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Traiol

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Caldeirões de traiol em exposição noSouthampton Historical Museum (Museu Histórico de Southamptom na Halsey House).

Traiol (plural:traióis) eram pequenas unidades de derretimento em grandescaldeiros, a céu aberto e a fogo directo, dos produtos dabaleia, inicialmente instalados a bordo dos navios empregues nabaleação, mas depois instalados nasestações baleeiras que foram criadas nos portos onde existiam botes baleeiros mas não existia fábrica ou outra estruturas industrial de aproveitamento doscetáceos caçados.[1] A palavra deriva do termo náutico norte-americanotrywork,[2] originalmente apenas aplicado às caldeiras existentes a bordo dos navios baleeiros.[3][4]

Descrição

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Origem dos traióis

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A presença de um traiol (otrywork), geralmente localizado a domastro mais a vante (traquete), era uma das características mais distintivas de umnavio baleeiro.

Nesta sua versão embarcada, o traiol era constituído por uma fornalha, normalmente construída em tijolo e fixada ao convés por suportes de ferro, sobre a qual assentavam dois grandes caldeiros de ferro fundido (ostrypots). Estes grandes caldeirões colocados no topo da fornalha eram usados ​​para aquecer agordura debaleia para a recuperação deóleo. A tarefa era semelhante ao método deprocessamento usado para produzirbanha por aquecimento ou fritura de carne de porco gordurosa. Um reservatório de água sob os tijolos impedia que a fornalha queimasse a madeira do convés.

Na indústria baleeira daNova Inglaterra dos séculos XVIII e XIX, o uso de traióis nos navios baleeiros permitiu que eles permanecessem no mar por mais tempo. Como podiam ferver o óleo durante a viagem, não precisavam carregar gordura não processada para o porto de regresso. As fatias de gordura eram cortadas o mais finamente possível para o processo ser eficaz. A finura das fatias era tal que nos navios baleeiros da Nova Inglaterra, essas fatias eram conhecidas como "folhas de Bíblia" ("bible leaves") pelos marinheiros.[5] A capacidade de usar traióis no mar mesmo durante a navegação, permitiu, assim, que a indústria baleeirayankee prosperasse.[6]

Estações baleeiras

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Com o apareceimento da baleação costeira, surgiu a necessidade da instalação de estações baleeiras em terra, sendo que a partir daí as estruturas de desmancha e de recuperação de gorduras passaram também a ser construídas em terra. Nas costas adjacentes às zonas de captura dos cetáceos, a partir de inícios doséculo XIX foram construídas estações em enseadas abrigadas ou em portos, para onde os animais abatidos eram rebocados. Estas estruturas eram constituídas por uma rampa de pedra, nalguns casos uma plataforma de desmancho em pedra ou madeira e os correspondentes traióis (ostryworks outry-works). As carcaças rebocadas do toucinho, e no caso doscachalotes também doespermacete, sendo os materiais gordurosos derretidos em traióis alimentados por lenhas.[7]

Na maioria das estações baleeiras não havia rampa de pedra, e as presas eram desmanchadas ou varadas no calhau ou deixadas a flutuar encostadas a um pequeno cais. Neste caso o cais funcionava como se fosse o convés e o costado de uma barca baleeira. O local de desmancho, esquartejamento no falar dos baleeiros, e os traióis nem sempre ficavam próximos pelo que o material a derreter tinha de ser transportado em carros de bois, que no caso dosAçores, onde estas estruturas forma muito frequentes, gradeados a vime (comseves).[8]

A remoção do toucinho e, no caso dos cachalotes, do espermacete, era feita por métodos artesanais, assentes nio uso de uma grandecortadeira ouespeiro (do inglêsspade), sendo os materiais cortados a serem elevados com o auxílio de roldanas e decabrestantes manuais, como era feito a bordo dos navios baleeiros. A carcaça esfolada não era utilizada, sendo rebocada e abandonada no mar alto.[8][7]

As estações baleeiras com traióis apareceram cedo nosAçores, já que surgiram ali com o início da baleação costeira, sendo que provavelmente a primeira foi a construída em 1832 nailha do Faial. O uso de traióis foi a única forma de aproveitamento das baleias durante cerca de um século, já que só em 1934 foi construída emSão Vicente Ferreira, nailha de São Miguel, a primeira unidade fabril usando a força do vapor para içar os cachalotes, mover os guinchos de desmancho e manter asautoclaves em carga.[8] Acabou por substituir a estação de traióis dosCapelas, que lhe ficava próxima e depois paulatinamente as de toda a ilha.[8][7]

No caso dos Açores, a indústria baleeira sofreu uma rápida modernização após aSegunda Guerra Mundial, período em que a frota baleeira dos países beligerantes esteve praticamente parada e o arquipélago contribuía com cerca de 40% das capturas mundiais de cachalotes..[8][7] Essa modernização, que se iniciara com a construção em 1934 da fábrica dos Poços de São Vicente Ferreira, em São Miguel, marcou o fim do uso de traióis, já que na sequência da grande valorização que então teve oóleo de baleia, foram construídas as fábricas dePorto Pim na ilha do Faial (em 1943), doCais do Pico nailha do Pico (1946), deSanta Cruz das Flores nailha das Flores (1946), e dasLajes do Pico, também na ilha do Pico (1954).[8][7] Todas processavam o toucinho, o espermacete e o osso, mas algumas processavam também carne para rações, sendo que uma delas extraía óleo de fígado.[7] A última a cessar o funcionamento, em 1984, foi a doCais do Pico, pertença dasArmações Baleeiras Reunidas.[8]

Referências

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  1. Património Baleeiro dos Açores.
  2. J. M. Soares de Barcelos, «Americanismo mais frequentemente ouvidos nos Açores» inBoletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LXXV (2017), p. 294. IHIT, Angra do Heroísmo, 2017.
  3. Melville, Herman,Moby-Dick,Chapter 96: "The Try-Works".
  4. Enciclopédia Açoriana: «estação baleeira».
  5. Cf.Moby-Dick,Chapter 95, "The Cassock", footnote 1.
  6. "Overview of American Whaling"Arquivado em 2010-04-07 noWayback Machine,New Bedford Whaling Museum,New Bedford, Massachusetts
  7. abcdefRobert Clarke, «Open Boat Whaling in the Azores - The History and Present Methods of a Relic Industry» inDiscovery Report, n.º 26, pp. 281-354 (traduzido para português em 2001, por Fernando Faria da Silva, sob o títuloBaleação em Botes de Boca Aberta nos Mares dos Açores - História e Métodos Actuais de uma Indústria-Relíquia).
  8. abcdefgEnciclopédia Açoriana: «estação baleeira«.

Bibliografia

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Ligações externas

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