Movatterモバイル変換


[0]ホーム

URL:


Ir para o conteúdo
Wikipédia
Busca

Segundo Império Mexicano

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Esta imagem representa um artigo em processo de destacamento
Esta imagem representa um artigo em processo de destacamento
Este artigo foi proposto paradestaque. Um artigo destacado deve representar o melhor daWikipédia em português e, consequentemente, deve encontrar-se em concordância com oscritérios estabelecidos. Caso você sejaautoconfirmado estendido, poderá dar sua opinião napágina apropriada para que o artigo possa figurar napágina principal.
Império Mexicano

Imperio Mexicano (castelhano)

1863 — 1867 
Bandeira imperial
Bandeira imperial
 
Brasão de armas
Brasão de armas
Bandeira imperialBrasão de armas
Lema nacionalEquidad en la Justicia[1]
(Castelhano: Igualdade na Justiça)

Território reivindicado pelo Segundo Império Mexicano
ContinenteAmérica do Norte
CapitalCidade do México
Países atuais México

Língua oficialCastelhano
ReligiãoCatolicismo romano

Forma de governoMonarquia constitucional
Imperador
• 1864–1867 Maximiliano I
Ministro de Estado
• 1864–1866 José María Lacunza
• 1866–1867 Teodosio Lares
• 1867 Santiago Vidaurri

Período históricoIdade Contemporânea
• 1861 Segunda intervenção francesa
• 1863  Proclamação do império
• 1863  Regência
• 1864  Coroação de Maximiliano I
• 1867  Execução de Maximiliano I

População
 • 1865 8 259 080 (est.)

OSegundo Império Mexicano, oficialmenteImpério Mexicano (emcastelhano:Imperio Mexicano), foi umEstadonorte-americano que existiu no século XIX no território do atualMéxico. Foi governado como umamonarquia constitucional, tendoMaximiliano deHabsburgo-Lorena como único imperador.

O império foi fundado em um período de instabilidade, quando opartido conservador, derrotado naGuerra da Reforma, colaborou com as forças deNapoleão III em umaintervenção militar francesa para a criação de uma monarquia. Opositores daSegunda Repúblicaliberal deBenito Juárez, a elite e a nobreza mexicana, aIgreja Católica e algumascomunidades indígenas formaram a base de apoio político ao império. As tropas francesas chegaram ao México em abril de 1862, sendo inicialmente derrotadas pelos republicanos noCinco de Mayo daBatalha de Puebla. Apesar disso, aCidade do México foi capturada por franceses no ano seguinte e a Assembleia dos Notáveis convidou oarquiduque austríaco Maximiliano, irmão do imperadorFrancisco José I da Áustria, para assumir a coroa. Após umplebiscito de fachada, Maximiliano aceitou o convite e desembarcou emVeracruz em 1864; seu governo, contudo, foi marcado pelo conflito entre as facções conservadora e liberal e pela alta dependência na ajuda francesa, uma vez que as forças republicanas nunca se renderam. Com mudanças internacionais pelo fim daGuerra Civil dos Estados Unidos e pela formação daConfederação da Alemanha do Norte, o apoio francês foi reduzido até a retirada total de forças em 1867. No mesmo ano, Maximiliano e seus generaisTomás Mejía eMiguel Miramón foram capturados, julgados e fuzilados emQuerétaro comotraidores pelo exército do presidente Juárez após somente quatro anos de governo monárquico.

Politicamente, o império foi marcado pela tensão constante entre o reformismoilustrado de Maximiliano e a orientação conservadora dos monarquistas, somadas também à oposição armada dos liberais republicanos. Economicamente, pelos problemas de infraestrutura, crescente dívida externa e dificuldades de produção e exportação. Já militarmente, pela dependência no apoio francês e pelo estado de guerra civil contra o governo Juárez, que enfim se sobrepôs pela restauração da república e execução de Maximiliano e seus apoiadores.

História

[editar |editar código]

Antecedentes

[editar |editar código]
México antes daGuerra do Texas.

Desde a consolidação daindependência em 1821, o México estava dividido em duas facções: aliberal, que apoiava reformas para a instituição de uma república federalista laica e institucionalizada; e aconservadora, que apoiava somente reformas graduais que mantivessem um governo centralizado reconhecendo os direitos tradicionais de terras e do clero.[2]

AConstituição de 1857 e seus autores liberais.

Em 1855, o governo ditatorial do conservadorSanta Anna foi derrubado pelo golpe liberal doPlano de Ayutla após a perda de diversos territórios, como oTexas, oNovo México e aAlta Califórnia, naRevolução Texana eGuerra Mexicano-Americana.[3] Os liberais, então, iniciaram uma série de mudanças conhecidas comoLa Reforma para aumentar as competências dos estados federados, reduzir o poder do clero e privatizar propriedades rurais, sendo essa agenda consolidada naConstituição de 1857.[4] Conflitos sobre a extensão adequada das reformas, incluindo um racha entre liberais radicais e moderados, provocaram aGuerra da Reforma, que se alongou por quatro anos, gerou dívida externa para as duas facções e teve a vitória final do presidente liberalBenito Juárez.[5][6][7]

Com a facção conservadora recusando a derrota, cresceu a proposta da monarquia por parte de figuras como o generalJuan Nepomuceno Almonte e o arcebispoPelagio Antonio de Labastida y Dávalos. Para eles, o grande período de instabilidade e violência desde a independência teria demonstrado que o México não estava pronto para um governo republicano; ideia que não era inovadora, já que o México havia se tornado independente sob oPrimeiro Império Mexicano, deAgustín de Iturbide. Assim, no início de 1861, monarquistas mexicanos já articulavam com aFrança e aÁustria a criação de um império mexicano governado por um príncipe católico de casa europeia.[6][8][9]

Intervenção francesa

[editar |editar código]
Tela anônima (1870) daBatalha de Puebla (5 de maio de 1862).
Ver artigo principal:Segunda intervenção francesa no México

Em julho de 1861, o governo de Juárez decretoumoratória nas dívidas contraídas com a França,Espanha eGrã-Bretanha na ocasião da Guerra da Reforma. Sob a iniciativa deNapoleão III, as três potências europeias se reuniram emLondres e assinaram umtratado para enviar tropas e forçar o pagamento da dívida externa, com uma cláusula que garantia a neutralidade dos signatários para com a forma de governo e os assuntos internos do México.[6][10][11]

A primeira ação foi por parte da Espanha, que ocupouVeracruz em dezembro de 1861 com tropas vindas deCuba; em janeiro de 1862, chegaram também forças francesas e britânicas. Representantes espanhóis e britânicos propuseram fazer um acordo direto com o governo Juárez, a França inicialmente recusou, mas foi pressionada a aceitar e as negociações se iniciaram emLa Soledad, nas proximidades de Veracruz. Enquanto isso, Juárez começou os preparativos para guerra, apontandoIgnacio Zaragoza para liderar a defesa do México e promulgando uma lei quepunisse com a morte qualquer indivíduo que colaborasse com os invasores ou tentasse alterar a forma de governo mexicana. Similarmente, a França enviou reforços para Veracruz e protegeu o retorno do general conservador Almonte, antes exilado.[12][13]

Tela deJean-Adolphe Beaucé (1868) da tomada daCidade do México por forças francesas.

Com o acirramento das tensões, Espanha e Reino Unido chegaram a um acordo com o governo Juárez e logo retiraram suas forças. Então, a França repudiou as negociações de La Soledad e reiterou o ultimato militar. O primeiro confronto se deu no desfiladeiro deAcultzingo, com a vitória francesa e as forças republicanas recuando para a bem fortificadaPuebla. A derrota francesa natentativa de tomar a cidade surpreendeu tanto os mexicanos, aumentando a moral do exército, quanto os franceses, que escalaram o conflito enviando mais tropas e substituindo o generalConde de Lorencez pelo general veteranoÉlie Frédéric Forey, auxiliado pelo também general veteranoFrançois Achille Bazaine; essa vitória mexicana é comemorada ainda hoje no feriado deCinco de Mayo.[14]

Após a chegada de reforços e dos novos comandantes no final de 1862, um segundo avanço francês em Puebla era iminente; além disso, o general mexicano Zaragoza falecera detifo no mesmo período. A cidade resistiu um cerco de dois meses até ser capturada em maio de 1863 e, com a rota aberta para a capital, o presidente Juárez fugiu e restabeleceu seu governo emSan Luis Potosí. Os líderes franceses Forey e Bazaine, junto a seus aliados mexicanos conservadores, entraram sem resistência naCidade do México em junho de 1863.[15][16]

Regência

[editar |editar código]
Tela deCesare dell’Acqua (1867) do convite da delegação mexicana paraMaximiliano assumir a coroa, emMiramare (Trieste).

Assim que chegaram à capital, Forey e os conservadores convocaram uma Junta Superior para formar um novo governo, elegendo uma Assembleia de Notáveis, que se reuniu em julho de 1863 e decidiu por instituir um governo monárquico.[17][18] Foi eleita uma regência trina composta pelo general Almonte, o arcebispo Labastida e o ex-presidenteJosé Mariano Salas, a qual ofereceu a coroa mexicana para o príncipeMaximiliano, ex-vice-rei daLombardia-Vêneto e irmão mais novo do imperador austríacoFrancisco José I, membros da prestigiosa casa europeia deHabsburgo-Lorena.[19][20][21]

A proposta não era nova, mas ainda enfrentava resistência do imperador Francisco José e do próprio príncipe Maximiliano. Francisco José inicialmente autorizou o encontro com a delegação mexicana mediante o apoio político, militar e econômico incondicional da França e Grã-Bretanha junto à renúncia dos direitos austríacos por parte de Maximiliano. Também foi exigido um plebiscito para a aprovação do regime. Entretanto, o tratado de aceite, assinado em abril de 1864, garantiu somente o apoio francês e a renúncia à sucessão austríaca, sem garantias britânicas e com Maximiliano retendo o direito aoapanágio. Em maio de 1864, Maximiliano e sua consorte belgaCarlota desembarcaram em Veracruz,[22] sendo recebidos por uma delegação do regente Almonte; no mês seguinte, o casal imperial chegou à Cidade do México.[23][24]

Reinado de Maximiliano

[editar |editar código]
Mapa da ocupação francesa no momento da proclamação do império (10 de abril de 1864).
Tela deAlbert Gräfle (1865) do imperadorMaximiliano I do México.

O reinado de Maximiliano foi marcado por problemas e obstáculos à estabilidade. Em um campo ideológico, Maximiliano, um liberal, se aproximava mais das políticas do governo de Juárez e dos republicanos do que dos conservadores monarquistas que apoiavam seu regime. O grande ponto de tensão era a reversão das leis da reforma, sobretudo da nacionalização das propriedades da Igreja; os conservadores esperavam que Maximiliano revogasse essas medidas, ato que iria contra sua ideologia pessoal.[25][26]

Além disso, o império era subordinado militar e financeiramente ao apoio francês. Maximiliano dividia o comando militar com o general francês Bazaine de um exército heterogêneo de tropas mexicanas, austríacas, francesas,belgas eegípcias, o que gerava sectarismo e problemas logísticos, reduzindo a coesão e a disciplina das forças imperiais. Simultaneamente, o financiamento do Estado imperial era dependente de empréstimos franceses crescentes pelos custos da guerra, corrupção e gastos da corte.[27][28][29]

Apesar das dificuldades, Maximiliano tentou se dedicar ao governo do país sob uma política conciliatória. O imperador estrangeiro empreendeu viagens para conhecer seu domínio; visitou o norte, observando as minas emQuerétaro eGuanajuato, e também o oeste, parando na histórica cidade deMorelia. Na organização da administração estatal, Maximiliano tentou descentralizar o poder, formando ministérios e tribunais, além de dividir o território em departamentos e seções militares; para ocupar esses cargos, ele indicou tanto conservadores quanto liberais, mas a exponencial pressão militar tornou difícil preencher as vagas do serviço público. Economicamente, o império teve a incorporação dos dois primeiros bancos mexicanos, o Banco de Londres y México, de 1864, e o Banco de México, de 1865, além de obras de infraestrutura como o início da ferrovia Veracruz-Cidade do México, o aumento de linhas de telégrafo e o investimento em portos.[30][31]

O império chegou ao seu ápice territorial em 1865, mas sem nunca ter controlado a totalidade do México. Em um avanço que se iniciou ainda em 1863, antes da chegada de Maximiliano, os exércitos franco-mexicanos liderados por Bazaine tomaram Querétaro, Morelia eAguascalientes. O general mexicanoTomás Mejía avançou até San Luis Potosí, forçando uma segunda fuga do governo Juárez, agora paraChihuahua; a cidade deGuadalajara também se rendeu no início de 1864. As forças franco-mexicanas continuaram na ofensiva, capturandoZacatecas,Monterrei, e os portos deTampico eBagdad. Em dezembro de 1864, o avanço imperial no departamento de Chihuahua fez Juaréz fugir novamente, para a cidade fronteiriça deEl Paso del Norte. Apesar disso, a resistência republicana continuou, com guerrilhas e milícias atacando regularmente as áreas sob controle imperial e Juárez, a despeito dos rumores, não fugiu do país.[32][33][34]

Mesmo sem uma constituição formalizada, o reinado de Maximiliano operou sob o Estatuto Provisional do Império Mexicano de 1865, que dispunha sobre a forma e organização do governo, opoder judiciário, as forças militares, osdireitos e garantias individuais dos cidadãos, o desenvolvimento do país e o território e símbolos nacionais; contudo, não menciona aIgreja Católica. Entre os anos de 1865 e 1866, o império publicou mais de trezentos decretos, vinte leis e trinta regulações internas. Essas políticas aproximavam o governo imperial das propostas liberais de um Estado laico e institucionalizado, mas sem descartar o decoro e as cerimônias de uma corte à moda europeia.[30]

Ademais, como o casal imperial não teve filhos, Maximiliano decretou para si a tutela dos dois netos deAgustín de Iturbide,Salvador de Iturbide y Marzán eAgustín de Iturbide y Green, concedendo-lhes também os títulos de Príncipe deIturbide como herdeiros da coroa mexicana.[35]

Queda

[editar |editar código]
Tela deFrancisco de Paula Mendoza (1902) da entrada dePorfirio Díaz emPuebla.

As tensões entre a base de apoio conservadora da monarquia e a tendência de administração liberal do imperador logo transformaram apoiadores em críticos. A presença estrangeira era outra fonte de inquietação, tanto para as elites mexicanas, que foram forçadas a hospedar os oficiais franceses, quanto para a população nacionalista, que questionava a proeminência de estrangeiros na corte. Além disso, o império falhara em garantir a paz e estabilidade prometidas com a monarquia, uma vez que os meios de combate às guerrilhas e de resistência republicana cresciam em violência;[36] em 1866, um emissário nobre do novo rei belgaLeopoldo II, irmão da imperatriz consorte Carlota, foi assassinado no caminho da Cidade do México para Veracruz.[37]

Tela deÉdouard Manet (1868) dofuzilamento deMaximiliano.

Mudanças internacionais também dificultaram a posição do império. No Norte, asforças confederadas se renderam em maio de 1865, encerrando aGuerra de Secessão com um fim favorável para aUnião. Com isso, osEstados Unidos agora estavam livres para apoiar o governo Juárez e pressionar as potências europeias sem temer a intervenção estrangeira no seu próprio conflito interno; assim, diplomatas americanos emParis começaram a exigir a retirada de tropas francesas no México.[38] Já naEuropa, Napoleão III enfrentava uma crescente oposição interna e a possibilidade de guerra para conter a expansãoprussiana daConfederação da Alemanha do Norte. A ideia francesa de estabelecer um governo monárquico estável aliado nas Américas foi considerada um fracasso e um gasto desnecessário; assim, Napoleão III quebrou os acordos de apoio incondicional e iniciou a evacuação de seus exércitos ainda em 1866, sendo finalizada em março de 1867.[39][40][41]

Napoleão III e seus generais tentaram persuadir Maximiliano a abdicar e se exilar na Europa, mas ele recusou. Em fevereiro de 1867, as últimas tropas francesas saíram da Cidade do México enquanto forças republicanas avançavam. Uma semana depois, Maximiliano foi à defesa de Querétaro, onde se encontrou com seus generais Tomás Mejía eMiguel Miramón; o cerco da cidade se iniciou em março. Simultaneamente, o general republicanoPorfirio Díaz derrotava o monarquistaLeonardo Márquez, capturando Puebla em abril e cercando a Cidade do México dez dias depois. Querétaro resistiu até maio, quando o exército imperial foi traído e os portões da cidade foram abertos; Maximiliano e seus generais se renderam no mesmo dia.[42][43]

Fotografia doarco triunfal para o retorno deJuárez à capital (1867).

Capturado e mantido prisioneiro, Maximiliano e seus generais foram julgados por umacorte marcial em conformidade à Lei de 25 de janeiro de 1862, que previa a pena de morte para quaisquer indivíduos que colaborassem com os exércitos estrangeiros ou que tentassem alterar a forma de governo mexicana. Apesar dos pedidos de clemência de figuras políticas liberais, comoVictor Hugo eGiuseppe Garibaldi,[44] de monarcas europeus e dopapa Pio IX, Maximiliano e os generais Mejía e Miramón foram executados porfuzilamento em junho de 1867 em um morro nas proximidades de Querétaro. Ao saber da morte do imperador dois dias depois, a Cidade do México se rendeu, marcando o fim do império; Juárez retornou à cidade em 15 de julho do mesmo ano.[42][45]

Legado

[editar |editar código]
Fotografia da Capela Memorial Imperador Maximiliano (2006).

A figura pessoal de Maximiliano é compreendida na historiografia como um homem honrado e bem intencionado, sobretudo pela decisão de permanecer no México mesmo quando a queda do império era iminente frente à vantagem militar dos liberais, recusando os conselhos e propostas de abdicar e retornar à Europa.[46] Similarmente, a apreensão literária de Maximiliano nos romances do século XX sobre a queda do império também evoca uma memória de martírio do imperador, com contornos do místico e do épico na temática dos debates éticos.[47]

Ademais, mesmo com sua curta duração, algumas obras do império de Maximiliano ainda podem ser notados no México atual. OPaseo de la Emperatriz, um projeto da reforma urbana de moldes europeus promovida pelo governo imperial, é ainda uma das principais avenidas da Cidade do México, renomeada desde 1872 comoPaseo de la Reforma. Similarmente, oCastelo de Chapultepec, que servia como residência do imperador, foi renovado sob suas ordens e hoje é um importante ponto turístico da cidade; o seu local de morte,Cerro de las Campanas, é outro ponto turístico e parque nacional, tendo ganhado uma capela pelas ordens do imperador austríaco Francisco José I, seu irmão mais velho.[48]

Governo

[editar |editar código]
José Lacunza (esquerda) eSantiago Vidaurri (direita), o primeiro e o último Ministro de Estado do império.

O império não possuía uma constituição formalizada, mas era regido pelo estatuto provisório, de orientaçãoilustrada,[49] que dispunha sobre a organização do Estado e do governo. De acordo com essa ordenação, o imperador exercia o governo através de seus ministérios, que eram nove:[33]

Fotografia doCastelo de Chapultepec, que serviu como residência imperial (2024).
  1. Ministério da Casa Imperial;
  2. Ministério de Estado;
  3. Ministério de Negócios Estrangeiros e Marinha;
  4. Ministério de Governo;
  5. Ministério da Justiça;
  6. Ministério da Instrução pública e cultos (educação e religião);
  7. Ministério da Guerra;
  8. Ministério de Fomento (desenvolvimento);
  9. Ministério da Fazenda.

O imperador retinha o poder de apontar o Ministro da Casa Imperial e o Ministro de Estado, que erachefe do Conselho de Ministros. Os demais ministros eram apontados pelo próprio Ministro de Estado, na presença e permissão do imperador.[33]

Litografia deCarl Nebel (1836) daPraça Mayor daCidade do México, com vista para aCatedral da Assunção de Maria.

Além disso, o imperador estabeleceu o Senado como órgão legislativo unicameral. Possuíam uma cadeira no Senado:[50]

  • O Príncipe;
  • Cardeais, arcebispos e bispos;
  • Governadores de Departamento;
  • Prefeitos das cidades mais importantes;
  • Reitores universitários, presidentes de faculdades e acadêmicos;
  • O Presidente do Tribunal Superior de Justiça;
  • Representantes dos latifundiários e maiores credores, 40 representantes de proprietários de terras de médio porte e 10 representantes da pequena indústria;
  • 100 cidadãos escolhidos pelo Imperador que não tivessem antecedentes criminais;
  • 100 cidadãos eleitos pelo voto de seus concidadãos nos Departamentos do país.

Dessa forma, o Senado era composto pelos grupos sociais mais conservadores, que apoiavam e tinham instituído a monarquia. No mesmo sentido, mais da metade dos senadores era nomeado direta ou indiretamente pelo próprio imperador.[50]

Havia também o órgão paralelo do Conselho de Estado, com membros vindos da elite política e burocrática local, mas também estrangeiros; era responsável por assessorar o imperador e, por isso, tinha vasta influência nos rumos da corte. Ademais, o império possuía tribunais civis com magistrados independentes e audiências públicas; além de um Tribunal de Contas apontado pelo imperador.[33]

Economia

[editar |editar código]
Litografias deCarl Nebel (1836) deVeracruz, principal porto mexicano (superior); e deZacatecas, principal região mineira (inferior)

O período imperial foi marcado pela estagnação econômica do México, consequência do estado contínuo de conflitos político-militares e do declínio do setor mineiro. Nos últimos anos do império, o México exportava somente cerca de 24 milhões de pesos em comparação com as cifrasargentinas,chilenas eperuanas de 30 milhões de pesos, enquantoCuba exportava mais que o dobro, 57 milhões de pesos. Similarmente, uma estagnação demográfica atingiu aCidade do México; ainda era a cidade mais populosa naAmérica hispânica, com cerca de 220 mil habitantes, mas seguida pelos números próximos deHavana eBuenos Aires, com 200 mil habitantes cada, sendo a taxa de crescimento portenha maior.[51][52]

Havia expectativas locais e europeias de que a independência fosse favorecer o setor mineiro pela abertura do comércio, tendo sido o México a zona mineira mais rica do fim doperíodo colonial. Entretanto, o efeito foi de declínio com uma eventual recuperação, sem que nunca se superasse os volumes coloniais. A abertura do mercado causou, de fato, um aumento na demanda por metais preciosos, mas o crescimento da produção foi dificultado pela instabilidade política e bélica. Com mínimos danos militares à infraestrutura, o principal fator para o declínio foi a suspensão de investimentos na expansão e manutenção dos empreendimentos, consequências indiretas das guerras. Em suma, o setor mineiro, apesar de parcialmente recuperado, crescia abaixo das expectativas e com perdas financeiras.[53]

A dívida externa e os gastos com a guerra-civil eram as principais despesas que oneravam os cofres imperiais. O Tratado de Miramare, o mesmo que havia acordado a posse de Maximiliano como imperador, comprometia o México ao pagamento de 270 milhões de francos fixos somados a 76 milhões com 3% de juros anuais pelas despesas de guerra da intervenção francesa; o México devia também o pagamento de todos os gastos de abastecimento do exército francês. No mesmo sentido, o total de empréstimos com a França somou 732,6 milhões de francos, dos quais o México utilizou 369,8 milhões enquanto a receita mexicana no período totalizou somente 322,7 milhões. Ao final de 1865, a bancarrota do Estado imperial mexicano já era iminente.[54][55]

Política indigenista

[editar |editar código]
Tela deJean-Adolphe Beaucé (1865) da visita de uma delegação do povokickapoo à corte de Maximiliano.

Os povos indígenas no império constituíam a maioria demográfica do país, mas eram atingidos por condições de pobreza e marginalização social. Durante o reinado de Maximiliano, a política instituída foi a de tutela com fins de gradual integração das comunidades indígenas à sociedade mexicana nos moldes imperiais.[56]

O Estado imperial buscou reinstituir opaternalismo da ordem social daNova Espanha, classificando os indígenas como classes carentes. Este estatuto jurídico era a continuidade da definição colonial de "classes miseráveis", ligada a difusão docatolicismo, que determinava a proteção de todos os nativos convertidos. Ao restaurá-lo de forma moderna, Maximiliano instituiu um privilégio jurisdicional de proteção estatal aos povos indígenas, criando também a Junta Protetora das Classes Carentes para receber as petições e aconselhar o imperador nos assuntos indígenas, semelhante ao antigoConselho das Índias. Coube, portanto, ao imperador mediar as questões relacionadas ao direito sobre terras e águas, tendo legislado para a reintrodução da propriedade comunal, extinta desde aConstituição de 1857.[57][58]

Brasão de armas do Segundo Império Mexicano, contendo o mito de fundação deTenochtitlan no centro de um escudo erguido por doisgrifosHabsburgo.

Ademais, tentou-se emular a herançaasteca como legitimizadora do governo imperial. Leis foram publicadas emlíngua náuatle e o império contava com conselheiros indígenas, comoFaustino Galicia Chimalpopoca, além da Junta Protetora dedicada a aconselhar a Coroa de acordo com as petições indígenas.[59] Nesse sentido, o cargo de imperador foi idealizado como uma continuidade doHuey Tlatoani, governante daTríplice Aliança Asteca.[60] Essas medidas foram bem recebidas por algumas comunidades indígenas, como as deZapopan eTepoztlán,[61][62] que identificavam, no imaginário monárquico, a figura imperial como salvadora.[63] Entretanto, a resposta indígena não foi uniforme, com outras comunidades optando pela aliança com a resistência liberal, como é o caso da luta armada emIucatã.[64]

Subdivisões

[editar |editar código]

O império era dividido em cinquenta departamentos definidos por critérios geográficos físicos e populacionais. O número de cinquenta havia sido uma exigência de Maximiliano para o autor do projeto,Manuel Orozco y Berra.[65] Nos departamentos atravessados pelassierras madres (Oriental,Ocidental eMeridional) esierras menores, as divisas foram as grandes elevações; nos demais departamentos, os corpos d'água como rios e lagos foram o principal fator.[66]

Cada departamento era governado por um prefeito, que era um representante do imperador, e possuia um conselho departamental formado por donos de terra, comerciantes e industrialistas, a depender das condições particulares de cada departamento. Contudo, devido à guerra civil com o governo Juárez, nem todos os departamentos estiveram sujeitos à administração imperial.[33][67]

Departamentos e suas capitais no Segundo Império Mexicano[68]

Ver também

[editar |editar código]
Parte de umasérie sobre a
História do México
Segunda República

Portal México

Referências

  1. McAllen 2014, p. 131
  2. Hernández-Sáenz 2018, pp. 1–2
  3. Bazant 1985, pp. 451–453
  4. Bazant 1985, pp. 454–459
  5. Bazant 1985, pp. 460–464
  6. abcHernández-Sáenz 2018, p. 2
  7. Hamnett 2019, pp. 209–217
  8. Bazant 1985, p. 465
  9. McAllen 2014, p. 53
  10. McAllen 2014, pp. 59–60
  11. Bazant 1985, pp. 465–466
  12. Hernández-Sáenz 2018, p. 3
  13. Hamnett 2019, pp. 218–219
  14. Hernández-Sáenz 2018, pp. 3–4
  15. Hernández-Sáenz 2018, pp. 4–5
  16. Hamnett 2019, pp. 220
  17. McAllen 2014, p. 98
  18. Shawcross 2018, pp. 199–200
  19. Hamnett 2019, p. 219
  20. Hernández-Sáenz 2018, pp. 5–6
  21. Bazant 1985, pp. 466–467
  22. McAllen 2014, pp. 3–8
  23. Hernández-Sáenz 2018, pp. 6–7
  24. McAllen 2014, pp. 14–19
  25. Hernández-Sáenz 2018, p. 7
  26. Hamnett 2019, pp. 222–223
  27. Hernández-Sáenz 2018, pp. 7–8
  28. McAllen 2014, pp. 164–165
  29. Shawcross 2018, pp. 220–223
  30. abHernández-Sáenz 2018, pp. 8–9
  31. Halperín Donghi 1985, p. 331
  32. Hamnett 2019, p. 222
  33. abcdeHernández-Sáenz 2018, p. 8
  34. Bazant 1985, p. 468
  35. Ridley 1992, pp. 217–218
  36. Shawcross 2018, pp. 204–205
  37. Hernández-Sáenz 2018, pp. 9–10
  38. McAllen 2014, pp. 208–211
  39. Hamnett 2019, p. 225
  40. Hernández-Sáenz 2018, pp. 10–11
  41. Bazant 1985, pp. 469
  42. abHernández-Sáenz 2018, p. 11
  43. Hamnett 2019, pp. 225–226
  44. McAllen 2014, p. 388
  45. McAllen 2014, pp. 383–387
  46. Valtierra Zamudio 2016, pp. 273–276
  47. Bobadilla-Encinas 2019, pp. 55–57
  48. Hernández-Sáenz 2018, pp. 11–12
  49. Bazant 1985, pp. 467
  50. abCuervo Álvarez 2014, p. 96
  51. Halperín Donghi 1985, p. 334
  52. Halperín Donghi 1985, p. 343
  53. Halperín Donghi 1985, pp. 308–311
  54. Cuervo Álvarez 2014, p. 86
  55. Cuervo Álvarez 2014, p. 105
  56. Ramírez Bañuelos 2021, pp. 43–44
  57. Ramírez Bañuelos 2021, pp. 46–51
  58. Ramírez Bañuelos 2021, pp. 58–59
  59. Ramírez Bañuelos 2021, p. 46
  60. Ramírez Bañuelos 2021, p. 44
  61. Granados García 1998, p. 56
  62. Granados García 1998, p. 63
  63. Granados García 1998, p. 46
  64. Monroy Casillas 1998, pp. 113–119
  65. Commons 1989, p. 90
  66. Commons 1989, pp. 93–94
  67. Commons 1989, pp. 84–85
  68. Commons 1989, pp. 98–124


Bibliografia

[editar |editar código]
  • Bazant, Jan (1985). «Mexico from Independence to 1867». In: Bethell, Leslie.The Cambridge History of Latin America: From Independence to c. 1870 [A História Cambridge da América Latina: da independência até cerca de 1870] (em inglês).3. Cambridge: Cambridge University Press. pp. 423–471.ISBN 0521232244 
  • Bobadilla-Encinas, Gerardo Francisco (2019). «La novela de la Intervención y el Segundo Imperio mexicano: Una polémica silenciada» [O romance sobre a Intervenção e o Segundo Império Mexicano: uma polêmica silenciada].La Colmena (em espanhol) (103): 43–58.ISSN 1405-6313 
  • Commons, Áurea (1989). «La división Territorial Del Segundo Imperio Mexicano, 1865» [A divisão territorial do Segundo Império Mexicano, 1865].Estudios De Historia Moderna Y Contemporánea De México (em espanhol).12 (12): 79–124.doi:10.22201/iih.24485004e.1989.012.68932 
  • Cuervo Álvarez, Benedicto (2014). «Maximiliano I y el Segundo Imperio mexicano» [Maximiliano I e o Segundo Império Mexicano].La Razón Histórica (em espanhol) (28): 82–116.ISSN 1989-2659 
  • Halperín Donghi, Tulio (1985). «Economy and society in post-Independence Spanish America». In: Bethell, Leslie.The Cambridge History of Latin America: From Independence to c. 1870 [A História Cambridge da América Latina: da independência até cerca de 1870] (em inglês).3. Cambridge: Cambridge University Press. pp. 299–345.ISBN 0521232244 
  • Granados García, Aimer (1998). «Comunidad indígena, imaginario monárquico, agravio y economía moral durante el segundo imperio mexicano» [Comunidade indígena, imaginário monárquico, queixas e economia moral durante o Segundo Império Mexicano].Secuencia (em espanhol) (41): 45–74.doi:10.18234/secuencia.v0i41.612 
  • Hamnett, Brian R. (2019).A Concise History of Mexico [História Concisa do México] (em inglês) 3 ed. Cambridge: Cambridge University Press.ISBN 9781316626610 
  • Hernández-Sáenz, Luz María (2018). «The French Intervention in Mexico and the Empire of Maximilian and Carlota» [A Intervenção Francesa no México e o Império de Maximiliano e Carlota].Oxford Research Encyclopedia of Latin American History (em inglês).doi:10.1093/acrefore/9780199366439.013.573 
  • McAllen, M. M. (2014).Maximilian and Carlota: Europe's Last Empire in Mexico [Maximiliano e Carlota: o último império europeu no México] (em inglês). San Antonio: Trinity University Press.ISBN 9781595341839 
  • Méndez Camacho, Erik Ricardo (2024). «Entre bayonetas y plumas: la legislación de imprenta, la prensa y el sistema de apercibimientos durante la Regencia del Imperio y el Segundo Imperio mexicano (1863-1867)» [Entre baionetas e penas: a legislação tipográfica, a imprensa e o sistema de advertência durante a Regência do Império e o Segundo Império Mexicano (1863-1867)].Historia Y Espacio (em espanhol).20 (62): 51–76.doi:10.25100/hye.v20i62.14244 
  • Monroy Casillas, Ilihutsy (2003). «La resistencia liberal y popular en la península yucateca durante el Segundo Imperio, 1865-1867» [Resistência liberal e popular na Península de Yucatán durante o Segundo Império, 1865-1867].Cuicuilco Revista de Ciencias Antropológicas (em espanhol).101 (122): 82–116.ISSN 1405-7778 
  • Ramírez Bañuelos, Jesús Francisco (2021). «La tutela imperial de los indígenas en el Segundo Imperio Mexicano (1864–1866)» [A tutela imperial dos povos indígenas no Segundo Império Mexicano (1864–1866)].Acta Hispanica (em espanhol).26: 43–61.doi:10.14232/actahisp/2021.26.43-61 
  • Ridley, Jasper (1992).Maximilian and Juárez [Maximiliano e Juárez] (em inglês). Londres: Phoenix Press.ISBN 1842121502 
  • Shawcross, Edward (2018).France, Mexico and Informal Empire in Latin America, 1820-1867: Equilibrium in the New World [França, México e Império Informal na América Latina, 1820-1867: equilíbrio no Novo Mundo] (em inglês). Londres: Palgrave Macmillan.ISBN 9783319704647 
  • Valtierra Zamudio, Jorge (2016).«Solamente por honor: Ocaso del Segundo Imperio Mexicano» [Somente pela honra: declínio do Segundo Império Mexicano].Muuch' xíimbal Caminemos juntos (em espanhol) (3): 247–278 


Impérios da
Antiguidade
Impérios da
Idade Média
Impérios da
Idade Moderna

e daIdade
Contemporânea
Impérios coloniais
Obtida de "https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Segundo_Império_Mexicano&oldid=71201837"
Categorias:
Categorias ocultas:

[8]ページ先頭

©2009-2025 Movatter.jp