Após a guerra, foi nomeado diretor doInstituto Kaiser Wilhelm de Física, que mais tarde passou a ser denominadoInstituto Max Planck de Física. Ele dirigiu o instituto até sua transferência para Munique em 1958, quando foi ampliado e renomeadoInstituto Max Planck de Física e Astrofísica. Heisenberg foi ainda presidente doConselho de Pesquisa Alemão, presidente da Comissão de Física Atômica, presidente do Grupo de Física Nuclear de Trabalho, e presidente daFundação Alexander von Humboldt.
Werner Karl Heisenberg nasceu emWürzburg, Alemanha, filho de Annie Wecklein e Karspar Ernst August Heisenberg,[1] um professor secundarista de línguas clássicas que se tornou o únicoordentlicher Professor (professor ordinário) de estudos medievais egrego moderno no sistema universitário da Alemanha.[2]
Heisenberg em 1926.
Heisenberg foi criado e viveu como um cristãoluterano.[3] Sua autobiografia começa com o jovem Heisenberg no final da adolescência, lendo oTimeu dePlatão durante uma caminhada nos Alpes da Baviera. Heisenberg recontou as conversas filosóficas com seus colegas estudantes e professores sobre a compreensão doátomo enquanto recebia seu treinamento científico em Munique, Göttingen e Copenhague.[4] Heisenberg afirmaria mais tarde que "Minha mente foi formada estudando filosofia, Platão e esse tipo de coisa".[5] e que "a física moderna definitivamente decidiu a favor de Platão. Na verdade, as menores unidades de matéria não são objetos físicos no sentido comum; sãoformas, ideias que podem ser expressas de forma inequívoca apenas em linguagem matemática".[6]
Em 1924 Heisenberg tornou-se assistente deMax Born nocentro universitário deGöttingen, transferiu-se paraCopenhague, onde trabalhou comNiels Bohr. No ano seguinte desenvolveu amecânica matricial, o que constituiu o primeiro desenvolvimento damecânica quântica. Em 1927 passou a ensinar física naUniversidade de Leipzig, onde enunciou oPrincípio da incerteza, segundo o qual é impossível medir simultaneamente e com precisão absoluta aposição e omomento linear de umapartícula, isto é, a determinação conjunta do momento e posição de uma partícula, necessariamente, contém erros não menores que aconstante de Planck. Esses erros são desprezíveis em âmbitomacroscópico, porém se tornam importantes para o estudo de partículas atômicas; as duas grandezas podem ser determinadas exatamente de forma separada, quanto mais exata for uma delas, mais incerta se torna a outra.
Heisenberg participou dasconferências de Solvay de 1927 (Elétrons e fótons),[7] 1930 (Magnetismo)[8] e 1933 (Estrutura e propriedades dos núcleos atômicos).[9]
Apesar de controvérsias sobre seu trabalho em pesquisanuclear durante aSegunda Guerra Mundial, Heisenberg não era favorável aoregime nazista, tampouco à construção debombas atômicas. Como explica em seu livro "A Parte e o Todo" (Editora Contraponto, 2007), temia, em 1933, pelos rumos que aAlemanha poderia tomar com a ascensão deHitler ao poder. Após a expulsão de vários de seus colegas judeus que eram professores naUniversidade de Leipzig, viajou aBerlim para conversar com seu amigo,Max Planck, de quem recebeu orientações.[10][11] Heisenberg pretendia, como havia combinado com outros de seus colegas alemães emLeipzig, realizar um processo de demissão coletiva dos professores nas universidades, como forma de protesto aoantissemitismo de Hitler. No entanto, Planck o advertiu de que isso não seria entendido pelas massas, que apoiavam Hitler naquele momento, e que o único efeito seria taxá-los de antipatrióticos e arruinar suas carreiras. Planck, então, falou sobre a ideia que tinha para si. Ele pretendia permanecer na Alemanha, por alguns motivos. O primeiro deles era: físicos de renome, como ele, teriam muita oportunidade em qualquer lugar do mundo. Sendo assim, seria melhor deixar para físicos não tão conhecidos as vagas de trabalho no exterior, tão procuradas. Outra razão era que Planck queria retardar o desenvolvimento da bomba atômica e acreditava que isso seria mais fácil se permanecesse na Alemanha. Por fim, reunir novos jovens que também tivessem interesse nafísica atômica, para que, após o "caos" (como se referia ao regime nazista), houvesse, na Alemanha, bons físicos, que pudessem continuar fazendo pesquisa neste ramo.[12] Heisenberg, então, voltou para Leipzig convencido de que deveria ficar em seu país, pelos mesmos motivos de Planck.
Conferência de Solvay de 1927. Na fila superior, Heisenberg é o terceiro a partir da direita.
Após o início da guerra, veio o interesse de Hitler pela bomba atômica. No entanto, Heisenberg e outros físicos que também haviam permanecido na Alemanha e foram convocados pelo governo mostraram aos militares que não seria viável, por falta de tempo e de recursos, construir uma bomba atômica em tempo suficiente para que pudesse ser usada na guerra, convencendo os alemães a desistirem dessa ideia, mas continuando a investir em física atômica.
Otto Hahn, descobridor da fissão do urânio, ficou abalado quando soube que, em 6 de agosto de 1945, osEstados Unidos lançaram a "Little Boy" emHiroshima.[13][14] Como diz em seu livro, Heisenberg inicialmente relutou em acreditar na possibilidade da construção de uma bomba atômica em tão pouco tempo,[13] mas em uma conversa grampeada pelos britânicos, noFarm Hall, revelou que como alemão ficou muito feliz por terem construído um motor de urânio "e não uma bomba".[14] Segundo opinião deGiacomo Grasso, Heisenberg tentou "evitar ou pelo menos atrasar o máximo possível que os nazistas tivessem o poder atômico. Toda a comunidade científica da época estava surpresa pelo atraso mostrado pelos alemães em ter um programa nuclear".[15][11]
Heisenberg gostava demúsica clássica e era um pianista talentoso.[16] Seu interesse pela música o levou a conhecer sua futura esposa. Em janeiro de 1937, Heisenberg conheceu Elisabeth Schumacher (1914–1998) em um recital privado de música. Elisabeth era filha de um conhecido professor de economia de Berlim, e seu irmão era o economistaE. F. Schumacher. Heisenberg casou-se com ela em 29 de abril. Os gêmeos fraternos Maria e Wolfgang nasceram em janeiro de 1938, quandoWolfgang Pauli parabenizou Heisenberg por sua "criação de pares"—um jogo de palavras sobre um processo da física de partículas elementares,produção de pares. Eles tiveram mais cinco filhos nos 12 anos seguintes: Barbara, Christine,Jochen, Martin e Verena.[17][18]
"A transição do 'possível' para o 'atual' ocorre durante o ato daobservação. Se quisermos descrever o que acontece no evento atômico, temos que perceber que a palavra 'acontece' pode se aplicar apenas à observação, não ao estado de coisas entre duas observações. Aplica-se ao ato físico de observação, e podemos dizer que a transição do "possível" para o "atual" ocorre assim que a interação do objeto com o dispositivo de mensuração, e, portanto, com o resto do mundo, entrou em jogo; não está conectado com o ato de registro do resultado pela mente do observador."
Heisenberg admirava também afilosofia oriental e viu paralelos entre ela e a mecânica quântica, descrevendo-se como "totalmente de acordo" com o livroO Tao da Física. Heisenberg chegou a afirmar que, após conversas comRabindranath Tagore sobre afilosofia indiana, "algumas das ideias que pareciam tão malucas de repente fizeram muito mais sentido".[21]
Um cristão devoto,[22][23] Heisenberg escreveu: "Podemos nos consolar que o bom Senhor Deus saberia a posição das partículas [subatômicas], portanto, Ele deixaria oprincípio de causalidade continuar a ter validade", em sua última carta para Albert Einstein.[24] Einstein continuou a sustentar que a física quântica deve ser incompleta porque implica que o universo é indeterminado em um nível fundamental.[25]
Quando Heisenberg aceitou o Prêmio Romano Guardini em 1974, ele fez um discurso, que mais tarde publicou sob o títuloScientific and Religious Truth. Nele meditou:
"Na história da ciência, desde o famoso julgamento de Galileu, tem sido repetidamente afirmado que a verdade científica não pode ser reconciliada com a interpretação religiosa do mundo. Embora agora esteja convencido de que a verdade científica é inexpugnável em seu próprio campo, nunca achei possível descartar o conteúdo do pensamento religioso simplesmente como parte de uma fase obsoleta na consciência da humanidade, uma parte da qual teremos que renunciar agora. Assim, ao longo de minha vida, fui repetidamente compelido a refletir sobre a relação dessas duas regiões do pensamento, pois nunca fui capaz de duvidar da realidade daquilo para o qual elas apontam."
O sobrenome de Heisenberg é usado como o principalpseudônimo deWalter White (interpretado porBryan Cranston), o protagonista da série dramática criminalBreaking Bad, daAMC, ao longo da transformação de White de professor de química do ensino médio para fabricante demetanfetamina e chefão do tráfico de drogas. Na série derivada e prelúdioBetter Call Saul, um personagem alemão chamado Werner dirige a construção do laboratório de metanfetamina pertencente ao antagonista Gus Fring, onde Walt cozinha durante grande parte deBreaking Bad.
Heisenberg foi o alvo de uma tentativa de assassinato pelo espiãoMoe Berg no filmeThe Catcher Was a Spy, baseado em eventos reais. Heisenberg também é creditado como o criador da bomba atômica utilizada pelo Eixo na adaptação para aAmazon da série de TVThe Man in the High Castle, baseada no romance dePhilip K. Dick. Nesse universo, as bombas atômicas são chamadas de Dispositivos Heisenberg.
Heisenberg é o homônimo do antagonista secundário Karl Heisenberg emResident Evil Village. A pesquisa de Heisenberg sobre ferromagnetismo serviu de inspiração para as habilidades magnéticas do personagem.
Na série de televisãoStar Trek: The Next Generation, o "compensador de Heisenberg" é um componente essencial da tecnologia detransportadores, garantindo a integridade da matéria transportada. O compensador neutraliza os efeitos das características aplicadas identificadas pelo princípio da incerteza de Heisenberg. Para isolar com precisão a matéria antes de sua entrada no buffer do transportador, todas as partículas devem ser localizadas, sua velocidade observada e rastreada; os compensadores tornam isso possível.
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