Thomas Kuhn nasceu em 18 de julho de 1922 emCincinnati,Ohio,Estados Unidos, filho de paisjudeus: Samuel L. Kuhn, um engenheiro hidraulico formado emHarvard e noMIT; e Minette Stroock Kuhn, descrita como "a intelectual da família". Aos 6 meses de idade sua família se mudou paraManhattan, onde ele estudou em uma escolaprogressista até a quinta série. Depois disso, estudou em outras escolas progressistas em outras cidades para as quais sua família se mudou.[2]
Ingressou no curso deFísica (summa cum laude) daUniversidade de Harvard, em 1940, onde se formou no ano de 1943 por meio de uma aceleração de currículo.[2] Recebeu desta mesma instituição o grau demestre em 1946 e o grau dedoutor em 1949, ambos na área deFísica.
Após ter concluído odoutorado, Kuhn tornou-se professor em Harvard. Lecionou uma disciplina de ciências para alunos deciências humanas. A estrutura desta disciplina baseava-se nos casos mais famosos dahistória da ciência, pelo que Kuhn foi obrigado a familiarizar-se com este tema. Este fato foi determinante para o desenvolvimento da sua obra.
Seu primeiro livro foiA Revolução Copernicana, publicado em1957. Mas foi em1962, com a publicação do livroEstrutura das Revoluções Científicas, que Kuhn se tornou conhecido não mais como físico, mas, sim, como intelectual voltado para a história e a filosofia da ciência.
Em uma entrevista cedida à filósofa italianaGiovanna Borradori, no ano de1965, emLondres, Thomas Kuhn explica sinteticamente seu percurso acadêmico até a construção deste texto, que se tornaria o referencial de discussão entre os filósofos da ciência. Sua carreira inicia-se como físico e, até a defesa de sua tese de doutorado, tinha tido poucos contatos com a filosofia. Sua justificativa para este pouco contato com a filosofia é fundada principalmente na ocorrência daSegunda Guerra Mundial, pois havia, segundo ele, enorme pressão para empreender carreiras científicas e grande desprezo em relação às matérias humanísticas.
Todavia, foi naUniversidade de Harvard, quando teve que preparar um curso de ciências para não cientistas, que, pela primeira vez, ele utilizou exemplos históricos de progressos científicos. Dessa experiência, Kuhn percebeu que o desenvolvimento da ciência, em uma perspectiva histórica, era muito diferente da apresentada nos textos de Física ou mesmo deFilosofia da Ciência. O livroEstrutura das Revoluções Científicas foi, então, um texto produzido e direcionado a um público filosófico, mesmo não sendo um livro defilosofia. Isso porque, conforme o próprio autor afirmara, havia uma crítica aopositivismo sem conhecê-lo em profundidade, assim como não se sentia influenciado pelo pragmatismo deWilliam James eJohn Dewey.
A repercussão do seu livro foi tão grande na comunidade acadêmica que, já na segunda edição, em1970, Kuhn apresentou um pós-escrito, no qual seus pontos de vista são, em alguma medida, refinados e modificados. E, para responder às acusações de irracionalismo, ele escreve, em1974, um ensaio intituladoReconsiderando os paradigmas e, logo depois, desenvolve com maior profundidade as descontinuidades históricas, que foram apresentadas em outro livro chamadoTeoria do corpo negro e descontinuidade quântica: 1894-1912, publicado em1979.
Para o cientista social portuguêsBoaventura de Sousa Santos, amagnum opus de Kuhn marca o início da segunda - e atual - fase ou linha da chamadaSociologia da Ciência; a outra é marcada pela obra deRobert Merton, na década de 1940, nos Estados Unidos da América.[4]
A polêmica sobre a obra de Thomas Kuhn gira em torno da noção de paradigma científico e da "incomensurabilidade" entre os paradigmas.Ken Wilber defende, em seu livroA União da Alma e dos Sentidos, que a ideia de paradigmas proposta por Kuhn tem sido apropriada e abusada por grupos e indivíduos que tentam fazê-la parecer uma declaração de que a ciência é arbitrária. Entretanto, a obra de Kuhn abriu espaço para toda uma nova abordagem de estudos chamadosSocial Studies of Science (Estudos Sociais da Ciência) que desembocou noPrograma Forte da Sociologia.
Especula-se que Kuhn tenha se apropriado de muitas das ideias do médico polonêsLudwick Fleck (comoparadigma,revolução paradigmática,ciência normal e anomalias), que pouco escreveu sobre história da ciência e que permaneceu e permanece desconhecido de muitos.
Thomas S. Kuhn ocupou-se principalmente do estudo da história da ciência, no qual mostra um contraste entre duas concepções da ciência:
Por um lado, a ciência é entendida como atividade completamente racional e controlada (Perspectiva formalista);
Por outro, ela é entendida como atividade concreta que se dá ao longo do tempo e que, em cada época histórica, apresenta peculiaridades e características próprias (Perspectiva historicista).
Este contraste emerge na obraA Estrutura das Revoluções Científicas, ocasionando o chamadogiro histórico-sociológico da ciência, uma revolução na reflexão acerca da ciência, ao considerar próprios desta os aspectos históricos e sociológicos que rodeiam a atividade científica, e não só os lógicos e empíricos, como defendia o modelo formalista, o qual estava a ser desafiado pelo enfoque historicista de Kuhn.
A noção deparadigma resulta fundamentalmente neste enfoque historicista e não é mais que uma macroteoria, um marco ou perspectiva que se aceita de forma geral por toda a comunidade científica (conjunto de cientistas que compartilham um mesmo paradigma e realizam a mesma atividade científica) e a partir do qual se realiza a atividade científica, cujo objetivo é esclarecer as possíveis falhas do paradigma ou extrair todas as suas consequências. Em "Estrutura das Revoluções Científicas", o termo paradigma causou confusão a uma série de estudiosos. Kuhn esclareceria posteriormente que o termo pode ser utilizado num sentido geral e num sentido restrito. O primeiro diz respeito à noção de matriz disciplinar, que é o "conjunto de compromissos de pesquisa de uma comunidade científica[5]". O segundo sentido denota os paradigmas exemplares, que são a base da formação científica, uma vez que o pesquisador passa a dominar o conteúdo cognitivo da ciência através da experimentação dos exemplos compartilhados.
Aciência normal é o período durante o qual se desenvolve uma atividade científica baseada num paradigma. Esta fase ocupa a maior parte da comunidade científica, consistindo em trabalhar para mostrar ou pôr a prova a solidez do paradigma no qual se baseia. Thomas Kuhn estabelece três classificações possíveis para a constituição da ciência normal: determinação do fato significativo (constructos teóricos e práticos a respeito de leis da natureza), harmonização dos fatos com a teoria e articulação da teoria (resolução de ambiguidades e problemas).
Porém, em determinadas ocasiões, oparadigma não é capaz de resolver todos os problemas, que podem persistir ao longo de anos ou séculos inclusive, e neste caso o paradigma gradualmente é posto em cheque, e começa-se a considerar se é realmente o marco mais adequado para a resolução de problemas ou se deve ser abandonado. Então é quando se estabelece umacrise. O objeto de estudo predominante neste período denomina-se deanomalias.
Produz umarevolução científica quando um dos novos paradigmas substitui o paradigma tradicional. A cada revolução, o ciclo inicia de novo e o paradigma que foi instaurado dá origem a um novo processo de ciência normal. Kuhn afirma que "decidir rejeitar um paradigma é sempre decidir simultaneamente aceitar outro[5]".
Desta maneira, o enfoque historicista dá importância a fatores subjetivos que anteriormente foram passados por alto na hora de explicar o processo de investigação científica. Kuhn mostra que a ciência não é só um contraste entre teorias e realidade, senão que há diálogo, debate, tensões e até lutas entre os defensores de distintos paradigmas. E é precisamente nesse debate ou luta onde se demonstra queos cientistas não são só absolutamente racionais, não podem ser apenas objetivos, pois nem a eles é possível afastar-se de todos os paradigmas e compará-los de forma objetiva, senão que sempre estão imersos em um paradigma e interpretam o mundo conforme o mesmo. Isto demonstra quena atividade científica influi tanto interesses científicos (ex: a aplicação prática de umateoria)quanto subjetivos, como a existência de coletividades ou grupos sociais a favor ou contra uma teoria concreta, ou a existência de problemas éticos, de tal maneira que a atividade científica se vê influenciada pelo contexto histórico-sociológico em que se desenvolve. Também é verdade que, epistemologicamente falando, Thomas Kuhn se guia por um paradigma para estudar a formação dos paradigmas!
Para Kuhn a ciência é subjectiva e evolui de modo a se aproximar da verdade. Esta aproximação é feita pela substituição de teorias, paradigmas que são, de acordo comKarl Popper, objectivamente melhores que a teoria ou paradigma anteriores, sendo assim a ciência objectiva. Mas Kuhn critica este ponto de vista e afirma que dois paradigmas são incomensuráveis, e afirma também que, para um paradigma ser melhor que o outro, tinha de ser objectivamente melhor que o anterior, mas isso não acontece, pois os factores que levam a escolher um paradigma e desfavorecimento do anterior são factores subjectivos. Sendo assim, a ciência não é objectiva, pois as escolhas que levam à evolução da ciência são meramente subjectivas.