Umromance é uma obra extensa deficçãonarrativa geralmente escrita emprosa e publicada comolivro.[1] SegundoMargaret Doody, o romance tem "uma história contínua e abrangente de cerca de dois mil anos", com suas origens noromance grego eromano antigo, noromance de cavalaria medieval e na tradição danovela renascentista italiana.[2] A forma do romance antigo foi revivida peloromantismo, nosromances históricos deWalter Scott e noromance gótico.[3]
Herdeiro daepopeia, o romance moderno é tipicamente um gêneronarrativo, assim como anovela e oconto.
A distinção entre romance e novela não é clara, mas costuma-se definir que no romance há um paralelo de várias ações, enquanto na novela há uma concatenação de ações individualizadas. No romance, uma personagem pode surgir a meio da história e desaparecer depois de cumprir sua função. Outra distinção importante é que no romance o final é um enfraquecimento de uma combinação e ligação de elementos heterogêneos, não oclímax.[4]
Há de notar que o romance tornou-se gênero preferencial a partir doRomantismo, por isso ficando o termoromance associado a este. Entretanto oRealismo teria no romance sua base fundamental, pois apenas este permitia a minúcia descritiva, que exporia os problemas sociais.
Dom Quixote de La Mancha, escrito no início do século XVII, é geralmente considerado como o precursor doromance moderno.[5] Na tentativa de parodiar oromance de cavalaria,Miguel de Cervantes não só escreveu um dos grandes clássicos da literatura, como ajudou a firmar ogênero que viria substituir a epopeia, a qual, já agonizante, desapareceria noséculo XVIII, com o advento darevolução industrial. O romance é, segundoHegel, a epopeiaburguesa moderna.[6]
O romance chega à modernidade comBalzac e à plenitude comProust,Joyce eFaulkner. A partir destes últimos a ordemcronológica é desfeita: passado, presente e futuro são fundidos.
A partir de meados do século XX, intensifica-se a discussão em torno de uma provável crise do romance, sua possível morte. Essa morte teria ocorrido por volta dos anos 1950. NaFrançaAlain Robbe-Grillet,Claude Simon,Robert Pinget,Nathalie Sarraute,Marguerite Duras,Michel Butor, entre outros, rejeitam o conceito do romance cuja função é contar uma história e delinear personagens conforme as convençõesrealistas do século XIX. Esses autores transgridem também outros valores do romance tradicional, tais como tempo, espaço, ação, repudiando a noção deverossimilhança.Sartre diz que, ao destruírem o romance, esses escritores estariam, na verdade, renovando-o, influenciados principalmente pelocinema. Trata-se donouveau roman ("novo romance"), movimento que coloca em discussão as bases tradicionais daliteratura.
Em 1936, os Estados Unidos viviam a época clássica docinema falado. Antes de ser influenciado pelo cinema, o romance influenciou-o, a ponto de, nas décadas de 1930 e 1940, aindústria cinematográfica ter privilegiado os filmes narrativos e grandesromancistas terem sido contratados pelos estúdios para escreverem roteiros. Mesmo assim em 1936Scott Fitzgerald escrevia: "vi que o romance, que na minha maturidade era o meio mais forte e flexível de transmitir pensamento e emoção de um ser humano para outro, estava ficando subordinado a uma arte mecânica... só tinha condições de refletir os pensamentos mais batidos, as emoções mais óbvias. Era uma arte em que as palavras eram subordinadas às imagens..." Fitzgerald foi o primeiro escritor a perceber que o romance estava sendo suplantado pelo cinema, mas continuou acreditando que, como arte, o romance sempre seria superior. Antes disso, na década de 20, com a publicação do Ulisses, passou-se a afirmar que o livro de Joyce era o ápice do romance, que depois dele o romancista deveria ater-se ao mínimo, outros diziam que Ulisses era a paródia final do romance, como quem assina embaixo da frase deKierkegaard: Toda fase histórica termina com a paródia de si mesma.
NoBrasil os anos 1950 foram férteis: 1956, por exemplo, é considerado um dos grandes marcos literários do país; foram publicados naquele anoO encontro marcado, deFernando Sabino;Doramundo, deGeraldo Ferraz;Vila dos Confins, deMário Palmério eGrande Sertão: Veredas, deGuimarães Rosa. Ainda desta década éGabriela, Cravo e Canela (1958), deJorge Amado. AtrilogiaO tempo e o vento, deÉrico Veríssimo, teve seu primeiro volume,O continente, publicado em 1949 eO retrato, em 1951.
Já em 1880 falava-se em crise do romance. Naquele ano foi feita uma enquete sobre o assunto na França, eJules Renard disse que o romance havia morrido.[carece de fontes?] E em uma época deZola,André Gide,Valéry; mais adiante surgiriam Proust, Joyce,Kafka,Robert Musil. Numa entrevista,Gabriel Garcia-Márquez reitera sua crença no gênero: "se você diz que o romance está morto, não é o romance, é você que está morto".
Justamente quando se discutia se os recursos do romance estariam realmente esgotados, se seus dias estavam mesmo contados, surge o que ficou conhecido como oboom da literatura latino-americana:Julio Cortázar,Vargas Llosa, Gabriel Garcia-Márquez,Carlos Fuentes,Cabrera Infante,Miguel Ángel Asturias,Alejo Carpentier, etc. Era o descobrimento dorealismo mágico.
O romance sofre concorrência do desenvolvimento do jornalismo, o cinema, o rádio, a TV; e mais recentemente os computadores e a Internet. O que se tem visto, no entanto, são os rivais se transformarem em aliados do romance: a imprensa escrita veio influenciar e divulgar a literatura, com o cinema a mesma coisa acontece. A Internet também vem se transformando numa divulgadora da literatura.
Em Repertório,Michel Butor diz que o romance é o laboratório da narrativa. E não há espaço mais propício para se fazer novas experiências do que um laboratório. Uma literatura que pretende representar o mundo só o fará se acompanhar as mudanças desse mundo. É preciso, então, mudar a própria noção de romance.
Referências
- ↑"Novel",A Glossary of Literary Terms (9th Edition), M. H. Abrams and Geoffrey Gall Harpham, Wadsworth Cengage Learning, Boston, 2009, p. 226.
- ↑Margaret Anne Doody,The True Story of the Novel. New Brunswick, NJ: Rutgers University Press, 1996, rept. 1997, p. 1. Retrieved 25 April 2014.
- ↑J. A. Cuddon,Dictionary of Literary Terms & Literary Theory, ed., 4th edition, revised C. E. Preston. London: Penguin, 1999, pp. 76o-2.
- ↑Costa, Sérgio Roberto (2008).Dicionário de gêneros textuais. Belo Horizonte: Autêntica Editora. p. 207
- ↑"Rumo a uma poética da personagem cervantina. Reflexões sobre a construção do personagem no 'Quixote'."InDom Quixote: a letra os caminhos VIEIRA, Maria Augusta da Costa (org.). São Paulo:Edusp, 2006; p. 212.
- ↑MOISÉS, Massaud.Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 1974, p.400.