VAR-Palmares | |
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Datas das operações | 1969 – 1972 |
Motivos | Combate àditadura militar Instalação de umEstadosocialista |
Área de atividade | ![]() |
Ideologia | Marxismo-leninismo |
Espectro político | Extrema-esquerda |
Principais ações | Assaltos, atentados e sequestros |
Ataques célebres | Roubo do cofre do Adhemar Sequestro do voo 114 |
Status | extinta |
Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) foi uma organização brasileira deextrema-esquerda que participou daluta armada durante aditadura militar (1964-1985), visando a derrubada do regime. Surgiu em julho de 1969, como resultado da fusão doComando de Libertação Nacional (COLINA) com aVanguarda Popular Revolucionária (VPR) deCarlos Lamarca. Seu nome era uma homenagem aoQuilombo dos Palmares, maiorquilombo da história daescravidão.
Sua primeira direção foi composta porCarlos Lamarca,Cláudio Ribeiro,Juarez Guimarães de Brito,Maria do Carmo Brito,Antonio Roberto Espinosa,Carlos Alberto Soares de Freitas eCarlos Franklin Paixão de Araújo (ex-marido deDilma Rousseff e pai de sua filha Paula).[1][2]
A ação mais conhecida da organização foi o "roubo" do "cofre do Adhemar", contendo pouco mais de 2,5 milhões dedólares, em espécie, realizada em 18 de julho de 1969.[3] Esse cofre encontrava-se na residência do cardiologistaAarão Burlamaqui Benchimol, irmão de Anna Gimel Benchimol Capriglione, conhecida nos meios políticos pelocodinome "Dr. Rui",[4] secretária e amante do ex-governador de São Paulo,Adhemar de Barros. A informação havia sido dada por um seu sobrinho, Guilherme Schiller Benchimol, que havia aderido à organização na faculdade. Supunha-se com que o dinheiro mantido no cofre seria produto da corrupção do ex-governador, conhecido pelo lema "rouba, mas faz".[5]
A ação se deu na mansão do irmão de Anna Benchimol emSanta Teresa, onde ela se encontrava, com o comando se passando inicialmente por policiais federais, num total de treze guerrilheiros na ação direta e outros na segurança externa, comandados por Juares de Brito. Os moradores, inclusive a dona, foram amarrados,telefones tiveram fios cortados e os automóveis existentes os pneus esvaziados. O cofre, muito pesado, foi retirado dela por meio de pranchas de rolamento e roldanas e arrastado até uma Veraneio Chevrolet C-14 estacionada na frente das escadas degranito da entrada da casa.[3] Levado a um "aparelho" no subúrbio carioca, foi aberto commaçarico eserra elétrica ao mesmo tempo em que se jogava água pela abertura para evitar queimar o dinheiro, que acabou ficando boa parte molhado e as notas de dólares postas para secar num varal.[6] O cofre foi cortado em pedaços e suas partes jogadas nos rios daBarra da Tijuca e do costão daAvenida Niemeyer.
Participaram da ação, entre outros, além do comandante Juares de Brito e do dirigente Antonio Espinosa,Sônia Lafoz, a única guerrilheira importante da luta armada – participante de assalto a bancos e sequestros de diplomatas, famosa por ser exímia atiradora – que jamais foi presa,[3] Darcy Rodrigues, ex-militar e braço direito de Lamarca, Reinaldo José de Mello, Wellington Moreira Diniz, o ex-sargento do exército José de Araújo Nóbrega, João Marques de Aguiar, o ex-açougueiro-guerrilheiro João Domingues, Fernando Borges e Jesus Paredes Soto.[3]
Carlos Minc, hoje político ligado aomeio-ambiente, foi um dos integrantes da VAR-Palmares que participou do assalto, então com 18 anos.Dilma Rousseff também participava da organização, mas afirmou que não integrou a ação mais conhecida do grupo. Minc atualmente garante que ela não tinha qualquer papel destacado nos grupos de ação, atuando apenas na retaguarda.[7] Segundo Maurício Lopes Lima, um integrante de buscas daOban (Operação Bandeirante), estrutura do serviço de inteligência dasForças Armadas e notório local detorturas a presos políticos, Dilma Rousseff era o "cérebro" da organização clandestina fato que jamais pode ser comprovado pela parcialidade do autor que combatia por um dos lados que deu o golpe militar.[8] Antonio Espinosa, entretanto, participante da ação e um dos comandantes da VAR-Palmares, explica que Rousseff não teve qualquer participação no assalto, nem de seu planejamento, pois deixou de participar do comando nacional quando houve a fusão entre aVPR e oCOLINA que originou a Palmares, algumas semanas antes da ação.[6]
Depois do assalto, Carlos Lamarca, um dos comandantes da organização, emitiu o seguinte comunicado em nome da VAR-Palmares à agênciaFrance Press:
"Depois de uma longa investigação, localizamos uma parte da famosa ‘caixinha’ do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros, enriquecido por anos e anos de corrupção. Conseguimos US$ 2,5 milhões. Esse dinheiro, roubado do povo, a ele será devolvido."[3]
A VAR-Palmares teria também planejado em 1969 o sequestro deDelfim Neto, símbolo do milagre econômico e, à época, o civil mais poderoso do governo federal. O suposto sequestro, que deveria ocorrer em dezembro daquele ano, foi referido no livroOs Carbonários, de autoria deAlfredo Sirkis, em 1981.Antonio Roberto Espinosa, ex-comandante daVanguarda Popular Revolucionária e da VAR-Palmares, reconheceu que coordenou o plano - do qual tinham conhecimento cinco membros da cúpula da organização. Segundo publicou o jornalFolha de S.Paulo, Espinosa teria dito que Dilma Rousseff era integrante dessa cúpula. Espinosa, porém, contradisse tal informação, dizendo que Dilma nunca participou de ações ou de planejamento de ações militares, tendo sempre tido uma militância exclusivamente política.[9][10][11][12][13] O sequestro não teria chegado a ser realizado porque os membros do grupo começaram a ser capturados semanas antes. Dilma nega peremptoriamente que tivesse conhecimento do plano e duvida que alguém realmente se lembre, declarando que Espinosa fantasiou sobre o assunto.[14][15]
Em 5 de fevereiro de 1972 militantes da VAR-Palmares,ALN e doPCBR[16] assassinaram a tiros o marinheiro inglês David Cuthberg, que se encontrava no país juntamente com uma força-tarefa daMarinha Britânica para as comemorações dos 150 anos deindependência do Brasil. Após o atentado foram arremessados dentro do táxi onde ele se encontrava panfletos que informavam que o ato teria sido decisão de um "tribunal", como forma de solidariedade à luta doExército Republicano Irlandês contra o domínio inglês.[17] Quase dois meses depois, três integrantes da organização,Lígia Maria Salgado Nóbrega – participante da execução de Cuthberg –Maria Regina Lobo Leite Figueiredo eAntônio Marcos Pinto de Oliveira foram mortos no Rio de Janeiro no que ficou conhecido comoChacina de Quintino.[18]
Desmantelada devido à forte repressão dos militares, a VAR-Palmares teve duas de suas principais lideranças presas e assassinadas pelo regime:Carlos Alberto Soares de Freitas, um dos fundadores doComando de Libertação Nacional (Colina), e Mariano Joaquim da Silva, o "Loyola", veterano dasLigas Camponesas, desaparecido nos cárceres clandestinos doDestacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) no Rio de Janeiro.
Em 13 de abril de 2011, após três décadas de sigilo, oArquivo Nacional do Brasil tornou público um documento, até então em poder da Aeronáutica, que revela que a organização guerrilheira VAR-Palmares determinara o "justiçamento", ou seja, o assassinato de oficiais do Exército e de agentes de outras forças tidas como reacionárias, nos anos da ditadura militar para se contrapor aos assassinatos promovidos pelos órgãos clandestinos do regime militar que assassinavam suspeitos sem serem punidos segundo depoimento de várias vítimas assassinadas pelos militares. O documento (um relatório de cinco páginas, denominado "A Campanha de Propaganda Militar"), redigido por líderes do grupo, avalia que a eliminação de agentes da repressão seria uma forma de sair do isolamento. O texto foi apreendido em um esconderijo da organização e encaminhado em caráter confidencial ao então Ministério da Aeronáutica. Sobre o justiçamento de militares, o documento recomendava: "Deve ser feito em função de escolha cuidadosa [trecho incompreensível] elementos mais reacionários do Exército." O documento classifica as ordens como uma resposta aos crimes do regime militar contra a esquerda: "O justiçamento punitivo visa especialmente paralisar o inimigo, eliminando sistematicamente os cdf da repressão, os fascistas ideologicamente motivados que pressionam os outros." A VAR-Palmares tinha definido como alvos prioritários o delegadoSérgio Paranhos Fleury, doDOPS, e seu subordinado "Raul Careca", acusados de comandarem a máquina da tortura em São Paulo, e pessoas ligadas àCIA. Na época da redação do texto (entre1969 e1970), certos setores da ditadura falavam sobre o completo extermínio dos contra-golpistas agentes a seviço dosestados unidos da américa , conforme documentos revelados por Washington depois de 40 anos sob "documentos classificados da intervenção norte-americana no golpe militar de 1964. Em dezembro de 1968, o governo havia baixado oAI-5, que suprimiadireitos civis e coincidia com o início de uma política deEstado para eliminar grupos de esquerda.[19]