Assumiu a Presidência do Brasil em 15 de março de 1974.[6] Seu governo foi marcado pelo início de uma abertura política e amenização da repressão imposta pela ditadura militar, mas encontrou fortes oposições de políticos chamados delinha-dura.[6] Durante seu mandato, ficaram marcados os seguintes acontecimentos: a fusão daGuanabara aoRio de Janeiro, a divisão doMato Grosso com a criação doMato Grosso do Sul, reatamento de relações diplomáticas com aRepública Popular da China, reconhecimento daindependência deAngola, realização de acordos nucleares com aAlemanha Ocidental, início do processo de redemocratização do país, extinção doAI-5 e grande adiantamento da construção daUsina Hidrelétrica de Itaipu.[6]
Em sua vida pós-presidência, Geisel manteve influência sobre o Exército ao longo dadécada de 1980 e, naseleições presidenciais de 1985, apoiou o candidato oposicionista vitoriosoTancredo Neves, o que levou à diminuição das resistências a Tancredo no meio militar. Foi presidente da Norquisa,holding do setorpetroquímico.[7]
Ernesto Geisel nasceu emBento Gonçalves, em 3 de agosto de 1907. Seu pai era Wilhelm August Geisel,imigrante alemãoluterano,[4] que chegou ao Brasil em 1883, oriundo de Herborn, no estado deHesse. No Brasil, onde assumiu o nome de Guilherme Augusto Geisel. Sua mãe foi Lydia Beckmann, gaúcha deTeutônia, filha de pais alemães oriundos deOsnabruque, no estado daBaixa Saxônia. Em Bento Gonçalves, onde Geisel nasceu, havia apenas duas famílias de origem alemã - os Geisel e os Dreher - enquanto a maioria da população era composta porimigrantes italianos.
Sobre o contato com os imigrantes italianos locais durante sua infância, Geisel descreveu os contrastes culturais entre a educação estrita e rigorosa que seus pais alemães impunham, em comparação com a liberdade e o modo de vida mais livre que seus amigos italianos tinham, os quais ele admirava. Geisel foi criado numa família luterana (o avô materno era pastor), a qual ele classificava como de classe média baixa, relativamente pobre.[8] Em entrevista, Ernesto Geisel declarou que, em suainfância, entendia e falava oalemão, embora nunca tendo aprendido a ler nesse idioma. Na idade adulta, entendia o idioma, mas falava com dificuldade.[9] Tinha quatro irmãos: Amália, Bernardo, Henrique e Orlando. Passou a infância emTeutônia eEstrela.[10]
Em 1940 Geisel casou com sua prima de primeiro grau,Lucy, com quem teve dois filhos: Orlando e Amália. Orlando, nascido em 1940, morreu atropelado por um trem em 28 de março de 1957 quando Geisel era comandante do 2º Grupo de Canhões Antiaéreos em Quitaúna. A morte de Orlando nunca foi superada por Geisel, que chegou a ficar uma década sem citar o nome do filho. Em agosto de 1986, revendo o acontecimento, Geisel afirmou "Ao longo de minha vida eu fui um infeliz...".[12][13] Amália, nascida em 1945, morreu em 2022, vítima de um tumor na cabeça.[14]
Em sua gestão na presidência daPetrobras, empresa estatal que deteve até adécada de 1990 o monopólio da extração de petróleo no Brasil, concentrou esforços na exploração da plataforma submarina, tendo obtido resultados positivos. Conseguiu acordos no exterior para a pesquisa e firmou convênios com oIraque, oEgito e oEquador.[15]
Geisel como Chefe daCasa Militar de Castelo Branco.
Com a posse de Costa e Silva na presidência, Geisel caiu no ostracismo político. No governo deEmílio Médici tornou-se presidente da Petrobras, enquanto seu irmãoOrlando Geisel se tornou o ministro do Exército. O apoio do irmão Orlando foi decisivo para que Médici o escolhesse como candidato à Presidência da República para o mandato de 1974-1979.
Posse de Ernesto Geisel como Presidente da República, 1974.Arquivo Nacional.Discurso de Ernesto Geisel, em 1975.
Lançado oficialmente candidato daARENA à presidência em 18 de junho de 1973,foi eleito presidente com 400 votos, contra 76 do "anticandidato"Ulysses Guimarães, doMDB, em 15 de janeiro de 1974.[5][15]
Geisel dedicou-se à abertura política, articulada pelo generalGolbery do Couto e Silva, que encontrou resistência nos militares da chamada linha-dura, sendo que o episódio mais dramático foi a demissão doministro do exército,Sylvio Frota, em 12 de outubro de 1977.
Em dezembro de 1976 ocorreu aChacina da Lapa, no bairro da Lapa na zona oeste da cidade de São Paulo que visava desarticular o comitê central doPC do B.[18][19][20] Entre os órgãos da repressão da ditadura militar que auxiliaram nessa operação estavam oDOPS e DOI-CODI do II Exército, já sob comando do General Dilermando Gomes Monteiro. Essa operação contra o PC do B resultou na morte de três membros do partido e na prisão de outros membros do partido.[18][19][20]
Geisel conseguiu fazer seu sucessorJoão Figueiredo, que continuou a abertura política do país.
II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), políticadesenvolvimentista que ajudou a manter a economia aquecida, oparque industrial em expansão e o nível de empregos após oprimeiro choque do petróleo (1973), mas que causou agravamento dadívida externa e dos problemas monetários ocasionadores dahiperinflação das décadas seguintes, legando um estado derecessão já no governo do sucessorJoão Figueiredo. A concessão de grandes incentivos aos investimentos de capital estrangeiro no país foi outro controverso e capital ponto do II PND. Durante seu governo houve um crescimento de 31,88% doPIB (média de 6,37%) e 19,23% darenda per capita (média de 3,84%),[21] números porém que desaceleraram os conquistados pelomilagre econômico brasileiro (1969–1973). Geisel assumiu com uma inflação em 15,54% e deixou o cargo com 40,81%;[22]
Deu início do processo de redemocratização do país, embora tal processo tenha sofrido alguns retrocessos durante seu governo, como bem exemplifica oPacote de Abril, em 1977;Posse do presidente Ernesto Geisel e de seu vice Adalberto Pereira dos Santos, em sessão conjunta do Congresso Nacional.
Abertura política do Brasil, sobre a qual Geisel afirmou que a redemocratização seria um processo "lento, gradual e seguro" em seu discurso de posse. Os assassinatos do jornalistaVladimir Herzog e do operárioManoel Fiel Filho emSão Paulo, entre o final de 1975 e o início de 1976, apressaram os planos do governo e ocasionaram um enfraquecimento do poder da chamadalinha-dura dentro da administração federal, com a demissão, pouco tempo depois das mortes, do generalEdnardo D'Ávila Mello, comandante do II Exército, responsável pelas prisões de Herzog e Fiel Filho. No auge da crise institucional, Geisel neutraliza uma tentativa de golpe do generalSylvio Frota, principal expoente da "linha-dura" e tido como um dos favoritos à sua própria sucessão, e termina por exonerá-lo em outubro de 1977;
Extinguiu oAI-5 e preparou o governo seguinte (João Figueiredo) para realizar aanistia política e a volta dos exilados, mas sem que retomassem seus cargos políticos;
Autorizou a demolição doPalácio Monroe - episódio polêmico que movimentou interesses diversos e gerou intensas campanhas contra e a favor nos jornais;
Em política externa, dentro de uma orientação denominada pelo governo de "pragmatismo responsável",[25] procurou ampliar a presença brasileira naÁfrica e com os demais países doTerceiro Mundo (incluindo nisso os vizinhos deAmérica Latina), evitando o alinhamento incondicional aosEstados Unidos. Reconheceu de imediato os regimes socialistasportugueses eangolanos que se sucederam após as guerras de independência colonial e o desmonte do poder ditatorialsalazarista,[25] bem como reatou relações diplomáticas com aRepública Popular da China;
Busca de novas fontes de energia, realizando oAcordo nuclear com a Alemanha, criando os contratos de risco com a Petrobras e incentivando a utilização doálcool como combustível.[26]
OAcordo Militar Brasil-Estados Unidos, assinado em 15 de Março de 1952 sobre assistência militar, estabeleceu "o fornecimento de material norte-americano para o Exército brasileiro em troca de minerais estratégicos", em 11 de março de 1977, o acordo foi denunciado pelo governo do presidente Ernesto Geisel,[27] na esteira da crise diplomática causada em 4 de março de 1977, quando os EUA, entregaram aoItamaraty um memorando informal e um relatório enviado peloDepartamento de Estado aoCongresso dos EUA avaliando negativamente a situação dosdireitos humanos no Brasil, que a partir deste momento gerou uma crise entre os dois países, com isso, o acordo deixou de vigorar um ano depois.[27]
Um memorando daCIA afirma que o general conhecia e autorizou a execução de opositores durante aditadura militar. Esse documento, de 11 de abril de 1974, foi elaborado pelo então diretor da CIA, William Egan Colby, e endereçado ao secretário de Estado dos EUA,Henry Kissinger, tendo sido revelado no Brasil em maio de 2018, pelo pesquisador Matias Spektor, daFundação Getúlio Vargas, quando foi tornado público pelo governo americano. O texto se refere a um suposto encontro, em 30 de março de 1974, entre Geisel,João Batista Figueiredo, então chefe doServiço Nacional de Informações, e os generais Milton Tavares de Souza e Confúcio Danton de Paula Avelino, que trabalhavam no Centro de Inteligência do Exército (CIE). O general Milton, segundo o documento, disse que o Brasil não poderia ignorar a "ameaça terrorista e subversiva", e que "os métodos extralegais deveriam continuar a ser empregados contra subversivos perigosos". Além disso, Geisel teria dito ao general Figueiredo que a política deveria continuar, mas que se deveria tomar "muito cuidado para assegurar que apenas subversivos perigosos fossem executados". Ainda conforme o memorando, todas as execuções deveriam ser aprovadas por Figueiredo, sucessor de Geisel até 1985. Partes do documento permanecem em sigilo.[29]
Segundo os dados daComissão Nacional da Verdade (CNV), 89 pessoas morreram ou desapareceram no Brasil por motivos políticos, a partir de 1º de abril de 1974, a data posterior àquela em que o encontro dos generais teria ocorrido, isto é, desde que Geisel teria autorizado a execução de opositores. Além disso, houve onze pessoas que podem ter morrido ou desaparecido e possivelmente muitos casos que não foram registrados. Conforme o relato divulgado, Geisel pediu para pensar durante o fim de semana de 1974. Então, no dia 1º de abril, ele e Figueiredo decidiram implantar as ações propostas, mas destacaram que apenas "subversivos perigosos" deveriam ser executados. Figueiredo concordou com a consulta ao presidente quando o CIE apreendesse uma pessoa. As informações sobre as vítimas do regime militar estão nos relatórios da CNV, que foi criada para apurar violações de diretos humanos entre 1946 e 1988. A informação agora disponível muda a imagem de Geisel, antes tido como moderado, visto que se pensava que as execuções ocorriam contra a sua vontade.[30][31]
No entanto, fontes dosEstados Unidos reforçam trecho do memorando da CIA de 1974 no qual o então diretor da agência, William Colby, disse que o Presidente Geisel buscaria ter o controle sobre o principal órgão de repressão do Exército, o CIE (Centro de Informações do Exército). Esse fato efetivamente aconteceu, o que confirma a ação fundamental do Presidente na abertura política.[32]
Como ex-presidente, manteve influência sobre o exército ao longo dosanos 1980, e em 1985, seu apoio à candidatura deTancredo Neves, nas eleições indiretas daquele ano, derrotando Paulo Maluf. Seu apoio diminuiu as resistências a Tancredo no meio militar. Também exerceu a presidência da Norquisa, holding das empresas que dividiam o controle da Copene com a Petrobras noPolo de Camaçari, e da qual depois passou a presidir o conselho de administração.[7]
Em 1997, aFundação Getúlio Vargas publicou a transcrição de seu depoimento, no qual narrou sua vida particular, militar e política.
Depois de deixar a presidência, Geisel passou a alternar sua residência entre dois locais: um apartamento no Edifício Debret,[33] no bairroIpanema, residência na qual morou até a sua morte, e uma granja de sua propriedade na cidade deTeresópolis.[34]
↑A Ditadura Derrotada, Elio Gaspari, p. 361 e 362. "Luterano por hábito familiar, o general era um agnóstico discreto e anticlerical assumido. Acreditava quando muito na existência de uma força criadora do universo, a qual, no entanto, seria um ente da física, não uma divindade. Nunca se dirigira ao sobrenatural. Entendia as religiões como sacrários de princípios. Lembrava-se dos padres de Bento Gonçalves ameaçando com o inferno quem entrasse em templo protestante, da professora primária ensinando que a Santa Madre era a Igreja “única e verdadeira”. Em condições normais, Geisel era anticlerical por agnóstico. Com uma Igreja na oposição, à sua esquerda, por convicção."
↑abc«Ernesto Geisel - Biografia».Centro de Informação de Acervos dos Presidentes da República e Almanaque Abril. UOL - Educação. Consultado em 25 de agosto de 2012
↑«A verdade sobre Manoel Fiel Filho».Sindicato dos metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes. 26 de junho de 2015. Consultado em 21 de fevereiro de 2023