrofes não os aceitam – levaria a um movimento destas populações para a Europa. Apesar de Israel ter dito para os palestinos se deslocarem para Sul de Gaza – onde não têm condições de vida – também aí foram efetuados bombardeamentos.

Por tudo isto, Israel tem de realizar a operação terrestre, que está em curso com as dificuldades e custos humanos e materiais previstos para Israel. O prosseguimento destas operações, um processo longo, aumenta a probabilidade de o Hezbollah intervir a Norte. Israel não tem meios de o vencer, foi por eles derrotado em 2006 e desde então o Hezzbollah cresceu muito em efetivos e meios – tal como o Irão. As armas nucleares de Israel, apenas serviriam para sofrer em represália a destruição total, fizesse o que fizesse ao Irão, com mais de 87 milhões de habitantes e 1,5 milhão de quilómetros quadrados.

2 – Terror contra terror

Criminosos, cartoon de Latuff.

Em 2003 as Ed. Europa-América publicaram um livro de Noam Chomsky, intituladoPiratas e Imperadores, o terror que nos vendem e o mundo real. O livro contém escritos de Chomsky entre 1986 e 2002. É de facto estarrecedor. Bem documentado, Chomsky expõe crimes cometidos por Israel ao longo do tempo (e também pelos EUA noutras partes). Dado o que se observa nos escaparates desde há anos, um livro destes é hoje praticamente impossível de ser apresentado ao público: a censura atual, é mais eficaz que o trabalho à posteriori da PIDE, o liberalismo fá-lo na origem pela “iniciativa privada”.

O facto de o SG da ONU ter dito que ação do Hamas não nasceu no vácuo, indignou Israel e “comentadores” ficaram tão escandalizados como virgens pudicas por alguma obscenidade. Diz Chomsky: em 2001, “no campo de refugiados de Maslak, perto de Herat, centenas de milhares de pessoas encontram-se esfomeadas com dúzias morrendo todas as noites devido ao frio e à fome, já vivendo à beira da sobrevivência mesmo antes do bombardeamento”. (pg. 217)

O que os líderes da UE pretendiam de Israel, é descrito por Alexis de Toqueville (1805-1859) em “A democracia na América”: “É impossível destruir pessoas com mais respeito pelas leis da humanidade”, observava com admiração pela forma como os americanos tinham sido capazes “de exterminar a raça índia”, depois de “a terem privado de todos os direitos” e terem-no feito “com singular felicidade, sem derramarem sangue e sem violarem um único grande princípio de moralidade aos olhos do mundo”. (pg. 217)

Nos anos 1980 Shlomo Ilya, líder das FDI no Líbano “disse que a única arma contra o terrorismo é o terrorismo”. O Conceito não é novo. As operações da Gestapo na Europa ocupada também foram justificadas tratando-se de combate ao terrorismo. A uma das vítimas de Klaus Barbie (responsável por enormes atrocidades em França) foi pregado no peito “terror contra o terror”, curiosamente nome adotado por um grupo terrorista israelense e também o título dado pelaDer Spiegel à notícia do bombardeamento americano sobre Tripoli em abril de 1986. Ano em que os EUA também vetaram no CS da ONU uma moção condenando Israel pelas ações no Sul do Líbano. (pg. 73)

Barbie, Ghelen e outros criminosos nazis foram depois recrutados pela CIA para combater a resistência antifascista. Barbie foi encarregado de espiar os serviços secretos franceses; Ghelen organizou ações militares na URSS (Ucrânia) e países do Leste. Foram depois levados para a América Latina, “treinando torturadores com os métodos da Gestapo, ajudando a estabelecer os esquadrões da morte, no contexto de forças de segurança treinadas pelos EUA”. (pg. 168-169)

Diz o embaixador de Israel na ONU: “Israel não está em guerra contra seres humanos, está em guerra contra monstros.” Por certo, as 3 200 crianças palestinas até agora mortas são para certos “comentadores” e políticos “monstros”. Comparem-se aquelas palavras com as do social-democrata Scholz, depois da reunião do CE: “Israel é um país democrático, guiado por princípios muito humanitários, por isso podemos ter a certeza que o exército israelense vai respeitar o Direito Internacional”. Vê-se que o chanceler tem graves problemas no entendimento do real. Claro que omitir as origens dos conflitos é a forma de os manipular. Mas consideram-se democratas…

Israel, violou os acordos de Camp David de 1979 que previam a sua retirada para as fronteiras de 1967 e negociações de paz com os palestinos. Violou os Acordos de Oslo de 1993 ao impedir a Autoridade Palestina de exercer sobre os territórios ocupados. Instalou 600 mil colonos na Cisjordânia, roubando terras aos camponeses palestinos, usando o abastecimento de água como arma, perseguindo, aprisionando e matando, tanto crianças como idosos. O assassinato de Yitzak Rabin, em 1995, eliminou qualquer solução pacífica.

O Hamas foi tornado alvo a abater por representar a revolta contra a opressão. Os países da NATO apoiam osesforços de Israel para se defender e condenam o Hamas pelos seus “terríveis atos terroristas”, mas não reconhecem aos palestinos o direito a defenderem-se.

Perante as crescentes críticas, políticos israelenses e apoiantes do império entram em histerismo, sentem que o tempo está contra o sionismo. Zelensky, queria que a Rússia saísse do CS da ONU, Israel quer demitir o SG. Mas este verbalismo inconsequente só mostra desorientação e receio. O apoio a Israel desvanece-se na opinião pública internacional; internamente aumenta a contestação a Netanyahu. Poucas pessoas, para além de certos “comentadores”, podem justificar as palavras de governantes israelenses ou do senador norte-americano Marco Rubio que apelou ao genocídio dos palestinos em Gaza: são “selvagens” e “devem ser erradicados”. Sem que o entrevistador reagisse a estes comentários. (Intel Slava Z – Telegram, 11/10)

3 - Um bom conselho: não ataquem a Rússia…

Claro que conselhos são inúteis, normalmente só servem para quem não precisa deles, quando muito podem dar-se opiniões ou lembrar certas realidades.

Consta que Montgomery (comandante das tropas britânicas na 2ª Guerra Mundial, depois vice-comandante da NATO) teria dado este bom conselho: “Na primeira página do livro da guerra devia estar escrito: não ataquem a Rússia, Napoleão fê-lo e os russos acabaram em Paris, Hitler fê-lo e os russos acabaram em Berlim”.

A NATO, obedecendo a Washington, pretendeu desestabilizar a Rússia política e economicamente, dominá-la e dividi-la em várias repúblicas independentes. Pensavam que mesmo que a Rússia tentasse resistir, bastaria subornar alguns traidores – como Gorbachev ou Ieltsin – e tudo ficaria bem novamente. (Dimitri Orlov)

O resultado está à vista, o mundo deixou de ser unipolar, os EUA veem o seu domínio fugir-lhe com crises e caos nos seus aliados. As suas ONG procuram ganhar apoios mas custam caro, estão desmascaradas e são cada vez mais ineficazes. Em contrapartida, a Rússia expande a sua influência com a China, tornando-se uma alternativa ao domínio dos EUA e o Sul Global questiona-se: o que têm os EUA e o ocidente para oferecer aos povos? A realidade impõe-se...

O atual conflito Israel-Hamas (chamemos-lhe assim), enquadra-se na nova guerra fria, muito mais perigosa que a anterior, dado que então havia uma paridade que levou ao estabelecimento de tratados de limitação de armas. O alargamento do conflito parece ser inevitável. Israel bombardeia o Líbano e a Síria. O Hezbollah ataca bases israelenses e capturou posições perto da fronteira. Não passam contudo de escaramuças perante o que pode vir. Com apoio do mundo muçulmano, o Irão tem avisado que perante uma ofensiva terrestre em Gaza, teria de intervir, em princípio através do Hezbollah, com toda a probabilidade levando a um confronto direto entre o Irão e Israel.

Os porta-aviões e corpo de combate dos EUA no Mediterrâneo, com navios do RU, não são de molde a acalmarem a situação: a Rússia sente-se diretamente ameaçada. Diz Putin: Porta-aviões americanos estacionados no Mediterrâneo estão dentro do alcance dos mísseis hipersônicos russos no Mar Negro. Este não é um aviso, mas apenas um lembrete. (Geopolitics Live – Telegram, 16/10)

Os EUA não podem admitir uma derrota de Israel. A perda de Israel, e por consequência do Médio Oriente, significaria o colapso da sua arquitetura geopolítica. Para o impedir, embora isto esteja a acontecer paulatinamente, estariam dispostos a levar a guerra da Síria, Líbano, Irão, até à Ásia Central e China. Porém, a Rússia pode tanto tolerar um Irão derrotado como a Ucrânia na NATO. É este o panorama, enquanto as tropas israelenses tentam penetrar em Gaza. Porém Gaza ocupado por Israel, é algo que os povos árabes e o Irão não podem aceitar, essa vitória não representaria o fim da guerra, mas o começo de outras.

Nos EUA assume-se já esta situação. Blinken, definea nova guerra fria contra os “nossos concorrentes [Rússia e China] que têm uma visão essencialmente diferente [da “visão liberal” ocidental] (...) As apostas da competição que enfrentamos não poderiam ser maiores para o mundo e para o povo americano".

Uma comissão bipartidária nomeada pelo Congresso disse que os EUA devem preparar-se para possíveis guerras simultâneas com a Rússia e a China, expandindo suas forças convencionais, fortalecendo alianças e melhorando o programa de modernização de armas nucleares (relatório da Comissão de Postura Estratégica).

Esta confissão de vulnerabilidade e a necessidade de mobilizar aliados para uma guerra pouco fria, sem se preocupar com a opinião das populações, que por definição têm de ter “visão liberal”, tem pela frente a capacidade económica e militar da Rússia e da China. Quanto aos EUA, com a dívida federal a aumentar mais de 1,5 milhão de milhões por ano, como podem sustentar duas ou três guerras, financiar as “quintas colunas” ONG pelo mundo e suportar económica, financeira e militarmente a Ucrânia e Israel?

O apoio a Israel tem desde já custos insanáveis. As nações muçulmanas alinham-se contra os EUA. Os embaixadores árabes agradeceram à China "por defender uma posição justa sobre a questão palestina (...) expressando a esperança que a China continue a desempenhar um papel positivo e construtivo". O resto do mundo toma nota da hipocrisia e atropelo aos mais elementares princípios humanitários e do Direito Internacional, evidenciado na resolução da AG da ONU para uma "trégua humanitária imediata, duradoura e sustentada" em Gaza e a rescisão da ordem de Israel para deslocação da população para o sul, votada por 120 países, tendo contra 14, 45 abstenções.

No Terceiro Fórum Cinturão e Rota, em Pequim, participaram representantes de 140 países e 30 organizações internacionais. Putin foi tratado como convidado de honra. A influência da Rússia faz-se ver no Médio Oriente, África, incluindo a Tunísia, Argélia, Líbia, onde está considerada a possibilidade de usar portos como base para navios da Marinha russa.

Os EUA não poderão acorrer a todos os casos que têm pela frente: Ucrânia, Taiwan, Mar do Sul da China, Irão, Coreia do Norte, alimentar com armamento os aliados da NATO e na Ásia. Israel tem armas nucleares, mas usando-as seria o seu fim. O Irão possui o maior e mais diversificado arsenal de mísseis balísticos e de cruzeiro do Médio Oriente, tendo investido significativamente para melhorar essas armas e capacidade de produção, tornando-se uma ameaça consistente para as forças dos EUA e aliados na região.

A China acelera o desenvolvimento do seu potencial militar: possui mísseis hipersónicos; constrói navios e submarinos tecnologicamente avançados, portadores de mísseis capazes de destruir navios dos EUA; aumenta o seu potencial nuclear ficando com cerca de 1 500 bombas nucleares.

Os EUA/NATO têm superioridade em termos numéricos relativamente à Rússia, desde que a China não entre na equação, porém em termos de qualidade a vantagem é russa quanto a mísseis e mesmo aeronaves. A Rússia dispõe dos mais avançados sistemas de defesa anti míssil como o S-400 e o S-500 projetado para destruir mísseis balísticos e de cruzeiro hipersónicos. Mesmo os S-300 soviéticos, deitaram abaixo 70% dos misseis Patriot com que os EUA atacaram a Síria pelo alegado uso de armas químicas.

A Rússia detém um conjunto de armas estratégicas avançadas, para as quais os EUA não têm defesa, como oSarmat, o super-torpedoPoseidon, os mísseisAvangard (Mach 27),Buresvetnik, além dosKinzal que transformam porta-aviões em peixes num aquário.

Na recente reunião do Clube Valdai, diz Putin: o ocidente “perdeu o sentido da realidade, cruzaram todos os limites possíveis”. “Esqueceram o que são autocontrole e compromisso, querem impor seus interesses a qualquer custo, e veremos o que virá daí”. "Não acho que alguém que tenha juízo são e memória clara pense em usar armas nucleares contra a Rússia". "Na doutrina militar russa existem duas razões para o possível uso de armas nucleares. A primeira é o uso de armas nucleares contra nós, portanto em retaliação". O segundo motivo é “uma ameaça à existência do Estado russo, mesmo que apenas armas convencionais sejam usadas”. “A partir do momento em que um lançamento de míssil é detetado, não importa de onde ele venha – de qualquer lugar nos oceanos ou de qualquer território – num ataque de retaliação, centenas de nossos mísseis aparecerão no ar e em várias direções ao mesmo tempo, que nenhum inimigo terá chance de sobreviver”.

A estratégia de “apoio total a Israel”, como habitualmente, não tem em conta as consequências. Para a China é a liquidação da talvez mais importante via da sua “Iniciativa do Cinturão e Rota”. Para a Rússia é ver-se atacada na Síria e com o seu vizinho Irão, que tem acordos militares com a Rússia e a China, em guerra com Israel e atacado pelas forças dos EUA. E depois?

Depois: ou os povos tomam consciência de que o caminho são negociações e desarmamento ou…estaremosperante o início da 3ª Guerra Mundial, que não seria o idiótico“fim da história” – que deu muito dinheiro ao “filósofo” – mas aconcretização da previsão de Einstein sobre como seria a 4ª:   com paus e pedras.

29/Outubro/2023

Este artigo encontra-se em resistir.info


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