Paulo Vanzolini | |
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Paulo Vanzolini em 2008, no palco daVirada Cultural em São Paulo | |
Informações gerais | |
Nome completo | Paulo Emílio Vanzolini |
Nascimento | 25 de abril de1924 São Paulo,SP |
Morte | 28 de abril de2013 (89 anos) Hospital Albert Einstein,São Paulo,SP |
Nacionalidade | brasileiro |
Gênero(s) | Samba |
Ocupação | Zoologia,herpetologia |
Alma mater | Universidade de Harvard |
Instrumento(s) | vocal |
Página oficial | http://www.paulovanzolini.com.br |
Paulo Emílio Vanzolini (São Paulo,25 de abril de1924 — São Paulo,28 de abril de2013) foi umzoólogo ecompositorbrasileiro, autor de famosas canções como "Ronda", "Volta por Cima", "Moda da Onça" e "Na Boca da Noite".
Compôs mais de 70 canções, que já foram interpretadas por grandes nomes da música brasileira, comoChico Buarque,Alcione,Beth Carvalho,Carlinhos Vergueiro,Carmen Costa,Ângela Maria,Cauby Peixoto,Elis Regina,Elza Soares,Emílio Santiago,Jair Rodrigues,Miúcha,Maria Bethânia,Marlene,Martinho da Vila,Márcia,Nelson Gonçalves,Nora Ney,Paulinho da Viola,Ventura Ramirez eInezita Barroso.[1][2]
Foi um dos idealizadores daFundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP),[3] da qual redigiu o anteprojeto de criação, e ativo colaborador doMuseu de Zoologia da Universidade de São Paulo que, com seu trabalho, aumentou a coleção derépteis de cerca de 1,2 mil para 230 mil exemplares.[4]
Adaptou aTeoria dos Refúgios a partir de estudos conjuntos com o geógrafoAziz Ab'Saber e com oestadunidenseErnest Williams, o que revolucionou a compreensão da evolução dos vertebrados no Brasil.[5]
Nos últimos anos de vida, casado com a cantora Ana Bernardo, já não compunha, mas ainda acompanhava os shows da mulher e frequentava algumas rodas de samba em bares de São Paulo. No dia 25 de abril de 2013, ao completar 89 anos, foi internado no Hospital Albert Einstein por pneumonia. Faleceu 3 dias depois.
Descendente de italianos,[6] seu pai, o engenheiro Carlos Alberto Vanzolini, foi com a família para oRio de Janeiro quando Paulo tinha quatro anos. A família voltou para São Paulo dois anos depois, em 1930. Paulo cursou o primário noColégio Rio Branco e o ginásio em escola pública. onde se formou em 1938.
Aos dez anos de idade, Vanzolini visitou oInstituto Butantã, em São Paulo, onde surgiu sua vontade de ser biólogo e estudar répteis. Anos mais tarde, pretendia fazer graduação em zoologia, mas orientado pelo professor André Dreyfuss, fundador do Instituto de Biologia da USP, foi convencido a cursar medicina pois, na época, abriria mais possibilidades para doutorado no exterior.
Então, em 1942, ingressou naFaculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Nessa época, junto com grupos de estudantes, passou a frequentar as rodas boêmias e a compor seus primeiros sambas.[7]
Em 1944, deixou a casa dos pais e foi morar noEdifício Martinelli, e a trabalhar com um primo, Henrique Lobo, naRádio América, no programa Consultório Sentimental, deCacilda Becker. Em seguida, foi convocado para o Exército, interrompendo os estudos. Dois anos depois retomou o curso de Medicina, passou a lecionar noColégio Bandeirantes e começou a trabalhar noMuseu de Zoologia da Universidade de São Paulo.
Em 1945, serviu na cavalaria do Exército, e fazia patrulha em regiões de prostituição no centro de São Paulo, o que lhe rendeu inspiração para compor o samba-cançãoRonda, que só seria gravada 8 anos mais tarde, no disco deInezita Barroso.[8]
Formou-se em medicina em 1947, profissão a qual nunca exerceu, e casou-se em 1948, com Ilze, com quem teria cinco filhos. No ano seguinte, foi para Boston, nos Estados Unidos, onde obteve o doutorado em zoologia pelaUniversidade Harvard. Especializou-se emherpetologia, ramo da zoologia que estuda répteis e anfíbios.
Em 1951, por insistência do amigoGeraldo Vidigal, publicou pelo Clube de Poesia o livroLira de Paulo Vanzolini.
Em 1959, o violonista José Henrique, dono da boate Zelão, mostrou o samba "Volta por Cima" ao cantorNoite Ilustrada, que o lançou em 1963, pelaPhilips, com estrondoso sucesso. Nesse mesmo ano, Paulo Vanzolini foi nomeado diretor do Museu de Zoologia, cargo que exerceu durante trinta anos. Mesmo depois de se aposentar em 1993, continuou trabalhando na instituição. "É a única coisa de que gosto, a única coisa que sei fazer", declarou à revistaScientific American Brasil em 2002.[7]
Em novembro de 1967,Luís Carlos Paraná, da boate Jogral, e Marcus Pereira, dono de uma agência de publicidade, resolveram produzir um LP chamado "Onze Sambas e uma Capoeira" com as composições inéditas de Paulo Vanzolini, conhecidas apenas por seus amigos frequentadores das mesmas rodas de samba.[9]
Paulo Vanzolini morreu no dia 28 de abril de 2013, em São Paulo, aos 89 anos.[10] Ele estava internado desde o dia 25, dia em que completou 89 anos,[11] naUTI doHospital Albert Einstein, com umapneumonia extensa.[12]
Criou sambas antológicos e, ao mesmo tempo, uma ciência de altíssimo nível. Não tocava nenhum instrumento, nem lia partitura, e precisava de um músico para colocar em pautas as músicas que tinha na cabeça, tamborilando com os dedos e indicando: “agora mais pra baixo, agora mais pra cima, o som é este”. A canção vinha com a letra, e ia fazendo correções à exaustão, muitas vezes demorando mais de um ano para finalizar uma música. Um dos músicos com os quais traduzia suas músicas era o cantor Adauto Santos, que conheceu na noite. Vanzolini sempre dizia: “Acho que sou o único músico que não conhece a diferença entre tom menor e tom maior”.[13] No documentário "Um Homem de Moral", de 2009, ele deu um exemplo de como concebia as músicas:
"Geralmente, aparece uma frase pronta, com letra e música, e depois eu trabalho em cima, com calma e paciência. Quando eu estava em Cláudia, no norte de Mato Grosso do Sul, sentado sozinho na varanda de casa, me veio a seguinte frase na cabeça: "quando eu for, eu vou sem pena. Pena vai ter quem ficar.". Me veio assim, letra e música."
Paulo Vanzolini era amigo de infância da família Buarque de Holanda, e frequentava a casa deSérgio Buarque e deChico Buarque, e contou isso em entrevista ao Antônio Abujamra, no programa Provocações, em 2004: "A casa de Sérgio Buarque era o lugar mais intelectual e simpático que já vi, sem pretensão, sem firula. Era um lugar maravilhoso, e a turma que se reunia lá era fantástica. Chico cresceu no meio disso, escutando conversas, e levou uma vantagem danada. Agora, se ele (Chico) não tivesse o talento que tem, vantagem cultural não adiantaria de nada."
Paulo Vanzolini eAdoniran Barbosa, os dois compositores mais famosos na criação de personagens e da alma paulistana, eram amigos e se admiravam mutuamente. Vanzolini considerava Adoniran como um "fora de série", o grande cronista da cidade, e o chamava de “Seu Barbosa”, compondo em sua homenagem uma canção homônima. Adoniran, por sua vez, o admirava e dizia: “Ele é um homem de saber, um doutor, sabe falar direito”.[13]
A Teoria dos refúgios, também conhecida como teoria dos redutos, é uma das explicações da ciência para os padrões de biodiversidade e endemismo nas florestas Amazônica e Atlântica do Brasil. Foi concebida pelo ornitologista e geólogo alemão Jürgen Haffer.
Se baseia nas glaciações nopleistoceno que causaram períodos de seca e levaram ao isolamento geográfico das espécies florestais e o consequente aumento dos endemismos. Durante esse período, as florestas originais teriam se fragmentado, abrindo espaço para plantas de clima semi-árido. Com a volta do clima original, as florestas retomaram o local de origem, mas agora abrigavam espécies diferentes, pelo tempo em que viveram isoladas.
Já era claro que o processo de especiação podia ser iniciado por eventos de vicariância, mecanismo evolutivo no qual a distribuição de uma espécie ancestral é fragmentada em duas ou mais áreas, devido ao surgimento de uma barreira natural.
Mas na Floresta Amazônica não parecia haver eventos que justificassem a diversidade de espécies. Questionando se a continuidade genética poderia ser quebrada sem essa barreira fisiográfica, Vanzolini propôs uma mudança no padrão geográfico que poderia explicar a distribuição vicariante em ambientes contíguos. Baseado em seus estudos com répteis, Vanzolini propôs que o clima amazônico pode variar entre semiárido e úmido. As populações que ficaram dentro do refúgio e a que se diferenciou para viver fora da floresta passam então a ser vicariantes ecológicas.[14]
Vanzolini foi homenageado pela escola de samba cariocaMocidade Independente de Padre Miguel em 1985, com o tema "Ziriguidum 2001, um carnaval nas estrelas", sobre um imaginário corso de sambistas ao espaço sideral.
Foi enredo da escola de samba Mocidade Alegre, no carnaval de 1988. Foram exaltadas as suas duas faces, cientista e poeta.
Também foi homenageado pela escola de samba paulistanaVai-Vai no ano de 2005 com o enredo "Eu também sou imortal", tema sobre o samba e a boemia de São Paulo. E logo após o seu falecimento, em 29 de abril de 2013, a escola de samba paulistanaMocidade Alegre anunciou seu enredo de 2014, tendo como tema os 90 anos do boêmio paulista.[15]
Após sua morte, a Secretaria de Cultura da cidade de São Paulo anunciou uma homenagem naVirada Cultural da cidade.[16] O senadorEduardo Suplicy também manifestou pesar pela morte de Vanzolini em discurso noSenado Federal, encaminhando, em seguida, requerimento de inserção em ata de voto de pesar pelo falecimento do biólogo e compositor.[17]
Em dezembro de 2022, foram realizadas reformas no cruzamento daAvenida Ipiranga e aSão João, com colocação de estátuas em homenagem aos representantes do samba paulista,Adoniran Barbosa e Paulo Vanzolini.[18][19]
Entre 29 de agosto de 2024 e 16 de março de 2025, oSESC Ipiranga recebeu uma exposição em homenagem ao seu centenário, chamada "100 anos de Paulo Vanzolini, o cientista boêmio".[20]
Existem 15 espécies animais, na maioria anfíbios e répteis, nomeadas em sua homenagem:
Paulo Vanzolini foi tema de três documentários do diretor Ricardo Dias, de cujo pai era amigo.
Foi entrevistado pelo já falecidoAntônio Abujamra no programa Provocações da TV Cultura em abril de 2004, quando completou 80 anos.