Veja | |
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Capa da edição 2559 de novembro de 2017 | |
Slogan | Veja, indispensável para o país que queremos ser. |
Editor | Mauricio Lima[1] |
Categoria | |
Frequência | semanal |
Formato | 20,2 x 26,6 cm[2] |
Circulação | Paga: 184 391 (2021)[3] |
Editora | Editora Abril |
Fundador(a) | Victor Civita |
Fundação | 11 de setembro de1968 (56 anos) |
Primeira edição | 1968 |
Última edição | corrente |
País | Brasil |
Baseada em | São Paulo,SP |
Idioma | português |
Orientação política | Centro-esquerda (histórico)[4][5] Direita (pós-década de 90)[6][7] |
veja |
Veja (estilizada dentro da revista comoVEJA) é umarevista de distribuição semanalbrasileira publicada pelaEditora Abril às quartas-feiras. Criada em 1968 pelojornalistaRoberto Civita, a revista trata de temas variados de abrangência nacional eglobal. Entre os temas tratados com frequência estão questõespolíticas,econômicas, eculturais. Apesar de não ser o foco da revista, assuntos comotecnologia,ciência,ecologia ereligião são abordados em alguns exemplares. São publicadas, eventualmente, edições que tratam de assuntos regionais, como aVeja São Paulo,Veja Rio, Veja Brasília e Veja BH. Com uma tiragem superior a um milhão de cópias, sendo a maioria de assinaturas, a revista Veja é revista de maior circulação do Brasil, segundo dados de 2017.[8]
QuandoRoberto Civita, até então residindo emTóquio como subchefe da sucursal local daTime, foi convidado pelo paiVictor a voltar para o Brasil e trabalhar em sua editora, aAbril, pôs como uma de suas condições criar uma revista semanal informativa nos moldes daTime. A primeira tentativa de fazer tal publicação, em 1965, eventualmente levou a uma mensal iniciada no ano seguinte,Realidade. O sucesso daRealidade, que chegou a 400 mil exemplares por mês, fez os Civita acreditarem na possibilidade da revista semanal. Roberto convidouMino Carta, então noJornal da Tarde após trabalhar na Abril como editor daQuatro Rodas, para ser o editor da revista, e ambos visitaram as cinco maiores revistas semanais dos Estados Unidos e Europa estudando a organização de tais publicações. Para recrutar uma equipe, lançaram um anúncio em outras publicações da Abril buscando "homens e mulheres inteligentes e insatisfeitos, que leiam muito, perguntem sempre 'por que' e queiram participar da construção do Brasil de amanhã", recebendo milhares de currículos e eventualmente peneirando os candidatos a uma equipe de cinquenta repórteres.[9]
Em 11 de setembro de 1968, foi lançada a primeira edição da revista, então batizadaVeja e Leia. Tendo como manchete de capa "O Grande Duelo no Mundo Comunista", trazia entre outras, as seguintes matérias: "Rebelião na Galáxia Vermelha", "A Romênia Quer Resistir", "Checos Têm Esperanças". Em sua página 20, no editorial, trazia publicado: "VEJA quer ser a grande revista semanal de informação de todos os brasileiros".[10] A tiragem de 700 mil exemplares da primeira edição se esgotou, mas a edição seguinte vendeu só a metade. Logo as vendas eram de apenas 100 mil exemplares, comVeja dando prejuízos financeiros à Abril. Roberto Civita atribuiu a queda ao caráter denso, com matérias longas e pouco ilustradas, que espantariam o leitor comum. A situação piorou com oAto Institucional Número Cinco em dezembro, que levou a edição número 15 a ser recolhida das bancas peloregime militar, e todas as edições seguintes a serem forçadas a passarem pelo crivo daCensura.[9] Ao ver seu conteúdo recusado, a redação em protesto substituía as partes cortadas por desenhos de anjos e demônios, e depois pela logomarca da Abril.[11] Um total de 138 textos foram vetados até o relaxamento da Censura em 1976, com 55 sendo sobre política nacional, e 25 a respeito da própria censura. Houve textos que, mesmo não sendo proibidos na íntegra, tiveram a publicação inviabilizada pelos cortes drásticos.[12] Outra edição acabou sendo apreendida pelo Exército em 1971, por revelar um esquema de corrupção que ameaçava ogovernador do ParanáHaroldo Leon Peres.[13]
O sócio minoritário Giordano Rossi sempre perguntava a Victor Civita se não era melhor encerrar a publicação, mas Civita sempre mantinha queVeja merecia mais uma chance. Eventualmente a salvação da revista foi a criação das assinaturas, até então descartadas por medo da retaliação dos jornaleiros. Roberto teve de negociar com estes, prometendo que as outras publicações da Abril só entrariam no sistema de assinaturas dez anos mais tarde. Quando as assinaturas deVeja foram implantadas em 1975, a revista finalmente alcançou o equilíbrio entre despesas e lucros. Na mesma época, Carta deixou a publicação, que já alcançava 200 mil exemplares semanais.[9]
Em abril de 1983, a revista publicou, em sua seção de ciência, uma reportagem afirmando que pesquisadores alemães, da cidade deHamburgo, haviam criado um processo inédito que permitia a fusão de células animais e vegetais, culminando com um produto híbrido de carne bovina e tomate, capaz de crescer em árvores e apelidado de "boimate". A reportagem se baseou em informações de teor humorístico do periódico britânicoNew Science, sem perceber que se tratava de uma brincadeira de1º de abril.[14] O jornalO Estado de S. Paulo desmentiu as afirmações da publicação em 26 de junho daquele ano.[15] A revista publicaria uma nota no mês seguinte,[16] desmentindo a matéria original, corrigindo o equívoco e pedindo desculpas aos leitores.
Em 25 de abril de 1992, a revista publicou uma entrevista exclusiva comPedro Collor de Mello, irmão do presidenteFernando Collor de Mello, em que o entrevistado denunciavairregularidades de desvio de dinheiro público em uma suposta parceria comPaulo César Farias. Essa entrevista desencadeou uma série de novas denúncias e investigações culminando com oimpeachmente a renúncia do presidente.[17]
Apesar de fundada nos anos 60 como uma revista de tendências centristas e centro-esquerdistas[carece de fontes?] (na medida em que o regime de censura imposto pela ditadura militar permitisse), a partir dos anos 90 VEJA passou a se tornar gradativamente alinhada a ideias tradicionalmente associadas ao liberalismo econômico e às políticas de direita.
Em 14 de maio de 2005, reportagem da revista teve papel relevante na eclosão de outra crise política de grandes proporções, quando divulgou a transcrição de um vídeo em que se flagrava, com uma câmera escondida, o então funcionário dosCorreiosMaurício Marinho explicando a dois empresários como funcionaria um esquema de pagamentos de propina para fraudarlicitações. Tal esquema envolveria o deputadoRoberto Jefferson, e sua denúncia serviu de ignitor para que este deputado deflagrasse o chamadoescândalo do mensalão.
No segundo semestre de 2005, por ocasião doreferendo sobre a proibição da comercialização de armas de fogo e munições, a revista publicou a reportagemReferendo da fumaça, em que apresentava a seus leitores sete "razões" pelas quais deveriam votar "não" à pergunta "o comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?". Veja justificou a sua opção afirmando que a consulta popular pretendia "desarmar a população e fortalecer o contrabando de armas e o arsenal dos bandidos".[18] A jornalistaBarbara Gancia, colunista daFolha de S.Paulo, criticou abertamente a posição da revista, afirmando que o argumento da reportagem de que o desarmamento é um dos pilares do totalitarismo "não só tenta vincular de forma sub-reptícia a campanha pelo desarmamento à agenda do PT [...] como ecoa a ladainha alarmista da direita truculenta." Gancia também acusou a revista, na mesma ocasião, de possuir interesses não declarados na defesa pelo "não", questionando "por que a revista não nos contou que a empresa à qual pertence paga aluguel de cerca R$ 1 milhão à família Birmann, da construtora homônima, que vem a ser proprietária do prédio que serve de sede da Editora Abril e também, veja só, da CBC, a Companhia Brasileira de Cartuchos?".[19]
Em maio de 2006, o grupo Abril, mantenedor da revista, anunciou a sociedade com oNaspers, grupo de comunicaçõessul-africano.[20] O grupo africano passou a deter 30% do capital da Abril, incluindo a compra dos 13,8% que pertenciam aos fundos de investimento administrados pela Capital International, desde julho de 2004.[21]
Em 2009, a revista Veja liberou o acesso a informação de todas as suas edições, agora digitalizadas, em um projeto realizado com a parceria doBradesco.[22]Em setembro de 2010 a revista publicou uma reportagem que denunciava a ministra-chefe da casa Civil,Erenice Guerra, por agir em conjunto com sua família num esquema torpe de tráfico de influência, sendo que Erenice era o braço direito de Dilma Rousseff quando esta era ministra da Casa Civil.
Em abril de 2012, a revistaCarta Capital publicou matéria, baseada em informações daPolícia Federal, afirmando que Policarpo Júnior, diretor da sucursal deVeja emBrasília, manteve mais de 200 ligações telefônicas com o bicheiroCarlinhos Cachoeira, então preso sob a acusação de envolvimento com ocrime organizado. Em um dos grampos captados pela Polícia Federal, Carlinhos Cachoeira, em conversa com o araponga Jairo Martins, responsável por filmar um pagamento de propina que culminou noescândalo do mensalão, afirma ter repassado à revista Veja todos "os grandes furos do Policarpo". SegundoCarta Capital, "a relação, se exposta em toda sua extensão, poderá trazer à tona não somente os métodos pouco jornalísticos usados pela semanal da Abril para fazer reportagens a partir de um esquema clandestino de arapongagem, mas a participação da revista na construção do escândalo do mensalão".[23] Conforme o portalRede Brasil Atual, o deputado federal pernambucanoFernando Ferro, doPartido dos Trabalhadores, acusou a revista de tentar abafar a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a conexão entre Carlinhos Cachoeira, políticos, empresários e jornalistas. Ferro também acusouVeja de associação com o crime organizado e afirmou que deseja convocarRoberto Civita, presidente doGrupo Abril, para prestar esclarecimentos sobre as conexões entre a revista e Carlinhos Cachoeira.[24]
Reinaldo Azevedo, jornalista daVeja, defendeu em seu blog a revista afirmando que a relação de Policarpo com Cachoeira é de fonte-jornalista, e que os grampos da PF haviam captado apenas duas ligações entre ambos e não duzentas.[25] Reportagem daCarta Maior, entretanto, afirma que o delegado federal Matheus Mela Rodrigues disse ter interceptado, somente na sua operação, 42 ligações entre Policarpo Júnior e Cachoeira.[26]Eliane Cantanhêde em 10 de maio de 2012 questionou uma suposta "aliança entreFernando Collor e o PT para transformar a CPI do Cachoeira em CPI da imprensa". A colunista de política do jornalFolha de S.Paulo defendeu os jornalistas afirmando que a imprensa fez o seu papel e que as demissões de ministros provam a culpa.[27][28]
Em seu blog pessoal,Reinaldo Azevedo ecoou artigos do jornalistaFábio Pannunzio[29] e do sociólogoDemétrio Magnoli[30] onde são feitas revelações potencialmente embaraçosas, até então desconhecidas de boa parte do público, quandoMino Carta, dono da revistaCarta Capital, trabalhou na revistaVeja à época da ditadura nos anos 70. Com base em arquivo digital público da própriaVeja, Pannunzio e Azevedo expuseram o apoio de Mino Carta ao regime militar nos anos em que foi empregado deRoberto Civita, atual Presidente do Conselho de Administração e Diretor Editorial do Grupo Abril.[31]
Os dois jornalistas relembram primeiramente palavras dePaulo Henrique Amorim, amigo pessoal de Mino Carta desde a época do regime militar, em que afirma que a redação da revista era feita sem a influência de Civita, dando a entender que tudo o que foi publicado à época era a visão pessoal e particular de Mino Carta. A partir daí, Azevedo e Pannunzio recuperaram diversos editoriais escritos por Carta apoiando explicitamente a ditadura militar, através de elogios rasgados e subservientes aos seus integrantes e do suporte à repressão contra o que chamava de "terroristas" e "subversivos" da luta armada. Em seus textos, Mino Carta chamava os militares de "único antídoto de seguro efeito contra a subversão e a corrupção", estas por sua vez definidas como realidades "nascidas e criadas à sombra dos erros voluntários e involuntários de líderes civis". São apresentados vários artigos em que Mino ironiza os presos políticos, faz elogios à Junta Militar e prega a adoção da pena de morte, do banimento ou da prisão perpétua para os terroristas.
Em reposta indireta a Reinaldo Azevedo, Fábio Pannunzio e Demétrio Magnoli, Mino Carta se mostra indignado, a ponto de fazer alusões a palhaços de circo em referência aos primeiros, acusando-os de "caluniadores" e "detratores da moral alheia", e relembra a necessidade de apoio ao regime militar com críticas veladas sublimares à época. Em momento algum ele nega o que escreveu, mas acusa a descontextualização de suas frases e textos frente à realidade e às necessidades da época em questão. Um tipo de "Ame-o ou deixe-o" como reproduzido pelo próprio em referência elogiosa ao infame slogan do governo militar sobre o Brasil. Segundo Reinaldo Azevedo: "É evidente que a imprensa estava sob severa censura em 1970, mas [...] se era proibido criticar, não era obrigatório elogiar".
Em maio de 2012,Veja acusou o ex-presidenteLula de ter proposto um acordo ao ministro doSupremo Tribunal Federal (STF)Gilmar Mendes visando obter o adiamento do julgamento domensalão para 2013, em troca da blindagem do ministro na CPI que investiga a organização criminosa de Carlinhos Cachoeira. A proposta teria ocorrido no escritório do ex-ministroNelson Jobim, na presença deste. Lula também teria dito, segundoVeja, que pretendia acionar o presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência,Sepúlveda Pertence, ligado à ministra do STFCármen Lúcia, para que ala apoiasse a estratégia de adiar o julgamento para 2013.[32] Questionado pelo jornalO Estado de S. Paulo a respeito do episódio, Jobim desmentiu as declarações de Mendes, negando que o ministro e o ex-presidente tenham ficado sozinhos em algum momento e que tenham conversado sobre o mensalão. Sepúlveda Pertence também negou ter sido procurado por Lula para interceder junto a Cármen Lúcia.[33] Posteriormente, Gilmar Mendes declarou: "O presidente tocou várias vezes na questão da CPMI. Desenvolvimento da CPMI, o domínio que o governo tinha sobre a CPMI e tudo mais. [...] Não houve nenhum pedido específico do presidente em relação ao mensalão. Manifestou um desejo.[...] Ele não pediu a mim diretamente. Disse: ‘O ideal era que isso não fosse julgado’." Lula afirmou que o teor da conversa apontado por Veja é inverídico e afirmou estar indignado com as acusações.[34] A revistaCartaCapital classificou as acusações deVeja como "mais um exemplar de contragolpe ensaiado para sair do foco das investigações da CPI, desmentido no mesmo dia por um dos personagens citados na apuração."[35]
Em 2013, o criador deVeja Roberto Civita morreu. À época a revista tinha uma circulação de 1,3 milhão de exemplares semanais, a segunda maior publicação desse tipo no mundo depois de sua inspiração, aTime.[9]
Em outubro de 2014, a VEJA trouxe a capa uma reportagem dodoleiroAlberto Youssef, onde ele afirma queDilma eLula sabiam doesquema da Petrobras. A capa traz a foto dos dois com a frase: "Eles sabiam de tudo".[36][37][38] O lançamento da edição foi antecipado para quinta-feira anterior ao domingo da eleição, quando normalmente é feito nos sábado. A antecipação da edição e teor da reportagem de capa foram tachados pela coligação da candidata Dilma como tentativa de manipulação do processo eleitoral.[39] Em 25 de outubro o ministro doTSEAdmar Gonzaga concedeu direito de resposta e reiterou que “o direito de resposta não possui contornos de sanção, mas o exercício constitucional da liberdade de expressão, por meio do mesmo veículo, conquanto se aviste ofensa grave e/ou afirmação sabidamente inverídica”.[40] Em março de 2016, o ex-líder dogoverno noSenado,Delcídio do Amaral emdelação premiada[41] disse que Lula e Dilma sabiam de tudo,[42][43] fato trazido pela capa de VEJA de outubro de 2014, no depoimento do doleiro Alberto Youssef.[36][37][38]
Em fevereiro de 2016, a direção de redação da revista foi alterada com a chegada deAndré Petry. Ele substituiuEurípedes Alcântra.[44] De acordo com oeconomista, ex-colunista e ideólogo deextrema-direita,[45][46]Rodrigo Constantino, com essa mudança a revista tende a guinar novamente para esquerda, e se baseia na saída deJoice Hasselmann em 2015,[47] que trabalhava no TVEJA.[48] Em 2017, foi divulgado que a revista Veja era a de maior circulação no Brasil.[8] Em agosto de 2019, conta com uma circulação líquida de 472 591 exemplares, sendo destes 176 470 exemplares impressos.[49] Em dezembro de 2018, o Grupo Abril é vendido para o empresário Fábio Carvalho.[50]
Até 2017, a revista se posicionava muitas vezes, ao coordenar sua linha editorial com alguns dos setores conservadores dadireita brasileira, o que a faz alvo de críticas por alguns setores da sociedade e personalidades, muitos pertencentes a setores daesquerda, como os jornalistasLuis Nassif em seção especial de seu blog[51] e o próprioMino Carta, em diversas edições de sua revista, aCartaCapital.[52][53][54][55] Ambos travam disputas judiciais com a revista e seus colunistas (em especial,Diogo Mainardi) em relação às acusações feitas por ambas as partes.
Em agosto de 2010, oTribunal Superior Eleitoral (TSE) concedeu aoPartido dos Trabalhadores (PT) direito de resposta a ser veiculado pelaVeja. A decisão do TSE se deve à publicação da reportagem "Índio acertou no Alvo", sobre as declarações do deputadoÍndio da Costa acerca das supostas ligações entre o PT e asForças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e o narcotráfico.[56] Sobre a concessão do direito de resposta, o ministroHamilton Carvalhido afirmou que "há uma linha tênue que separa o legítimo direito de exercer a liberdade de imprensa e seus abusos".[57] A medida foi criticada porjuristas comoMiguel Reale Júnior,Ives Gandra Martins,Paulo Brossard,Oscar Vilhena Vieira eCarlos Velloso. Para Reale Júnior, "dizer a verdade não constitui crime se a intenção não é ofender mas narrar um fato - mesmo que esse fato venha em desfavor do prestígio social de uma entidade, como um partido político", enquanto para Ives Gandra a revista teria expressado sua opinião, "um direito seu", e teria feito "a análise de um fato, o que é legítimo dentro dos princípios da liberdade de imprensa." Para Brossard "os fatos publicados são de notoriedade incontroversa", "fatos públicos e graves" que teriam sido "noticiado fartamente"; já Vilhena Vieira afirmou que o caso "confirma uma tendência de restrição ao direito à informação e à liberdade de expressão no Brasil", e queVeja "tinha o direito de publicar a reportagem".[58]
Às vésperas daseleições presidenciais de 2014, a revista Veja antecipou sua edição mensal para publicar uma matéria de capa afirmando que tantoDilma Rousseff quantoLuiz Inácio Lula da Silva sabiam do escândalo envolvendo desvios financeiros naPetrobras.[59] A postura da revista foi encarada como uma manobra eleitoral por determinados setores da população, gerando represálias contra a sede daEditora Abril, que foi assediada por centenas de manifestantes em outubro daquele ano.[60][61][62] O ministro Admar Gonzaga, do TSE, concedeu odireito de resposta ao Partido dos Trabalhadores por considerar que a publicação não teve "qualquer cautela” e transmitiu a acusação de “forma ofensiva” e em “tom de certeza”.[63][64][65]
Em sua edição de Nº 2 436 de julho de 2015, a matéria de capa revelava ligações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o esquema de corrupção investigado pela "Operação Lava Jato". As acusações da revista são fundadas em suposta "intenção" do empreiteiroLéo Pinheiro em realizar umadelação premiada na qual colocaria o ex-presidente Lula como participante e beneficiado do esquema de corrupção. No entanto, em nota à imprensa publicada no dia 25 de julho de 2015, o empresário afirma que as informações contidas na reportagem são falsas e que não há qualquer intenção em realizar uma delação premiada nesse sentido.[66] Como resultado, o ex-presidente entrou com uma ação judicial por reparação de danos morais contra os responsáveis pela revista.[67][68] Lula também acionou a justiça na edição 2 450, entretanto a juíza da 5º vara Civil do Fórum de Pinheiros negou o pedido de indenização do ex-presidente, por entender que a revista não ultrapassou os limites.[69]
Na mesma edição, a revista também publicou reportagem dos jornalistas Leslie Leitão e Thiago Prado que apresentava documento supostamente confidencial revelando a existência de uma conta do SenadorRomário (PSB) em um banco suíço (BSI), contendo um valor de R$ 7,5 milhões não declarados àReceita Federal do Brasil.[70] O fato foi desmentido pelo próprio jogador que foi até Genebra para reclamar o valor, mas verificou a inexistência da conta em seu nome.[71][72] Em sua coluna eletrônica no Jornal "O GLOBO"[73] o jornalista Ricardo Noblat destacou possíveis ligações entre a Veja e o Prefeito do Rio de JaneiroEduardo Paes (PMDB), dada a conveniência da publicação da reportagem no momento em que Romário aparece com 30% das intenções de voto na disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro.[73]
A revista também já foi alvo de diversosprocessos judiciais. Alguns dos litigantes foram partidos comoPCdoB ePT[74] mas também diversos políticos individualmente; entre eles,Erenice Guerra,[75]Luciana Genro,[76]José Genoino,[77]Roberto Marques,[78][79]Orestes Quércia,[80][81]Yeda Crusius,[82]Luiz Marinho,[83][84]Vicentinho,[85][86]Renan Calheiros eLuiz Gushiken,[87] sendo condenada em alguns casos, e absolvida em outros.
Em 2012, a revista foi acusada pelaRede Record, em uma reportagem de quinze minutos de duração, de agir a mando do contraventorCarlinhos Cachoeira.[88][89] Após a instalação daCPMI do Cachoeira, oPT divulgou um documento em que cobra a fixação de um marco regulatório para os meios de comunicação. De acordo com aFolha de S.Paulo, o texto divulgado pelo partido diz que após o escândalo envolvendoCachoeira eDemóstenes, ficou claro a associação de um setor da mídia com organizações criminosas.[90]
A transcrição de um áudio daOperação Monte Carlo, que prendeu o bicheiroCarlinhos Cachoeira em fevereiro, também revela que umaraponga de Cachoeira invadiu o quarto de hotel do ex-ministro daCasa CivilJosé Dirceu para recolher material e abastecer a revista Veja.[91][92] Após esta divulgação,Fernando Ferro disse no dia 17 de abril, na tribuna daCâmara emBrasília: “Na semana passada, tinha afirmado aqui que a revista Veja se associava ao crime organizado para fazer jornalismo. Eu me enganei, acho que a revista Veja já é o próprio crime organizado fazendo jornalismo”.[93][94][95][96]
Em seguida, houve troca de acusações entre políticos e jornalistas.[97] Enquanto governistas argumentaram queRoberto Civita (presidente do Conselho de Administração doGrupo Abril) cometeu crimes à privacidade iguais aos cometidos porRupert Murdoch (que controlava os jornaisThe Sun eNews of the World), em 8 de maio de 2012, o colunista Ricardo Noblat publicou no jornalO Globo o editorialRoberto Civita não é Rupert Murdoch,[98] defendendo que Civita é inocente e acusando partidos deesquerda de estarem perseguindo a revista em função das ligações entreCachoeira e o diretor da publicação em Brasília, Policarpo Junior.[99] Diversos jornais passaram a publicar editoriais sobre a polêmica,[100][101][102][103][104] entre eles a própria revista Veja.[105] Vários integrantes doPartido dos Trabalhadores também pediram que aCPMI do Cachoeira convocasse jornalistas.[106][107][108][109][110][111]
Na mesma semana, a revistaCartaCapital publicou em sua capa a foto deCivita ao lado da fraseO nossoMurdoch, com uma matéria inteira tratando da atuação da revista Veja naCPMI do Cachoeira, também gerando polêmica em toda a mídia.[112][113] O colunista Mauricio Dias escreveu: "(...)Essa prática se mantém, mas sustentada muitas vezes em parceria criminosa e não em investigação jornalística. Certas reportagens de Veja nos põem diante de um caso assim. A informação chega à redação de mãos beijadas. No caso, as mãos de Carlinhos Cachoeira."[113]
Na edição da revista de 16 de maio, publicada em 12 de maio (apesar de a revista sempre ser publicada aos sábados, tradicionalmente vem com a data da quarta-feira), a revista trouxe uma matéria de capa denominadaA imprensa acende a luz,[114][115] se defendendo do episódio, relatando que tudo era uma afronta àdemocracia[116] e arquitetado de forma a esconder oescândalo do mensalão.[117] Também denunciou o uso de robôs em contas deTwitter para burlar o sistema do site para atacar a revista.[118][119][120][121][122] Em uma reportagem exclusiva, a revista relatou que algumas contas ativas durante a semana (tais como@lucy_in_sky_,@JohnnyBlue733,@QuedaDaBastilha,@CassiaAlbuquerq e@marceloabreu1) eram utilizadas com o único propósito de atacar a revista através dashashtags (entre elas,#vejabandida,#civitanacpi,#vejagolpista,#vejacommedo,#vejapodrenoar,#vejanacpi,#vejavaiparacpi e#vejatemmedo[119][120][121]), e com o único objetivo de elevar as estashashtags à categoria detrend topics doTwitter.[119][120][121][122][123] No entanto, blogueiros conseguiram localizar uma carioca de 59 anos, autora do perfil@lucy_in_sky_ do Twitter e desmontaram a tese de que o PT estaria fazendo "tuitaços" contra Veja utilizando perfis falsos na rede social.[124][125][126]
A edição de 16 de maio da revistaCarta Capital publicou matéria afirmando que o delegado federal Matheus Mela Rodrigues, coordenador da Operação Monte Carlo, disse acreditar quePolicarpo Júnior tinha conhecimento das relações entre Demóstenes Torres e Carlinhos Cachoeira, contrariando a versão de que o jornalista e a revistaVeja teriam sido enganados pelo senador. SegundoCarta Capital, "Veja não só não denunciou um parlamentar envolvido até o último fio de cabelo com um contraventor como o promoveu a ídolo da fatia conservadora do eleitorado brasileiro. Ao promover Torres, a revista manteve um meliante no Parlamento". A reportagem afirma ainda que as gravações feitas nos corredores do Hotel Naoum, em Brasília, divulgadas porVeja na matériaO poderoso chefão (sobre encontros entre o ex-chefe da casa civilJosé Dirceu com integrantes do governo), podem ter sido obtidas ilegalmente. As imagens, segundoCarta Capital, não eram do circuito interno de vigilância, o que configuraria invasão de privacidade. A revista apontou ainda que Policarpo Júnior obteve as imagens junto ao diretor da construtora Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, que serviu de intermediário de Carlinhos Cachoeira no episódio. O delegado Rodrigues afirmou ainda acreditar ter existido "alguma troca" na relação entre Policarpo Júnior e o grupo de Carlinhos Cachoeira.[127]
O presidente daFederação Nacional dos Jornalistas (Fenaj),Celso Schröder, afirmou que o episódio "é um momento muito vergonhoso para o jornalismo, de confusão entre o público e o privado, entre jornalismo e partido político". Schröder criticou a prática jornalística deVeja, afirmando que a revista busca "prejudicar um lado da notícia para beneficiar outro". Schröder disse não ver problemas no relacionamento entre jornalistas e fontes envolvidas com o crime organizado, mas sim na "falta de independência do jornalista em relação a essas fontes". Também condenou o que classificou de corporativismo dos veículos de imprensa em torno do tema, motivados, afirma, por "solidariedade empresarial" e "jornalismo capenga".[23]
Apesar da negativa dosenadorRomário, em 27 de julho de 2015, a revista publicou uma reportagem afirmando que obteve com oMinistério Público Federal o extrato de uma conta no banco suíçoBSI em que Romário teria cerca de R$ 7,5 milhões.[128] Romário prontamente respondeu com ironia às acusações e se deslocou até a Suíça para averiguar a situação.[129] O banco BSI foi taxativo ao informar que o extrato publicado pela Veja era falso e apresentou queixa ao Ministério Público daSuíça.[130] Devido à falsidade das informações veiculadas, Romário abriu processo pordanos morais edireito de resposta contra a revista,[131][132] apesar do pedido de desculpas e reconhecimento do erro publicados pela Veja.[133]
A revista Veja, de circulação nacional, criou edições regionais encartadas na publicação principal. Tais edições regionais foram denominadas comoVeja São Paulo, Veja Rio, Veja Brasília eVeja BH; posteriormente elas ganharam o apelido deVejinhas.[134]
Os objetivos das chamadasVejinhas eram destacar conteúdos regionais, que não tinham espaço na edição nacional.[134]
Veja São Paulo (inicialmenteVeja em São Paulo e hoje também conhecida comoVejinha) é um suplemento semanal darevistabrasileiraVeja, distribuído noestado de São Paulo.
Sua primeira edição como revista (anteriormente era um encarte grampeado à edição principal deVeja) foi às bancas em9 de setembro de1985, com reportagem de capa "A Magia dosJardins". Na seção "Carta do Editor", que apresentavaVeja São Paulo aos leitores paulistanos de Veja,Victor Civita escreveu:
"São Paulo é uma grandemetrópolecosmopolita, com vasta oferta de trabalho, habitação, lazer, gastronomia e eventos culturais. Ao transformar Veja São Paulo (até então um guia de espetáculos e atrações culturais) numa revista da capital, nosso objetivo é ajudar os paulistanos a conhecer mais São Paulo e a viver melhor na sua cidade."
Após quase 30 anos de publicação, a revista Veja Rio deixou de circular emagosto de2018. Todavia, um ano e meio depois, ela voltou a ser editada em8 de fevereiro de2020; com frequência mensal, lançada sempre no primeiro sábado do mês. Na época a universidadePontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) fez uma parceria com a revista, para que os seus alunos do curso deComunicação produzissem conteúdosmultimídia para a publicação.[135]
Os Mais Amados do Rio, o prêmioComer & Beber e a distinçãoCariocas do Ano, que eram tradicionais edições da revista, retornaram nesta nova fase da publicação. Da mesma forma, foi trazido de volta ascolunasBeira-Mar,Histórias Cariocas eCarioca Nota 10.[135]
Além do retorno de tradicionais espaços da revista, ela também foi renovada com a criação das colunasLetra de Médico, onde um renomado profissional de saúde falava sobre medicina e saúde, eVeja Rio Testou, na qual a revista avaliava produtos ou serviços da cidade. A grande novidade, porém, foi a criação daAmarelinha, onde eram feitas entrevistas com personalidades de destaque local, o nomeAmarelinha remete as famosas "Páginas Amarelas" existentes na edição nacional e que eram também usadas como espaço para entrevistas.[135]
O Radar On-Line é uma coluna online daRevista Veja que traz notas sobrepolítica,negócios eentretenimento[136] atualmente escrita por Mauricio Lima.[137] A coluna Radar On-Line tinha a frente o jornalistaLauro Jardim que era também redator-chefe da Veja no Rio de Janeiro.[138] Com a saída de Lauro em setembro de 2015, para assumir uma coluna emO Globo,[139] quem assumiu o Radar On-Line foi a jornalista Vera Magalhães, que permaneceu até julho de 2016.[137]
Tamanha popularidade acaba por deixar na sombra uma flagrante incongruência entre o Romário senador e o Romário cidadão: na vida pessoal, o ex-jogador é notório por suas pendências financeiras. Uma delas está nas mãos do Ministério Público Federal: um extrato de uma conta bancária em nome de Romário no banco suíço BSI, com sede em Lugano, no valor de 2,1 milhões de francos suíços, o equivalente a 7,5 milhões de reais. A pequena fortuna não aparece na declaração oficial de bens encaminhada por Romário à Justiça Eleitoral em 2014. Romário disse a VEJA que nunca ouviu falar da conta: "Até agradeço por me informarem. Se for dinheiro meu, vou buscar".