Avanguarda (dofrancêsavant-garde) significa, literalmente, a guarda avançada ou a parte frontal de umexército. Seu usometafórico data de inícios doséculo XX, referindo-se a setores de maior pioneirismo, consciência ou combatividade dentro de um determinado movimento social, político, científico ou artístico.[2][3] Nasartes, a vanguarda produz a ruptura de modelos preestabelecidos, defendendo formas antitradicionais de arte e o novo nas fronteiras doexperimentalismo.[4]
O termo foi originalmente usado pelos militares franceses para se referir a um pequeno grupo de reconhecimento que explorava à frente da força principal. Também se tornou associado a radicais franceses de esquerda noséculo XIX, que agitavam por reformas políticas. Em algum momento de meados daquele século, o termo foi vinculado à arte pela ideia de que a arte é um instrumento de mudança social. Somente no final doséculo XIX al'art d'avant-garde começou a romper com sua identificação com as causas sociais de esquerda para se alinhar mais às questões estéticas.Vanguarda geralmente se refere a grupos de pensadores, escritores e artistas que expressam ideias e experimentam abordagens que desafiam os cânones vigentes. Ideias de vanguarda, especialmente quando abrangem questões sociais, muitas vezes são gradualmente assimiladas pela sociedade, tornando-semainstream e criando o ambiente para o surgimento de novas rupturas, por uma nova geração de radicais.[5]
Vários escritores têm tentado, com sucesso limitado, mapear os parâmetros da atividadeavant-garde. O ensaísta italiano Renato Poggioli proporciona uma das mais conhecidas análises de vanguardismo como um fenômeno cultural em seu livro de 1962,Teoria dell'arte d'Avanguardia (Teoria da arte de vanguarda). Levantando aspectos históricos, sociais, psicológicos e filosóficos dovanguardismo, Poggioli ultrapassa instâncias individuais da arte,poesia emúsica para mostrar que os vanguardistas podem compartilhar certos ideais evalores que se manifestam na adoção de um estilo de vida não conformista. Ele vê acultura de vanguarda como uma variedade ou subcategoria deboêmia.[6]
Outros autores têm procurado tanto esclarecer quanto ampliar o estudo de Poggioli. O crítico literário Peter Bürger escreveuTeoria do Avant-Garde (1974) olhando para a adesão doEstablishment às obras de arte socialmente críticas e sugere que, em cumplicidade com ocapitalismo, "a arte como instituição neutraliza o conteúdopolítico do trabalho individual".[7]
O ensaio de Bürger também influenciou o trabalho de historiadores da arte contemporânea americana como o alemão Benjamin H.D. Buchloh (nascido em 1941), enquanto os críticos mais antigos, como Bürger, continuam a ver oneo-avant-garde do pós-guerra como uma reciclagem vazia de formas e as estratégias das duas primeiras décadas doséculo XX. Outros, comoClement Greenberg (1909-1994), viram de forma mais positiva, como uma nova articulação das condições específicas da produção cultural no período do pós-guerra. Buchloh, na coletânea de ensaiosO neo-avantgarde e a Indústria Cultural, (2000) argumenta criticamente uma abordagemdialética para essas posições.[8] A crítica posterior teorizou as limitações dessas abordagens, observando suas áreas circunscritas de análise, incluindo oeurocentrismo,machismo e definições específicas degênero.[9]
Segundo a pesquisadora Otília Arantes, aavant-garde brasileira atravessou três momentos diferentes: amodernidade dos anos 20 e 30, oconcretismo e o neoconcretismo dos anos 50 e a produção dos anos 60.[10] As exposições "Opinião 65", "Propostas 65", "Nova Objetividade brasileira" e "Do corpo à terra" formalizaram a possibilidade de uma arte experimental através do debate, com obras e texto.[10]
Hélio Oiticica busca definir uma especificidade para a vanguarda brasileira, situando-a na esteira da exposição da "Nova Objetividade". A partir daí, afirma, a estrutura da obra mudou (não é mais "pintura" ou "escultura") para "ordens ambientais".[11]
EmPor que a vanguarda brasileira é carioca, de 1966,Frederico Morais já defende a ideia de uma vocação construtiva para a arte brasileira e também coloca a arquitetura e o movimento concreto como exemplo desta. O movimento concreto colaborou para uma caracterização da cultura brasileira, porém, era mais ligado à industrialização, já que as obras deste período eram extremamente racionais e matemáticas.[12]
Há uma outra definição de "vanguarda" que o distingue do "modernismo": Peter Bürger, por exemplo, diz que o vanguardismo rejeita a "instituição da arte" e desafia os valores sociais e artísticos e, portanto, envolve necessariamente políticos, sociais, e fatores culturais.[22] De acordo com o compositor e musicólogo Larry Sitsky, compositores modernistas do início doséculo XX que não se qualificam como vanguardistas incluemArnold Schoenberg,Anton Webern e Igor Stravinsky; compositores modernistas posteriores que não se enquadram na categoria de vanguardistas incluemElliott Carter,Milton Babbitt,György Ligeti,Witold Lutosławski eLuciano Berio, uma vez que "seu modernismo não foi concebido com o propósito de incitar uma audiência".[23]
A década de 1960 viu uma onda de música livre e de vanguarda no gênero jazz, representada por artistas comoOrnette Coleman,Sun Ra,Albert Ayler,Archie Shepp,John Coltrane eMiles Davis.[24][25] Na música rock dos anos 1970, o descritor de "arte" era geralmente entendido como "agressivamente vanguardista" ou "pretensiosamente progressivo".[26] Artistas pós-punk do final dos anos 1970 rejeitaram as sensibilidades do rock tradicional em favor de uma estética de vanguarda.
Enquanto a vanguarda tem uma história significativa na música doséculo XX, ela é mais pronunciada no teatro e na arte performática, e frequentemente em conjunto com a música e inovações de design de som, bem como desenvolvimentos em design de mídia visual. Existem movimentos na história do teatro que se caracterizam por suas contribuições às tradições de vanguarda nos Estados Unidos e na Europa. Entre eles estãoFluxus,Happenings e Neo-Dada.
↑Porter, Tom (2004).Archispeak : an illustrated guide to architectural terms. London: Taylor & Francis. ISBN0415300118. OCLC 53144738.
↑Poggioli, Renato (1981).The Theory of the Avant-Garde. [S.l.]: Belknap Press of Harvard University Press.ISBN0-674-88216-4, translated from the Italian by Gerald Fitzgerald, 2nd ed.
↑Bürger, Peter (1974).Theorie der Avantgarde. [S.l.]: Suhrkamp Verlag English translation (University of Minnesota Press) 1984: 90.
↑Buchloh, Benjamin (2001).Neo-avantgarde and Culture Industry: Essays on European and American Art from 1955 to 1975. [S.l.]: MIT Press.ISBN0-262-02454-3
↑Harding, James M. Cutting Performances: Collage Events, Feminist Artists, and the American Avant-Garde. University of Michigan, 2010.
↑David Nicholls (ed.),The Cambridge History of American Music (Cambridge e Nova York: Cambridge University Press , 1998), 122-24. ISBN 0-521-45429-8 ISBN 978-0-521-54554-9
↑Larry Sitsky,Music of the Twentieth-Century Avant-Garde: A Biocritical Sourcebook (Westport, Conn: Greenwood Press, 2002), xiv. ISBN 0-313-29689-8.
↑Larry Sitsky,Music of the Twentieth-Century Avant-Garde: A Biocritical Sourcebook (Westport, Conn: Greenwood Press, 2002), xiii–xiv.ISBN 0-313-29689-8
↑Larry Sitsky,Music of the Twentieth-Century Avant-Garde: A Biocritical Sourcebook (Westport, Conn: Greenwood Press, 2002), xiii–xiv.ISBN0-313-29689-8.
↑Larry Sitsky,Music of the Twentieth-Century Avant-Garde: A Biocritical Sourcebook (Westport, Conn: Greenwood Press, 2002), 222.ISBN0-313-29689-8.
↑abLarry Sitsky,Music of the Twentieth-Century Avant-Garde: A Biocritical Sourcebook (Westport, Conn: Greenwood Press, 2002), xiv.ISBN0-313-29689-8.
↑abLarry Sitsky,Music of the Twentieth-Century Avant-Garde: A Biocritical Sourcebook (Westport, Conn: Greenwood Press, 2002), 50.ISBN0-313-29689-8.
↑Elliot Schwartz, Barney Childs, and James Fox (eds.),Contemporary Composers on Contemporary Music (New York: Da Capo Press, 1998), 379.ISBN0-306-80819-6
↑abcdLarry Sitsky,Music of the Twentieth-Century Avant-Garde: A Biocritical Sourcebook (Westport, Conn: Greenwood Press, 2002), xvii.ISBN0-313-29689-8.
↑Jim Samson, "Avant garde",The New Grove Dictionary of Music and Musicians, second edition, edited byStanley Sadie and John Tyrrell (London: Macmillan Publishers, 2001).
↑Larry Sitsky,Music of the Twentieth-Century Avant-Garde: A Biocritical Sourcebook (Westport, Conn: Greenwood Press, 2002), xv.ISBN0-313-29689-8.