No século XIV, pequenos domínios espalhados pela ilha de Okinawa foram unificados em três principados: Hokuzan (北山, "Montanha do Norte"), Chūzan (中山, "Montanha Central") e Nanzan (南山, "Montanha do Sul"). Essa era foi conhecida como Período dos Três Reinos ou como Período Sanzan. Hokuzan, que compreendia a maioria do norte da ilha, era o maior em termos de área e força militar, mas era economicamente o mais fraco. Nanzan compreendia a porção sul da ilha. Chūzan se situava no centro da ilha e era economicamente o mais forte. Com sua capital em Shuri, Nanzan estava próxima do porto deNaha e de Kume-mura, o centro de educação tradicional chinesa.
A pedido do rei de Ryukyu, a China (sob a dinastiaMing) mandou 36 famílias deFujian para administrar transações oceânicas no reino em 1392, durante o reinado do imperadorHongwu. Muitos oficiais e burocratas de Ryukyu eram descendentes desses imigrantes chineses, tendo nascido na China ou tendo antepassados chineses.[1] Eles auxiliaram o reino em suas relações diplomáticas e no avanço de suas tecnologias.[2][3][4] De acordo com o funcionário imperial da dinastiaQing, Li Hongzhang, numa reunião com Ulysses S. Grant, a China tinha uma relação especial com o reino de Ryukyu, que pagava tributo há centenas de anos, e os chineses reservavam certos direitos comerciais para eles em uma relação amigável e benéfica.[5]
Os três principados (federações tribais lideradas por grandes chefes) guerrearam e Chūzan saiu vitorioso. Os líderes de Chūzan foram reconhecidos pela China (sob a dinastia Ming) como os reis legítimos sobre os de Nanzan e Hokuzan, dando assim grande legitimidade sobre suas reivindicações. O líder de Chūzan passou o trono ao rei Hashi; Hashi conquistou Hokuzan em 1416 e Nanzan em 1429, unificando a ilha de Okinawa pela primeira vez e fundou a primeira dinastia Shō. Hashi foi concedido o sobrenome Shō (Chinês: "Shang") 尚 pelo imperador da dinastia Ming em 1421, passando a ser conhecido como Shō Hashi (Chinês: "Shang Bazhi") 尚巴志.
Mapa do Período Sanzan
Shō Hashi adotou o sistema de corte hierárquica chinês, construiu o Castelo de Shuri e a cidade como sua capital, e construiu o porto de Naha. Em 1469, quando o rei Shō Toku, que era neto de Shō Hashi, faleceu sem um herdeiro homem, um de seus servos alegou que era seu filho adotivo e ganhou apoio dos chineses. Este aspirante ao trono, Shō En, fundou a Segunda Dinastia Shō. A era de ouro de Ryukyu ocorreu durante o reino de Shō Shin, o segundo rei da nova dinastia, que reinou de 1478 a 1526.
O reino expandiu sua autoridade sobre as ilhas ao sul do arquipélago no final do século XV, e asIlhas Amami foram incorporadas ao reino em 1571.[6] Enquanto o sistema político e a autoridade de Shuri foram reconhecidas nas Ilhas Amami, a autoridade de Ryukyu sobre as Ilhas Sakishima ao sul permaneceu por séculos no nível de uma relação entre suserano e tributário.
Por quase duzentos anos, o Reino de Ryukyu prosperou como uma peça chave no comércio marítimo entre osudeste e o oriente da Ásia.[7] A relação tributária com a China (sob a dinastia Ming), iniciada por Chūzan em 1372,[6] era de grande importância para o reino. A China provia embarcações para as atividades de comércio marítimo de Ryukyu, permitia que um número limitado deryukyuanos estudassem na Academia Imperial emPequim e formalmente reconhecia a autoridade do rei de Chūzan, permitindo que o reino fizesse comércio formalmente em portos sob o domínio de Ming. As embarcações de Ryukyu, normalmente concedidas pela China, comerciavam em portos das áreas próximas, que incluíam, além de outros, China,Vietnã, Japão,Java,Coreia,Luzón,Malaca,Pattani,Palimbão,Sião eSumatra.
Selo real de Ryukyu
Produtos japoneses — prata, espadas, leques, artigos delaca,biombos — e produtos chineses — ervas medicinais, moedas cunhadas, cerâmica vidrada, brocados, tecidos — eram negociados no reino em troca desapapeiras, chifres derinoceronte,estanho, açúcar, ferro, âmbar cinzento, marfim indiano e incenso árabe. No total, 150 viagens entre o reino e o sudeste da Ásia foram registradas no Rekidai Hōan, um registro oficial de documentos diplomáticos compilados pelo reino, tendo ocorrido entre 1424 e 1630, sendo que 61 foram em destino de Sião, 10 para Malaca, 10 para Pattani e 8 para Java, entre outros.[8]
A política chinesa de haijin (海禁, "proibições marítimas"), que limitava o comércio da China com seus estados tributários e outros com autorização formal, juntamente com o tratamento preferencial de Ryukyu pela corte de Ming, permitiu que o reino prosperasse por cerca de 150 anos. Porém, no final do século XVI, a prosperidade comercial do reino declinou. O aumento da ameaça doswokou ("pirata japonês"), entre outros fatores, levou à perda gradual de tratamento preferencial vindo da China; o reino também sofreu com a competição de comerciantesportugueses.[6]
Por volta de 1590,Toyotomi Hideyoshi pediu que o Reino de Ryukyu o apoiasse em sua campanha de conquista da Coreia. Se obtivesse sucesso, Hideyoshi pretendia então ir contra a China. Como o Reino de Ryukyu era um estado tributário da dinastia Ming, o pedido foi recusado. Oxogunato Tokugawa que surgiu após a derrota de Hideyoshi autorizou que o clã Shimazu — senhores feudais do domínio de Satsuma (atualmenteprefeitura de Kagoshima) — mandasse uma força expedicionária para conquistar Ryukyu. A invasão subsequente ocorreu em 1609, mas Satsuma permitiu que o Reino de Ryukyu entrasse num período de "subordinação dupla" entre Japão e China, no qual relações tributárias eram mantidas tanto com o xogunato Tokugawa quanto com a corte chinesa.[6]
A ocupação ocorreu de maneira relativamente rápida, com algumas batalhas violentas, e o rei Shō Nei foi levado como prisioneiro primeiro para Satsuma e depois paraEdo (atualmenteTóquio). O Reino de Ryukyu reconquistou um certo grau de autonomia quando o rei foi liberto dois anos depois; porém, o domínio de Satsuma tomou controle sobre uma parte do reino, notavelmente as Ilhas Amami, que foram incorporadas a Satsuma e permanecem como parte da prefeitura de Kagoshima, não de Okinawa, até hoje.
Em 1655, relações tributárias entre Ryukyu e a dinastiaQing foram formalmente aprovadas pelo xogunato. Isto foi visto como justificado, em partes pelo desejo do Japão de evitar conflitos militares com a dinastia Qing.[9]
Já que a China proibia o comércio com o Japão, o domínio de Satsuma, com a bênção do xogunato de Tokugawa, se aproveitou das relações comerciais do Reino de Ryukyu para continuar mantendo comércio com a China. Considerando que o Japão tinha rompido laços com a maioria dos países europeus (exceto aHolanda), tais relações comerciais eram cruciais tanto para o xogunato quando para o domínio de Satsuma, que utilizaria seu poder e influência ganhados desta maneira, para auxiliar na derrota do xogunato nos anos 1860.
Vestimentas femininas ryukyuanas de um período tardio, que eram muito similares aoquimono japonês
O rei de Ryukyu era um vassalo dodaimyō de Satsuma, mas suas terras não eram consideradas parte de nenhumhan (feudo): até a anexação formal do arquipélago e a dissolução do reino em 1879, Ryukyu não era considerado parte do Japão, e o povo ryukyuano não era considerado japonês. Apesar de tecnicamente estar sob o controle de Satsuma, um grande grau de autonomia foi concedido ao reino para melhor servir aos interesses do xogunato e dodaimyō de Satsuma sobre o comércio com a China. O Reino de Ryukyu era um estado tributário da China e, já que o Japão não mantinha relações diplomáticas formais com a China, era essencial que ela não percebesse que Ryukyu era controlado pelo Japão. Satsuma e o xogunato foram obrigados a não visivelmente ou forçosamente ocupar Ryukyu e controlar suas leis e políticas. A situação beneficiou todos os três — o Reino de Ryukyu, odaimyō de Satsuma, e o xogunato — a fazer Ryukyu parecer tão distinto e exótico quanto possível. Os japoneses eram proibidos de visitar Ryukyu sem permissão do xogunato e os ryukyuanos foram proibidos de adotar nomes, roupas e costumes japoneses. Eles eram até proibidos de mostrar conhecimento dalíngua japonesa durante suas viagens a Edo. O clã Shimazu,daimyōs de Satsuma, adquiriram grande prestígio fazendo passeatas do rei, dos oficiais e outras pessoas de Ryukyu dentro e através de Edo. Como era o únicohan a ter um rei e um reino inteiro como seus vassalos, Satsuma se beneficiou significativamente do exotismo de Ryukyu, reforçando que era um reino independente.
O Japão ordenou que as relações tributárias com a China fossem dissolvidas em 1875, pois a missão tributária de 1874 foi vista como uma mostra de submissão à China.[10]
Em 1872, oImperador Meiji declarou que o reino havia se tornado o Domínio de Ryukyu.[10][11][12] Ao mesmo tempo, a ficção de independência foi mantida por conta de razões diplomáticas,[13] até que ogoverno Meiji dissolveu o Reino de Ryukyu quando as ilhas foram incorporadas àPrefeitura de Okinawa, em 27 de março de 1879.[10] As Ilhas Amami se tornaram parte da prefeitura de Kagoshima.
O último rei de Ryukyu foi forçado a se mudar para Tóquio e foi concedido a classe dekazoku como Marquês Shō Tai.[14] Seu falecimento em 1901 diminuiu as conexões históricas com o antigo reino.[10] A família Shō hoje em dia vive normalmente no Japão.[15] Muitos monarquistas fugiram para a China.[16]
1187 – Shunten torna-se Rei de Okinawa, com sua base no Castelo de Urasoe.
1272 – Emissários doImpério Mongol são expulsos de Okinawa pelo rei Eiso.
1276 – Os mongóis são violentamente expulsos da ilha novamente.
1372 – O primeiro emissário da dinastia Ming visita Okinawa durante o período Sanzan. Relações tributárias formais com a China são iniciadas.[6]
1416 – Chūzan, liderado por Shō Hashi, ocupa o Castelo de Nakijin, capital de Hokuzan.[17]
1429 – Chūzan ocupa o Castelo de Nanzan, capital de Nanzan, unificando a ilha de Okinawa. Shō Hashi muda a capital para o Castelo de Shuri (atualmente parte de Naha).
1458 – Rebelião de Amawari contra o reino.
1466 – A ilha de Kikai é invadida por Ryukyu.
1470 – Shō En (Kanemaru) funda a Segunda Dinastia Shō.
1477 – Shō Shin, cujo reinado é chamado de "Grandes Dias de Chūzan", ascende ao trono.
1500 – As ilhas Sakishima são anexadas pelo Reino de Ryukyu.
1609 – (5 de abril) ODaimyō de Satsuma invade o reino. O Rei Shō Nei é capturado.
1611 – De acordo com o tratado de paz, Satsuma anexa as ilhas Amami e Tokara; os reis de Ryukyu tornam-se vassalos dos senhores de Satsuma.
1846 – Dr. Bernard Jean Bettelheim, um missionário protestante britânico junto da Missão Naval Loochoo, chega ao Reino de Ryukyu. Ele funda o primeiro hospital estrangeiro na ilha no templo de Naminoue Gokoku-ji.
1854 – Perry retorna a Okinawa para assinar o Pacto Loochoo com o governo ryukyuano; Bettelheim parte junto de Perry.
1866 – A última missão oficial da dinastia Qing visita o reino.
1872 – O Imperador Meiji unilateralmente declara o rei Shō Tai como "Líder do Domínio de Ryukyu".
1874 – A última missão tributária é enviada à China partindo de Naha. /Guilherme I da Alemanha constrói um "monumento de amizade" na ilha Miyako. / O Japão invadeTaiwan através de Ryukyu.
1879 – O Japão dissolve o Domínio de Ryukyu e declara a criação da Prefeitura de Okinawa, formalmente anexando o arquipélago. O rei Shō Tai é forçado a abdicar, mas é concedido o título de marquês (侯爵kōshaku) no sistema de nobreza Meiji.
↑1822-1885., Grant, Ulysses S. (Ulysses Simpson),; 1939-, Marszalek, John F.,; Association., Ulysses S. Grant (1967–2012).The papers of Ulysses S. Grant. Carbondale: Southern Illinois University Press.ISBN0809303663.OCLC382397
Smits, Gregory (1999),Visions of Ryukyu: identity and ideology in early-modern thought and politics,ISBN0-8248-2037-1, Honolulu, HI: University of Hawaii Press, 213 pp.