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Livro de Salmos

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IX

Salmos (do gregoΨαλμός, emtransliteração latinamúsica, pois o nome no original hebraico éמזמור emtransliteração latinamizmor oumúsica) ouTehilim (dohebraicoתהילים emtransliteração latinalouvores) é um livro doTanakh (faz parte dos escritos ouKetuvim) e daBíblia Cristã, sucede oLivro de Jó, pois este encerra a sequência de "livros históricos", e antecede oLivro dos Provérbios, iniciando os "livros proféticos" e os "livros poéticos", em ordem cronológica,[1][2] sendo o primeiro livro a falar claramente doMessias (ouCristo) e seu reinado, e doJuízo Final. É o maior livro de toda Bíblia[3] e constitui-se de 150 (ou151 segundo aIgreja Ortodoxa) cânticos e poemas proféticos, que são o coração doAntigo Testamento. É espécie de síntese que reúne todos os temas e estilos dessa parte da Bíblia,[4], utilizado pelo antigo Israel como hinário noTemplo de Jerusalém, e, hoje, como orações ou louvores, tanto noJudaísmo, noCristianismo e também noIslamismo (oCorão no cap. 17, verso 82, refere os salmos como "um bálsamo"). Tal fato, comum aos três monoteísmos semitas, não tem paralelo, dado que judeus, cristãos e muçulmanos acreditam nos Salmos que foram escritos emhebraico, depois traduzidos para ogrego elatim.

Origens

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Leitura do livro completo dos Salmos

A autoria da maioria dos salmos é atribuída ao reiDavi, o qual teria escrito pelo menos 74 poemas[5].Asafe é considerado o autor de 12 salmos. Os filhos deCorá escreveram em torno de nove salmos e o reiSalomão ao menos dois.Hemã, com os filhos de Corá, bem comoEtã eMoisés, escreveram no mínimo um cada. Todavia, 51 salmos seriam tidos de autoria desconhecida.

O período em que os salmos foram compostos varia muito, representando um lapso temporal de aproximadamente um milênio, desde a data aproximada de 1440a.C., quando houve o êxodo dosIsraelitas doEgito até o cativeiro babilônico, sendo que muitas vezes esses poemas permitem traçar um paralelo com os acontecimentos históricos, principalmente com a vida de Davi, quando, por exemplo, havia fugido da perseguição promovida pelorei Saul (Salmos 18, 52, 54) e de seu próprio filhoAbsalão (Salmo 3) ou quanto ao arrependimento pelo seu pecado comBate-Seba (Salmo 51).

Poemas de louvor, os salmos foram inicialmente transmitidos através da tradição oral e a fixação por escrito teve lugar, sobretudo através do movimento de recolha das tradições israelitas, iniciado no exílio babilônico pelo profetaEzequiel (séculos VII-VI a.C.). Como tal, muitos destes textos são muito anteriores, sendo bastante difícil a sua crítica do ponto de vista literário estritos. Ainda assim, tendo em conta a comparação com a literatura poética coeva doEgito, daAssíria e daBabilônia, pode-se afirmar que estes poemas deIsrael são um dos expoentes da poesia universal.

Os salmos, em termos de conteúdo, possuem estrutura coerente, o que também pode ser observado em passagens do Antigo Testamento e em obras literárias doOriente Médio daAntiguidade.[6]

Tal como em outras tradições culturais, também a poesia hebraica andava estreitamente associada à música. Assim, embora não seja de se excluir para os salmos a possível recitação em forma de leitura, "todavia, dado o seu gênero literário, com razão são designados emhebraico pelo termoTehillim, isto é, «cânticos de louvor», e, em gregopsalmói, ou seja, «cânticos acompanhados ao som dosaltério», ou ainda: oração cantada e acompanhada com instrumentos musicais.[4]

De fato, todos os salmos possuem um certo caráter musical, que determina o modo como devem ser executados. E assim, mesmo quando o salmo é recitado sem canto, ou até individualmente ou em silêncio, a sua recitação terá de conservar este caráter musical[7]

Os salmos acabaram por constituir um hinário litúrgico para uso no templo deJerusalém, do qual transitaram quer para a sinagoga judaica, quer para as liturgias cristãs.

NaIgreja Católica, os 150 salmos formam o núcleo da oração cotidiana: a chamadaLiturgia das Horas, também conhecida porOfício Divino e cuja organização remonta aBento de Núrsia. A oração conhecida porrosário, com as suas 150Ave Marias, formou-se por analogia com os 150 salmos do ofício ritual católico. Outra forma muito popular é organizar listas de Salmos por finalidade, isto é, salmos para serem rezados em determinadas ocasiões como festas, doenças, colheitas ou funerais. Historicamente, a primeira destas listas foi organizada a partir da prática de Arsênio da Capadócia, que rezava um salmo como uma oração com certas finalidades.

Os salmos são também poesia, que é a forma mais apropriada para expressar os sentimentos diante da realidade da vida permeada pelo mistério de Deus, o aliado que se compromete com o homem para com ele construir a história. É Deus participando da luta pela vida e liberdade. Dessa forma, os salmos convidam para que também nós nos voltemos com atenção para a vida e a história. Nelas descobrimos o Deus sempre presente e disposto a se aliar, para caminhar na luta pela construção do mundo novo.[4]

Perspectiva teológica

Os salmos supõem o contexto maior de uma fé que nasce da história e constrói história. Seu ponto de partida é o Deus libertador que ouve o clamor do povo e se torna presente, dando eficácia à sua luta pela liberdade e vida (Ex 3,7-8). Por isso, os salmos são as orações que manifestam a fé que os pobres e oprimidos têm no Deus aliado. Como esse Deus não aprova a situação dos desfavorecidos, o povo tem a ousadia de reivindicar seus direitos, denunciar a injustiça, resistir aos poderosos e até mesmo questionar o próprio Deus. São orações que nos conscientizam e engajam na luta dentro dos conflitos, sem dar espaço para o pieguismo, o individualismo ou a alienação.[4]

O livro dos Salmos é um dos mais citados pelos escritores doNovo Testamento. O próprioJesus orava os salmos, e sua vida e ação trouxeram significado pleno para o sentido que essas orações já possuíam. Depois dele, os salmos se tornaram a oração do novo povo de Deus, comprometido com Jesus Cristo para a transformação do mundo, em vista da construção doReino.[4]

Vários salmos são considerados pelos teólogos comoproféticos oumessiânicos, pois referem-se à vinda doCristo e, por isso, existem muitas citações de versos dos salmistas noNovo Testamento com o propósito de provar o cumprimento dasprofecias na pessoa deJesus.[8] Nocatolicismo os salmos são também fonte teológica para algumas devoções, como é o caso dadevoção deMaria comoRainhados Ceús, que considera o Salmo 45 (44) como profético (cc.Lucas 1, 48).

O Salmo 150 costuma ser considerado, embora não necessariamente, também uma "doxologia", ou arremate de louvor do Livro dos Salmos[9].

Perspectivaateológica

Sob outro ponto de vista, de cunhoateológico, pode-se considerar os salmos, no que tange ao seu pretendido aspecto profético, como inseridos num conjunto bíblico de asserções proféticas, que expressam mais o desejo de salvação do humano diante da precariedade, incerteza e incompreensibilidade da vida e do mundo do que propriamente predições exatas satisfatoriamente justificadas[carece de fontes?].

De um ponto de vistaateológicocrítico, defende-se que a verificação de uma suposta cadeia de cumprimentos proféticos na Bíblia se deve não a uma verificação objetiva de uma verdade histórica justificada com métodos rigorosos, mas sim ao desejo de busca de um sentido último da vida e do mundo, pelo qual projeta-se na sucessão textual de supostas profecias uma ânsia de sentido pela história de salvação do humano[carece de fontes?].

Em suma, do ponto de vistaateológico, fé nas profecias (e na doutrina religiosa em geral) é não apenas convicção subjetiva desprovida de provas objetivas, mas também uma modalidade de auto-engano psico-social, pelo qual se controla e arrefece as tensões desequilibrantes decorrentes da angústia diante da incompreensibilidade irremediável e das incertezas e dores da vida e do mundo[carece de fontes?].

Traduções e variações

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Selo israelense de 1968 citando o versículo 6 do Salmo 122 ("Orai pela paz de Jerusalém") escrito em hebraico e inglês

O livro dos Salmos chegou até nós em sua versão grega (Septuaginta) e hebraica. A versão grega deste livro, como de toda a Bíblia, foi utilizada pelos cristãos convertidos e porSão Jerônimo na confecção de sua edição "Vulgata", tradução latina dos livros inspirados. NaReforma Protestante é que se buscaram os manuscritos originais hebraicos para fazer novas traduções e foi constatada a diferença que havia entre as duas traduções: as versões, apesar de terem o texto completo, diferem na numeração de capítulos e versículos.

Versículos

A versão grega costuma apresentar, na maioria dos salmos, um versículo de introdução, em que são atribuídas autorias e apontados instrumentos que deveriam ser utilizados ao se cantar os textos. Este versículo faz com que a versão hebraica tenha, nesses casos, um versículo a menos, uma vez que essas informações não são consideradas inspiradas por essa versão.

Capítulos

Em suma, pode-se dizer que entre os Salmos 10 e 148, a numeração daBíblia Hebraica está uma unidade à frente da numeração seguida naSeptuaginta e naVulgata, que juntam: os Salmos 9 e 10 no Salmo 9 (da Septuaginta/Vulgata), e, os Salmos 114 e 115 no Salmo 113 (da Septuaginta/Vulgata); e dividem: o Salmo 116 nos Salmos 114 e 115 (da Septuaginta/Vulgata), e, o o Salmo 147 nos Salmos 146 e 148 (da Septuaginta/Vulgata).[10]

A tabela abaixo exibe uma comparação:.[11]

Texto hebraico  Texto grego
1 a 8  1 a 8
9 e 10  9
11 a 113  10 a 112
114 e 115  113
116  114 e 115
117 a 146  116 a 145
147  146 e 147
148 a 150  148 a 150
Aplicação

NoJudaísmo e noProtestantismo, a numeração usada para os Salmos sempre foi a de tradição original hebraica.

OCatolicismo, considerando oficial a tradução da "Vulgata", por muito tempo usou a numeração grega em suasBíblias. Porém, estudiosos consideram essa numeração errada, uma vez que certos salmos, que parecem ser um só, estão separados, enquanto outros, de assuntos bem diferentes, estão juntos. Vendo que a Vulgata era falha ao se basear somente num texto (Septuaginta), e no ínterim de novas descobertas das Escrituras (Manuscritos do Mar Morto), a Igreja permitiu a tradução das Escrituras diretamente dos originais (Constituição DogmáticaDei Verbum) e promoveu uma nova tradução e revisão da Bíblia ("Neovulgata"), que, desta vez, trouxe a numeração dos salmos a partir da versão hebraica, mas não resolveu a questão dos versículos introdutórios. A despeito desta nova tradução católica, é possível encontrar Bíblias católicas que ainda se baseiam na Vulgata, por seu tradicionalismo, como é o caso daBíblia Sagrada (editora Ave Maria).

Salmos proféticos

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"Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção."[16]
  • Por sua vez, o Salmo 22[17] fala do sofrimento e da vitória doMessias que se entende cumprido na crucificação deJesus, principalmente devido aos versos 7 e 18 que, respectivamente, coincidem com a zombaria experimentada durante o martírio e a repartição das vestes pelos soldados.

Todos esses salmos foram proferidos pelo rei Davi, que teria governadoIsrael um milênio antes do ministério deJesus.

Deve-se alertar que os referidos Salmos seguem à numeração contida daBíblia Protestante, que difere-se da numeração presente naBíblia Católica, diferença que não contém essencialmente prejuízo ao conteúdo, pois aBíblia Sagrada éomne initium.

Salmos e o Rei David

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Vários salmos relacionam-se com os acontecimentos que marcaram a vida do rei David:

  • O Salmo 59 tem a ver com a ocasião em que oRei Saul teria enviado homens à casa de David para prendê-lo. Já os Salmos 34 e 56 referem-se à sua fuga da presença de Saul. Por sua vez, o Salmo 142 foi composto quandoDavid encontrava-se escondido nacaverna de Adulão, na região domar Morto.
  • Ao terminar a perseguição de Saul, David compõe o Salmo 18, ressaltando a fidelidade deDeus.
  • Quando é confrontado peloprofetaNatã sobre o seu adultério com Bate-Seba e a morte deUrias, David compõe o Salmo 51, demonstrando o seu verdadeiro arrependimento.
  • Novamente ao ser perseguido, agora por seu filhoAbsalão, David ainda escreve os Salmos 3 e 7, o que revela sua confiança no livramento deDeus.
  • Além destes citados acima, outros Salmos que se relacionam com passagens da vida de David seriam o 52 (depois que Doengue assassinou os 85 sacerdotes e suas famílias), o 54 (quando os zifeus tentaram traí-lo), o 57 (enquanto se escondia em uma caverna) e o 63 (enquanto escondia-se nodeserto deEn-Gedi).

Salmos e música cultual

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A história do canto do salmo naliturgia do culto cristão corre paralela à história daliturgia, da música e dasigrejas (mais corretamente confissões, denominações ou ministérios) cristãs. Após o desenvolvimento do salmo responsorial noséculo IV, a função do salmista acaba por se transformar num ministério próprio, mais tarde incluído até no clero local. No entanto, esse ministério acaba por cair em desuso com a especialização crescente dos cantores e com a instituição dasscholae, ao mesmo tempo em que a participação do povo se reduz.

No culto católico (missa), o salmo vê-se limitado a um únicoversículo, nas versões extraordinariamente elaboradas do "canto gradual gregoriano", assim chamado por ser cantado dos degraus do altar. NoOfício Divino, o canto dos salmos recebe também o desvelo de gerações de compositores, que expressamente compõem algumas das obras-primas da música ocidental, em particular para o solene canto deVésperas, como, por exemplo,Vespro della Beata Vergine Maria, de 1610, deClaudio Monteverdi, ou asVesperae Solennes de Confessore, KV 339, deWolfgang Amadeus Mozart), mas onde muitas vezes, na prática, aoração cede lugar aoconcerto.

NaIgreja Católica, omotu proprioTra le Solecitudini (Inter pastoralis officii sollicitudines) de 1903, doPio X, exclui daliturgia os salmos "de concerto". Com oConcílio Vaticano II, restaura-se o salmo responsorial na missa, pelaInstrução Geral do Missal Romano de 1969.

Referências

  1. Echegary, J. González et ali (2000).A Bíblia e seu contexto 2 ed. São Paulo: Edições Ave Maria. 1133 páginas.ISBN 978-85-276-0347-8 
  2. Pearlman, Myer (2006).Através da Bíblia. Livro por Livro 23 ed. São Paulo: Editora Vida. 439 páginas.ISBN 978-85-7367-134-6 
  3. Acácio, José M.Antigo Testamento III - Livros Poéticos. 3 ed. CETADEB. p.41.
  4. abcdeSalmos, Edição Pastoral da Bíblia, acessado em 08 de agosto de 2010
  5. «Salmos».web-biblia (em inglês). 7 de maio de 2022. Consultado em 7 de maio de 2022 
  6. Mackenzie, John L.Dicionário Bíblico. São Paulo, Paulinas, 1983, p.829.
  7. «Liturgia das Horas - Ofício Divino». liturgiadashoras.org. Consultado em 4 de julho de 2009 
  8. «Salmos Online». www.salmosonline.com. Consultado em 4 de julho de 2009 
  9. «Salmos».Salmos.https://salmos.app.br. Consultado em 18 de setembro de 2023[ligação inativa] 
  10. Bíblia de Jerusalém, Nova Edição Revista e Ampliada, Ed. de 2002, 3ª Impressão (2004), Ed. Paulus, São Paulo, p 858
  11. abMackenzie, John L.Dicionário Bíblico. São Paulo: Paulinas, 1983, p.827
  12. «Salmo 91 - Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo». estudobiblico.org. Consultado em 18 de outubro de 2014 
  13. «Salmos».web-biblia (em inglês). 7 de maio de 2022. Consultado em 7 de maio de 2022 
  14. «Salmos».web-biblia (em inglês). 7 de maio de 2022. Consultado em 7 de maio de 2022 
  15. «Salmos».web-biblia (em inglês). 7 de maio de 2022. Consultado em 7 de maio de 2022 
  16. «Salmos».web-biblia (em inglês). 7 de maio de 2022. Consultado em 7 de maio de 2022 
  17. «Salmos».web-biblia (em inglês). 7 de maio de 2022. Consultado em 7 de maio de 2022 

Bibliografia

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AWikisource contém fontes primárias relacionadas comSalmos
OWikiquote tem citações relacionadas aLivro de Salmos.
  • Mackenzie, John L.Dicionário Bíblico. São Paulo, Paulinas, 1983, 3a. edição.
  • A Bíblia de Jerusalém. São Paulo, Paulinas, 1981.
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