Osoliferro ousoliférreo[1] (emlatim:soliferreum), por vezes chamadosaunion,[2] é um tipo de arma branca perfurante, própria da Antiguidade clássica, mais concretamente, um tipo delança de arremesso de origemhispana.[3]
Foi criada por molde a satisfazer a necessidade de dispor dum projéctil que pudesse alcançar os 30 metros de distância ao ser arrojada, e que tivesse o poder perfurante suficiente para atravessar, a essa distância, osescudos e ascouraças.[4] Tinha a pesponta de ser uma arma que, se atirada em salvas, fosse capazes de semear a desordem nas formações inimigas, deixando-as em desvantagem, nos combates corpo-a-corpo, que se desenrolassem logo de seguida.[5]
A solução ibérica, para este problema, passara por conceber uma lança metálica inteiriça, forjada duma só peça de ferro, com um comprimento na ordem dos 2 metros. Em contrapartida, emRoma, a solução materializou-se na criação dopilo.[6]
Soliferro é o nome latino desta arma,solus,[7] que significa «só», eferrum,[8] que significa «ferro». Os celtiberos, contudo, chamavam a esta lança saunion.[2][9]
In totum, o soliferro media entre metro e meio a dois metros de comprimento.[9]
Além disso, dispunha de uma ponta ou ferrão, com cerca de 6 a 8 centímetros de comprimento, que podia assumir diversos formatos: por vezes, tratava-se meramente duma extremidade aguçada do hastil ou pértigo metálico; se bem que, o mais usual, era que o ferrão tivesse entre duas a quatro aletas, as quais poderiam estar dotadas de um ou mais ganchos, concebidas para dificultar a remoção do ferrão de dentro das feridas da vítima.[6][10]
O hastil férreo é de secção circular, com cerca de um centímetro de grossura ao meio, sendo que era mais grosso ao meio e mais fino nas extremidades.[4] Para facilitar a aderência, a parte do meio do hastil teria entalhes ou facetas com 10 centímetros, de feição a que a mão que estivesse a segurar na arma não escorregasse com o suor.[9][6]
O peso e a densidade consideráveis do material do hastil em muito contribuíam para potenciar a capacidade perfurante do soliferro, de tal ordem que, apesar de o ponto de incisão ser estreito, a força imprimida ao lançamento era de tal ordem, que era possível ao projéctil trespassar um alvo até ao meio do hastil, sem que houvesse atrito significativo.[11] Com efeito, o soliferro estava ideado para ser capaz de trespassar os escudos romanos sem que houvesse perdas significativas de impulso do lançamento.[6]
As informações disponíveis sugerem que o soliferro surgiu na zona daAquitânia eLanguedoc, a norte dosPirenéus, por torno doséculo VI a.C., tendo-se espalhado pelaPenínsula Ibérica mais tarde, tanto pelas zonas pastorais celtas, como pelas zonas do Levante espanhol e da Andaluzia, então ocupadas pelos iberos.[6] Foi naIbéria onde o soliferro alcançou maior popularidade, de tal ordem que sabemos, graças a dados arqueológicos e fontes literárias coevas, que continuava em uso, por ocasião da chegada dos romanos à Península, em finais doséculo III a.C., coexistindo com afalárica ou pilo ibérico.[4]
QuandoAníbal Barca tentou conquistar Roma pelos Alpes, inúmeros mercenários celtiberos engrossaram as hostes do seu exército.[10] NaSegunda Guerra Púnica, o soliferro desempenhou um papel importante, no âmbito das escaramuças.[5]
Posteriormente, chegou a figurar dentre a panóplia do exército romano, se bem que de pouca dura, porquanto os legionários desvalorizavam o soliferro, dada a carestia inerente ao seu processo de fabrico, quando havia alternativas igualmente eficazes e mais baratas, como o pilo.[10] O soliferro desapareceu no final daGuerras Cantábricas, por ocasião das quais o império romano subjugou a totalidade da Península Ibérica.[4]
Dada a dispendiosidade do fabrico desta arma, o soliferro estava associado à classe guerreira, mais abastada, dos povos que habitavam a Península Ibérica.[9] Usava-se em paralelo com acetra, o escudo dos celtiberos, com um em cada mão.[10]
Nos rituais fúnebres era prática comum que os guerreiros ibéricos fossem sepultados com as respectivas armas dobradas e inutilizadas. A razão de ser deste costume era dúplice:[4]