
Somatização é uma tendência a sofrer um desarranjo psicológico que se manifesta mediantesintomas somáticos exigindo intervenção médica.[1][2]Grosso modo, a somatização expressa-se pela geração de sintomas físicos de umacondição psiquiátrica tal como aansiedade. O termo "somatizatização" foi cunhado porWilhelm Stekel em 1924.[3]
A presença de somatizações não exclui o diagnóstico de outras doenças psiquiátricas, ocorrendo frequentemente emcomorbidade (presença simultânea) com estes. Pacientes com transtornos psiquiátricos comodepressão,transtorno de ansiedade ou algumtranstorno de personalidade descrevem sintomas físicos além dos usados para diagnóstico do transtorno em 72% dos casos.[4]
Somatização, segundo sua definição contemporânea, criada por Zbigniew Lipowski (1924-1997), é "uma tendência para experimentare comunicar desconforto somático e sintomas que não podem ser explicados pelos achados patológicos, atribuí-los a doenças físicas e procurar ajuda médica para eles"[5]. É um diagnóstico que deve ser feito por exclusão de outras causas, que deve ser usado com cautela por ser muito difícil garantir que não há outras causas. É uma causa bastante frequente em serviços de atenção primária, onde pelo menos um sintoma somatizado aparece em 16% a 50% das entrevistas iniciais (anamnese).[6]
Quando não identificados, os pacientes comtranstornos somatizantes costumam demandar uma grande quantidade de consultas médicas e exames, gerando altos custos para o sistema de saúde que apenas aumentam seu sofrimento, ansiedade e frustrações.[7]
Acredita-se que fatores psicológicos e psicossociais desempenham um papel importante na etiologia dessa condição. Em pacientes com transtornos de somatização, o sofrimento emocional ou as situações de vida difíceis são experimentados como sintomas físicos. Quando se diagnostica uma causa psicológica passa a ser chamado depsicossomatização.
Negligenciar a importância desses sintomas pode provocar revolta, descrédito, sentimento de rejeição e aumentar ainda mais os sintomas e a angústia do paciente.[6] O paciente frequentemente considera que o médico é incompetente, inexperiente ou desinteressado e procurar outro profissional aumentando assim os custos para a rede de saúde pública ou para o próprio paciente com exames desnecessários.
O termo foi gerado pela tradução cientificista em inglês do termo alemãoOrgansprache ("fala dos órgãos"), originalmente criado porWilhelm Stekel (1868-1940) no início doSéculo XX, e que podia representar tanto a manifestação física com lesões orgânicas quanto sintomas físicos sem explicação médica, desde que gerados por conflitos psicológicos inconscientes.[8] Frequentemente a palavra somatização é utilizada dentro desta definição por diversas disciplinas dapsicologia,sociologia eantropologia.
No final do século XX, a definição de somatização, naPsiquiatria, voltou-se principalmente para sintomas físicos inexplicáveis, abandonando o conceito de doenças físicas de origem psíquica (as chamadas doenças psicossomáticas). O termo vem sendo recentemente contestado por exigir explicitamente uma origem psicossocial. Embora, em geral, causas desta natureza estejam presentes diante de queixas inexplicáveis, há uma minoria de casos onde estas não podem ser evidenciadas. Assim, existe uma tendência recente na literatura internacional sobre o assunto em usar o termo sintomas físicos sem explicação médica (SEM) ouidiopático.

Diante de eventos psicologicamente traumáticos (como casamento, divórcio, demissão, sequestro, traição, hospitalização ou morte de pessoa querida...) é comum que um ou mais dos seguintes sintomas sejam somatizados:[6]
Em pacientes mais sensíveis, comohistriônicos, podem ocorrer sintomas como[6]:
OCID-10 inclui 7 possíveis diagnósticos a pacientes que apresentem frequentes somatizações:[9]
Encaminhar para consulta psiquiátrica pode ser útil para avaliar prováveis comorbidades que também podem ser desencadeadas pelos eventos estressantes (comodepressão ou algumtranstorno ansioso) e para recomendações relativas ao tratamento medicamentoso comoantidepressivos.[10] A psicoterapia é um recurso terapêutico que, quando por um profissional qualificado, pode facilitar à pessoa o desenvolvimento de estratégias saudáveis para lidar com as dificuldades existenciais e ajudar a resignificar as experiências negativas.[11]
Cabem aos profissionais de saúde validarem e compreenderem a gravidade do sofrimento psicológico e fazerem exames físicos regulares para analisar a progressão dos sintomas inclusive para se certificarem da ausência de outras causas possíveis. Remédios comosuplementos vitamínicos,ansiolíticos,analgésicos e pomadascicatrizantes podem ser benéficos dependendo dos sintomas. O tratamento pode ser considerado bem-sucedido quando melhora aqualidade de vida do paciente e reduz os custos com exames e internações mesmo que os sintomas não desapareçam.[6]