+ de 5 milhões (portugueses e brasileiros filhos e netos de portugueses, com uma população muito maior de bisnetos e demais parentescos distantes).[nota 2]
Geneticamente, os dados apontam que a população portuguesa foi formada pelos três principais grupos que povoaram o continente europeu: oscaçadores-coletores ocidentais; osprimeiros agricultores europeus vindos daAnatólia e osproto-indo-europeus vindos daEstepe pôntica (Cultura Yamna ou Yamnaya). Também houve alguma influência oriunda doNorte da África e doMediterrâneo Oriental, porém de forma reduzida. Pesquisas genéticas apontam que os primeiros agricultores europeus foram o grupo que teve maior importância para a composição genética do povo português. Essa população chegou a Portugal durante oNeolítico, por volta de 5 000 a.C., e foi a responsável por introduzir aagricultura na região. Os proto-indo-europeus vindos da Estepe pôntica também tiveram grande impacto genético. Eles chegaram à Península Ibérica por volta de 2 500 a.C. e, após algumas gerações, substituíram 100% do DNA docromossomo Y masculino pré-existente na Península. Atualmente, predomina entre os portugueses ohaplogrupo R1b do cromossomo Y, o qual foi herdado desses homens vindos da Estepe pôntica.
No período moderno, os processosmigratórios mais relevantes emPortugal deram-se nas últimas três décadas doséculo XX e até ao presente, com a notável exceção da entrada de gruposciganos ainda noséculo XV. Após 1974, o país torna-se um recetor significativo de populações migrantes, quer como resultado direto ou indireto dadescolonização de África, quer como resultado da participação de Portugal naUnião Europeia. Portugal tem vindo a receber em número crescente populações migrantes oriundas do Brasil (ex-colónia portuguesa), África (com maior relevância das ex-colónias),Ucrânia (e países doLeste Europeu em geral), além duma multiplicidade demograficamente menos significativa doutras origens, entre as quais avoluma achinesa.
Portugal foi tradicionalmente uma terra deemigração, desde o período daexpansão imperial e colonial, passando, por exemplo, pela emigração económica para oBrasil noséculo XIX e pela emigração económica, a partir de 1960, para alguns países daEuropa Ocidental. Além dos cerca de dez milhões de portugueses residentes em Portugal, estima-se existirem milhões mais espalhados pelomundo (incluindo oslusodescendentes recentes) num total de milhões de pessoas com raízes portugueses.[16]
Os portugueses são umapopulaçãosul europeia, predominantementeatlântico europeia e oeste-mediterrânica. Todos os europeus modernos são basicamente descendentes de três populações que povoaram o continente europeu: oscaçadores-coletores ocidentais; osprimeiros agricultores europeus vindos daAnatólia e osproto-indo-europeus vindos daEstepe pôntica (Cultura Yamna ou Yamnaya), com algumas populações atípicas apresentando mistura adicional com povos daSibéria e doOriente Próximo. A diferença entre o sul e o norte da Europa consiste no grau de influência de cada grupo: a ancestralidade relacionada com Yamnaya é menor no sul da Europa e maior no norte, ao passo que a ancestralidade dos agricultores da Anatólia é maior no sul e menor no norte.[18] Os italianos daSardenha são a população moderna com maior similaridade genética com os antigos povos agricultores neolíticos da Europa,[19] com cerca de 85% da ancestralidade sarda sendo oriunda dos agricultores neolíticos. Por sua vez, a ancestralidade das estepes relacionada à cultura Yamnaya atinge seu pico nosnoruegueses,lituanos eestonianos, que têm cerca de 50% da ancestralidade relacionada aos povos das estepes.[20]
A população ibérica, na qual insere-se a portuguesa, também foi formada pelas três populações principais para o povoamento da Europa. A ancestralidade que predomina ainda hoje na população ibérica é dos primeiros agricultores europeus, que chegaram da Anatólia e se dispersaram pela Europa Mediterrânea, entre nove e sete mil anos atrás, miscigenando-se aoscaçadores-coletores que ali habitavam.[21][22] Outra grande influência genética nos portugueses atuais adveio das ondas dos pastores proto-indo-europeus, vindos daEstepe pôntica, durante a Idade do Bronze. A predominância dohaplogrupo R1b do cromossomo Y nos portugueses prova isso.[23][24] Começando pelo menos no período romano, a diversidade genética da Península foi acrescida pelo fluxo genético do Norte de África e do Mediterrâneo oriental.[21]
A imagem abaixo mostra as migrações que formaram a composição genética da população ibérica:
Mistura de populações na genética da Península Ibérica.[25]
Desenvolvimentos recentes dasmetodologias para definição dasestruturas populacionais levaram a um estudo de 2006[26] que concluiu verificar-se uma clara e consistente divisão entre grupos populacionais sul enorte europeus. Um estudo adicional de 2007 posiciona as populações ibéricas algo afastadas de outros grupos continentais, incluindo outros grupos sul-europeus, dando fundamento à hipótese que a Península Ibérica alberga as populações com a origem mais antiga de toda a Europa. Neste estudo, a mais importante diferenciação genética europeia atravessa o continente de norte para sudeste, acompanhada de um outro eixo de diferenciação este-oeste (diferenciando o sul do norte), ao mesmo tempo que se verificou, apesar destas linhas de demarcação relativa, a homogeneidade e proximidade genética de todas as populações europeias.[27]
Um estudo genético de 2019, que analisou o DNA de habitantes da Península Ibérica, dos últimos 8 000 anos, sugere que a população portuguesa e espanhola foi formada pelas seguintes ondas migratórias:[21]
Idade do Bronze (c. 2 000 a.C.): fluxo gênico adicional do Centro e do Norte da Europa;
Idade do Ferro (c. 1 000 a.C.): mais fluxo gênico do Centro e do Norte da Europa. A partir desse momento, a composição genética dosbascos permanece praticamente intacta até os dias atuais;
Período Romano (c. ano 0): influxo genético doMediterrâneo central e oriental. Algum influxo adicional de genes norte-africanos, no sul da Península Ibérica;
Período Muçulmano (c. ano 1000): fluxo gênico adicional do Norte da África. Com aReconquista, há uma maior troca de fluxo gênico do resto da Península Ibérica em direção ao Sul, seguido da expulsão dosmouriscos, reduzindo a contribuição norte-africana, mas sem eliminá-la completamente.
Distribuição do haplogrupoR1b (vermelho)Refúgios populacionais europeus durante o último máximo glaciar, cerca de 20 000 anos atrás
Os seres humanos chegaram àEuropa há cerca de 50 mil anos, alcançando a Península Ibérica entre 40 e 30 mil anos atrás, segundo vestígios arqueológicos.[28] Os primeiros humanos que habitaram a Península Ibérica tinham olhos, cabelos e pele escura, porém foram substituídos, entre 20 e 15 mil anos atrás, por caçadores-coletores oriundos dosBalcãs, os quais tinham cabelos e pele escura, mas olhos claros e um pouco de ancestralidade doOriente Próximo.[29][30]
Mapa da dispersão da agricultura pela Europa a partir do Oriente Próximo. Os números indicam anos antes de Cristo.
Geneticistas comoBarry Cunliffe,[31]Bryan Sykes,[32]Stephen Oppenheimer[33] eSpencer Wells[34] têm avançado com a hipótese, fundamentada nestes e noutros estudos genéticos, bem como em dadosarqueológicos, de que as populações ibéricas devem ser consideradas como a origem principal dos povos que repovoaram a Europa atlântica no período pós-glacial, particularmente durante o Paleolítico e oMesolítico, mas também noNeolítico.
Dentro dos marcadores genéticos que evidenciam tal realidade démica, tais como o importante Haplogrupo Y-cromossomático R1b, existem haplotipos modais, sendo um dos mais caracterizados oHaplótipo Modal Atlântico (AMH),[36] que atinge as frequências mais elevadas na Península Ibérica, atingindo os 37% em Portugal. A população portuguesa é relativamente homogénea, sendo o haplogrupo mais frequente em Portugal o R1b3[37] (típico das populações Europeias).
Por volta de sete mil anos atrás, agricultores oriundos daAnatólia, que corresponde à atualTurquia, dispersaram-se por toda a Europa, chegaram à Península Ibérica e misturaram-se aos caçadores-coletores que viviam na região. Atualmente, assim como em outros povos do Sul da Europa, a maior parte da ancestralidade genética dos portugueses é oriunda dos agricultores neolíticos. Estudos sugerem que osprimeiros agricultores europeus tinham, em sua maioria, cabelos e olhos escuros, mas pele clara. Foram eles os responsáveis por introduzir a pele clara na Península Ibérica e na Europa em geral.[21][22][38][39][40]
Reconstrução de uma agricultora do Neolítico da Europa. Atualmente, a maior parte da ancestralidade dos portugueses é originária dosprimeiros agricultores europeus.
Os agricultores do Neolítico trouxeram mudanças à paisagem humana da Península Ibérica a partir de há7 000 a.C., com a introdução daagricultura e o início daCultura Megalítica Europeia. Esta viria a espalhar-se por grande parte da Europa Ocidental e parte doNorte de África. Um dos centros mais antigos desta cultura monumental foi Portugal. Este é igualmente o período em que se assiste à expansão por via marítima, a partir do leste mediterrânico, daCultura da Cerâmica Cardial, associada igualmente a processos migratórios marcados pela presença doHaplotipo E3b, originário doCorno de África e disperso peloMediterrâneo oriental durante oMesolítico.[41][42][43][44][45][46][47]
Por volta de 2000 a.C., praticamente 100% dos homens ibéricos foram substituídos por homens provenientes da Estepe pôntica. Ainda não se sabe por que isso ocorreu.[21]
Cerca de 4.500 anos atrás, a população da Península Ibérica era formada basicamente pela mistura dos caçadores-coletores do Paleolítico e do Mesolítico com os agricultores do Neolítico.[48] Porém, a partir de então, um novo grupo populacional apareceu na península, proveniente de migrações a partir daEstepe pôntica ao norte e a leste doMar Negro. Esse grupo de ancestralidade estepe e as populações ibéricas pré-existentes parecem ter coexistido na Península Ibérica por séculos, com poucamiscigenação. No entanto, por volta de 2000 a.C. quando essas populações começaram a se misturar, isso ocorreu com uma grande assimetria sexual, conforme revelado pelos cromossomos Y, que são herdados apenas pelos homens: os tipos de cromossomo Y dos homens da estepe tornaram-se cada vez mais comuns, enquanto os tipos de cromossomo Y dos habitantes anteriores essencialmente desapareceram, num período de apenas 200 anos. Em outras palavras, os homens vindos da estepe substituíram toda a população masculina da Península Ibérica, 100% dos seus cromossomas Y sumiram e 40% da ancestralidade ibérica foi substituída. Não se sabe por que isso ocorreu, pois registos arqueológicos não evidenciam que tenha havido uma explosão de violência nesse período. A genética, portanto, conseguiu encontrar que os homens ibéricos desapareceram num curto período de tempo, porém não se sabe se foi devido à guerra, à escravatura e à subjugação, ou às preferências culturais das mulheres ibéricas, ou a alguma combinação de elementos.[48][21]
Ao longo daIdade dos Metais, houve doisfluxos migratórios de povos indo-europeus para a Península Ibérica, com importantes contribuições para o pool genético. O primeiro foi o dosproto-indo-europeus daEstepe Pôntica, durante aIdade do Bronze, há aproximadamente quatro mil anos, e substituiu praticamente todas as linhagens paternas ibéricas existentes até então, bem como introduziu línguas indo-europeias na região;[48] o segundo, durante aIdade do Ferro, há cerca de três mil anos, com a chegada dospovos celtas, indo-europeus vindos da Europa Central. A partir da fixação dos celtas, o pool genético dosbascos permanece praticamente intacto, até os dias atuais.[21]
AIdade do Bronze, que se desenvolve a partir de1 800 a.C., acentuará os processos populacionais e culturais verificados naIdade do Cobre: aumento da urbanização a sul e leste, aumento das influênciascentro-europeias a norte e oeste. De facto, é por volta doI milénio a.C. que se verificam as primeiras migrações para a Península Ibérica de populações claramente delíngua Indo-Europeia (associadas à expansão daCultura dos Campos de Urnas, de carácterproto-celta), e que viriam a contribuir para aIdade do bronze atlântica (cujas principais regiões parecem ter sido Portugal, aAndaluzia (Tartesso?), aGaliza e aGrã-Bretanha). Estas migrações foram mais tarde, nos séculos VII aV a.C. (já naIdade do Ferro), seguidas por outras que podem já ser claramente identificadas comoceltas. É neste contexto de celtização que, a partir doséculo VI a.C. se deu o desenvolvimento daCultura castreja numa ampla zona do noroeste daPenínsula Ibérica, entre os riosDouro eNávia e a Oeste doMaciço Galaico, tendo desenvolvido um tipo muito peculiar de assentamentos, chamadoscastros, diferentes de outras áreas da Península.[50][51]
Os dois principais componentes dos desenvolvimentos populacionais do território português durante aIdade do Ferro foram a migração de populações celtas e o desenvolvimento daCivilização Tartéssica. Estes dois processos acentuaram ainda mais as características da paisagem cultural do Portugal de então — mediterrânico a sul do rio Tejo e continental a norte.[52]
As migrações de populaçõesprotoceltas eceltas, no seguimento da anterior expansão daCultura dos Campos de Urnas, acentuam vincadamente o carácterindo-europeu do panorama humano na Península Ibérica, e muito particularmente o português. Trata-se, por um lado, do forte substrato protocelta (às vezes chamado pré-celta) que dará origem aoslusitanos e aos seus vizinhosvetões (no espaço dos quais se veio a desenvolver aCultura dos berrões),[53][54][55][56] na área onde se identifica acultura castreja e que parece estar também igualmente presente nosgalaicos eástures (embora estes últimos possam ter igualmente uma forte componenteaquitânica vinda dos também misturadosCântabros). Por outro lado, trata-se da clara «celtização» da metade noroeste da Península através dos processos de expansão démica e cultural a partir do centro celtibero, que assim produz populações celtas distintas dasceltiberas e que podem ser designadas comohispano-celtas (ou celtas da Península Ibérica).[57]
A cultura tartéssica-cónia no sul de Portugal foi substituída pela forte presençaCelta, resultado de processos migratórios dosCélticos, que assim «celtizaram» esta zona, bem como as populações, ligadas a Tartesso, dosturdetanos e doscónios. Os Cónios legaram-nos o mais amplo património deescritatartéssica (na variante chamadaescrita do Sudoeste) e, mesmo depois de celtizados, permaneceriam como população autónoma até à chegada dosromanos, com quem se aliaram contra, nomeadamente, oslusitanos (que acabaram por destruir a sua principal cidade —Conistorgis). Vários historiadores consideram de facto os Conii ou Cynetes (em Latim), como uma população e cultura distintas dos Tartéssios, ainda que influenciados por estes.[58] Além disso, não é consensual a designação da primeira escrita na Península Ibérica. Para muitos historiadores é a escrita do sudoeste ou sud-lusitana. Já os linguistas, utilizam as designações de escrita tartéssica ou turdetana. Outros concordam com a designação deescritacónia,[59] por não ser limitada geograficamente, mas relacionada com o povo e a cultura que criou essa escrita. E, segundoLeite de Vasconcelos com os nomeskonii eKonni,[60] que aparecem inscritos com variações em diversas estelas.[61]
Mapa das rotas de expansão Fenícias
É de notar que apesar da língua tartéssica ser em regra tratado como não classificada, dada a escassez de textos e falta de óbvias conexões com outras línguas — o que permanece como a visão dominante,[62][63] vários autores apresentam-na comocéltica ou pelo menos fortementeceltizada. Correa,[64] Untermann[65][66] e particularmente Koch[67][68] propõem etimologias celtas para nomes tartéssicos, ou mesmo que o tartéssico era uma língua celta. Koch defende mesmo que as línguas celtas nascem no contexto cultural da idade do bronze atlântica.
Mapa Etno-Linguístico da Península Ibérica por volta de300 a.C.
Por volta doséculo IV a.C., osCélticos, uma nova vaga de migração celta, penetram no território português e assentam noAlentejo com penetração até aoAlgarve. OsTúrdulos e osTurdetanos, provavelmente de origem tartéssica embora altamente celtizados, estabelecem-se na área doGuadiana. Uma série de cidades do Algarve, tais comoConistorgis,Balsa (Tavira),Besuris (Castro Marim),Ossónoba (Faro) eCilpes (Silves), são habitadas pelos Cónios, que se misturam progressivamente com osCélticos.[69][70] Oslusitanos (que, na hipótese mais moderna, se consideramprotoceltas) habitam a área entre oDouro e oTejo e começam progressivamente a penetrar no Alto Alentejo. As populaçõesgalaicas, de substrato protocelta, tornam-se progressivamente populações de língua celta.
Em219 a.C., as primeiraslegiões romanas invadem a Península Ibérica (que viriam a designar porHispânia) no âmbito daSegunda Guerra Púnica contraCartago (herdeiros dosfenícios na zona de influência a sul), num processo de conquista que só será terminado durante o reinado doImperadorAugusto em19 a.C.. OsRomanos, com forte presença militar na Península (não só devido à guerra com Cartago, mas posteriormente emprocessos de conquista territorial das populações ibéricas, bem como emlutas intestinas entre romanos, tais como a revolta deSertório entre 83–72 a.C., ou a guerra civil deCésar entre 49–45 a.C.), acabaram por ser a mais importante influência cultural nas populações que viriam a constituir a nação portuguesa. Tal influência deveu-se ao legado maior dolatim (nomeadamente olatim vulgar) como, inicialmente,língua franca de comunicação e, posteriormente, língua universal (extinguindo todas as línguas pré-Romanas que se falavam na Península, com a conhecida excepção doBasco, provavelmente originário doAquitânio), que originou alíngua portuguesa. Outra influência que se pode considerar romana, ainda que de origem não romana e numa fase muito posterior (já noséculo IV), foi ocristianismo. A importância romana foi não só directa, através destes e outros legados culturais, como indirecta e ainda presente, já que a Civilização Romana se constitui como uma das fontes matriciais daCivilização Europeia.
A importância de Roma não foi, no entanto, apenas cultural, já que importantes processos de colonização populacional também se verificaram, nomeadamente através da presença contínua de legiões romanas e dos estabelecimentos subsidiados delegionários após o cumprimento do serviço militar (os chamados eméritos — daí a existência de cidades assim chamadas, comoEmerita Augusta, hojeMérida, em Espanha, e antiga capital da província romana daLusitânia).
Segundo um estudo genético, durante a ocupação romana da Península Ibérica, aumentou a presença de pessoas oriundas do Mediterrâneo Oriental e do Norte da África na Península, o que demonstra que a presença romana não teve somente impactos culturais, mas também populacionais.[21]
Serão os suevos e os visigodos, portanto, as populações germânicas que definitivamente se estabelecem em território ibérico. Apesar da presença de elementos visigodos em território português,[72] que denota algum grau de povoamento (essencialmente de elite) espalhado por todo esse território, será a presença sueva a mais duradoura e com maior impacto.
Ossuevos, que estabelecem umreino independente na antiga província romana daGalécia (incluindo a modernaGaliza e o território português entre os riosMinho e Douro; de notar que a fronteira sueva foi flutuante, muitas vezes se expandindo para lá doTejo e incluindo, portanto,Lisboa), com capital emBracara (hojeBraga), e que resistiu à anexação peloReino Visigótico durante quase 200 anos, foram a população germânica que mais impacto terá tido nas populações de Portugal, já que muitos deles se estabeleceram como agricultores e se disseminaram pelo conjunto da população e território.[73] A população sueva estabelecida na Galécia é estimada entre 30 a 35 000 indivíduos, isto é 6% a 12% da população total da Galécia (correspondente à metade Norte dePortugal eGaliza) de então que eram o mesmo povo.[74] Essa presença coincide também com o mais alto grau de contribuição genética germânica[75] no território atual de Portugal e Galiza em toda a Península Ibérica. A única outra região ibérica com contribuição germânica significativa é a Catalunha, devido à ocupação dos reis Francos.
Estas populações germânicas rapidamente adquiriram os hábitos, religião e língua das populações que inicialmente dominaram, ao ponto de a sua diferenciação étnico-linguística ter desaparecido, só permanecendo a pertença visigoda como elemento de distinçãonobiliárquica elinhagística. Os visigodos foram, inclusive, elementos centrais de reforço daromanização mais tardia de Portugal e de toda a Península Ibérica, com a sua conversão doarianismo aocatolicismo e a promulgação delegislação, inclusive "códigos", em relativa continuidade com oDireito romano.
Segundo um estudo genético, no longo prazo o impacto das invasões germânicas foi nulo para a composição genética dos habitantes da Península Ibérica.[21]
Em 711 aPenínsula Ibérica foi invadida por exércitos Islâmicosnorte-africanos, conhecidos pela designação genérica demouros — tratava-se essencialmente deberberes com elementosárabes. A presença e domínioislâmico na Península (chamadaAl-Andalus, emárabeالإندلس ) veio a revelar-se um processo duradouro com importantes consequências civilizacionais. Se a campanha de conquista muçulmana, aproveitando-se de uma guerra civil entre diferentes facções visigodas pelo trono daHispânia visigótica, demorou somente 8 anos, o domínio mouro em território português prolongou-se até à conquista definitiva doReino do Algarve pelos portugueses em 1249.
De facto, foi a presença e o domínio islâmico que catalisou os processos produtores quer do Estado, quer da própria nacionalidade portuguesa, no contexto da reacção das elites e populações cristãs a que se convencionou chamar «Reconquista». Mas não pode pensar-se este processo de cinco séculos como um que tenha oposto linearmente as populações cristãs aos invasores islâmicos. Ocorreram processos de aculturação e entrecruzamento entre as populações autóctones da Península e as populações ditas «mouras». Os processos culturais foram de extrema importância: a complexidade, sofisticação e envergadura civilizacional, os contributos tecnológicos e científicos, linguísticos e literários, intelectuais, artísticos, etc., do Islão na Península Ibérica (e, por essa via, para toda a Civilização Europeia) foram de tal ordem que levam vários historiadores a falar, pelo menos para alguns dos períodos de dominação islâmica, de umaidade de ouro civilizacional, a que toda aEuropa muito deveria.[76]
As populações norte africanas (bem como os pequenos grupos deárabes, desubsarianos, deescravoseslavos, depersas, etc., a elas associadas), mesmo com os diferentes momentos de entrada dessas populações ao longo dos séculos (coincidindo em grande medida com a entrada de novos exércitos aquando dos momentos de luta interna, política ou religiosa —fitna, noAl-Andalus), foram sempre umaminoria que não terá ultrapassado os 10% do conjunto da população total.[77]
A maioria da população muçulmana da Península Ibérica era constituída por autóctones ibéricos convertidos (os chamadosMuladis), isto é; a maioria dos "mouros" eram de facto europeus, ibéricos de religião islâmica.[77]
A maioria da população em zonas de domínio muçulmano, ao longo de todos os séculos de presença, não era muçulmana (com algumas excepções localizadas espacial e temporalmente), mas sim população autóctone ibérica que se manteve delíngua românica ecristã (dorito visigótico), ainda que fortemente arabizada do ponto de vista cultural — os chamadosmoçárabes[78] (repare-se que Moçárabe, para designar a população ou a língua, é um termo moderno doséculo XIX — essas populações referiam-se a si próprias e à sua língua comoLatinus[79]).
A maioria das populações norte-africanas que de facto se estabeleceram na Península eramberberes. Os Berberes, particularmente das regiões mais litorais, não podem ser descritos como uma população radicalmente diferente das populaçõessul-europeias, com as quais, aliás, apresentam ligações ancestrais.
Mesmo nas elites islâmicas, a presença de elementos conversos não era despicienda — mesmo algumas dinastias reinantes tinham origemhispano-visigótica (como osBanu Cassi, fundados pelo converso hispano-visigodoConde Cássio).
Os processos sociais do final daReconquista e do período seguinte instituíram sistemas de discriminação social (geridos em parte pelas autoridades religiosas) que guetizaram e até expulsaram (para o Norte de África) fatias significativas das populações ditasmouriscas (as quais de qualquer modo, tinham uma origem basicamente autóctone ibérica).
Mapa da mistura norte-africana na Península Ibérica. Segundo esse estudo, a mistura norte-africana vai de um mínimo de 0,12% nos bascos a um máximo de 11,91% nos portugueses.
Alguns desses estudos apontam para relação parcial, ainda que pequena, entre algumas das populações ibéricas (nomeadamente do extremo sudeste da Península) e algumas populações norte-africanas. A Península Ibérica e aSicília são as únicas regiões europeias com níveis significativos dohaplotipo Y-cromossomático E-M81 (típico do noroeste africano; de notar que este e outros marcadores genéticos deste tipo estão também presentes noutras regiões da Europa — a questão é de significado estatístico das frequências).[80][81] Por outro lado, é difícil saber se estas contribuições para o genoma ibérico são o resultado dos séculos de domínio muçulmano ou de antigos processos démicos que antecedem a presença islâmica, constituindo o resultado de algum fundo populacional e migratório do Ocidente mediterrânico, como se constata quando se analisam as populações berberes norte-africanas. No caso português, pelo menos, parece ser esta claramente a situação.[82]
Segundo um estudo genético, a ancestralidade do Norte da África atinge um máximo de 11% no Oeste peninsular, área correspondente a Portugal e àGaliza, ao passo que é ausente ou quase ausente noPaís Basco e nordeste da Espanha.[21][83] Outro estudo, o qual utilizou 6.501 amostras de cromossomos Y não relacionadas vindas de 81 populações, estimou que 5,6% das linhagens na Península Ibérica são de origem norte-africana.[84][85] Outro estudo estimou que as populações do noroeste africano podem ter contribuído com 7% dos cromossomos Y ibéricos. O estudou concluiu que, embora os muçulmanos tenham controlado boa parte da Península Ibérica, por vários séculos, o seu impacto genético foi pequeno.[86]
As populações ibéricas apresentam um grau substancial de homogeneidade e de clara pertença ao conjunto europeu de diversidade genética.[87] A clara diferenciação entre as populações do noroeste africano e da Península Ibérica sugerem que oMar Mediterrâneo funcionou, neste caso, como uma forte barreira geográfica que restringiu os fluxos démicos, ainda que fortes factores culturais também possam ter jogado o seu papel.[87] A maioria dos estudos genéticos verifica que a presença de elementos norte-africanos nas modernas populações ibéricas é menor quando comparada com a base ancestral pré-islâmica.[88]
Apresença islâmica na Península não foi um processo pacífico, embora não tenha sido apenas um processo bélico. Desde cedo se verificaram processos reactivos por parte das elites e populações cristãs peninsulares. Tal levou à formação de entidades estatais no norte da Península, área que, de resto, pouca presença e influência islâmica teve. É desta reacção social, cultural e militar a que se convencionou chamar «Reconquista» que emergiram não só os estados ibéricos, mas também as modernas populações e identidades nacionais da Península.
Os mouriscos eram essencialmente populações de religião islâmica (mas muitas vezes de língua românica) que, como acima se viu, descendiam basicamente de populaçõesMuladis, ou seja, de grupos autóctones ibéricoseuropeus, convertidos ao Islão durante os longos séculos de domínio muçulmano. Tratar-se-ia de populações pouco numerosas, pobres, concentradas especialmente emLisboa,Setúbal,Évora eAlgarve.[90]
Osjudeus portugueses, maioritáriamente do subgrupo dos judeus sefarditas, eram uma presença mais antiga na Península, talvez remontando aos tempos romanos tardios, claramente documentada desde 482[91] e fortemente atestada desde os tempos visigóticos. Esta sempre foi uma minoria com um lugar problemático nas sociedades ibéricas (tal como nas europeias em geral), devido às particularmente fortes tendênciasanti-semitas que cedo se fizeram sentir noCristianismo.
A questão central no que concerne a origem populacional dos portugueses é que, mesmo que tivessem ficado estas minorias judias e mouriscas em percentagem relevante após aReconquista, tal não alteraria, como não alterou, as características do espectro démico português, já que, por um lado, os mouriscos tinham uma origem essencialmente ibérica e, por outro, também a tinham os judeus ibéricos (cuja origem remota se encontra na presença de minúsculas populações judias vindas doMédio Oriente ou doutros locais doImpério Romano cuja expansão demográfica se deveu a influxos populacionais ibéricos, bem como, no essencial, à conversão de autóctones[92]).
A presençaafricana subsariana resultante dos processos daescravaturaatlântica tem sido alvo de debates e polémicas. Não só em relação a Portugal, mas igualmente em relação ao resto da Europa Ocidental,[93] isto porque havia um tráfico regular de escravos africanos não só de Portugal para Espanha, como para o resto da Europa.[94] Noséculo XVI os escravos africanos tinham já substituído todos os outros grupos étnicos e religiosos de escravos nos mercados de escravos europeus ocidentais.[95] Não só foi tradicionalmente difícil quantificar o número de escravos «negros» em território português, também sempre foi difícil estimar, dadas nomeadamente as assimetrias na composição sexual das populações escravizadas, a taxa de reprodução dessas populações (por oposição, em especial, à sua substituição por novos contingentes importados). Este tema foi e é igualmente alvo de discussões de carácter político dadas a exageros, desde tentativas bem fundamentadas de reabilitação do papel dos africanos na história portuguesa,[96] até visõesracistas que pretendem, pela visão negativa das populações africanas, discriminarPortugal e os Portugueses.[97] No entanto, até a antiga e desacreditadaantropologia físicaracialista recusava a ideia de que se tivesse verificado um significativo influxo de populações subsarianas em Portugal.[98] Assim, não existe qualquer prova que em Portugal ou resto da Europa Ocidental, historicamente com domínios coloniais no passado; tenham sido deixadas marcas genéticas subsarianas de relevância[99] resultantes dos processos daescravatura.
É hoje sabido encontrarem-se marcadores genéticos subsarianos em todo ocontinente europeu, desde aPenínsula Ibérica aoBáltico. Esses marcadores têm sido encontrados nomeadamente naAlemanha,Dinamarca,Grã-Bretanha,Finlândia,Sardenha,Sicília,Grécia, etc. Um estudo de 2005[100] encontrou frequências do haplogrupo de ADN Mitocondrial L (de origem subsariana) em 0,62% de uma amostraDano-Alemã, 1% numa amostra Britânica, 3,83% numa amostra Ibérica (Portugueses e Espanhóis), 2,38% numa amostraAlbanesa, 2,86% numa amostra da Sardenha e 0,94% numa amostra siciliana. Por seu lado, os haplogrupos Y-cromossomáticos de origem africana E e A foram detectados em Portugal (2%),França (2,5%), Alemanha (2%), Sardenha (1,6%),Áustria (0,78%),Itália (0,45%),Espanha (0,42%) eGrécia (0,27%).[43][101][102][103][104][105][106][107]
A explicação provável para a existência de linhagens subsaarianas em Portugal é a escravatura moderna (séculos XV a XVIII), o que se torna ainda mais lógico quando essas linhagens sejam mais frequentes nas ilhas que foram povoadas nesse período, os arquipélagos dosAçores[108][109][110] e daMadeira,[82][111][112] que, mesmo assim, não apresentam grandes diferenças comPortugal Continental, de onde a maioria das linhagens genéticas provém (particularmente doNorte[113]), nem em relação às distribuições típicas da maioria das populações daEuropa Ocidental.
Portugal de um país de que durante grande parte da sua história moderna foi considerado globalmente um país deemigração, tornou-se nas últimas três décadas um país deimigração. De facto, além de populações com origem na União Europeia e no resto da Europa, Portugal tem vindo a receber em número crescente populações migrantes com origem em África (com óbvia relevância para as ex-colónias) e no Brasil, além de uma multiplicidade demograficamente menos significativa de outras origens, entre as quais se avoluma a Chinesa.
É difícil quantificar o número de estrangeiros em Portugal, até pela existência de imigrantes em situação ilegal e não registada, e ainda mais difícil de quantificar o número daqueles que, tendonacionalidade portuguesa, podem ser considerados como membros deminoriasétnicas.
No respeitante aos cidadãos estrangeiros residentes com situação regularizada,[114] para 2006,[115] estima-se residirem de forma legal em Portugal menos de meio milhão de estrangeiros (concentrados emLisboa,Faro,Setúbal ePorto), avultando as comunidades Brasileira, Cabo-Verdiana e Ucraniana.
Olhando para dados agregados por continente de origem (ver tabela ao lado com dados provisórios doServiço de Estrangeiros e Fronteiras português para 2006[116]), constata-se serem as comunidades mais importantes as europeias, seguidas das africanas, as americanas e finalmente as asiáticas. De facto, a importância demográfica destas populações é crescente no respeitante ao crescimento da população residente em território português,[117] ainda que não se possa considerar que Portugal tenha uma percentagem elevada de população estrangeira quando comparado com outros congéneres europeus.[118]
É claro que muitos residentes em Portugal categorizados enquanto minoria étnica em termos das relações sociais mais alargadas não estão representados nestes dados (o caso mais patente é o dos ciganos, tratado mais abaixo, mas também o dosgoeses ou comunidades com origem no subcontinente indiano e que chegaram a Portugal no contexto da descolonização, tendo, portanto, nacionalidade portuguesa). E a presença de populações estrangeiras não significa por si só processos de assimilação na população portuguesa em geral. De facto, desde osanos 1970, os processos de discriminação e de etnização das relações sociais em Portugal têm-se vindo a acentuar, com particular destaque para a discriminação das populações de origem africana e brasileira, mesmo mais que populações que não têm como língua de origem o português (nomeadamente os Ucranianos).[119][120][121] Tal deve-se a múltiplos factores, desde institucionais e jurídicos (note-se que se alei da nacionalidade de 1959 se baseava nodireito de solo, as mudanças de 1975 e 1981 impuseram o princípio dodireito de sangue, retirando a possibilidade de naturalização a filhos e netos já nascidos em Portugal de imigrantes, com todas as dificuldades de acesso à cidadania plena daí resultantes; esta situação legal só muito recentemente veio a ser algo alterada, mantendo-se todavia a primazia do direito de sangue), a socioculturais (decorrentes da percepção estigmatizante da diferença), bem como económicos (o acantonamente das principais comunidades migrantes em profissões relativamente desqualificadas), além de residenciais (a concentração geográfica em bairros degradados eguetizados, particularmente no caso das comunidades de origem africana). Estes processos são aliás concomitantes com o reforço de uma visão crescentementeétnico-racial daidentidade nacional por parte dos Portugueses, mesmo nas gerações mais novas.[122][123][124][125]
Se a origináriacomunidade judia portuguesa foi praticamente extinta com os processos sociais, políticos e religiosos de perseguição dos séculos XV a XVIII (com a excepção de minúsculas comunidades isoladas deMarranoscripto-judeus), a partir doséculo XIX dá-se uma reconstituição de uma pequena comunidade judia em Portugal.
Hoje em dia não se verificam processos discriminatório relevante em relação à pequena comunidade judia portuguesa, ainda que ataques isolados contra a comunidade se tenham verificado, tal como os actos de vandalismo perpetrados no Cemitério Judaico de Lisboa em 2007 (com a profanação de campas através da pintura decruzes suásticas). A memória da perseguição aos judeus continua presente, e levou a que, em 1987, o entãoPresidente da República,Mário Soares, pela primeira vez naHistória de Portugal, pedisse oficialmente perdão às comunidades judias de origem portuguesa pela responsabilidade de Portugal naInquisição e nas passadas perseguições antijudaicas.
A presente comunidade judaica é uma mescla entrejudeussefarditas de remota origem portuguesa, retornados a Portugal durante oséculo XIX (nomeadamente deGibraltar,Marrocos eImpério Otomano),cripto-judeus, finalmente praticantes públicos da sua religiosidade e retornados ao seio do Judaísmo institucionalizado (como os de Belmonte), e alguns judeusasquenazes, no essencial resultantes de algumas parcas decisões de estabelecimento em Portugal aquando do êxodo, através de Lisboa, aoNazismo.
A presença de comunidadeciganas em Portugal remonta à segunda metade doséculo XV, originários remotamente do norte daÍndia e chegando ao território português por viacontinental europeia. Desde cedo, devido à sua diferença sociocultural e ao seu modo de vidanómada, os Ciganos foram objecto de fortíssima discriminação e perseguição em Portugal, como, aliás, em toda a Europa. As ordens de expulsão do território sucederam-se sem nunca terem conseguido apagar a sua presença.[127]
O número de Ciganos em Portugal é de difícil quantificação. Segundo dados da Comissão Europeia contra o Racismo e Intolerância doConselho da Europa[128] seriam cerca de 50 000 espalhados por todo o país. Existem, no entanto, estimativas diferentes, como a da organizaçãoSOS Racismo,[129] que num inquérito de 2001, junto de 186Câmaras Municipais, contabilizou somente um total 21, 831 indivíduos de etnia cigana.
A maioria das populações Ciganas em Portugal têm hoje um modo de vidasedentário, concentrando-se nos grandesaglomerados urbanos, e caracterizando-se pelos baixíssimos níveis de escolarização, pelaexclusão social generalizada e por contextos residenciais precários (embairros degradados de barracas). Segundo o relatório da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância,[130] os Ciganos são o grupo étnico que os Portugueses mais rejeitam e discriminam, sendo igualmente alvo de discriminação institucional por parte do Estado, nomeadamente ao nível das municipalidades, sendo-lhes levantadas dificuldades persistentes no acesso ao emprego, ao alojamento e aos serviços sociais, bem como na relação com as forças policiais. Globalmente a sua situação tem sido de exclusão social.[131][132][133][134][135]
Portugal foi tradicionalmente uma terra deemigração: desde osprocessos de expansão imperial e colonização, passando pelo povoamento das Ilhas Atlânticas, pelacolonização do Brasil (onde amaioria da população tem ancestralidade portuguesa;[136] verLuso-brasileiro eImigração portuguesa no Brasil) e dispersão noutras partes do Império (onde se formaram comunidades de origem parcialmente portuguesa, cultural — como emGoa osGoeses católicos, emCeilão osBurghers portugueses, emMalaca osCristang e emMacau osMacaenses; além das elites portuguesas ou mistas nas colónias africanas e emTimor); a emigração económica para o Brasil já noséculo XIX e primeira metade do XX, bem como, em menor medida, para outras regiões daAmérica (Estados Unidos da América,Canadá,Caraíbas,Havai); a emigração económica e política a partir de 1960, essencialmente para os países mais desenvolvidos daEuropa Ocidental (Suíça,Alemanha,França eLuxemburgo), bem como a emigraçãomadeirense para aÁfrica do Sul eVenezuela eaçoriana para os Estados Unidos e Canadá. Todos estes foram processos que produziram a existência de comunidades portuguesas fora de Portugal. É claro que, com o passar dos tempos e gerações, aqueles que inicialmente eram portugueses deixam de o ser, passando a ser americanos, canadianos, sul-africanos, brasileiros, venezuelanos, franceses, australianos etc. Ainda que, no âmbito das diferenciações étnicas desses países, possam ser categorizados como "portugueses" (luso-americanos, luso-brasileiros, luso-franceses, etc.). Contudo, as comunidades da diaspora portuguesa sentem geralmente um forte vínculo à terra dos seus antepassados, à sua língua, à sua cultura e aos seus pratos nacionais e particularmente ao bacalhau.[137]
Além dos cerca de dez milhões de portugueses residentes em Portugal, presume-se existirem quase cinco milhões mais espalhados pelo mundo,[138] quer de primeira geração, quer luso-descendentes recentes, formando assim um total de cerca de quinze milhões de portugueses.
De acordo com dados da Direcção Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas do Ministério dos Negócios Estrangeiros português,[139] os países com maiores comunidades portuguesas são, por ordem crescente de importância demográfica, a França, o Brasil e os Estados Unidos (caso se considerem, no cômputo dos luso-americanos, aqueles que descendem de portugueses em graus variados).
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↑Mesmo um antropo-biólogo como Carlton Coon escrevia, no seuThe Races of Europe (1939), que "On the whole, the absorption of negroes by the Portuguese has had no appreciable effect on the racial position of the country "
↑Seja qual for a modalidade de regularização legal da residência. Repare-se que nos dados que se seguem não estão incluídos, além de obviamente as pessoas em situação irregular, os cidadãos da União Europeia que, encontrando-se em Portugal, não desenvolveram os processos de regularização de residência, nomeadamente pela sua estadia ser a prazo limitado (como no caso cada vez mais relevante dos estudantes universitários europeus em sistemas de intercâmbio académico por prazos não superiores a 1 ano).
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