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Foi o 2.º Papa a nascer no dia13 de maio; o outro foiPapa Inocêncio XIII. Foi o último soberano dosEstados Papais, pois Pio IX comandava o Trono de Roma quando os revoltosos empreendiam oRisorgimento, que levou à unificação da Itália como Estado Nacional, comandado pelo reiVittorio Emanuele II.[3] Foi responsável pelo sequestro de Edgardo Mortara, um menino de seis anos retirado à força de sua família judia.[4]
Giovanni Mastai-Ferretti nasceu emSenigália (Itália) e estudou no Colégio Piarista em Volterra, e emRoma. De origemnobre, por sofrer deepilepsia não conseguiu seguir uma carreira militar, tendo seguidoteologia e sendo ordenadosacerdote em 1819. Trabalhou nos primeiros anos do sacerdócio noChile, regressando ao seu país em 1825. Nomeadoarcebispo de Spoleto em 1827 e cinco anos depois para adiocese de Imola. Elevado acardeal em 1840.
A sua eleição para Papa sucessor deGregório XVI foi o resultado de uma divisão noconclave entre conservadores e reformadores. Mastai-Ferretti era tido por candidato liberal, e, ao quarto escrutínio, foi eleito. Tomou o nome dePio IX como homenagem aoPapa Pio VIII, seu antigo benfeitor. Foi coroado em 21 de Junho de 1846.
Apesar de ser considerado no início como um liberal, o seu pontificado passou a ser considerado como uma mudança no sentido do conservadorismo por seus críticos. Pio IX iniciou uma campanha contra o que chamou defalso liberalismo. Na encíclicaQuanta Cura de 8 de dezembro de 1864, condenou dezesseis proposições que contrariavam a visão católica na época. Esta encíclica foi acompanhada pelo famosoSyllabus errorum, que condenava as ideologias dopanteísmo,naturalismo,racionalismo,indiferentismo,socialismo,comunismo,franco-maçonaria,judaísmo, igrejas dadas como cristãs a tentar explicar a Bíblia e vários outras formas deliberalismo religioso tidos por incompatíveis com a religião católica. Antes, Pio IX já havia condenado os escritos filosófico-teológicos deAnton Günther por meio dacarta apostólicaEximiam Tuam, de 15 de junho de 1857.[5] A obra de Günther acabou por ser incluída noIndex Librorum Prohibitorum.[6] Em muitas ocasiões, Pio IX insistira em que fosse seguida a filosofia e a teologia deSão Tomás de Aquino. Anton Günther, porém, pretendia que oNeoescolasticismo não fosse a única doutrina católica possível. Sua filosofia consistia principalmente numa justificaçãoracional do cristianismo e numa antropologia bem fundamentada.[7]
Pio IX discursando em 1863.
Durante toda sua vida Pio IX foi muito devoto daVirgem Maria. Em 1849, quando se encontrava no exílio, emGaeta, consultou o ponto de vista dos bispos da Igreja a respeito daImaculada Conceição enviando-lhes cartas, e em 8 de dezembro de 1854, na presença de mais de duzentos bispos, proclamou odogma daImaculada Conceição da Virgem Maria como um dogma de fé da Igreja, através daencíclicaIneffabilis Deus.
Promoveu a devoção aoSagrado Coração e, em 23 de setembro de 1856, estendeu esta festividade a todo o mundo católico. Em 16 de junho de 1875 consagrou o mundo aoSagrado Coração de Jesus. Promoveu a vida interna da Igreja por meio de muitas normaslitúrgicas e reformasmonásticas e um elevado número de beatificações e canonizações, sem precedentes para a época.
Em 29 de junho de 1869 publicou a BulaAeterni Patris com a qual convocou oConcílio Vaticano I, cuja cerimônia de abertura contou com a presença de setecentos bispos no dia 8 de dezembro de 1869. Na quarta sessão solene do concílio, em 18 de julho de 1870, ainfalibilidade papal foi declarada umdogma de fé.
Foi em seu pontificado que houve o cisma ente o Papado e oImpério do Brasil. Pio IX estabeleceu uma série de documentos condenando as novas ideias, entre elas a Maçonaria. No Brasil havia, instituição herdada damonarquia portuguesa, o chamado padroado. Ele determinava que qualquer determinação daSanta Sé, no Brasil, somente seria válida com a autorização do Imperador. Uma delas foi a proibição de casamento entre católicos e maçons.D. Pedro II não assinou e gerou problemas na atuação dos padres brasileiros. Os bispos D. Vital e Macedo Costa seguiram as determinações do Papa e gerou uma crise do País com o Vaticano. Os bispos foram presos e condenados à prisão. O caso somente foi resolvido quando o império mandou um diplomata a Roma.
Pio IX aboliu leis que forçavam osjudeus a viver emáreas específicas, os impediam de praticar certas profissões, e os obrigavam a ouvir sermões quatro vezes por ano em tentativas de conversão. OJudaísmo e oCatolicismo eram as únicas religiões permitidas por lei (oProtestantismo era permitido aos estrangeiros mas não autorizado a italianos). Mesmo assim, o testemunho de um judeu em tribunal contra um cristão era inadmissível aos olhos da lei.[carece de fontes?]
Em 1858, num caso altamente divulgado na época, uma criança judia de seis anos,Edgardo Mortara, foi retirada à força da casa dos seus pais pela polícia papal para os Estados Papais, a mando da Inquisição. Foi referido que haveria sidobatizado por uma empregada cristã da família quando estava doente, por temer que não fosse para o Céu. Segundo a lei da Igreja Católica, os cristãos não podiam ser criados por judeus, mesmo se fossem seus pais. Pio recusou os apelos de numerosos chefes de estado, incluindo o ImperadorFrancisco José I da Áustria e o ImperadorNapoleão III de França para o retorno da criança a seus pais. O incidente provocou indignação generalizada entre os liberais, católicos e não católicos, e contribuiu para o crescente sentimento antipapal na Europa. O menino foi criado na casa papal e acabou por ser ordenado sacerdote aos 21 anos.[4]
Em 1867, canonizouPedro de Arbues, o inquisidor espanhol do século XV e afirmou no documento de canonização: "A sabedoria divina providenciou que nestes dias tristes, quando os judeus ajudam os inimigos da igreja com os seus livros e dinheiro, este decreto de santidade foi levado ao seu cumprimento".[8]
Em 1871, dirigindo-se a um grupo de mulheres católicas, Pio disse que os judeus "tinham sido crianças na Casa de Deus", mas "devido à sua obstinação e à sua incapacidade de acreditar, tornaram-se cães" (…) "Temos hoje em Roma infelizmente muitos destes cães, e ouvimo-los ladrar em todas as ruas, e andar por aí a molestar pessoas por todo o lado".[8]
O ano de 1848 foi muito agitado naEuropa, tendo-se iniciado com revoltas naSicília. A 14 de Março, a desordem pública forçou Pio IX a conceder umaconstituição e umparlamento. O ReiCarlos Alberto da Sardenha declara guerra à Áustria nove dias depois. O levantamento popular continuou e um dos ministros que tinham sido nomeados pelo Papa para tentar agradar aos revolucionários, o liberal moderado CondePellegrino Rossi, foi assassinado em 15 de Novembro, nas escadas do Parlamento.[9]
Moeda com a face do papa.
O Papa foi cercado por uma multidão no Quirinal exigindo uma República. Algumas pessoas chegaram a disparar armas para o ar fazendo com que uma bala perdida entrasse pela janela do gabinete do secretário do Papa, atingido-o. Um canhão até foi apontado na direcção dos portões do palácio.[9] O Papa conseguiu escapar disfarçado de pároco, em 24 de Novembro, para oReino de Nápoles, ficando a cidade de Roma nas mãos dos revoltosos. Só em 12 de Abril de 1850 retornaria a Roma, após intervenção diplomática daFrança e daÁustria. Crê-se que Pio IX tenha regressado afetado por esta violência e convertido para o lado conservador. Os revolucionários ainda estavam no terreno e a manutenção dosEstados Papais, sujeita à pressão de nacionalistas comoVictor Emanuel II de Itália só se conseguiu com a ajuda de tropas francesas e austríacas.
Em 1858,Napoleão III e oConde de Cavour declaram em conjunto guerra àÁustria. Na sequência daBatalha de Magenta (4 de Julho de 1859) as forças da Áustria retiram-se dos Estados Papais, precipitando assim a sua queda. Em Fevereiro de 1860, Victor Emanuel reclama a Umbria e a região das Marches; ao serem recusadas, toma-as pela força. Ao derrotar o exército papal em 18 de Setembro, em Castelfidardo, e em 30 de Setembro em Ancona, Victor Emanuel toma todos os territórios papais excepto Roma.
Em Setembro de 1870 cerca Roma, tornando-a capital da nova Itália unificada. Concede a Pio a "Lei das Garantias" (15 de Maio de 1871) que dá ao Papa direitos de soberania, uma quantia anual fixa e a extraterritorialidade dos palácios papais de Roma. Pio IX nunca aceitou a oferta oficialmente, mantendo a pretensão sobre os territórios conquistados. Embora não tenha sido preso ou impedido de viajar à sua vontade, declarava-seprisioneiro no Vaticano. Além disso, proibiu os católicos italianos de votar nas eleições do novo reino italiano. Essa incômoda questão de disputas entre o Estado e a Igreja fica conhecida com o nome deQuestão Romana e só termina em 1929, quandoBenito Mussolini assinou com oPapa Pio XI aConcordata de São João Latrão.
Pio IX escreveu algumasencíclicas a condenar determinadas teorias recém-surgidas como ocomunismo e as ações anticristãs. Em 8 de Dezembro de 1864, Pio IX escreve a encíclicaQuanta Cura cujoSyllabus lista 80 dos "principais erros do nosso tempo". O 80.º erro era que o Pontífice Romano tem de se reconciliar e acordar com o liberalismo e civilização moderna. Esta encíclica criticava abertamente aquilo que na altura era conhecido comoamericanismo.
Praça de São Pedro durante a bênção papal no dia 25 de Abril de 1870.
Num balanço do pontificado, pode ser considerado um conservador. Como curiosidade o seu nome (Pio Nono) — era referido pelos italianos antipapistas comoPio No No.
O seu túmulo está na igreja deSan Lorenzo fuori le mura. A sua controversabeatificação iniciou-se em 11 de Fevereiro de 1907 e foi relançada por três vezes antes de Pio IX ser declaradoVenerável (6 de Julho de 1985). Ele foi finalmente beatificado em 3 de Setembro de 2000, juntamente comJoão XXIII, porJoão Paulo II. Sua festa litúrgica é comemorada no dia 7 de fevereiro, data de seu falecimento. Sobre ele afirmou o Papa João Paulo II:
Ao ouvir as palavras da aclamação ao Evangelho: "Senhor, guia-nos pela recta via", o pensamento dirige-se espontaneamente para as vicissitudes humana e religiosa do Papa Pio IX, João Maria Mastai Ferretti. Perante os acontecimentos turbulentos do seu tempo, ele foi exemplo de incondicionada adesão ao depósito imutável das verdades reveladas. Fiel em qualquer circunstância aos empenhos do seu ministério, soube dar sempre a primazia absoluta a Deus e aos valores espirituais. O seu longuíssimo pontificado não foi deveras fácil e teve que sofrer muito no cumprimento da sua missão ao serviço do Evangelho. Foi muito amado, mas também muito odiado e caluniado.[10]
Mas precisamente no meio destes contrastes brilhou mais resplandecente a luz das suas virtudes: as prolongadas tribulações mitigaram a sua confiança na divina Providência, de cujo soberano domínio sobre as vicissitudes humanas ele jamais duvidou. Nascia aqui a profunda serenidade de Pio IX, mesmo no meio das incompreensões e dos ataques de tantas pessoas hostis. Gostava de dizer a quem lhe estava próximo: "nas coisas humanas é necessário contentar-se em fazer o melhor que se pode e no resto abandonar-se à Providência, que curará os defeitos e as insuficiências do homem".[10]
É conhecida a profunda veneração que oPapa João tinha pelo Papa Pio IX, do qual desejava a beatificação. Durante um retiro espiritual, em 1959, escrevia no seu Diário: "Penso sempre em Pio IX de santa e gloriosa memória, e imitando-o nos seus sacrifícios, desejaria ser digno de celebrar a sua canonização" (Jornal da Alma, Ed. S. Paulo, 2000, p. 560).[10]
Descrição: Escudo eclesiástico esquartelado: o 1.º e o 4.º deblau com um leão coroado, apoiado sobre uma arruela, tudo dejalde — Armas dos Mastai; o 2.º e o 3.º de argente com duas bandas de goles — Armas dos Ferretti. O escudo está assente em tarja branca. O conjunto pousado sobre duas chaves decussadas, a primeira de jalde e a segunda deargente, atadas por um cordão de goles, com seus pingentes. Timbre: atiara papal de argente com três coroas de jalde. Quando são postos suportes, estes são dois anjos de carnação, sustentando cada um, na mão livre, uma cruz trevolada tripla, de jalde.Brasão pontifício do Papa Pio IX
Interpretação: O escudo obedece às regras heráldicas para os eclesiásticos. Nele estão representadas as armas familiares dopontífice, os Mastai, deCrema, e os Ferretti,condes emAncona. No 1.º e no 4.º, o campo de blau (azul) representa o firmamento celeste e ainda o manto de Nossa Senhora, sendo que este esmalte significa: justiça, serenidade, fortaleza, boa fama e nobreza. O leão, símbolo de soberania, força e poder, sendo de jalde (ouro), simboliza: nobreza, autoridade, premência, generosidade, ardor e descortino. No 2.º e no 3.º, o campo de argente (prata) simboliza: inocência, castidade, pureza e eloquência e as bandas de goles (vermelho) simboliza: o fogo da caridade inflamada no coração doSoberano Pontífice pelo Divino Espírito Santo, que o inspira diretamente do governo supremo daIgreja, bem como valor e o socorro aos necessitados, que oVigário deCristo deve dispensar a todos os homens. Os elementos externos do brasão expressam a jurisdição suprema dopapa. As duas chaves "decussadas", uma de jalde (ouro) e a outra de argente (prata) são símbolos do poder espiritual e do poder temporal. E são uma referência do poder máximo doSucessor de Pedro, relatado noEvangelho de São Mateus, que narra queNosso Senhor Jesus Cristo disse a Pedro: "Dar-te-ei aschaves do reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra, será desligado no céu" (Mt 16, 19). Por conseguinte, as chaves são o símbolo típico do poder dado por Cristo a São Pedro e aos seus sucessores. Atiara papal usada como timbre, recorda, por sua simbologia, os três poderes papais: de Ordem, Jurisdição e Magistério, e sua unidade na mesma pessoa.
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