Segundo aIFFHS, que considera apenas os gols marcados em torneios nacionais de primeira divisão e por seleções principais, Zico é o décimo oitavo maior artilheiro da história do futebol, com 556 gols em 777 partidas oficiais.[6] Em 1979, marcou 89 gols, porém 73 gols foram contabilizados oficialmente.[7] Zico é, também, o maior artilheiro da história doEstádio do Maracanã, com 334 gols em 435 partidas. Marcou 137 gols em Campeonatos Brasileiros.
De acordo com o site goal.com, marcou 101 gols de falta em jogos oficiais, sendo o recordista na história do futebol em gols marcados desta forma.[8] Mas esse número foi desmentido pelo próprio Zico no canal do YoutubeCharla Podcast. Considerando sua contagem (que conta jogos amistosos) o Galinho de Quintino teria marcado 84 gols de falta. Muito por conta disso, em 2001 ele foi eleito pela revistaPlacar o maior cobrador de faltas do futebol brasileiro noséculo XX.[9] Já em 2016, em uma pesquisa promovida pelo portalGloboEsporte.com, ele foi eleito por jogadores e por internautas como o maior batedor de faltas brasileiro da história.[10][11]
Mais que um exímio batedor de faltas, Zico apresentava dribles fáceis em seu repertório futebolístico, excelente visão de jogo e uma inteligência acima do normal. Por isso, para muitos jornalistas esportivos, comoCelso Unzelte, Zico foi o mais completo jogador que o Brasil já teve.[12]
Arthur Antunes Coimbra, caçula dos seis filhos do imigrante português deTondela, José Antunes Coimbra[nota 1] — que era um fervoroso torcedor do Flamengo e foi goleiro amador na juventude — com a brasileira Matilde da Silva Coimbra, nasceu às 7h do dia 3 de março de 1953.
Pequeno e franzino, não foi difícil Arthur virar Arthurzinho e depois Arthurzico. Até que uma prima, Ermelinda, reduziu carinhosamente para Zico.
Sobre a carreira do pai, Zico afirmou:
"Ele era goleiro e na época tinha o futebol amador e o profissional. E ele sagrou-se tricampeão pelo Clube Municipal, de 1939 a 1941. Quando foi chamado para treinar no Flamengo, o patrão dele, torcedor do Vasco, ameaçou o emprego dele. Com isso, meu pai indicou Jurandyr, que era seu reserva no Municipal e acabou campeão carioca pelo Flamengo pouco tempo depois."[18]
Além do pai, outros irmãos do Zico até chegaram a virar jogadores. Antunes e Nando, os mais velhos, não tiveram tanto destaque. As estrelas da família viriam depois. Primeiro comEdu, que teve seu talento descoberto pelo América-RJ, onde se profissionalizou em 1966.
Zico jogava num pequeno time de futebol de salão formado por amigos e familiares, oJuventude de Quintino, do bairro deQuintino Bocaiuva, na zona norte do Rio de Janeiro. Além do Juventude, ele passou a praticar o esporte conhecido hoje comofutsal noRiver Football Club, tradicional clube da Piedade, onde um dos professores era Joaquim Pedro da Luz Filho, Seu Quinzinho. No River, seu futebol ainda menino chamou a atenção. Mas seu primeiro clube de futebol de campo foi o Flamengo, para onde se transferiu aos catorze anos de idade, quando em 1967 oradialistaCelso Garcia, amigo da família, assistiu uma partida de Zico em um torneio no River, onde jogava com a camisa doSantos, em que o garoto marcou dez gols em vitória de 15 a 3 de seu time. Garcia o levou para aescolinha de futebol do clube.
Zico só estreou no time principal em 1971, em uma partida contra oVasco da Gama, cujo placar terminou 2 a 1 para o time rubro-negro, em que o debutante deu o passe paraFio Maravilha marcar o gol da vitória.[19] Zico só foi se firmar como titular na equipe em 1974, depois de passar por uma intensa preparação física que incluía dedicação de boa parte de seu dia, desde quando chegou ao clube, em 1967 (quando ainda estava na escola), a um trabalho de fortalecimento muscular, à base principalmente de esteroides anabolizantes (de duas a três injeções, segundo o próprio Zico), devido ao corpo antes franzino. Em 1969, aos 16 anos, Zico foi mandado para aBahia com um grupo de jogadores cariocas para realizar uma avaliação no Fluminense de Feira, mas foi reprovado por seu porte físico voltando ao Flamengo logo em seguida.[20] E devido ao seu franzino corpo de início de carreira e de seu bairro de origem (Quintino), ganhou o carinhoso apelido de "Galinho de Quintino". Ainda atuando pelo time juvenil, participou de duas partidas pela equipe principal do Flamengo noCampeonato Carioca de 1972, o bastante para conquistar seu primeiro título como profissional. Ainda demoraria, entretanto, dois anos para firmar-se no elenco e enterrar a imagem de um jogador de físico fraco, que sucumbia à primeira pancada dos adversários.[20]
Após esses dois anos, em 1974 (quando também recebeu a camisa 10), começava a demonstrar futebol empolgante, com dribles, lançamentos e arrancadas fulminantes em direção ao gol e também a habilidade que lhe caracterizaria, a de cobrar milimetricamente as faltas que batia.[20] Neste ano, conquistou seu segundo Carioca pelo Flamengo, o primeiro como titular e camisa 10, liderando uma equipe jovem em decisões contra as equipes mais experientes de Vasco eAmerica[20] (onde à época jogava seu irmãoEdu). No Campeonato Brasileiro, recebeu sua primeiraBola de Ouro da revistaPlacar, eleito pela publicação o melhor jogador do campeonato. Nos três anos seguintes, entretanto, Zico viu rivais comemorarem o título estadual: oFluminense deRivellino foi bicampeão em 1975 e 1976 e, mais dolorosamente, o Vasco deRoberto Dinamite levou a taça em 1977 apósTita, tendo a chance de dar o título a seu clube se convertesse sua cobrança, perdeu. A série de pênaltis prosseguiria e terminaria em vitória vascaína.[21]
A partir de 1978, entretanto, o Flamengo ingressaria em um período áureo sob o comando em campo de Zico. Com um futebol quase perfeito, só possível de ser parado com violência,[20] Zico conquistou um tricampeonato carioca, o terceiro do clube,[22] nas edições daquele ano com as duas realizadas em 1979, mesmo ano em que o time conquistaria o prestigiado torneio amistosoRamón de Carranza, com destaque para a vitória por 2 a 1, em que ele marcou um dos gols, sobre oBarcelona deJohan Neeskens,Allan Simonsen,Hans Krankl eCarles Rexach.[23] Em 1979 ele também marcou seu 245º gol, em partida contra oGoytacaz, superando, ainda aos 26 anos,Dida como o maior artilheiro da história do Flamengo. No ano seguinte, viria finalmente o inédito título noCampeonato Brasileiro. As finais foram contra oAtlético Mineiro deReinaldo,Toninho Cerezo eÉder. Contundido, Zico não jogou a primeira partida, em que os alvinegros venceram, noMineirão, por 1 a 0. Voltou ao time no jogo de volta, no Maracanã, tendo dado passe para o primeiro gol e marcando o segundo do Flamengo na vitória por 3 a 2 que lhe deram pela primeira vez às suas mãos a taça de campeão nacional,[24] compensando a decepção no Carioca, onde Zico vê os rivaisVasco eFluminense decidirem o título. Ainda em 1980, Zico conquistaria com o Flamengo outros dois torneios amistosos europeus: o Torneio Astúrias e Algarve, com vitórias sobreReal Sociedad eSpartak Sófia; e um bi no Ramón de Carranza, passando porDínamo Tbilisi eReal Betis.[25]
Zico atuando pelo Flamengo em 1981.
Com o título nacional, o clube credenciou-se pela primeira vez para disputar aTaça Libertadores da América. Na primeira fase, por ter empatado em número de pontos com o Atlético Mineiro, uma partida de desempate foi marcada — o confronto ocorreu noEstádio Serra Dourada. A polêmica partida foi encerrada aos 37 minutos do primeiro tempo, pois o rival mineiro teve cinco jogadores expulsos pelo árbitroJosé Roberto Wright. O Flamengo foi declarado vencedor e avançou para a fase semifinal da competição, onde superouDeportivo Cali, da Colômbia, eJorge Wilstermann, da Bolívia. Na decisão, encarou os chilenos doCobreloa. Zico marcou os dois gols na vitória por 2 a 1 na partida de ida, no Maracanã. O jogo da volta, no Chile, foi marcado pela enorme violência dos rivais, especialmente de seu zagueiroMario Soto, que agrediu com um anel afiado os flamenguistasAndrade eLico. Os chilenos venceram por 1 a 0 e, pelo regulamento da época, o troféu seria decidido em campo neutro, que foi emMontevidéu, noEstádio Centenario. Zico novamente marcou os dois gols da vitória, dessa vez de 2 a 0, o segundo deles, a dez minutos do fim, em uma de suas mais inesquecíveis cobranças de falta.[26] O título continental foi seguido por mais um Carioca, sobre os rivais do Vasco, em partida dedicada ao técnicoCláudio Coutinho, falecido antes do primeiro jogo da decisão. O Campeonato Carioca já havia reservado a alegria de ter imposto uma goleada de 6 a 0 sobre oBotafogo, devolvendo uma derrota de nove anos antes que ainda ressoava entre as duas torcidas. O ano mágico de 1981 terminava da melhor forma possível: da decisão estadual, o time foi paraTóquio enfrentar osbritânicos doLiverpool naCopa Intercontinental.
A equipe inglesa era amplamente favorita: nos últimos oito anos, havia conquistado cinco vezes oCampeonato Inglês, umaCopa da UEFA e trêsCopa dos Campeões da UEFA, possuindo um elenco de respeitados jogadores dasSeleções Inglesa eEscocesa, que não deixaram de fitar com superioridade os brasileiros no vestiário, antes da partida.[27][28][29] O título mundial, que até então só havia vindo ao Brasil por meio doSantos dePelé, foi conquistado após exibição primorosa do Flamengo, que venceu por 3 a 0. Os três gols, marcados todos ainda no primeiro tempo, saíram de jogadas de Zico: no primeiro e no terceiro, por assistência direta aNunes e, no segundo, marcado porAdílio, após cobrança de falta doGalinho rebatida pelo goleiro adversárioBruce Grobbelaar. Eleito o melhor em campo mesmo sem ter marcado, recebeu como premiação individual um cobiçado carro esporte da patrocinadora da partida, aToyota, juntamente com Nunes; ambos demonstrariam a grande união do grupo, vendendo os veículos e dividindo igualmente o dinheiro entre os jogadores.[20] Ainda antes da partida, ao ser indagado sobre o favoritismo dos britânicos, teria dito:"eles são favoritos sim, mas para o segundo lugar, o que é até muito honroso". Durante ela, desesperado, o goleiro Grobbelaar gritava ao zagueiro e capitãoPhil Thompson:"Joga o Zico para longe, Thompson, joga o Zico para longe, em nome de Deus!". Após, o técnico adversário,Bob Paisley, declarou:"Vocês jogam um jogo que desconhecemos. Vocês dançam, isso devia ser proibido".[30]
Pôster do Mundial de Clubes com Zico em destaque
A Era de Ouro no Flamengo prosseguiu no ano seguinte com a conquista doCampeonato Brasileiro, em campanha destacada por vitórias fora de casa, mais uma resposta às críticas de que o time (e Zico) só jogavam bem noMaracanã:[31] dois 4 a 3, sobreNáutico eSão Paulo; dois 3 a 2 sobre oInternacional eGuarani - nesta partida, Zico marcou os três gols da vitória contra o time deCareca eJorge Mendonça.[31] Para completar, A taça também foi conquistada fora de casa, contra oGrêmio, em vitória por 1 a 0 com nova assistência de Zico a Nunes. OGalinho já havia sido herói no primeiro jogo da decisão, marcando um gol de trivela no canto esquerdo deEmerson Leão, empatando uma partida em casa que já estava acabando.[31] O segundo semestre de 1982 já não é tão bom: voltando de dolorosa eliminação naCopa do Mundo, Zico perde os dois torneios que disputa com o Flamengo. NaCopa Libertadores da América, o Flamengo, como campeão, entra na disputa já na segunda fase do torneio, em um grupo de três times que apontará um dos finalistas. O clube vence os dois duelos contra oRiver Plate e vai à última rodada precisando vencer oPeñarol em casa para forçar um jogo extra - os uruguaios haviam vencido emMontevidéu. No entanto, é o adversário quem vence, em plenoMaracanã - a final, curiosamente, seria novamente contra o Cobreloa. Já o Campeonato Carioca é perdido para o Vasco.
No primeiro semestre de 1983, o Flamengo é eliminado na primeira fase da Libertadores no grupo que dividia com o Grêmio (que fica com a única vaga) e osbolivianosBolívar eBlooming. Paralelamente, porém, o time igualava-se aosgaúchos doInternacional como maior vencedor do Brasileirão, conquistando seu terceiro título. O sabor foi mais especial por ter eliminado no caminho o Vasco, nas quartas-de-final, com Zico marcando o gol do empate (que garantia a classificação flamenguista) aos 44 minutos do segundo tempo.[32] As finais foram contra oSantos. Os paulistas, que aspiravam o seu sétimo título nacional, haviam vencido o jogo de ida por 2 a 1. Na volta, jogando machucado,[33] Zico ruiu o sonho santista ao marcar antes do primeiro minuto, em partida terminada em vitória rubro-negra por 3 a 0. Zico ergueu a taça consciente de que seria sua até então última partida pelo Flamengo: embora ainda não divulgada a transferência, oGalinho já sabia se sua venda para a equipeitaliana daUdinese,[33] em transferência já acertada um mês antes da decisão e mantida em sigilo para eventuais protestos da torcida não atrapalharem a caminhada rumo ao título.[34]
Cobiçado por clubes mais tradicionais do país, comoRoma eJuventus, sua ida à modesta equipe deFriul causou escândalo no resto da Itália. A Federação chegou a suspender a compra, orçada em 4 milhões de dólares (em valores da época) — o maior valor pago até então no país por um jogador —, o que revoltou os moradores deÚdine, que começaram a disparar mensagens deseparatismo. O lema era "ou Zico ouÁustria!", uma referência à época em que a região pertencia aoImpério Austríaco.[35] A ameaça foi levada a sério pelo presidente do país,Sandro Pertini, que enfim autorizou a compra de Zico. OGalinho chegou a Údine tratado desde logo como um rei.[35] Mesmo assim, manteve sua postura humilde e profissional, procurando deixar todos à vontade: um dos reservas do time, Pradella, chegara a ter calafrios e desarranjos intestinais na primeira vez em que foi escalado para jogar ao lado do brasileiro.[36] Dedicado a ajudar o clube a conseguir o título naSerie A, Zico fez sua parte, liderando um time fraco a uma honrosa nona colocação na temporada 1983–84, a quatro pontos do time que ficou na quarta (aInternazionale), que daria vaga para aCopa da UEFA.
Zico marcou 19 gols, apenas um atrás na artilharia do campeonato, que ficou comMichel Platini, da campeã Juventus. O detalhe é que ofrancês jogou seis partidas a mais,[36] muito por conta de uma lesão que Zico sofrera em amistoso contra oBrescia.[35] Jogando muitas vezes machucado, sabendo da dependência que o time tinha em relação a ele, Zico começou a se desencantar com os dirigentes do clube, que haviam prometido formar uma equipe forte o capaz para brigar pelo título, o que não vinha acontecendo - além dele, os únicos jogadores com certo reconhecimento eram seu colega de Seleção (e futuramente também de Flamengo)Edinho e um veterano ex-jogador daSeleção Italiana,Franco Causio, com quem fazia dupla no meio-de-campo. Começou a sonhar com sua volta ao Flamengo.[36] A segunda temporada acabou marcada pela luta para não cair, com ele jogando apenas quinze vezes, mas ainda assim marcando doze gols.[36] Outro motivo para o seu desejo em ir embora era o processo que sofria na Justiça Italiana por supostamente enviar ilegalmente dinheiro ao Brasil, que só mais tarde terminaria em sua absolvição.[35] Em entrevista à revista inglesaFourFourTwo, Zico esclareceu o ocorrido:
“
Assinei um contrato de uso de imagem no Brasil e, na Itália, o presidente da Udinese acertou um outro contrato de publicidade. Seria preciso uma autorização da receita federal italiana para que eu pudesse fazer publicidade na Itália. Respeitei isso e cumpri meu outro contrato. Mas aí os agentes da receita entraram com uma ação contra mim e tive que apelar. Mostrei, então, o contrato que tinha assinado no Brasil, que respeitava as leis brasileiras, e provei que pagava impostos corretamente. O engraçado é que acabei pagando mais impostos do que um cidadão de Udine normalmente pagava. Paguei algo próximo de US$ 500 000 e fui processado por sonegação devido a um erro contratual. Apelei e fui totalmente absolvido. Era totalmente legal e não fiz nada para evitar pagar meus impostos. Só que a imprensa não mencionava isso.[28]
”
Zico não deixou de reproduzir na Itália sua jogada característica, apavorando os goleiros adversários com suas cobranças de falta, gerando até acirrados debates nos programas esportivos nos canais de televisão do país: "Como evitar os gols de Zico?", discutiam.[36] Em sua passagem pela Udinese, Zico marcou 17 gols de falta dentre seus 57 gols.[36] Dos gols "normais", dois são lembrados em especial: o da vitória de 1 a 0, em novembro de 1983, marcado aos 41 minutos do segundo tempo, sobre a então campeã, a Roma, que nunca havia perdido para a Udinese.[37] Outro foi uma bicicleta em sua estreia no míticoEstádio San Siro, em jogo contra oMilan, diminuindo no final da partida o placar para 3 a 2 - ainda arranjaria tempo para dar assistência a Causio para o gol de empate.[35] Foi também muito aplaudido e teve o seu nome gritado e cantado pelas torcidas adversárias, fato que ocorreu contra oAscoli,Genoa eCatania.[35] Contra o Ascoli, torcedores, repórteres e até o goleiro adversário o aplaudiram após ter feito um lindo gol. EmGênova, o estádio inteiro cantou o seu nome e em Catania os torcedores do time rival não só gritavam e cantavam o seu nome como também torciam por ele: todas as vezes que ele tocava na bola era ovacionado e quando surgia uma falta próximo a área, clamavam para que Zico a cobrasse.
Ao terminar a partida, o jogador brasileiroPedrinho, do Catania (e seu colega na Copa de 1982, além de ex-adversário de Vasco), foi indagado por um repórter: "Vocês poderiam ter vencido o jogo?". E ele respondeu: "Como poderíamos se até a nossa torcida estava torcendo pelo Zico?".[35] Em uma pesquisa realizada em novembro de 2006 pelo jornal italianoLa Repubblica[38] sobre os maiores jogadores brasileiros na Itália, Zico aparece em primeiro, à frente deMazzola,Falcão,Careca,Ronaldo eKaká, dentre outros. Seu carisma e talento continuaram a ficar no coração do torcedor da Udinese mesmo após sua saída: em 1989, quatro anos após ter deixado o clube (que caíra para aSerie B duas temporadas após o ídolo ter ido embora), lotou o Estádio Comunale del Friuli na partida que marcava a sua despedida da Seleção Brasileira.[36] Vinte anos depois, em novembro de 2009, oGalinho recebeu a cidadania honorária de Udine. Quem sintetizou de forma mais aprimorada a grande metamorfose operada por ele na cidade foi um jornalista do "Il Gazzettino de Veneza", profissional encarregado de segui-lo, Luigi Maffei.
“
Para nós,friulanos, Zico tem o mesmo significado de um motor daFerrari colocado dentro de umFusca. Sentimo-nos os únicos no mundo a possuir um carro tão maravilhoso e absurdo.[35]
Após duas temporadas naItália, Zico voltou no segundo semestre de 1985 ao seu clube do coração. O retorno foi possibilitado por uma operação organizada pelaagência de publicidade Estrutural, financiada pelaSulAmérica Seguros e com apoio daRede Manchete, chamadoProjeto Zico, que incluiu a criação de um filme publicitário em que seis garotos fanáticos pelo Flamengo — Cebola, Gênio, Pulga, Bochecha, Limão e G/18 — iam à Itália buscar de volta o ídolo.[39] O primeiro jogo na volta para o Brasil, no dia 12 de julho de 1985, foi um amistoso contra um combinado de craques internacionais, comoPaulo Roberto Falcão,Karl-Heinz Rummenigge,Cerezo eDiego Maradona. O Flamengo venceu os Amigos de Zico por 3 a 1. Zico marcou um gol de falta.Jacozinho, ponta-esquerda doCSA deAlagoas, marcou o gol dos Amigos de Zico. O primeiro jogo oficial, em 14 de julho, foi uma vitória rubro-negra por 3 a 0 sobre o Bahia, com gols de Zico, Tita e Chiquinho.[40]
Os festejos, entretanto, deram lugar à agonia pouco depois, após sofrer falta desleal deMárcio Nunes, em partida contra oBangu. A pancada devastou suas pernas: Zico teve torções nos dois joelhos e no tornozelo esquerdo, contusão na cabeça do perônio esquerdo e profundas escoriações na perna direita.[41] Teve de se submeter a três cirurgias no joelho esquerdo e a longo período de recuperações devido os consequentes problemas musculares. Só optou por elas pois teria de encerrar a carreira se não as fizesse. "Decidi tentar, pois não admitia a ideia de ser obrigado a abandonar os campos. Queria um dia parar com o futebol e não o futebol parar comigo", declarou Zico que, em virtude da recuperação, teve a curvatura da perna esquerda alterada, tendo de alterar também a sua forma de pisar.[41] Havia também a motivação extra pela realização daCopa do Mundo FIFA no ano seguinte. Para voltar a jogar, teve de suportar até oito horas diárias na sala de musculação da Gávea, lutando para conseguir novos centímetros para a perna esquerda, que sofrera atrofia.
A resposta aos que já o consideravam ex-jogador veio em fevereiro de 1986, às vésperas da Copa, em um Fla-Flu. Os festejos rubro-negros antes da partida eram destinados à estreia deSócrates como jogador do Flamengo, naquele dia.[42] Após o jogo, as comemorações deram-se em função da atuação de gala de Zico, que marcou três gols — um de falta — na goleada flamenguista por 4 a 1.[43] No Flamengo, a recompensa viria com o título estadual naquele mesmo ano e, no seguinte, seria o tetracampeonato brasileiro, com a conquista do módulo verde daCopa União, já com ele tendo alterado seu estilo de jogo: substituiu seu ímpeto pela cadência, os dribles rumo ao gol por toques de primeira e lançamentos.[20] A taça de 1987 seria a última levantada pelo Galinho no Flamengo, e não seria reconhecida pelaCBF até 2011, quando foi oficializada como título brasileiro, ao lado do módulo amarelo, que apontou como representantes do Brasil na Libertadores de 1988 os times doSport e doGuarani, respectivamente. Porém, logo em seguida a CBF voltou atrás, reconhecendo somente o Sport como único campeão de 1987 por ordem judicial.[44]
Em 1988, o Flamengo perderia o Carioca para o Vasco (assim como no ano anterior) e, no Brasileirão, seria eliminado nas quartas de final pelo Grêmio. Zico decidiu parar de jogar no segundo semestre de 1989: o Flamengo perdera o Estadual para oBotafogo. Sua última partida oficial no Flamengo terminou da melhor forma: uma goleada de 5 a 0 sobre o Fluminense, emJuiz de Fora, num jogo em que oGalinho não poupou dribles, lançamentos e um inesquecível gol na sua especialidade. "Era tudo o que eu queria. Terminar com um gol e justo do jeito que eu mais gosto: de falta".[45]
Sua última partida pelo Flamengo foi um amistoso contra a World Cup Masters (2 a 2), em 6 de fevereiro de 1990, quando recebeu de presente daPlacar, pelas mãos deJuca Kfouri (então diretor da revista), oTroféu Copa União, ao qual havia levantado em 1987, ao vencer oInternacional por 1 a 0. O público noMaracanã era de cerca de 100 mil pessoas.[46]
Em 1991, retornou ao futebol, para disputar o ainda incipiente futebol japonês. NoJapão, ele atuou pelo Sumitomo Metals e pelo clube originado deste, o atualKashima Antlers, de 1991 a 1994, quando deixou definitivamente os campos. Sua passagem no Japão, junto com outros jogadores famosos já aposentados ou em via de se aposentar, é hoje apontado como uma das maiores razões da popularização e profissionalização do futebol no país, que finalmente promoveria a primeira edição profissional doCampeonato Japonês em 1993. Na final, contra o Verdy Kawasaki (atualTokyo Verdy), recebeu uma das raras expulsões na carreira, ao cuspir na bola por sua irritação com a atuação do árbitro, que estaria favorecendo o adversário (que acabou ficando com o título).[47] Os gols da final, de qualquer forma, saíram de jogadores inspirados por Zico a jogar no recém-profissionalizado futebol nipônico: pelo Kashima, seu ex-colega de FlamengoAlcindo; pelo Verdy, o ex-adversário deVascoBismarck e tambémKazu, japonês que jogava noBrasil. Zico aposentou-se após o término da segunda edição daJ-League, com o Kashima ficando em terceiro na classificação geral. Mesmo não tendo conseguido o título do campeonato Japonês, Zico ficou bastante reverenciado no país, que aprendeu a gostar de futebol muito por conta do carisma e atuações do veterano ídolo,[47] que inclusive ganhou uma estátua em sua homenagem por lá.Oswaldo de Oliveira, que treinaria o Kashima, resumiu a importância de Zico para o clube:
“
O Zico participou da formação do Kashima ainda no início, quando o clube era amador. O conceito dele é fabuloso e até hoje a torcida leva uma faixa para ele em todos os jogos. O Antlers ia ser um clube de fábrica, e o Zico o fez virar grande, lhe deu história e tradição[48]
”
Quando já estava no Kashima, Zico voltou a jogar noMaracanã uma vez, como convidado especial do antigo rivalRoberto Dinamite, para o amistoso de despedida deste, entre Vasco e oDeportivo La Coruña deBebeto, ex-colega de ambos. A ocasião ficou famosa por ter sido a única vez que Zico entrou em campo com a camisa cruzmaltina.[49] Ele continuou a jogar futebol um ano após deixar os gramados, mas na areia. De volta aoBrasil, onde fundou o clube que leva o seu nome, oCFZ (Centro de Futebol Zico), participou pela Seleção Brasileira nos dois primeiros campeonatos mundiais do chamadobeach soccer (1995 e 1996), sendo campeão em ambos e, no primeiro, também o artilheiro e melhor jogador.
Pela Seleção Pré-Olímpica, Zico foi durante o torneio classificatório para asOlimpíadas de 1972 um dos destaques da Seleção, tendo inclusive feito o gol da classificação.[50] Porém, de maneira inexplicada, foi cortado da equipe que foi aos Jogos emMunique. Sua decepção com a ausência lhe fez pensar em parar de jogar, na época.[28]
Mais tarde, a imprensa noticiou que sua não convocação se deu por conta de um problema que seu irmão Nando teve com aditadura militar.[51]
"Eu sempre botei na minha cabeça que fui sacado por causa do futebol, não por causa desses problemas políticos. Realmente todo mundo que comandava era do exército. Era o que mandava na época."
Zico, em entrevista dada em 2011.
Dois anos depois, Zico deu uma entrevista em que informava que pensa que a origem do problema é outra:
“O problema maior aconteceu com o meu irmão Antunes, que não foi convocado para a seleção Olímpica de 1964 porque o meu pai, seu Antunes, não aceitou assinar um contrato de gaveta com o Fluminense e, com isso, o cara que era militar, do Fluminense e da CBD, disse que ele também não iria pra Olimpíada. Em 1969 o Edu não foi, e tudo era comandado por militares. Se tivesse que ter acontecido alguma coisa, eu nem seria levado pro Pré-Olímpico de 1971. Não havia sentido me tirar por causa disso quatro ou cinco meses depois. E não foi só comigo, mas minha família estava escaldada por conta de todas essas histórias."
Descontado seu jogo de despedida em 1989, emÚdine, e partidas por seleções inferiores, Zico atuou por dez anos peloBrasil, marcando 66 gols em 89 partidas, tendo saído como segundo maior artilheiro da Seleção, atrás apenas de Pelé (depois, foi ultrapassado porRomário). Disputou trêsCopas do Mundo, não tendo experimentado o sabor do título mundial. Suas únicas taças pela Seleção foram conquistadas no ano de seu debute, 1976: aCopa Rio Branco, aCopa Roca, aTaça Oswaldo Cruz, aTaça do Atlântico e oTorneio Bicentenário dos Estados Unidos[52] (em que marcou, nos 4 a 1 contra aItália, um de seus gols mais bonitos, driblando três adversários e chutando de pé esquerdo na meta deDino Zoff). Ganhou também a taça Inglaterra-Brasil,[53] disputada num jogo único em Wembley no ano de 1981, quando marcou o gol da vitória de 1 a 0 contra o English Team. Seu debute ocorreu em partida válida pelaRio Branco. Foi contra oUruguai, emMontevidéu. Marcando gol: com a partida empatada em 1 a 1 e comRivellino eNelinho expulsos, Zico fez o gol da vitória em cobrança de falta no final da partida.[54] Apenas em 2009 o Brasil voltaria a vencer a Seleção Uruguaia na casa dela.
Zico foi àCopa do Mundo FIFA de 1978 em momento no qual ainda se firmava na equipe treinada porCláudio Coutinho. O que seria seu primeiro gol no torneio terminou mal anulado: no final da estreia na primeira fase de grupos, contra aSuécia, o árbitro (ogalêsClive Thomas) encerrou a partida no momento em que a bola estava no ar após cobrança de escanteio, antes que o cabeceio dado por Zico a fizesse entrar nas redes. Por razões físicas e uma suposta interferência do comando daCBD na escalação do time, perdeu a posição de titular no terceiro jogo paraJorge Mendonça, passando a entrar no decorrer das partidas. Marcou contra o Peru, de pênalti, seu primeiro gol em Copas do Mundo. Despediu-se da Copa na partida contra aPolônia, a última da segunda fase de grupos, quando sofreu grave problema muscular ao prender o tornozelo em lance com o adversárioZbigniew Boniek[41][55] - se o Brasil passasse à final, Zico não jogaria. A Seleção teve de contentar-se com a decisão do terceiro lugar, conquistada após ficar empatada em pontos e com menor saldo de gols que a anfitriãArgentina, após a vitória desta por 6 a 0 sobre oPeru, o grande escândalo do torneio. Um drama talvez maior veio naCopa do Mundo FIFA de 1982, onde o Brasil vivia enorme favoritismo. Zico marcou quatro vezes no mundial: de falta contra aEscócia, em jogo em que reencontrou três jogadores doLiverpool contra quem jogara seis meses antes:Alan Hansen,Kenny Dalglish eGraeme Souness; dois contra aNova Zelândia (um deles, de voleio); e outro contra aArgentina.
Na partida contra os rivais, também deu passe paraJúnior marcar o terceiro e também envolveu-se no segundo, tendo dado passe paraFalcão assistir aSerginho Chulapa. O jogo foi válido já pela segunda fase, onde um grupo formado também pela Itália daria uma vaga para as semifinais. O Brasil foi ao jogo contra os italianos podendo empatar para passar de fase: ambos haviam vencido a Argentina, mas o Brasil fizera um gol a mais. Tudo deu errado na partida decisiva do grupo. O técnico daAzzurra,Enzo Bearzot, já presenciara as habilidades de Zico em 1979, quando treinou a Seleção do Resto do Mundo em amistoso contra a Argentina comemorativo do aniversário de um ano do título do país na Copa de 1978. Zico chegara aBuenos Aires minutos antes da partida, entrando no segundo tempo. Marcou o gol de empate e levou o time da FIFA à vitória de virada[20] Para anular o Galinho, escalou o violentoClaudio Gentile, que já pararaDiego Maradona, à base de muitas pancadas, na partida contra a Argentina. No único momento em que conseguiu desvencilhar-se da pesada marcação de Gentile, Zico deu o passe para o gol deSócrates, que empatava a partida em 1 a 1.[35]
Em outro momento, o adversário chegou a puxar tão forte a camisa de Zico que terminou por rasgá-la. O lance foi dentro da grande área, mas o pênalti não foi marcado pelo árbitro israelense Abraham Klein. A Itália venceu por 3 a 2 no que Zico, até então empatado com oalemão-ocidentalKarl-Heinz Rummenigge na artilharia do mundial (premiação que ficaria com o carrascoPaolo Rossi, que fizera os três gols da vitória italiana naquela partida e faria outros três depois), considera sua "maior frustração no futebol".[56] A terceira e última Copa de Zico seria a de1986. O Galinho ainda vivia a desconfiança da crítica em relação a seu estado físico após a lesão provocada porMárcio Nunes, doBangu, em 1985. Sua resposta pela Seleção viria em abril, em amistoso contra aIugoslávia. Na vitória brasileira por 4 a 2, marcou outro de seus gols mais bonitos, invadindo a área adversária deixando para trás uma fileira de quatro zagueiros e ainda livrando-se do goleiro antes de concluir para as redes.[45] Ainda assim, em virtude de sua recuperação, foi ao mundial como reserva. Jogou três das cinco partidas do Brasil na Copa, contraIrlanda do Norte, na primeira fase, com o Brasil já classificado;Polônia, nas oitavas de final; eFrança, nas quartas. Não marcou gols, perdendo a melhor chance que teve para fazê-lo, um pênalti contra os franceses. Zico havia acabado de entrar na partida, já empatada em 1 a 1, e feito sensacional lançamento paraBranco, que foi derrubado na grande área pelo goleiroJoël Bats.
Como ainda estava frio na partida, Zico foi bater o pênalti relutantemente, o qual ele mesmo reconheceu ter cobrado mal.[57] O empate perdurou na prorrogação e a vaga nas semifinais foi decidida na série de pênaltis. Escalado para bater novamente, Zico acertou sua cobrança na decisão, mas Sócrates eJúlio César perderiam as suas e o Brasil acabaria eliminado. Foi a última partida oficial do Galinho pelo Brasil — curiosamente, o craque perdeu apenas uma vez pela Seleção em Copas, no fatídico jogo contra a Itália em 1982. NaCopa do Mundo FIFA de 1990, o técnicoSebastião Lazaroni chegou a conversar com Zico tentando fazer o jogador repensar a sua decisão de não disputar o Mundial. O Galinho optou por não jogar mais futebol, tendo outros planos: naquele ano, durante a presidência deFernando Collor, foi Secretário Nacional de Esportes, cargo público que exerceu até o ano seguinte.
"Meu negócio não era fazer graça não, era fazer gol."[58]
Zico, sobre suas características como futebolista.
Zico é reconhecido mundialmente pela sua habilidade nas cobranças de falta. Em 2016, ele foi eleito por especialistas em cobranças de falta como o maior batedor de faltas brasileiro da história.[10] Em uma entrevista, Zico revelou que treinava de 70 a 100 faltas duas vezes por semana.[59]
Seu repertório também inclui os dribles,[60] excelente visão de jogo e uma inteligência acima do normal.[61] Por isso, para muitos jornalistas esportivos, comoCelso Unzelte, por exemplo, Zico foi o mais completo jogador que o Brasil já teve.[12]
Segundo Fernando Calazans, colunista esportivo do jornal O Globo, Zico atuava na função do chamado “número um” no sistema 4:3:1:2, pois desempenhava várias funções, como criar, atacar e defender. Para o colunista, na história do futebol brasileiro somente Zico desempenhou essas funções com a mesma com eficiência, pois participava da marcação, permitindo que seus companheiros pudessem se recompor defensivamente, e atuava como jogador arco-e-flecha (jargão utilizado para se referir a jogadores que têm proficiência tanto na criação ofensiva quanto no poder de finalização).[62][63]
Conforme Mário Magalhães, quando retornou aos gramados após a lesão, seus joelhos já não eram mais os mesmos. Ele passou a exercer a função então denominada ponta-de-lança. Debilitado fisicamente, o Zico passou, sobretudo no segundo tempo, a ficar mais plantado no meio do campo e na intermediária ofensiva, lançando seus companheiros.[64]
Durante a presidência deFernando Collor, Zico foi Secretário Nacional de Esportes. Ocupou o cargo nos anos de 1990 e 1991.
Seu projeto mais conhecido foi a "Lei Zico", que modificou a estrutura do futebol brasileiro, reduzindo o poder dos clubes em relação aos jogadores. Dentre os temas regulamentados pela lei Zico, figuram, por exemplo, a criação do Conselho Superior de Desportos — entidade destinada a fazer cumprir a própria lei — e a organização da Justiça desportiva.[65]
A "Lei Zico", que é como ficou conhecida a Lei no 8 672, foi promulgada em 6 de julho de 1993, e promoveu e concretizou a modernização da legislação desportiva.
Acerca desta Lei, o Professor Álvaro Melo Filho, esclarece os aspectos inovadores trazidos pela normaː[66]
“Com a ‘Lei Zico’ o conceito de desporto, antes adstrito e centrado apenas no rendimento, foi ampliado para compreender o desporto na escola e o desporto de participação e lazer; a Justiça Desportiva ganhou uma estruturação mais consistente; facultou-se o clube profissional transformar-se, constituir-se ou contratar sociedade comercial; em síntese, reduziu-se drasticamente a interferência do Estado fortalecendo a iniciativa privada e o exercício da autonomia no âmbito desportivo, exemplificada, ainda, pela extinção do velho Conselho Nacional de Desportos, criado no Estado Novo e que nunca perdeu o estigma de órgão burocratizado, com atuação cartorial e policialesca no sistema desportivo, além de cumular funções normativas, executivas e judiciais. Ou seja, removeu-se com a ‘Lei Zico’ todo o entulho autoritário desportivo, munindo-se de instrumentos legais que visavam a facilitar a operacionalidade e funcionalidade do ordenamento jurídico-desportivo, onde a proibição cedeu lugar à indução”.[66]
Ainda sobre a lei, o advogado Mauro Lima Silveira nos ensina: “A Lei 8 672, a ‘Lei Zico’, de autoria do Secretário de Esportes Artur Antunes Coimbra jamais teve aplicação, mas teve real influência na ‘Lei Pelé’. Esta simplesmente copiou a maioria dos dispositivos daquela. Impelido por razões que nos fogem discutir, o Ministro Extraordinário dos EsportesEdson Arantes do Nascimento entendeu que a legislação desportiva não deveria chamar-se de ‘Lei Zico’, e sim de ‘Lei Pelé’. E assim nasceu este atentado ao desporto brasileiro, repleto de inconstitucionalidade e desrespeito ao desporto nacional”.[67]
A relação com Collor, considerada harmônica no início da função como ministro, se deteriorou após aliados do ex-presidente reclamarem dos efeitos da Lei Zico. Um dos pontos mais polêmicos da lei foi a captação de recursos financeiros para entidades desportivas através de bingos.[68]
Cobrado por políticos que o apoiavam, o então presidente engavetou o projeto de lei, o suficiente para Zico pedir demissão.[68]
“Aquilo batia de frente com alguns setores que o tinham apoiado. Ele (Collor) engavetou. Ele parou com o contato direto que tinha comigo. Preparei minha carta de despedida, pois não tinha mais o que fazer”.[68]
Após essa aventura na política, Zico voltou aos gramados para jogar no Japão.
Depois de pendurar as chuteiras dos gramados, em 1994. Zico foi jogar futebol de areia. Ele defendeu a Seleção Brasileira de Futebol de Areia entre 1995 e 1996. Nesse período, fez 41 gols com a camisa da Seleção e foi bicampeão do Campeonato Mundial, da Copa América e do Torneio Internacional do Japão.[69]
Além de ser conhecido pelas grandes contribuições dentro de campo, Zico é apontado como um cidadão de respeito, com influência em diversas áreas e ativo em ações sociais. Em 2009, oGalinho criou seu primeiro projeto social próprio, a "Escola Zico", com o intuito de dar aulas de futebol a cerca de 500 crianças matriculadas na rede pública de ensino[70].
Em 2011, o ex-jogador também lançou o projeto "Zico 10 - Rio 2016", com a ideia de levar crianças de favelas ocupadas pela UPP no RJ para escolinhas de futebol. Todos os beneficiados ganharam uniformes e chuteiras, e Zico não escondeu a emoção com o projeto:"Não estamos preocupados em formar jogadores de futebol, mas cidadãos para que nossa cidade volte a ser de novo realmente maravilhosa"[71].
Nem mesmo a idade e os problemas físicos são capazes de afastar o camisa 10 das ações sociais. Em 2024, já aos 71 anos de idade, Zico se tornou embaixador do projeto "Doe gols". Uma das atitudes do ídolo foi doar itens do acervo pessoal, como camisas, bola e ingressos de jogos históricos, para que a verba fosse revertida em prol do projeto.[72]
Apesar de ter sido várias vezes convidado a assumir cargos no Flamengo, Zico relutou em aceitar. Especula-se que isso se deva em grande parte aos rumos tomados pelas administrações do clube carioca, que desde a época de Zico vêm gradativamente acumulando dívidas e maus resultados. Já disse que nunca quer ser técnico do Flamengo para não manchar essa imagem maravilhosa que tem com a torcida. Sua primeira experiência em uma comissão técnica foi como assistente deZagallo, para aCopa do Mundo FIFA de 1998.
Zico foi chamado após resultados medianos do Brasil nos amistosos preparativos[73] - o país não jogara as Eliminatórias por sua classificação automática como campeão da edição anterior. Ficaria marcado por ter sido o encarregado de transmitir aRomário a informação de que este seria cortado. Apesar da decisão ter sido feita por toda a comissão, oBaixinho culparia Zico pelo corte, e apenas em 2009 lhe pediria desculpas.[73] Posteriormente, Zico assumiu interinamente como treinador doKashima Antlers, quando o time passava por uma crise. Era diretor técnico do time, que demitiraZé Mário em razão de maus resultados. Na emergência, Zico comandou a equipe, e sua figura incentivou os jogadores, fazendo o time sair das últimas posições e terminar entre os primeiros daJ-League.[48]
O Japão de Zico reencontraria o Brasil no ano seguinte, naCopa do Mundo FIFA de 2006, com nova eliminação na primeira fase e um futebol aquém do que se esperava.[74] Zico afirmou que fez o melhor que pôde pela Seleção Japonesa e que não se arrependeu de nenhuma decisão que tomou.[carece de fontes?] Apesar de não ter conseguido os mesmos resultados do antecessor, seu trabalho foi reconhecido por ter inspirado melhor postura dos jogadores japoneses, ensinando-lhes a ter mais confiança e capacidade de improvisação.[48] Foi treinando a Seleção Japonesa que Zico desenvolveu o gosto para ser treinador; até então, suas intenções após abandonar os gramados era ser dirigente.[75]
“
Foi uma questão de retribuição pelo que o Kashima e todo o Japão fizeram por mim. Eu não queria de maneira nenhuma seguir como treinador, mas, em um momento difícil, eu assumi. Obtivemos ótimos resultados nesse período e saímos do rebaixamento para o quinto lugar. Entreguei o time aoToninho Cerezo, continuei como diretor, e, quando o presidente do Kashima Antlers assumiu a federação, me fez um pedido bem especial. Acho que faltavam algumas coisas para o futebol japonês dar uma guinada e eu tinha que estar lá dentro para isso. Aí peguei o gostinho e continuei. Deu certo.[75]
Já na temporada seguinte, levou a equipe às quartas de finais daLiga dos Campeões da UEFA, sendo esta a melhor participação de um clube da Turquia no principal torneio europeu de clubes. No jogo de ida, o Fenerbahçe fez valer o mando de campo e venceu oChelsea por 2 a 1.[77][78] Porém, no jogo de volta, em Londres, o time turco perdeu por 2 a 0 e foi eliminado da competição. Apesar do revés, a equipe comandada por Zico saiu de cabeça erguida.[79]
No dia 22 de setembro de 2008, foi contratado para treinar a equipeBunyodkor, doUzbequistão, clube onde já jogava o astroRivaldo, substituindoMirjalol Qosimov, que assumira aSeleção Uzbeque.[80] Zico ficou apenas pouco mais de quatro meses como técnico do Bunyodkor, o suficiente para trazer mais mídia para o futebol local, para conquistar a Copa do Uzbequistão de 2008,[81] em cima do rivalPaxtakor e deixá-la na liderança doCampeonato Uzbeque, que o clube posteriormente também venceu. Além disso, o clube também chegou às semifinais daLiga dos Campeões da AFC.
Em 9 de janeiro de 2009, anunciou a troca do Bunyodkor peloCSKA Moscou, substituindoValeriy Gazzayev.[82] Estreou na fase decisiva daCopa da UEFA contra oAston Villa e a equipe se classificou para as oitavas-de-final da competição após um empate em 1 a 1 na primeira partida e uma vitória por 2 a 0 no jogo de volta, em casa.[83] Porém, na fase seguinte, o seu clube foi eliminado peloShakhtar Donetsk, daUcrânia, e futuro campeão do torneio. No comando do CSKA, levou o time a conquistar aCopa da Rússia e aSupercopa da Rússia em 2009. Apesar dos títulos, foi demitido do clube no dia 10 de setembro.[84][85]
Em 16 de setembro, oOlympiacos anunciou sua contratação por dois anos. A decisão foi surpresa até para a família. Zico já assiste a partida contra oAZ Alkmaar, noEstádio Karaiskakis emAtenas, pelaLiga dos Campeões da UEFA.[86] Em 19 de janeiro de 2010, o clube anunciou o "fim de sua cooperação com o treinador" em um breve comunicado no site oficial.[87][88]
Em 25 de agosto de 2011, embarcou para oIraque para assumir a seleção do país com o principal objetivo de classificar a seleção para aCopa do Mundo FIFA de 2014. O contrato assinado tinha validade até 2014, mas a ideia era permanecer até 2018.[89]
Em 27 de novembro de 2012, anunciou, através de uma nota em seu site, o desligamento da Seleção Iraquiana por descumprimento de algumas questões contratuais pela Federação Iraquiana de Futebol.[90][91]
Em agosto de 2013, após quase um ano desempregado, foi anunciado como novo técnico doAl-Gharafa, doCatar, sendo esta sua segunda experiência no futebolasiático.[92] Zico foi demitido após sofrer três derrotas seguidas e deixando o Al-Gharafa na sétima colocação do campeonato, sem chances de título.[93]
No dia 2 de setembro de 2014, em um projeto pioneiro de difundir o futebol pelo mundo, tal qual já havia feito no Japão, Zico assumiu o comando doGoa, time de futebol da Índia. Logo após sua chegada o clube postou em seu site oficial:" - A Lenda está aqui, seja bem vindo Zico.[94]
Em sua primeira temporada, levou o modesto Goa à semifinal daSuperliga Indiana.
Após três temporadas, deixou o clube no dia 13 de janeiro de 2017.[95]
Como treinador, Zico tem um estilo inspirado emTelê Santana: é detalhista, treina muitos fundamentos (passe, domínio, cruzamento, cabeçada, etc.) e não é de ficar gritando na beira do gramado.[96]
No dia 30 de maio de 2010, a convite da presidente do Flamengo,Patrícia Amorim, assumiu o cargo de diretor executivo de futebol do clube.[97] No dia 1 de outubro, anunciou, em seu site pessoal, o pedido de demissão do cargo, segundo ele, por pressões sofridas dentro do clube.[98]
Oito anos depois, em julho de 2018, foi anunciado como diretor técnico do Kashima Antlers.[2]
Em 16 de fevereiro de 2011, foi anunciado como comentarista esportivo noEsporte Interativo.[99] Fez sua estreia no dia 22 de fevereiro, na partida entreLyon eReal Madrid.[100]
Em 28 de abril, estreou o seu próprio programa, também na TV Esporte Interativo, "Zico da Área" com ojornalista esportivoMauro Beting e a participação do ex-futebolistaBebeto. O programa foi semanal, toda quinta-feira às 20 horas e 30 minutos e teve a duração de 1 hora.[101][102]
Em 2022 estreou um talk show noBandSports, o "Resenha do Galinho".[104] Em 2023, o programa passou a ser exibido naJovem Pan News.[105] Em 2024, o Resenha do Galinho voltou para a Band, agora exibido durante a madrugada de segunda para terça.
Zico descende de portugueses tanto pelo lado materno como pelo lado paterno. O seu avô materno, Arthur[106] Ferreira da Costa Silva era deOliveira de Azeméis e emigrou para oRio de Janeiro nos últimos anos do século XIX. Estabeleceu-se com uma fábrica decerâmica no bairro deQuintino. A mãe de Zico, Matilde Ferreira da Costa Silva (19 de janeiro de 1919 — 17 de novembro de 2002), nasceu já no Brasil. O avô paterno, Fernando Antunes Coimbra, nasceu e viveu a maior parte da sua vida emTondela. É aí que nasce José Antunes Coimbra (10 de junho de 1901 — 12 de novembro de 1986), que viria ser o pai do jogador. José Antunes Coimbra, aos 10 anos de idade, juntamente com sua família, emigra para o Brasil. Ainda que tenha saído de Portugal muito jovem, José sempre guardou uma grande ligação ao seu país de origem. Era, aliás, torcedor doSporting Clube de Portugal, portanto seguiu durante grande parte de sua vida os relatos dos jogos de seu clube através da rádio.
Matilde Ferreira da Costa Silva e José Antunes Coimbra conheceram-se em 1926, José Antunes tinha 25 anos e era motorista na fábrica de cerâmica do pai de Matilde; esta tinha apenas sete anos de idade. Casaram 17 anos depois, em 1943; ela com 24 anos, ele já com 42. Do casamento nasceram seis filhos, cinco homens e uma mulher: a mais velha Zezé, Antunes (falecido em 8 de janeiro de 1997), Zeca, Nando,Edu e Tunico, e finalmente Zico.[107] Zico nasceu na rua Lucinda Barbosa, número 7 em Quintino, às 7h00 de parto natural. O nome Arthur foi escolhido pela mãe por causa de seu avô (que viria a falecer um ano depois). Zico conheceu Sandra Carvalho de Sá, que vem a ser irmã de Sueli, a esposa de seu irmão Edu, em 1969, em treinamento do Flamengo: ela passava pelaGávea para suspirar por seu ídolo do elenco flamenguista, o galãargentinoNarciso Doval. Em 23 de agosto de 1970, Zico e Sandra começam a namorar e casaram-se em 18 de dezembro de 1975, na igreja de São José, na Lagoa.[108] Zico e Sandra têm três filhos: Arthur Antunes Coimbra Júnior (nascido em 15 de outubro de 1977),Bruno de Sá Coimbra (nascido em 16 de outubro de 1978) e Thiago de Sá Coimbra (nascido em 6 de janeiro de 1983).[109]
Abaixo estão listados todos jogos e gols do futebolista pelaSeleção Brasileira, desde as categorias de base. Abaixo da tabela, clique em expandir para ver a lista detalhada dos jogos de acordo com a categoria selecionada.
Zico anotou 836 gols em toda sua carreira; 527 gols em partidas oficiais (Primeira divisão,Seleção Brasileira, copas nacionais e internacionais) e 309 em torneios não-oficiais, juvenil e amistosos.
Abaixo estão listados todos jogos do treinador pelaSeleção Japonesa. Abaixo da tabela, clique em expandir para ver a lista detalhada dos jogos de acordo com a categoria selecionada.
Abaixo estão listados todos jogos do treinador pelaSeleção Iraquiana. Abaixo da tabela, clique em expandir para ver a lista detalhada dos jogos de acordo com a categoria selecionada.
A última vez do galinho com a amarelinha aconteceu no dia 27 de março de 1989, num jogo entre a Seleção Brasileira e uma equipe representando oResto do mundo. A equipe doResto do mundo venceu, por 2 a 1, o Brasil. O jogo foi realizado noEstádio Friuli, em Údine, na Itália, com o público de 41 mil pessoas. O evento foi promovido pela comissão italiana daCopa do Mundo FIFA de 1990.
A despedida do maior ídolo e artilheiro da história do Flamengo e do Maracanã é marcada, em 6 de janeiro de 1990, por um jogo em que o Flamengo e a Seleção de craques nacionais e internacionais "World Cup Master" empataram em 2 a 2. O jogo foi realizado no seu palco principal, o Maracanã e teve um público de 150 mil pessoas, sendo 90 mil pagantes.
Em 10 de outubro de 1994, "God Soccer" como é conhecido por lá, despediu-se em definitivo do futebol japonês e mundial num evento promovido pelo clubeKashima Antlers, num jogo em que enfrentou um combinado de estrangeiros que atuavam no futebol japonês. O jogo terminou empatado em 4 a 4 e o público foi de 38 mil pessoas, capacidade máxima do estádio.
Zico 60 Anos (Arlindo Cruz, Evandro Bocão, André Diniz, Rogê e Marcelo Tijolo. Samba gravado por vários artistas em homenagem aos 60 anos de Zico - 2013)
Arthur X - O reino do galinho de ouro na corte da Imperatriz (Samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense - 2014)
1Placar passou a entregar o prêmio, destinado ao dono da média mais alta naBola de Prata, a partir de 1973. Na cerimônia de 2013, premiou Dirceu Lopes por ter a melhor média de 1971.Francisco Reyes eElías Figueroa, respectivamente os melhores de 1970 e 1972, ainda não foram anunciados como premiados.
1 Ainda não há uma lista oficial. Há veículos que apontam como artilheiros os três jogadores de clubes que vieram do módulo azul, virtual primeira divisão, que marcaram, cada um, 20 gols; e outros que entendem que a artilharia é exclusiva deAdhemar, que somou 22 gols em jogos do módulo amarelo e fase final.