Em 1842, aos 22 anos, casou-se com sua primaAdelaide da Áustria, filha doArquiduque Rainer José da Áustria e sobrinha do imperador Francisco I. O matrimônio reforçou os laços entre as casas de Saboia eHabsburgo, unindo o poder político do Piemonte à influência tradicional da monarquia austríaca — um gesto diplomático em meio às tensões que mais tarde marcariam o movimento de unificação italiana.
Vítor Emanuel II cresceu em um ambiente profundamente militar e conservador, mas seria ele quem, décadas depois, conduziria a transformação doReino da Sardenha no núcleo do Estado italiano moderno, tornando-se o primeiro rei da Itália unificada em 1861.
Quando estourou aPrimeira Guerra de Independência Italiana, Vítor Emanuel II comandou uma divisão de reserva do exército sardo. NaBatalha de Goito, travada em 30 de maio de 1848 contra as forças austríacas, ele demonstrou coragem pessoal ao conduzir diretamente a companhia “Guardia” ao ataque, sendo ferido em combate.
Após a derrota emNovara, em 23 de março de 1849, e a consequenteabdicação de seu pai, Carlos Alberto, Vítor Emanuel II ascendeu ao trono doReino da Sardenha em meio a uma conjuntura política e militar extremamente delicada. O país enfrentava o peso da derrota, a ocupação austríaca e uma grave crise financeira, mas o novo monarca rapidamente se destacou por seuespírito pragmático e firmeza política, preservando a constituição liberal concedida por seu pai e lançando as bases para o processo que culminaria na unificação da Itália.
Sem condições de prosseguir a guerra, Vítor Emanuel II foi obrigado a assinar oArmistício de Vignale, em24 de março de 1849, com o marechal austríacoJosef Wenzel Radetzky von Radetz, encerrando temporariamente as hostilidades entre o Reino da Sardenha e oImpério Austríaco.
A derrota militar deixou o exército profundamente abalado, mas a crise interna do reino mostrou-se ainda mais grave. Poucas semanas depois, emabril de 1849, umarevolta republicana emGênova ameaçou a estabilidade do novo governo, refletindo o descontentamento popular e a divisão política entre liberais moderados e democratas radicais.
Além disso,a Câmara dos Deputados, dominada por uma maioria democrática,resistia em ratificar o tratado de paz com aÁustria, colocando o jovem monarca diante de uma difícil escolha entre a continuidade do conflito e a preservação doEstado. Nesse contexto, Vítor Emanuel II começou a demonstrar a habilidade política que marcaria seu reinado: firme diante das pressões internas, mas prudente o bastante para garantir a sobrevivência e a autonomia do reino, que se tornaria o núcleo da futuraunificação italiana.
Para superar a resistência da Câmara, Vítor Emanuel II recorreu a uma medida decisiva e ousada dentro dos limites da legalidade: oProclama di Moncalieri, promulgado em20 de novembro de 1849, com o qualdissolveu o Parlamento e convocou novas eleições. A iniciativa, embora arriscada, visava restaurar a estabilidade política e reafirmar a autoridade do governo diante da crise.
O decreto alcançou seu objetivo, sobretudo no Piemonte, onde as novas eleições garantiram ao rei uma base parlamentar mais favorável. Com a paz assinada com a Áustria, Vítor Emanuel pôde enfim voltar-se para os grandes desafios internos do reino, em especial a consolidação do regime constitucional herdado de seu pai.
Esse período marcou o início de uma fase de reconstrução institucional e política, em que o jovem monarca se destacou por seu equilíbrio entre firmeza e prudência.
Vítor Emanuel II tinha tendência a exercer sua autoridade régia para além dos limites estabelecidos peloEstatuto Albertino, mas demonstrou lealdade à ordem constitucional aosancionar asLeis Siccardi, que restringiam osprivilégios do clero e afirmavam o princípio da supremacia do Estado sobre a Igreja em questões civis. Essas leis representaram um marco na secularização do Reino da Sardenha e abriram caminho para reformas mais amplas no país.
Ainda assim, a adoção dessas medidas não foi apenas fruto de sua convicção pessoal. O rei foiinfluenciado pela firmeza do governo deMassimo D’Azeglio, primeiro-ministro de perfil moderado, que defendia a modernização do Estado e a limitação da interferência eclesiástica nos assuntos públicos. Essa colaboração entre um monarca pragmático e um estadista reformista seria decisiva para consolidar as bases políticas que permitiriam, anos depois, o avanço do movimento de unificação.
Em novembro de 1852,Camillo Benso, conde de Cavour, assumiu o cargo de primeiro-ministro, sucedendo aMassimo D’Azeglio. A relação entreVítor Emanuel II eCavour foi marcada por uma combinação de respeito mútuo e tensões ocasionais: o conde, conhecido por seu talento político e por sua independência intelectual, não hesitava em confrontar o rei quando discordava de suas opiniões.
Apesar dessas divergências, o monarca geralmente seguiu as diretrizes políticas de Cavour, reconhecendo sua habilidade em conduzir o Reino da Sardenha ao protagonismo napenínsula Itálica. Compartilhavam o objetivo de restaurar o prestígio militar e ampliar a influência da Casa de Saboia, o que se refletiu na intervenção naGuerra da Crimeia (1853–1856), que projetou o Piemonte no cenário diplomático europeu.
Com o mesmo propósito de fortalecer sua posição e expandir o domínio de sua dinastia, Vítor Emanuel II aprovou a aliança comNapoleão III da França, com quem mantinha afinidades pessoais e um certo gosto pela política secreta e pela diplomacia de bastidores.
Os anos de1858 até1861 foram os mais favoráveis ao reino de Vítor Emanuel II. No mês de abril de1859 partiu para aguerra contra a Áustria, e menos de dois anos depois era proclamado oReino de Itália com Vítor Emanuel como soberano. Certamente, para a rápida ascensão do monarca, contribuiu em muito a obra deCamilo Benso, Conde de Cavour e deGiuseppe Garibaldi que, com aExpedição dos Mil, deu a Vítor Emanuel II oReino das Duas Sicílias. Mas deve-se reconhecer que naqueles anos decisivos ele esteve decididamente solidário com a causa da unidade nacional.
Aterceira guerra de independência (1866) trouxe oVêneto para a coroa, mas sem aquela vitória militar que o rei desejava. Para completar a unidade da Itália faltava aindaRoma. Quando, no verão de1870, estourou aGuerra Franco-Prussiana, Vitor Emanuel II era mais propenso a correr em socorro do imperador francêsNapoleão III, o antigo companheiro de armas e de intrigas, mas cedeu à vontade de seus ministros que quiseram se aproveitar da ocasião favorável para tomar Roma, então sob domínio do Papa, com apoio de tropas francesas. O rei tomou Roma, que tornou-se então capital do Reino de Itália.[1] Porém do mesmo modo que não se adaptou emFlorença, que tinha sido escolhida para ser capital depois da Convenção de Setembro (1864), não se adaptou também em Roma. Nunca morou no palácio Quirinal preferindo o retiro em uma residência mais modesta, juntamente com a esposamorganáticaRosa Vercellana, posteriormentecondessa de Mirafiori.
Concluído o período heróico doRisorgimento, o rei era, em certo sentido, um sobrevivente, como muitos outros protagonistas do pátrio resgate. Em1876, viu sair do governo, por voto contrário do parlamento, a direita histórica de onde vieram seus ministros mais hábeis e seus mais confiáveis conselheiros. Respeitoso das indicações do parlamento, chamou ao governo a esquerda. Isto aconteceu no ano de suamorte.
Com a morte de Vítor Emanuel II em 9 de janeiro de 1878, encerrou-se o reinado do primeiro monarca da Itália unificada. Seu filhoHumberto I ascendeu ao trono, dando continuidade à dinastia de Saboia no recém-formado Reino da Itália.[1]
Com sua morte, o rei deixou um legado profundamente associado à unificação italiana e à consolidação do Estado moderno, sendo lembrado como o “Pai da Pátria” (Padre della Patria) — título que expressa o papel central que desempenhou na formação da Itália contemporânea.[3]