Querala[2][3] ouKerala é um dos 28estados daÍndia, situado no extremo sudoeste do país. A capital e cidade mais populosa,Tiruvanantapura, está localizada no extremo sul do território. Com uma área de 38 863 km² e uma população de cerca de 33 387 677 habitantes (segundo dados de 2011), Querala figura como o21° estado mais extenso e o12° mais populosoestado indiano, o equivalente a cerca de 2,7% da população do país. Querala é banhado peloMar da Arábia, faz fronteira com os estados deCarnataca a norte, e deTâmil Nadu a leste, além de abranger oMahé, umexclave costeiro do território dePuducherry.
O estado de Querala destaca-se por ter o mais alto nível deÍndice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre os estados e outros territórios da Índia, calculado em 2011 em 0,790[4] (equivalente ao IDH doUruguai), considerado pelaOrganização das Nações Unidas como "elevado" a nível mundial e "muito elevado" se comparado com a média nacional, que não ultrapassa 0,460, um dos mais baixos do mundo;[5] O nível social de Querala é justifico pelo facto de o estado ter a mais altaexpectativa de vida, apopulação mais alfabetizada (em percentagem),[6] a menor taxa demortalidade infantil,[7] a melhorsaúde pública e um dos maioresPIBper capita[8] da Índia. Em 2010, todos osindicadores sociais —saúde,educação,renda e etc. — de Querala estavam consideravelmente acima da média indiana em todos os subíndices.[4] O estado também tem a melhorsegurança pública da Índia, o que se reflecte no facto de o estado ter a mais baixa taxa de homicídios por cada 100 mil habitantes do país.[9]
O desenvolvimento socioeconómico ímpar de Querala, actualmente, deve-se essencialmente ao programa de desenvolvimento social implementado pelo governo nas últimas décadas, baseado em investimentos contínuos naeducação, em projetos de subsistência desaúde, de erradicação da pobreza,planejamento demográfico e derenda domiciliar. O estado de Querala também se destaca a nível nacional por ter as cidades "mais limpas" da Índia, além de ter sido considerado, em 2011, pelaTransparência Internacional como o estado "menoscorrupto da Índia", um dos países mais corruptos do mundo.
A etimologia deKerala é assunto de conjetura. Segundo a teoria mais aceita,Kerala é umportmanteau malaiala imperfeito que unekera (coqueiro) ealam ("terra" ou "lugar").[10] Outra teoria diz que o nome originou da frasechera alam ("Terra dos Cheras").[11] Os nativos de Querala, conhecidos comoKeraleses ouMalaialis, referem-se, então, à sua terra comoKeralam.
Uma inscrição deAsoka em pedra mencionando "Queralaputra" é a menção mais antiga de Querala que ainda sobrevive.[12] Querala foi mencionada noépicosânscritoAitareya Aranyaka.
Muniyaras,dolmens erguidos por homens tribais neolíticos, emMarayoor
Não se tem certeza sobre se a região foi habitada durante oNeolítico. Entretanto, há evidência da emergência de cerâmica pré-histórica e monumentos de sepultamento na forma detumbas megalíticas do século X a.C.; eles lembram os monumentos na Europa Ocidental e outras partes da Ásia. Acredita-se que eram produzidos por faladores de uma língua proto-tâmil.[13] Querala eTamil Nadu já compartilharam uma língua, etnia e cultura em comum; essa área em comum era conhecida comoTamilakam.
De acordo com uma lenda, Querala foi um reino controlado porAsuras, sob o jugo deMahabali.Onam, o festival estadual de Querala, é dedicado à memória de Maveli. Outra lenda conta queParashurama, umavatar deMahavishnu, lançou o seu machado de batalha ao mar; dessas águas, Querala emergiu.[14] Os antigosCheras, cuja língua nativa era otâmil, governaram Querala da sua capital emVanchi. Esse reino esteve em constante guerra com os vizinhosCholas ePandyas. Uma identidade queralita, distinta dostâmeis e associada com o segundo império Chera, tornou-se linguisticamente separada sob a dinastiaKulasekhara (c. 800-1102). Por volta do começo do século XIV, Ravi Varma Kulasekhara de Venad estabeleceu uma breve supremacia no sul da Índia. Após a sua morte, Querala tornou-se uma conglomeração de chefaturas rivais, entre as quais as mais importantes eramCalecute ao norte eVenad ao sul.
A dependência comercial dos reis Cheras significava que os mercadores da Ásia Ocidental e Europa Meridional podiam estabelecer postos litorâneos e colônias em Querala.[15][16] Os imigrantes judeus, cristãos e muçulmanos estabeleceram as comunidadesNasrani Mappila eMappila muçulmana.[17] Os judeus chegaram em Querala em573 a.C..[18][19] As obras de estudiosos e escrituras cristãs afirmam queSão Tomé visitouMuziris, em Querala, em 52 d.C., para converter as colônias judaicas.[20][21] Entretanto, a primeira migração verificável de famílias judaicas a Querala é a chegada de Knai Thoma em 345.[22] Mercadores muçulmanos (Maleque ibne Dinar) se estabeleceram em Querala por volta doséculo VIII e introduziram o Islã. Após a chegada deVasco da Gama, em 1498, os portugueses obtiveram controle do lucrativocomércio de especiarias, subjugando as comunidades queralitas e o seu comércio.[23][24] Conflitos entreKozhikode (Calecute) eCochim ofereceram uma oportunidade aos holandeses de expulsar os portugueses. Porém, os holandeses foram expulsos porMarthanda Varma, daFamília Real Travancore, naBatalha de Colachel, em 1741. Em 1766,Hyder Ali, governante doReino de Mysore, invadiu o norte de Querala, tomando Kozhikode no processo. No século XVIII tardio,Tippu Sultan, filho de Ali e sucessor, lançou campanhas contra a crescenteCompanhia Britânica das Índias Orientais; esses fatores resultaram em duas das quatro Guerras Anglo-Mysore. Finalmente, ele cedeu os distritos deMalabar eSouth Kanara à Companhia, nos anos 1790. A Companhia então forjou alianças com Kochi (1791) e Travancore (1795). Malabar e South Kanara tornaram-se parte daPresidência de Madras.[25]
Após a Índia ter ganho a independência em 1947,Travancore eCochim foram fundidas para formarTravancore-Cochim, em 1 de julho de 1949. Em 1 de janeiro de 1950, Travancore-Cochim foi reconhecido como um estado. A Presidência de Madras foi organizada para formar oEstado de Madras, vários anos antes, em 1947. Finalmente, o Ato de Reorganização dos Estados do Governo Indiano em 1956 inaugurou o estado de Querala, incorporando o distrito de Malabar, Travancore-Cochim (excluindo quatro taluks do sul, que foram fundidos com Tamil Nadu) e otaluk deKasargod,South Kanara.[29] Uma nova assembleia legislativa também foi criada, na qual houve eleições pela primeira vez em 1957. Estas resultaram em um governo comunista definido por votação e liderado porE.M.S. Namboodiripad.[29][30] Reformas sociais subsequentes favoreceram trabalhadores e pessoas sem casa própria.[31][32] Como resultado, o padrão de vida, a educação e a expectativa de vida melhoraram drasticamente.
Com 120-140 dias chuvosos por ano, Querala tem umclima tropical úmido, influenciado pelas fortes chuvas da monção de verão sul-oeste.[33] No leste de Querala, prevalecem um clima tropical úmido mais seco e um clima seco. A pluviosidade de Querala é de 1 307 mm anuais. Algumas das terras baixas mais secas de Querala têm em média somente 1 250 mm; as montanhas do leste do distrito de Idukki recebem mais de 5 000 mm de precipitação orográfica, a maior no estado.
Os 31,8 milhões[34] da população de Querala é predominantemente de etniamalaiali, enquanto o resto possui elementosjudeus eárabes na cultura e na linhagem. Querala também é lar de 321 miladivasis tribais indígenas (1,1% da população), que estão mais concentrados nos distritos orientais.[35][36] Omalaiala é a língua oficial de Querala; otâmil e várias línguasadivasis também são faladas por minorias étnicas. Querala é lar de 3,44% da população indiana; com 819 hab/km², a sua densidade populacional é aproximadamente três vezes a do resto da Índia, que tem densidade populacional de 325 hab/km².[37] A taxa de crescimento populacional de Kerala é a mais baixa da Índia,[38] e o crescimento da década de Kerala (9,42% in 2001) é menos da metade da média de toda a Índia de 21,34%.[39] Se a população de Querala mais do que duplicou entre 1951 e 1991, adicionando 15,6 milhões de habitantes para alcançar 29,1 milhões em 1991, a população era de menos de 32 milhões em 2001. As regiões litorâneas de Querala são as mais densamente habitadas, deixando as colinas orientais e as montanhas comparativamente escassamente habitadas.[40]
As mulheres compõem 51,42% da população.[41] As religiões principais de Querala são o Hinduísmo (56,2%), o Islã (24,7%) e o Cristianismo (19%).[42] Resquícios de uma substancial população judaica também pratica o Judaísmo. Em comparação ao resto da Índia, Querala tem um sectarismo relativamente baixo.[43]
A sociedade de Querala é menos patriarcal que no resto doTerceiro Mundo.[44][45] As relações de gênero estão entre as mais igualitárias na Índia e no Terceiro Mundo,[46] apesar das discrepâncias entre homens e mulheres de castas baixas.[47] Certas comunidades hindus com osNairs, algunsEzhavas e os muçulmanos que rodeiamKannur costumavam seguir um sistema tradicional matrilinear conhecido comomarumakkathayam, apesar de essa prática ter terminado nos anos que seguiram a independência indiana. Outros muçulmanos, cristãos, e algumas castas hindus como os Namboothiris e os Ezhavas seguem omakkathayam, um sistema patrilinear.[48] Graças ao antigo sistema matrilinear, as mulheres em Querala desfrutam de um alto status social.[12]
Os índices de desenvolvimento humano de Querala-eliminação da pobreza, educação e saúde-estão entre os melhores na Índia. Segundo o censo nacional de 2005-2006, Querala tem uma das mais altas taxas de alfabetização (89,9%) entre os estados indianos[49] e a expectativa de vida (73 anos) estava entre as mais altas na Índia em 2001.[50] A taxa de pobreza rural de Querala caiu de 69% (1970-1971) a 19% (1993-1994); a taxa geral (urbana e rural) caiu de 36% entre os anos 70 e os anos 80.[51] Por volta de 1999-2000, as taxas de pobreza rural e urbana caíram a 10% e 9,6%, respectivamente.[52] Essas mudanças vêm principalmente de esforços iniciados no século XIX pelos reinos de Cochim e Travancore para auxiliar o progresso do bem-estar social.[53][54] Esse foco foi mantido pelo governo de Querala pós-independência.
O sistema de saúde de Querala ganhou reconhecimento internacional. AUNICEF e aOrganização Mundial da Saúde designaram Querala como o primeiro "estado favorável a bebês" da Índia. Por exemplo, mas de 95% dos partos queraleses são feitos em hospitais.[55] Além doayurveda (formas popular e da elite),[56]siddha eunani, muitos modos endêmicos demedicina tradicional, incluindokalari,marmachikitsa[57] evishvavaidyam são praticados. Esses modos de medicina são propagados por meio do discipuladogurukula,[58] abrangem uma fusão de tratamentos médicos e sobrenaturais,[59] e são responsáveis por grande parte doturismo médico.
Uma população envelhecendo estavelmente (11,2% dos queraleses estão acima dos 60 anos) e uma baixa taxa de natalidade[44] (18 por 1 000)[55] fazem de Querala uma das poucas regiões do Terceiro Mundo a ter passado pela "transição demográfica" característica de nações desenvolvidas como o Canadá, o Japão e a Noruega (entre os outros locais destacam-se aRegião Sul do Brasil e a província deAntofagasta, noChile).[60] Em 1991, ataxa de fertilidade (filhos nascidos por cada mulher) total de Querala era a mais baixa da Índia. Os hindus tinham uma TFT de 1,66, os cristãos 1,78 e os muçulmanos 2,97.[61]
A razão entre homens e mulheres de Querala (1,058) é significativamente maior que a do resto da Índia.[62] O mesmo se aplica àtaxa de mortalidade infantil (estimada em 12[55][63] a 14[64] mortes por 1 000 nascimentos).
Contudo, a taxa de mortes por doença de Querala é maior que em qualquer estado indiano-118 (rural) e 88 (urbano) por 1000 pessoas. No resto da Índia, é de 55 e 54 por 1000, respectivamente.[64]
Outras formas de arte são mais religiosas ou tribais por natureza. Essas incluemchavittu nadakom eoppana (originalmente de Malabar), que combina dança, bater de palmas rítmico e vocalizaçõesishal.
A música de Querala também tem raízes antigas. Amúsica de Karnataka domina a música tradicional queralesa. Isso foi o resultado da popularização por parte deSwathi Thirunal Rama Varma do gênero no século XIX.[67][68] Músicas de Raga conhecidas comosopanam acompanham as representações dekathakali.Melam (incluindo as variantespaandi epanchali) é um estilo de música mais percussivo; é realizado em festivais centrados emKshetram utilizando ochenda. Os conjuntos deMelam são formados por até 150 músicos, e as apresentações podem durar até quatro horas.Panchavadyam é uma forma diferente de conjunto de percussão, em que até 100 artistas usam cinco tipos de instrumentos de percussão. Querala tem vários estilos de música popular e tribal. A música popular de Querala é dominada pela músicafilmi do cinema indiano. As artes visuais de Querala vão dos murais tradicionais às obras deRaja Ravi Varma, o pintor mais renomado do estado.
Querala tem o seu própriocalendário malaiala, que é utilizado para planejar atividades agriculturais e religiosas. A cozinha de Querala inclui tipicamente umsadhya em folhas verdes de bananeira. Pratos comoidli,payasam,pulisherry,puttucuddla,puzhukku,rasam esambar são típicos. Os queraleses - ambos homens e mulheres - utilizam vestes não pespontados. Esses incluem omundu, um pedaço pendurado de roupa amarrado na cintura dos homens. As mulheres vestem tipicamente osari, um pedaço de roupa longo e elaboradamente enrolado, utilizável em vários estilos.
Os elefantes são uma parte integral da vida diária de Querala. Esseselefantes indianos são amados e reverenciados, e a eles é dada uma posição de prestígio na cultura do estado. Os queraleses geralmente referem-se aos elefantes como 'filhos doSahyadri'. O elefante é o animal oficial do estado de Querala é aparece no emblema do Governo de Querala.
A língua predominante em Querala é o malaiala, cuja maioria de faladores vive em Querala. A literatura malaiala é antiga em origem, e inclui autores como os poetas Niranam doséculo XIV (Madhava Panikkar, Sankara Panikkar e Rama Panikkar), e o poeta do século XVIIThunchaththu Ezhuthachan, cuja obra marca o nascimento de ambas a língua malaiala moderna e a poesia indígena queralesa. O "triunvirato de poetas" (Kavithrayam) -Kumaran Asan,Vallathol Narayana Menon eUllor S. Parameswara Iyer - é reconhecido por transformar a poesia queralesa dos sofismas arcaicos e da metafísica para um modo maislírico.
↑Paulo, Correia (Verão de 2020).«Toponímia da Índia — breve análise»(PDF). Bruxelas: a folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 4.ISSN1830-7809. Consultado em 8 de outubro de 2020
↑Milton J, Skeat WW, Pollard AW, Brown L (31 de agosto de 1982).The Indian Christians of St Thomas. [S.l.]: Cambridge University Press. 171 páginas.ISBN0-5212-1258-8 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑De Beth Hillel, David (1832).Travels (Madras publication).
↑Lord, James Henry (1977).The Jews in India and the Far East; Greenwood Press Reprint; ISBN.
↑Medlycott, A E. 1905 "India and the Apostle Thomas"; Gorgias Press LLC; ISBN
↑Thomas Puthiakunnel, (1973) "Jewish colonies of India paved the way for St. Thomas", The Saint Thomas Christian Encyclopedia of India, ed. George Menachery, Vol. II.
↑Mundadan AM (1984).Volume I: From the Beginning up to the Sixteenth Century (up to 1542). Col: History of Christianity in India. Church History Association of India. Bangalore: Theological Publications
↑Ravindran PN (2000).Black Pepper: Piper Nigrum. [S.l.]: CRC Press. 3 páginas. Consultado em 11 de novembro de 2007
↑Curtin PD (1984).Cross-Cultural Trade in World History. [S.l.]: Cambridge University Press. 144 páginas.ISBN0-5212-6931-8
↑Qureshi, MN (1999).Pan-Islam in British Indian Politics: A Study of the Khilafat Movement, 1918–1924. Leiden [u.a.]: Brill. pp. 445–447.ISBN9-0041-0538-7.OCLC231706684