
Umtransi, também ditotumbamemento mori e, popularmente,tumba de cadáver, é um tipo deefígie na forma de umcadáver emdecomposição, particularmente característica daarte tumular daIdade Média posterior.[1]

Naarte tumular, uma representação de umcadáver emdecomposição é chamadatransi. Esse termo tem origem noparticípio do verbo francêstransir, por sua vez derivado dos termos latinostrans (através) e ire (ir, passar). Assim, umtransi representa a transição do corpo da vida para a morte em estado último, isso é, da vida para o pó. Complementarmente, o termotúmulo de cadáver pode ser aplicado a esses outros tipos de monumentos funerários, incluindoesqueletos e defuntos completamente envoltos emsudários. O termo tumbamemento mori, por sua vez, indica especificamente monumentos funerários com representações de esqueletos.
Em túmulos "de dois andares"[2] o túmulo exibe em sua parte superior umaefígie da pessoa morta, como eram antes da morte ou logo após a sua morte. Em geral essas representação mostram o morto em tamanho próximo ao natural, e às vezes representado de joelhos em oração. E, em sua parte inferior, o túmulo exibe a representação de um cadáver apodrecendo, muitas vezes envolto por vermes e outros animais selvagens que comem a sua carne.
A iconografia é regionalmente distinta: a representação de vermes nesses cadáveres é mais comumente encontrada no continente europeu e, especialmente, nas regiões de cultura germânica.[3] A disseminação de imagens de cadáveres emdanças macabras, no final daIdade Média, também pode ter influenciado a iconografia detransis.[4]
Na arte funeráriacristã, os túmulos de cadáveres desviavam-se da prática usual de mostrar uma efígie da pessoa como se ainda estivesse viva. Um dos primeiros exemplos é a famosa efígie no túmulo de várias camadas do cardeal Jean de La Grange (falecido em 1402), emAvignon, naFrança.
O termo também pode ser usado para um monumento que mostre apenas o cadáver sem a pessoa viva. Aescultura destina-se a ser um exemplo didático de quão transitória é a glória terrena, pois retrata o fim comum a todas as pessoas. O estudo de Kathleen Cohen sobre cinco religiosos franceses que encomendaram túmulostransi mostrou que, em comum, essas pessoas vivam em culturas mundanas e de ostentação do sucesso, que pareciam exigir uma exibição chocante da transitoriedade da morte. Um exemplo clássico é oTransi de Renato de Chalon, deLigier Richier, na igreja de Santo Estevão, emBar-le-Duc, na França.[5]
Essas tumbas de cadáveres, com suas intrincadas esculturas, eram feitas apenas para nobres de alto escalão, geralmente membros da realeza e altas autoridades eclesiásticas, porque exigiam grandes somas de dinheiro para serem encomendadas e porque apenas os mais poderosos tinham condições de abriga-las nos espaços limitados das igrejas. Alguns túmulos para a realeza eram túmulos duplos, tanto para um rei como para uma rainha. Os reis francesesLuís XII,Francisco I eHenrique II foram duplamente retratados, em efígie e como cadáveres nus, em seus dois túmulos de dois andares naBasílica de Saint-Denis, nos arredores deParis. No entanto, existem também outras variedades, como imagens de cadáveres esculpidos em lajes de pedra e esculpidos em metal fundido.[6]

A França tem uma longa história detransis, e foi onde esse termo se originou. Um dos exemplos mais antigos e anatomicamente convincentes é a efígie esquelética do médico medievalGuillaume de Harsigny (morto em 1393), emLaon.[7] Kathleen Cohen lista muitos outros exemplos existentes. Houve um reavivamento desse tipo de monumento tumular durante oRenascimento, como testemunham os túmulos deLuís XII e sua esposaAna da Bretanha, em Saint-Denis, e da rainhaCatarina de Médicis e de seu maridoHenrique II enterrado em uma tumba de cadáveres.
O mais antigotransi conhecido naInglaterra é uma gravura, portanto superficial, de uma efígie na laje tumular de um certo John the Smith (c.1370), em Brightwell Baldwin (Oxfordshire).[8]
A partir do séc. XV,transis esculpidos também surgiram na Inglaterra,[9] e monumentos desse tipo podem ser vistos em muitascatedrais e em algumasigrejasparoquiais. O mais antigo sobrevivente, naCatedral de Lincoln, é do bispo Richard Fleming, que morreu em 1431. ACatedral de Cantuária abriga o famoso monumento de cadáver de Henry Chichele,arcebispo da Cantuária (1414-1443). A Catedral deExeter abriga uma tumba desse tipo esculpida no séc. XVI, inscrita com: 'Eu sou o que você será, e eu era o que você é. Reze por mim, peço-lhe". ACatedral de Winchester também possui dois túmulos de cadáver.
Um exemplo pós-medieval é a efígie encoberta do poetaJohn Donne (m. 1631), na cripta daCatedral de São Paulo, em Londres.[10] Exemplos do período moderno significam fé na ressurreição.[11]
Transis são encontrados em muitas igrejasitalianas.Andrea Bregno esculpiu algumas delas, incluindo as do cardealAlain de Coëtivy emSanta Prassede, do cardeal Ludovico d'Albert emSanta Maria in Aracoeli e do bispo Juan Díaz de Coca na igreja deSanta Maria sopra Minerva, emRoma.[12]
Três outros monumentos são os do cardeal Matteo d'Acquaspart emSanta Maria in Aracoeli,[13] do bispo Gonsalvi (1298) e do cardeal Gonsalvo (1299) (ambos localizados naBasílica de Santa Maria Maior), todos esculpidos por Giovanni de Cosma.[12]
A Basílica de São Pedro contém ainda outrotransi, no túmulo do Papa Inocêncio III,[13] esculpido por Giovanni Pisano.[12]
Há vários monumentos de cadáveres e lajes de túmulos que podem ser encontrados naAlemanha e nosPaíses Baixos. Um exemplo impressionante é o monumento de dois andares localizado em Vianen, perto de Utrecht, que representa Reynoud van Brederode (m. 1556) e sua esposa Philippote van der Marck (m. 1537) como figuras encobertas no nível superior, e abaixo deles um único cadáver.
Um total de 11transis foram registrados naIrlanda, muitos dos quais não estão maisem seus locais de origem. O mais antigo registro completo desses monumentos foi compilado por Helen M. Roe em 1969.[14] Um dos exemplos mais conhecidos desta tradição é a monumental pedra calcária conhecida como 'The Modest Man', dedicada a Thomas Ronan (morto em 1554), e sua esposa Johanna Tyrry (m. 1569), que atualmente se encontra da cidade deCork. Este é um dos dois exemplos que foram registrados nessa localidade.
Uma variante disso são as Pedras Cadáver, que nem sempre fazem parte de um túmulo. Às vezes eles são simplesmente a parte superior realocada do túmulo, como é o caso da pedra tirada do túmulo de Sir Edmond Goldyng e sua esposa Elizabeth Fleming, construída na parede do pátio da igreja de São Pedro da Irlanda, Drogheda no início parte do século XVI.