176 500 (10 mil homens participam da ofensiva, resguardados por tanques, artilharia, navios de guerra e aviões de combate
20 000 (total)
Baixas
Total de mortes: 13 Soldados: 10 Civis: 3 Feridos: 326 Soldados: 242 Civis: 84
Total de mortes: 1 400 Militantes e policiais: 400-650 Civis: 700-904 Outros: 10 Feridos: 5 300
AOperação Chumbo Fundido (emhebraico:מבצע עופרת יצוקה;trans.:Mivtza Oferet Yetsuká, "chumbo fundido",[1] também chamada, incorretamente, de "Operação Chumbo Grosso") é uma grande ofensiva militar dasForças de Defesa de Israel, realizada naFaixa de Gaza, partir do dia 27 de dezembro de 2008, sexto dia da festa judaica deHanucá.[2] Todavia, na maior parte domundo árabe, a ação israelense é referida comoMassacre de Gaza (emárabe:مجزرة غزة).[3][4][5][6][7][8][9][10][11][12]
O ataque israelense ocorreu dias após o fim de umcessar-fogo, que vigorou por seis meses,[13][13][14][15] conforme havia sido acordado entre ogoverno de Israel e representantes doHamas,partido majoritário noConselho Legislativo da Palestina e que controla aFaixa de Gaza.[16][17] ComoIsrael não suspendeu obloqueio à Faixa de Gaza e não cessou os ataques ao território palestino,[18][19][20][21] militantes doHamas anunciaram o encerramento oficial da trégua[22][23][24] e passaram a lançar foguetes caseiros, tipoQassam, em direção ao sul do território israelense.[25][26][27] Dias depois do anúncio do fim do cessar-fogo, o próprio grupo palestino ofereceu uma proposta para renovar a trégua, condicionando-a ao fim do bloqueio israelense ao território palestino.[28][29][30] Todavia, já em 27 de dezembro de 2008, asForças de Defesa de Israel iniciaram a sua mais intensa operação militar contra um território palestino desde aGuerra dos Seis Dias (1967). Oficialmente, o objetivo da operação era interromper os ataques de foguetes do Hamas contra o território israelense.[31][32][33][34]
Na noite de 3 de janeiro de 2009, começou a ofensiva por terra, com tropas e tanques israelenses entrando no território palestino.[61] Em 17 de janeiro, oprimeiro-ministro israelenseEhud Olmert anunciou uma trégua unilateral, a vigorar a partir da madrugada dodia seguinte.[62] OHamas também anunciou um cessar-fogo imediato naFaixa de Gaza. O representante do grupo, Ayman Taha, afirmou que a trégua valeria por uma semana, para que os israelenses pudessem retirar suas tropas da região.[63] OExército de Israel declarou que retiraria suas tropas daFaixa de Gaza até a posse deBarack Obama napresidência dos Estados Unidos, no dia 20 de janeiro.[64]
Em 21 de janeiro, Israel completou a retirada de suas tropas da Faixa de Gaza.[65] Em 1.º de junho uma comissão doConselho de Direitos Humanos da ONU, chefiada pelo juiz sul-africanoRichard Goldstone, chegou à Faixa de Gaza, para investigar possíveis violações dosdireitos humanos durante a ofensiva israelense. Em 15 de setembro de 2009, a comissão apresentou seu relatório, concluindo que Israel "cometeucrimes de guerra e, possivelmente,contra a humanidade", e que "o plano visava, pelo menos em parte, a população de Gaza como um todo".[66] O mesmo relatório reconheceu que o lançamento de foguetes pelos insurgentes palestinos também configura crime de guerra. Segundo aONG israelense de direitos humanosB'Tselem, a Operação Chumbo Fundido resultou na morte de 1 387 palestinos, mais da metade deles civis. 773 deles não participaram nos combates, incluindo 320 jovens ou crianças (252 com menos de 16 anos) e 111 mulheres.[67] Do lado de Israel, houve 13 mortos, sendo três deles por "fogo amigo".[68]
Israel e Hamas mantêm entre si relações tensas, principalmente desde que o Hamas venceu o Fatah nas eleições da Palestina. Ogoverno israelense - assim como os dosEstados Unidos,[69] daUnião Europeia, doCanadá e doJapão - considera o Hamas umgrupo terrorista.[70] Já para muitos palestinos, entretanto, trata-se de uma organização beneficente que presta ajuda e assistência.[70] Abreviatura de Movimento de Resistência Islâmica, o Hamas participou nas eleições para oParlamento Palestino, em2006. A legislação eleitoral palestina, elaborada por Israel, exige dospartidos políticos, participantes do pleito, o reconhecimento de todos os acordos entre a Autoridade Nacional Palestina e Israel. O Hamas ofereceu uma trégua de dez anos em troca da retirada deIsrael para as fronteiras anteriores àGuerra dos Seis Dias ocorrida em1967,[71] o que Israel refutou. Em abril de2008, o ex-presidente norte-americanoJimmy Carter chegou a declarar que o Hamas estaria disposto a aceitar a existência do Estado de Israel desde que dentro das fronteiras existentes antes daGuerra dos Seis Dias, quando os israelenses anexaramJerusalém Oriental,Faixa de Gaza,Cisjordânia eColinas do Golã, e que um acordo nesse sentido fosse aprovado pelos palestinos.[72] Mas o líder político do Hamas,Khaled Meshaal, desmentiu Carter.[73]
Em junho de2008, representantes do Hamas e do governo israelense chegaram a um acordo de cessar-fogo na região, mediado peloEgito,[15] com duração de seis meses, e que expirou no dia19 de dezembro. O grupo palestino decidiu não renová-lo, por entender que Israel não havia cumprido o compromisso de suspender o bloqueio imposto à Faixa de Gaza.[16][24]
Mesmo depois de2005, quando realizou a remoção dos 8 mil colonos dos assentamentos judaicos daFaixa de Gaza,Israel continuava a controlar o espaço aéreo da Faixa, seu mar territorial e todos as passagens de fronteira.[74][75] Era o início dobloqueio israelense (com apoio egípcio) ao território palestino, que tem impedido a entrada de alimentos, combustíveis, água e medicamentos, além de dificultar enormemente o comércio em Gaza além das fronteiras, bem como o acesso dos palestinos aos seus locais de trabalho. Da mesma forma, o boicote econômico do Ocidente está sufocando a economia local. Segundo dados oficiais palestinos, mais da metade dos habitantes da Faixa de Gaza vive abaixo da linha da pobreza, e pelo menos 45% da população ativa está desempregada. Cerca de 1,5 milhão de pessoas moram em Gaza. Mais da metade dessa população constitui-se de refugiados das guerras com Israel. A maioria dos moradores vive com menos de US$ 2 ao dia. O território tem uma das maiores densidades populacionais e das mais altas taxas de crescimento demográfico do mundo.[14][76]
Em4 de novembro de2008,Israel violou a trégua com oHamas, ao realizar, naFaixa de Gaza, uma incursão contra militantes do grupo palestino, matando seis milicianos e deixando outros três feridos.[18] No dia seguinte, os militantes do Hamas responderam, lançando mais de 20 foguetes contra o sul de Israel. No dia14 de novembro, as forças israelenses realizaram novos disparos contra alvos do Hamas.[19][20]
Número de foguetes Qassam disparados a partir de Gaza contra Israel de2002 a2007.
O jornal israelenseHaaretz afirmou que, de acordo com fontes doMinistério da Defesa de Israel, a Operação Chumbo Fundido foi planejada por Israel antes mesmo de começarem as negociações para a assinatura do cessar-fogo com o Hamas, em junho de 2008, e que o ataque surpresa tinha o objetivo de causar o maior número possível de vítimas.[77] Ainda segundo o mesmo artigo do diário israelense, o ataque aéreo aconteceu com o conhecimento prévio do Egito, o maior país do mundo árabe, durante a visita de ministra das relações exteriores israelense, Tzipi Livni, nas primeiras semanas de dezembro de 2008.[77][78]
Com o final do cessar-fogo, segundo o jornalEl País, mais de 200 foguetes caseiros do tipo Qassam foram lançados por militantes palestinos contra o sul do território israelense, sem causar mortes,[39] o que serviu de pretexto para os líderes israelenses darem o sinal verde para o início da ofensiva, segundo o jornal Haaretz.[77]
No dia23 de dezembro, o Hamas havia dito estar aberto à trégua, desde que obloqueio à Faixa de Gaza fosse suspenso.[28] Em26 de dezembro, ogoverno de Israel autorizou temporariamente a entrada de suprimentos em Gaza, que vive uma grave crise humanitária pois Israel vinha bloqueando o acesso ao território palestino há 18 meses.[79]
Número de foguetes e morteiros lançados contraIsrael a partir deGaza.
Um artigo do jornal israelenseHaaretz, de 31 de dezembro, revela que, embora a Operação Chumbo Fundido tenha pegado o Hamas de surpresa - o que aumentou em muito o número de vítimas -, a inciativa já estava sendo planejada seis meses antes, enquanto ainda se falava em renovar o acordo de cessar-fogo. OEstado-Maior israelense também já preparava uma campanha dedesinformação, visando conquistar o apoio da opinião pública.[80]
Esses seis meses foram usados pelosserviços de inteligência de Israel para mapear toda a infraestrutura de segurança do Hamas (bases permanentes, arsenais, campos de treinamento, residências dos líderes etc.) e de outras organizações de militantes que atuam na Faixa. O plano de ação ficou no papel até novembro, quando as forças israelenses realizaram uma incursão em Gaza, ainda durante aTahdiyeh ("calma"), para destruir um túnel que, segundo o exército, serviria para facilitar um ataque palestino às tropas de Israel. Em19 de novembro, foguetes Qassam e morteiros explodiram no solo de Israel. A tensão cresceu. Nesse momento, o plano foi submetido à aprovação final deEhud Barak. Em18 de dezembro, o Primeiro-MinistroEhud Olmert e o ministro da Defesa se reuniram no quartel-general doTzahal, emTelavive e aprovaram a operação.
Oficialmente, a operação teria como objetivo responder aos ataques do Hamas contra cidades do sul deIsrael.[81] Em2008, os militantes do Hamas lançaram mais de 1.700 foguetes e morteiros contra Israel - o dobro em relação aos anos anteriores. São, na maioria, foguetes Qassam, projéteis artesanais, fabricados em casas de Gaza e de pequeno alcance - cerca de 16 km em média.[82] Esses foguetes podem ser destrutivos e letais quando encontram alguma coisa ou alguém à sua frente. Todavia, dada a precariedade do artefato - de pouca precisão e curto alcance - boa parte deles tem explodido no solo, causando sobretudo danos psicológicos à população israelense.[83] Muitos acabam caindo sobre os próprios palestinos, depois de bater contra o muro de concreto que cerca a Faixa de Gaza. Segundo o Ministério de Relações Exteriores de Israel, desde a sua invenção em2001 até fevereiro de2008, os foguetes Qassam mataram 14 israelenses.[84][85] Desde o fim docessar-fogo entre Israel e Hamas, militantes palestinos também dispararam alguns foguetesiranianos echineses de maior alcance.[82]
A proximidade das eleições israelenses - marcadas para10 de fevereiro de2009 - também não pode ser subestimada, como um dos fatores que influenciaram a decisão de lançar um ataque devastador contra os palestinos. A atual coalizão de governo, liderada pelo partidoKadima (da ministra de Relações Exteriores,Tzipi Livni), e peloPartido Trabalhista (do ministro da DefesaEhud Barak), vinha sendo ameaçada pela ascensão nas pesquisas do ex-premiêBenyamin Netanyahu, doLikud. Netanyahu e seus potenciais aliados daextrema direita pregavam uma reação dura contra os lançamentos de foguetes de Gaza.[91] Livni afirmou que derrubaria oHamas caso fosse eleita para o cargo depremiê, o mesmo discurso de Netanyahu, que desde o fim docessar-fogo, pedia para queIsrael reagisse com dureza frente aos ataques do Hamas.[92] Finalmente, no terceiro dia da ofensiva contra o território palestino, o vice-primeiro-ministro israelense, Haim Ramon, também declarou que o objetivo da ação seria destituir o Hamas do poder.[93]
Na decisão de atacar Gaza, também pesou, segundo os analistas, a necessidade de Israel buscar restabelecer seu poder de dissuasão, depois do fracasso israelense noconflito de 2006, com o grupoxiita libanêsHizbollah - apoiado peloIrã, suposto inimigo de Israel. E, por fim, segundo os observadores, é preciso considerar a proximidade da posse deBarack Obama como novo presidente dosEstados Unidos. Obama vinha sendo instado a pressionar Israel a um acordo para a criação de umEstado Palestino em Gaza e na Cisjordânia. Ao atacar o Hamas, Israel pretenderia continuar impondo seu ritmo às negociações - que já se arrastam há 15 anos.[94]
Explosão emGaza, em12 de janeiro de2009, depois de um ataque israelense durante a "Operação Chumbo Fundido".
Quatro dias depois de anunciar o cessar-fogo unilateral e três semanas após o início da ofensiva contra o Hamas, Israel completou a retirada de suas tropas da Faixa de Gaza, no dia21 de janeiro. O confronto deixou 1.314 mortos, mais da metade civis, e cerca de 5 mil feridos e mutilados no território palestino. No mesmo período, 13 israelenses morreram - quatro atingidos por foguetes lançados por militantes doHamas contra o sul deIsrael, sendo três civis e dez soldados mortos em ação.[95] Israel afirmou ter matado mais de 500 ativistas do Hamas durante a ofensiva, enquanto o grupo palestino anunciou 48 baixas de militantes.[95][96]
Na Operação Chumbo Fundido, Israel mobilizou mais de 620 mil soldados contra cerca de 20 mil combatentes do Hamas. AForça Aérea lançou bombas indiscriminadamente contra 1,5 milhão de habitantes de Gaza. Do total de baixas, organizações dedireitos humanos estimam a morte de pelo menos 700 civis palestinos - a maioria mulheres e crianças. Além disso, 53 instalações dasNações Unidas e de organismos internacionais foram alvejadas peloTzahal, incluindo escolas e hospitais. Pelo menos um dos casos de ataque a escolas foi retificado posteriormente pela ONU.[97]
No dia seguinte à retirada, oprimeiro-ministro Ehud Olmert declarou ao jornal israelenseJerusalem Post: "Neste confronto, todos nós perdemos". Em tom menos conciliatório, o líder do Comitê de Relações Exteriores e Defesa daKnesset,Tzachi Hanegbi, falando à Rádio do Exército durante o retorno das tropas, ameaçou: "Se os disparos forem retomados, vamos responder com tanta força e superioridade que eles vão sentir saudade do dia em que a ofensiva da Força Aérea de Israel começou".
Mas, segundo vários analistas israelenses, a operação foi descrita como um completo fracasso.Gideon Levy, que foiporta-voz do ex-premierShimon Peres e que hoje escreve para o jornalHaaretz, avalia que Israel não conseguiu cumprir nenhuma das metas da guerra. Os foguetes palestinos não pararam de ser lançados até o último dia de combate e as forças de segurança israelenses estimam a existência de mais de mil deles no arsenal do Hamas. OExército também não foi capaz de acabar com ocontrabando de armas, nem conseguiu enfraquecer o Hamas. "A grande maioria dos seus combatentes não foi abatida e o apoio popular à organização, na realidade, aumentou", afirma Levy. "Não há dúvidas sobre quem eraDavid e quem eraGolias nesta guerra."
O ataque contra áreas densamente povoadas e a desproporcional reação aos foguetes do Hamas – que provocaram a morte de quinze civis israelenses entre2001 e2008 – isolaram ainda mais o governo de Tel-Aviv. Mesmo países com boas relações com Israel condenaram os ataques. Até osEstados Unidos, tradicionais aliados, abstiveram-se do poder de veto à Resolução nº 1.860, doConselho de Segurança da ONU, que, em9 de janeiro, exigia o cessar-fogo imediato. AUnião Europeia pressiona o governo israelense para que o país estabeleça um cessar-fogo acordado com os palestinos e propõe a retirada dobloqueio sobre Gaza, bem como a abertura das fronteiras.[98]
Em15 de setembro de2009, emNova York, o juiz Richard Goldstone apresentou o relatório da comissão do Conselho de Direitos Humanos da ONU. O documento de 575 páginas afirma que Israel"cometeu crimes de guerra e, possivelmente,contra a humanidade", mas pondera que o lançamento de foguetes pelos insurgentes palestinos também configuracrime de guerra. Segundo as autoridades palestinas e grupos de defesa dos direitos humanos, mais de 1 400 pessoas morreram durante os conflitos. Segundo o governo israelense, no entanto, houve 1 166 mortos.[99]
Os bombardeios sobre aFaixa de Gaza, iniciados na manhã do dia27 de dezembro de2008, mais de 1 300 pessoas - mais da metade civis - e deixaram mais de 5 000 feridos, segundo fontes médicas palestinas.[100] No mesmo período, 13 israelenses morreram, quatro atingidos por foguetes lançados por militantes doHamas contra o sul deIsrael, sendo três civis e dez soldados mortos em ação.[95] Israel afirmou ter matado mais de 500 ativistas do Hamas durante a ofensiva, enquanto que o grupo palestino anunciou 48 baixas de militantes.[95]
De acordo com aONGSave the Children, em"uma estimativa conservadora", pelo menos 100 dos mortos são crianças.[101] Já um relatório da ONU acusou a morte de 257 crianças e de 60 mulheres.[102]
Livni disse que as mortes de civis naFaixa de Gaza"foram fruto das circunstâncias".[96]
No 14º dia da operação, um bombardeio israelense contra acidade de Gaza, vitimou uma ucraniana e seu filho de dois anos. Foi a primeira vítima estrangeira da grande ofensiva israelense.[103]
Um relatório doExército de Israel informou que aForça de Defesa do país admitiu ter matado 309 civis palestinos inocentes, entre eles 189 crianças e jovens com menos de 15 anos, durante a recente ofensiva militar. Os militares israelenses dizem ter matado 600 militantes palestinos do Hamas durante a operação e ainda outros 320 mortos descritos como"não filiados" - o que significa que Israel não sabe dizer se eles são ou não militantes. Segundo o Centro Palestino de Direitos Humanos, 1 434 palestinos foram mortos, incluindo 960 civis, 239 policiais e 235 militantes.[105]
Desde que oFatah foi expulso de Gaza pelo Hamas, em junho de2007, o governo de Israel impôs umbloqueio - com apoio do governo doEgito - ao território, visando sufocar o Hamas. Desde então, a fronteira com Israel permaneceu fechada e o território palestino, isolado, com graves consequências sobre a economia e as condições de vida da população palestina, que sofre com a escassez deágua,energia,alimentos,combustíveis eremédios.[106][107] Oboicote econômico internacional tem aval dosEstados Unidos - principal aliado de Israel - e daUnião Europeia, sob a alegação de que o Hamas não reconhece o Estado de Israel, não renuncia à violência e desconsidera os acordos firmados anteriormente por Israel e pelaANP.[14][108]
Inteiramente isolada, tanto daCisjordânia como do resto do mundo, a Faixa de Gaza tornou-se uma zona de desastre econômico de proporções assustadoras. Obloqueio à Faixa de Gaza tem tido um enorme impacto nas condições de vida dos cerca de 1,5 milhão de moradores do território e oboicote econômico do Ocidente está sufocando a economia local. Segundo dados oficiais palestinos, mais da metade dos habitantes de Gaza vive abaixo dalinha da pobreza, e pelo menos 45% dapopulação ativa está desempregada. Mais da metade dessa população constitui-se derefugiados dasguerras com Israel.
A maioria dos habitantes vive com menos de doisdólares ao dia. A parte da população vivendo napobreza absoluta - isto é, com renda familiar inferior a US$ 460 por mês, considerando uma família de dois adultos e quatro crianças - correspondia a 21,6%, em1998, e passou a aproximadamente 35% em2006, segundo oBanco Mundial - e este era considerado um cálculo otimista. Sem ajuda financeira e humanitária, em2007, estimava-se que o índice de pobreza absoluta estivesse perto de 67%, com tendência a piorar, a partir de setembro, quando o governo de Israel declarou Gaza "território hostil" e passou a impor medidas punitivas ao território, incluindo pesadas restrições à liberdade de circulação de civis na fronteira - dificultando também o acesso aos locais de trabalho -, além de cortes no suprimento de combustíveis e energia.[109]
No início de2008, a chefe de operações doComitê Internacional da Cruz Vermelha para oOriente Médio,Béatrice Megevand-Roggo, afirmava que asituação humanitária em Gaza era crítica. A população local procurava desesperadamente estocar alimentos, combustível e remédios devido à escassez de suprimentos básicos causados pelo bloqueio israelense.[114] Segundo Megevand-Roggo a infraestrutura estava perto de um colapso e os esforços humanitários eram prejudicados, tendo sido eventualmente interrompidos devido às severas regras e procedimentos de entrada, impostos pelas autoridades israelenses, nos poucos pontos de entrada no território, como os postos fronteiriços nas cidades deErez eRafah.[114]
O desemprego disparou e mesmo antes da invasão terrestre peloTzahal, aONU já denunciava que 80% da população em Gaza estava completamente dependente deajuda humanitária, situação bem pior que a de2006 quando 63% dependiam de ajuda para obter alimentos. Segundo a organização, o governo israelense permitiu a entrada diária de 60 caminhões carregados com produtos de primeira necessidade, número muito inferior aos 475 veículos que chegavam a Gaza com ajuda humanitária, antes de junho de 2007, quando o Hamas assumiu o controle do território.[116]
As agências da ONU relatam que cerca de 250 mil pessoas estão sem eletricidade e a única central elétrica da faixa de Gaza foi fechada no quarto dia de ataques - pela sexta vez, desde o início de novembro - por falta de combustível. Os dutos do terminal de Nahal Oz, por onde chegava todo o combustível importado, estão fechados desde sábado passado. A água corrente é disponibilizada uma vez a cada cinco ou sete dias e apenas durante algumas horas e, em alguns locais, o esgoto se acumula nas ruas depois que o sistema de saneamento foi danificado pelos bombardeios. Os moradores já não encontram gás de cozinha e para calefação no mercado, em pleno inverno israelense. O sistema de saúde, já debilitado desde o início do bloqueio israelense há 18 meses, entrou em colapso e faltam medicamentes, equipes, material e sangue para tratar os cerca de 2 200 feridos.[116]
Policial palestino ferido durante o conflito.[118]
No dia20 de janeiro,Israel reabriu três passagens de fronteira para permitir a entrada de artigos de primeira necessidade no território. Os palestinos começaram a sair de seus esconderijos e abrigos, chocados com o alto número de mortes.[100] OHamas disse que 5 000 casas, 16 prédios do governo e 20 mesquitas foram destruídas. Outras 20 mil casas também foram danificadas.[100]
Apesar dos envios de mantimentos com ajuda humanitária, a empresa pública britânicaBBC e a privadaSkyNews, recusaram-se a divulgar pedidos de ajuda às vítimas daFaixa de Gaza, alegando a BBC que"defendem com paixão a imparcialidade", o que o gerou protestos de organizações humanitárias, líderes políticos e religiosos, além de estrelas do próprio canal.[119]
Seis meses depois do fim da Operação Chumbo Fundido, a Faixa de Gaza continuava a ter problemas de desabastecimento, de fornecimento de combustível e de eletricidade, sem mercadorias. Os escombros produzidos pelos ataques israelenses incorporaram-se à paisagem. Em 23 dias, a ofensiva de Israel a Gaza deixou 47 000 casas danificadas. Em junho de 2009, dezenas de milhares de pessoas ainda viviam em tendas. Israel continuava a bloquear a entrada de material de construção.[120]
Em25 de junho de 2009, o papaBento XVI pediu a reconstrução de Gaza. NoVaticano, ao receber os participantes da 2ª Assembleia Anual da Reunião das Obras de Ajuda às Igrejas Orientais (ROACO), o Papa falou sobre sua viagem à Palestina, no mês anterior.Desejo garantir-vos que a Igreja universal permanece ao lado de todos os nossos irmãos e irmãs que estão na Terra Santa. O Papa pediu às organizações católicas de ajuda que enfrentema situação dos refugiados e dos migrantes, que afetam particularmente as igrejas orientais e pediu areconstrução daFaixa de Gaza, que continua sendo abandonada, ao mesmo tempo levando em consideração a legítima preocupação de Israel sobre sua segurança.[121]
Considerado uma potência militar, Israel conta com o exército mais preparado e melhor equipado doOriente Médio. Oserviço militar é obrigatório para homens e mulheres, o que garante àsForças Armadas israelenses um contingente potencial de três milhões de soldados. De acordo com vários especialistas, o país também é o único detentor dearmas atômicas na região, com cerca de 200ogivas nucleares.[82]
AForça Aérea Israelense é uma das mais experientes em combates no mundo e conta com uma avançadaindústria aeronáutica. Além decaças fabricados em Israel, adaptando modelos franceses e norte-americanos, a Força Aérea conta ainda com 250 caçasF-16, 80 caçasF-15 e 50 helicópteros de combateApache norte-americanos,[122] num total de 700 aparelhos. Israel possui ainda um sofisticado sistema de defesa naval com osmísseis Gabriel. As forças terrestres estão armadas com 500 tanquesMerkava, também produzidos no país.[82]
Armas de militantes palestinos do Hamas capturadas por Israel numa mesquita.
Esses armamentos estão entre os mais avançados tecnologicamente e Israel é um dos maiores exportadores de armas do mundo.[82]
Israel juntou-se em1988 ao seleto e restrito clube de países lançadores de satélites de espionagem.[123] Em11 de junho de2007, foi lançado da base aérea israelense dePalmachim na costa mediterrânea de Israel um veículo espacialshavit carregando o satéliteOfek 7, capaz de detectar objetos de 70 cm sobre a face da terra.[124]
Alvos atingidos pelas forças israelenses durante a Operação Chumbo Fundido
Israel utilizou ilegalmentefósforo branco durante as ações militares em Gaza.
No dia8 de janeiro, o jornalbritânicoThe Times denunciou que asForças de Defesa de Israel estariam utilizando bombas defósforo branco, de fabricaçãoestadunidense, desde o início da ofensiva militar àFaixa de Gaza. A reportagem afirmou possuir provas de que civis palestinos foram feridos por essas bombas, que provocam graves ferimentos, e também disse ter identificado obuses com fósforo branco em fotos de imprensa mostrando estoques deste armamento pelo Exército de Israel, tiradas no final de2008 na fronteira entre o Estado judeu e a Faixa de Gaza.[138][139]
O fósforo branco é uma substância amarelada que queima quando exposta ao oxigênio em temperaturas superiores a 30 graus Celsius. O incêndio que causa pode ser difícil de ser apagado e deixa uma espessa fumaça.[140] As partículas incandescentes dessa substância podem causar queimaduras químicas profundas e muito dolorosas. O protocolo III daConvenção sobre armas convencionais, de1980, proíbe o uso deste agente contra as populações civis, ou contra as forças militares posicionadas no meio das populações civis.[139]
Assim como o jornalThe Times, a organização dedireitos humanosHuman Rights Watch fez a mesma denúncia contra o Exército israelense sobre a utilização de fósforo branco em seus ataques contra Gaza e exigiu a imediata interrupção no uso desta munição.[141][142] O governo daFrança somou-se a ONG e também pediu para Israel não usar este tipo de armamento nas operações militares.[143][144] Uma delegação daAnistia Internacional encontrou provas que demonstram o uso"indiscriminado" da munição por parte do exército israelense em Gaza.[145]
O Exército de Israel, que já admitiu no passado ter utilizado esta arma contra"alvos militares" durante sua ofensiva noLíbano contra oHezbollah, em meados de2006,[146] afirmou inicialmente apenas que suas forças agem"em conformidade com as leis internacionais", contudo, sem especificar o tipo de operação que está conduzindo ou munição que está usando.[147] No entanto, logo após o término da ofensiva, fontes militares israelenses, segundo o jornal localMaariv, admitiram ter usadobombas defósforo branco -consideradas ilegais pelas leis internacionais de guerra- em confrontos com os militantes doHamas, naFaixa de Gaza.[148]
Em sessão especial de12 de janeiro, oConselho de Direitos Humanos da ONU aprovou uma resolução que condena Israel pela ofensiva militar na Faixa de Gaza, exigiu o fim imediato das hostilidades e aprovou o envio de uma missão de investigação independente para avaliar se asForças de Defesa israelenses estão cometendocrimes de guerra.O texto aprovado condenou a operação israelense"que causou violações maciças dosdireitos humanos do povo palestino e a destruição sistemática dainfraestrutura".[149][150] Entre outros pontos, o Conselho pediu aosecretário-geral da ONU que investigasse os bombardeios lançados contraescolas gerenciadas pelaAgência da ONU para refugiados palestinos, que deixaram dezenas de mortos e agravaram a relação entre a organização e Israel e que todos os relatores especiais daONU, especialmente aqueles mais relacionados com a situação nos territórios palestinos, buscassem"urgentemente informação sobre os direitos humanos do povo palestino e façam seus relatórios".[149][150]
Aumentavam as suspeitas de que Israel estaria utilizando armas ilegais em seus ataques, como bombas defósforo branco eDIME.[83] O analista militar daHuman Rights Watch,Marc Garlasco, confirmou em entrevista àAl Jazeera que asForças de Defesa de Israel"claramente estão usando fósforo branco, pelas explosões, comtentáculos que descem, e pelas chamas que continuam queimando" e que ativistas do grupo dedireitos humanos passaram"por unidades de artilharia israelenses que tinham munição de fósforo branco com os detonadores instalados".[151]
O Comitê dos Direitos da Criança daOrganização das Nações Unidas acusouIsrael de mostrar um"claro desrespeito" pela proteção de crianças em sua operação militar na Faixa de Gaza, afirmando que mais de 40% dos mortos no conflito são mulheres ou crianças, apesar do país ter assinado um protocolo da ONU que condena ataques em locais onde possa haver presença de menores de idade.[152]
Por sua vez, o governo israelense prometeu realizar uma investigação sobre os bombardeios em massa contra zonas habitadas na Faixa de Gaza e afirmou estar reunindo provas - entre fotos aéreas e documentos filmados por soldados em campo equipados com câmaras de vídeo, durante os combates - para demonstrar que seus objetivos eram unicamente militares.[153]Israel também acusou os militantes do Hamas desrespeitam as leis humanitárias internacionais ao lançar indiscriminadamente foguetes e morteiros contra alvos civis no sul do país, que possivelmente podem atingir escolas e residências de israelenses.[154] Desde2001, quando os foguetes começaram a ser lançados, mais de 8,6 mil atingiram o sulisraelense, sendo que cerca de 6 mil deles foram disparados a partir da retirada de Israel daFaixa de Gaza, em agosto de2005.[71] O Hamas, que é considerado umaorganização terrorista porIsrael,Estados Unidos,União Europeia,Canadá eJapão, geralmente justifica essas ações contra o Estado judeu como sendo uma forma legítima de resistência, e, no caso particular daFaixa de Gaza, o grupo tem argumentado que o bloqueio israelense ao território palestino justificaria um contra-ataque com todos os meios possíveis.[70][71] Organizações de direitos humanos condenam esta prática do Hamas.
Durante a ofensiva militar, ogoverno e osmilitares israelenses acusaram oHamas de usar civis como"escudos humanos", dizendo que militantes do grupo disparam foguetes contra as cidades israelenses a partir de áreas densamente povoadas e armazena armas emcasas emesquitas.[155][156] Segundo os militares israelenses, o alto número de mortos entre a população civil palestina seria fruto do uso, por parte do Hamas, de crianças e mulheres como"escudos humanos", que acabam sendo vitimados pelos ataques que visariam apenas alvos militares.[157] No entanto, aB’Tselem, umaONGisraelense de defesa dosdireitos humanos, afirmou que este argumento deIsrael não serviria como justificativa, pois o fato de oHamas usar civis do seu próprio lado não significa que as forças israelenses teriam o direito de desrespeitar as leis humanitárias internacionais, e reforçou que Israel teria a obrigação de proteger a população em detrimento de ataques, mesmo a alvos militares.[157] A organização de direitos humanosAnistia Internacional acusou tanto os soldados israelenses quanto os combatentes do Hamas de colocarem a vida da população palestina civil em risco.[158] Em2006, a Suprema Corte de Israel havia determinado que oExército de Israel parasse de usar civis palestinos como"escudos humanos" em operações, alegando que a prática contraria o direito internacional, e classificou este costume militar israelense como"cruel" e"bárbaro".[159][160]
Em março de2009, dois meses após o fim da Operação Chumbo Fundido, o jornal israelenseHaaretz publicou declarações de soldados israelenses que lutaram durante os 22 dias da ofensiva naFaixa de Gaza, em que admitiam que mataram civis que não representavam ameaça às tropas e destruíram intencionalmente suas propriedades,"simplesmente porque podiam". As confissões dos militares, entre eles pilotos de combate e soldados de infantaria, foram reveladas a partir de relatório do curso preparatório para soldados na Faculdade Oranim. Estes testemunhos contradizem declarações oficiais doExército de Israel sobre o comportamento moral de suas forças durante a operação e confirmam em parte as acusações de organizações internacionais dedireitos humanos que criticaram o excesso de violência israelense.[161][162] Dias depois, outro jornal israelense, oJerusalem Post, citou uma fonte dasForças de Defesa de Israel, segundo a qual os relatos sobre assassinato deliberado de civis palestinos eram falsos, conforme teria sido apurado durante investigações realizadas pelo Tsahal.[163] O diretor do Programa Preparatório do Exército Yitzhak Rabin, Danny Zamir, confirmou ao jornal israelense que os relatos são autênticos.[164]
Ainda em março de 2009, o Exército israelense voltou a negar que o uso das munições com fósforo branco durante a ofensiva constituísse umcrime de guerra, conforme havia afirmado a organização de defesa dos direitos humanosHuman Rights Watch.[165]
Finalmente, em fevereiro de 2010, o Exercito de Israel admitiu ter usado bombas de fósforo branco contra civis em Gaza, conforme documento enviado às Nações Unidas em resposta ao relatório Goldstone. O documento informa que, no dia20 de janeiro de 2009, houve disparos de artilharia contendo fósforo branco contra a sede da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) no bairro de Tel al-Hawa, na Cidade de Gaza, onde estavam abrigados centenas de civis palestinos. O documento informa também que dois militares de alta patente - o brigadeiro-general Eyal Aisenberg, então chefe da divisão de Gaza, e o comandante das brigadas Guivati, Ilan Malka - foram punidos por "colocar vidas em risco" e por contrariar ordens superiores de usar a artilharia contra o complexo da ONU. Em comunicado, o Exército confirmou as informações e afirmou que os oficiais foram julgados por umacorte marcial, mas não forneceu detalhes sobre a punição.[166]
Em29 de dezembro de2008, um barco (acompanhado de outros) fretado pelo movimento Free Gaza saiu doChipre em direção aFaixa de Gaza, com intuito de romper o bloqueio imposto porIsrael àFaixa de Gaza, levando 3,5 toneladas de ajuda médica e alimentar para o território palestino. No barco, chamado deDignity, estavam 16 pessoas a bordo, incluindo dois jornalistas (um da redeAl Jazeera e outro daCNN) e três cirurgiões.[52][53][167] ODignity foi forçado a retornar após ser duramente atingido e alvo de tiros da marinha de guerra israelense enquanto estava em águas internacionais, cerca de 70 km da costa israelense e a 135 km do destino em Gaza, segundo os tripulantes da embarcação de ajuda humanitária. Houve vários feridos entre os tripulantes da "frota humanitária" por balas israelitas e pela abordagem de tipo militar que as forças especiais fizeram aos barcos pacifistas.[52][53][167]
Autoridades israelenses disseram que não houve tiroteio e que oDignity estava em águas de Israel, sendo que o barco teria chocado com uma lancha da marinha israelense e teria se recusado a receber ajuda. Sem combustível, suficiente para retornar aoChipre, o barco foi até oLíbano.[54] Apesar do bloqueio israelense, oDignity havia feito, desde agosto, cinco viagens a Gaza.[52][53][54][167]
Em3 de janeiro de2009 as forças israelenses atacaram amesquita emBeit Lahiya. Testemunhas relataram que cerca de 200 palestinos rezavam quando o templo foi atacado. Ao menos 16 civis foram mortos e 60 ficaram feridos. Israel acusou oHamas de abrigar armas e munições dentro da mesquita.[168][169][170][171]
No dia5 de janeiro de2009, as forças israelenses bombardearam uma casa emZeitoun, um bairro no sudeste daCidade de Gaza, onde os próprios soldados deIsrael tinham colocado cerca de 110 palestinos nodia anterior. Segundo informações daONU, os soldados israelenses"evacuaram aproximadamente 110 palestinos (metade destes,crianças) e os levaram para uma única residência em Zeitoun, afirmando que eles deveriam permanecer em casa"."Vinte e quatro horas depois, forças israelenses bombardearam a casa várias vezes, matando aproximadamente 30 pessoas."[172][173][174]
Israel afirmou que as denúncias daONU eram"inverossímeis" e assegurou que"no momento dos fatos, não tinha tropas ali".[175][176]
Após o término da operação militar na Faixa de Gaza, secretário-geral da ONU,Ban Ki-moon, visitou as instalações das Nações Unidas na região e pediu"uma investigação exaustiva" sobre os incidentes contra edifícios da entidade e afirmou que os"responsáveis devem prestar contas à justiça".[179]
Quase um mês depois, em4 de fevereiro, aUNRWA retificou a informação sobre o ataque. Segundo a entidade, o explosivo que matou ao menos trinta refugiados palestinos caiu a poucos metros do prédio, e não dentro da escola, como havia sido informado anteriormente. A informação teria sido dada (e posteriormente corrigida) por outra agência da ONU, oEscritório de Coordenação para Assuntos Humanitários (Ocha).[180][181][182]
Uma clínica para bebês foi atacada por caças israelenses. Equipamentos médicos avaliados em centenas de milhares dedólares foram destruídos. Pacientes e funcionários tiveram 50 minutos para evacuar a área. A clínica oferecia serviços básicos gratuitamente a comunidade. Israel não apresentou justificativas para o ataque.[190]
O médico palestino Muhammad Ramadan, daCruz Vermelha, acusoutanquesisraelenses de atacar uma ambulância, embora estivesse marcada com o símbolo da organização, apesar de estar em coordenação com asForças de Defesa de Israel.[191] A força aérea israelense também bombardeou, no dia4 de janeiro de2009, o Centro Médico A-Raeiya e sua clínica móvel. Os estragos foram estimados em 800 mil dólares. O centro atendia centenas de palestinos por dia. Nenhum alerta de bombardeio foi divulgado. O centro - bem conhecido e claramente demarcado como de ajuda médica, está localizado em uma área residencial, distante de prédios do governo.[191]
Segundo aOrganização Mundial da Saúde, 16 membros de equipes médicas foram mortos durante os 22 dias da ofensiva, e outros 25 ficaram feridos. De acordo com relatório da ONGPhysicians for Human Rights - Israel (Médicos pelos Direitos Humanos), as forças israelenses atacaram 34 centros médicos em Gaza, incluindo oito hospitais - uma grave violação das leis internacionais de guerra. A organização informa também que os militares não retiraram os feridos e proibiram que as equipes [médicas] palestinas chegassem aos feridos (cerca de 5 000 durante a operação).[192] Membros de equipes de resgate da Cruz Vermelha Palestina foram atacados várias vezes durante a ofensiva."Um número desconhecido de palestinos morreu por ter sangrado durante dias, sem tratamento médico, à espera de socorro, enquanto as pessoas não ousavam sair de suas casas".[164]
Investigação da ONU sobre violações de direitos humanos
Em5 de maio de2009, oSecretário-geral das Nações Unidas,Ban Ki-moon, afirmou que Israel mentiu sobre os ataques a alvos civis - escolas, clínica médica e a própria sede da ONU - durante a Operação Chumbo Fundido. Segundo Ban, uma investigação provou que armas israelenses - algumas comfósforo branco - foram a "causa indiscutível" da destruição. Um dos ataques teria matado mais de 40 pessoas. O governo de Israel nega que tenha atirado intencionalmente contra as instalações.[193]
Em1º de junho a comissão da ONU criada para investigar as violações dos direitos humanos, durante a ofensiva israelense na Faixa de Gaza, que deixou cerca de 1.400 palestinos mortos, em sua maioria civis, entrou no território, proveniente do Egito.
A missão estava programada para permanecer em Gaza durante uma semana, pretendendo reunir-se"com todas as partes envolvidas, incluindo ONGs, agências das Nações Unidas, vítimas e testemunhas de violações denunciadas, além de outras pessoas que possam oferecer informação relacionada aos fatos investigados" − precisou a ONU. A equipe foi chefiada pelo sul-africanoRichard Goldstone, ex-promotor noTribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia e paraRuanda. Da comissão participavam também 14 especialistas legais, entre os quais a professora de Direito Internacional Christine Chinkin, a jurista Hina Jilani e o coronel reformado do exército irlandês Desmond Travers.
O porta-voz doHamas, Fawzi Barhum, disse que seu movimento cooperaria com a comissão e traria à tona "todas as evidências e provas à disposição, para permitir o bom êxito da missão".
Israel, por sua vez, recusou-se a colaborar com a equipe, por considerar "parcial" a incumbência que lhe fora atribuída em abril, peloConselho de Direitos Humanos da ONU: investigar as violações dos direitos humanos apenas no período de27 de dezembro a18 de janeiro - não considerando o período anterior, quando ocorreu o lançamento de foguetes pelas milícias palestinas, e que teria motivado a ofensiva israelense.[194]
Como Israel se negou a cooperar, a missão teve que entrar em Gaza pela fronteira egípcia, segundo informou o chefe da missão,Richard Goldstone - umjudeu com estreitos vínculos com o estado de Israel. Em9 de junho, Goldstone declarou que sua investigação sobre possíveis crimes de guerra cometidos por Israel e pelo Hamas - que incluiu dezenas de entrevistas com vítimas e o exame detalhado dos arquivos de organizações dedireitos humanos - dificilmente resultaria na abertura de processos. Em razão da recusa de Israel em cooperar, a missão não teve acesso a fontes militares e às vítimas dos foguetes. Já a segurança do Hamas por muitas vezes acompanhou a missão, durante os cinco dias em que esta ficou em Gaza. Isto, segundo ele, coloca em dúvida a possibilidade das testemunhas descreverem livremente as ações do grupo militante. Mas o principal problema continuam sendo os obstáculos políticos e legais para os julgamentos decrimes de guerra. Segundo Goldstone, não há um tribunal com clara competência para conduzir qualquer processo decorrente dessa investigação, que envolve as três semanas de ofensiva israelense em Gaza. Alex Whiting, professor de direito daUniversidade Harvard, disse que Goldstone é "extremamente qualificado", mas esses casos são difíceis de investigar, especialmente quando não se tem acesso aos arquivos militares. Disse também que há poucos mecanismos legais para instaurar processos se os crimes tiverem sido ocultados.[195][196][197]
"Baseados em fatos, chegamos à conclusão de haver provas convincentes de que Israel transgrediu gravemente oDireito Internacional durante suas operações militares – desrespeitando tanto oDireito Internacional Humanitário quanto as deliberações sobre osdireitos humanos. As forças israelenses de combate cometeramcrimes de guerra, bem como possivelmentecrimes contra a humanidade"."Não há dúvidas de que o lançamento de mísseis e granadas se deu com o objetivo de ferir e matar civis, bem como de destruir o maior número possível de instituições civis. Esses são sérios crimes de guerra e possivelmente também crimes contra a humanidade."[199]
O relatório afirma que a operação da Israel foi contra"o povo de Gaza em conjunto" e que"Israel não adotou as precauções requeridas pelo direito internacional para limitar o número de civis mortos ou feridos nem os dados materiais". O documento confirma também que Israel cometeu violações àlei humanitária, ao dispararfósforo branco e usar de artilharia altamente explosiva durante a operação.
Segundo o relatório, os militares israelenses usaram"a força de maneira desproporcional" contra civis palestinos, e que Israel bombardeou armazéns de alimentos, zonas residenciais, fábricas e equipamento de tratamento de água. Segundo a comissão,"essas destruições tinham como objetivo negar a subsistência da população civil."
A missão também cita casos de civis palestinos abatidos a tiro quando deixavam suas casas em busca de abrigo, frequentemente levando bandeiras brancas (sinal de paz) e às vezes, agindo sob instrução dos próprios israelenses. O relatório cita um ataque à localidade deZeitoun, no sul da Cidade de Gaza, contra um imóvel no qual os próprios israelenses tinham colocado civis palestinos.
"Se levarmos em conta o planejamento que ocorreu e o uso da melhor tecnologia disponível para executar esses planos, além da declaração do Exército israelense de que não existiram erros, a missão conclui que os incidentes e os padrões de conduta analisados no relatório são o resultado de decisões políticas deliberadas".
OMinistério de Relações Exteriores de Israel, em comunicado à missão israelense na ONU, em Genebra, afirma que a comissão da ONU"deu legitimidade à organização terrorista do Hamas e desconsiderou a tática deliberada do Hamas de usar civis palestinos para encobrir ataques terroristas".[200]
O chamado "relatório Goldstone" recomenda que os dois lados envolvidos no conflito conduzam apurações independentes sobre as supostas violações, apresentando suas conclusões aoConselho de Segurança da ONU no prazo de seis meses; caso isto não seja feito adequadamente, oTribunal Penal Internacional deve ser consultado.[201]
"Há muito tempo que prevalece na região uma cultura deimpunidade", disse Goldstone, ao apresentar o relatório.
Em5 de novembro, aAssembleia Geral da ONU aprovou o relatório Goldstone e recomendou aosecretário geral,Ban Ki-moon, que transmitisse o documento aoConselho de Segurança e, em até de três meses, informasse a Assembleia Geral as medidas tomadas para a implementação das recomendações contidas no documento. Além das evidências sobre os crimes de guerra, o texto da resolução ressalta que Israel e as autoridades palestinas nada fizeram para realizar investigações confiáveis sobre as violações alegadas.[203]
A resolução foi adotada após dois dias de debates, com 114 votos a favor, 18 contra - entre eles, os deEstados Unidos,Alemanha,Canadá,Polônia,Itália eHolanda - e 44 abstenções, a maioria delas de nações daUnião Europeia. 16 países estiveram ausentes durante a votação. Em6 de novembro, Ban confirmou que cumprirá o pedido da Assembleia Geral. O presidente da Assembleia Geral da ONU, olíbioAli Treki, declarou que a resolução é uma"declaração contra a impunidade e uma chamada à justiça e à prestação de contas".[204]
Apesar da aprovação da resolução, pairavam sérias dúvidas sobre a disposição dos integrantes do Conselho de Segurança em incluir em sua agenda o polêmico relatório, encomendado aoConselho de Direitos Humanos da ONU. Fontes diplomáticas disseram que há grandes diferenças entre os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (Rússia,China,EUA,França eReino Unido) quanto a tratar de um assunto que é de competência do Conselho de Direitos Humanos. Este já havia decidido adiar o assunto para 2010.[205]
O governo israelense realizou intensa pressão política e diplomática, para evitar o encaminhamento do relatório Goldstone aoConselho de Segurança da ONU. Em1º de outubro, o primeiro-ministro israelense,Benjamin Netanyahu, exortou a ONU a não submeter o relatório Goldstone à avaliação do Conselho de Segurança."A adoção do relatório Goldstone representaria um golpe fatal para o processo de paz", declarou Netanyahu.[206]
O governo norte-americano também criticou o relatório e manifestou publicamente o seu apoio a Telavive.
"Temos sérias inquietações sobre muitas das recomendações do relatório, e acreditamos que o lugar apropriado para ser analisado é no Conselho de Direitos Humanos", disse embaixadora americana na ONU,Susan Rice, aludindo à recomendação de que os dois lados envolvidos no conflito conduzam apurações independentes sobre as supostas violações, e apresentem suas conclusões aoConselho de Segurança da ONU no prazo de seis meses, para que os responsáveis por ações criminosas sejam submetidos a processo judicial. Rice lembrou que o governo dos Estados Unidos já havia considerado a análise do conflito de Gaza"desequilibrada, parcial e inaceitável".[207]
Osecretário-geral da ONU,Ban Ki-moon, por sua vez, evitou pronunciar-se quanto à probabilidade de o Conselho de Direitos Humanos – reunido a partir de 29 de setembro em Genebra – seguir a recomendação da Comissão Goldstone, mas disse que apoia o relatório e pediu aos seus assessores"que verifiquem seu conteúdo, no tocante à responsabilidade pelos crimes lá enumerados".[199] Esperava-se que o Conselho de Direitos Humanos, integrado por 47 países, aprovasse a resolução e, em seguida, repassasse o documento para aAssembleia Geral da ONU, de modo que as providências cabíveis fossem tomadas. Isto poderia resultar em processo contra os oficiais israelenses noTribunal Penal Internacional emHaia. No entanto, o Conselho, decidiu adiar a decisão até março de2010, após "intensos esforços diplomáticos" dosEstados Unidos.
Em2 de outubro de 2009, a delegação palestina na ONU também desistiu de encaminhar as acusações contra Israel por crimes de guerra aoConselho de Direitos Humanos. Os palestinos afirmaram ter retirado as acusações temporariamente, para angariar apoio, retomando o assunto somente em 2010.
OPaquistão pediu que o assunto não fosse esquecido e que a decisão fosse adiada para dar "mais tempo e consideração" para a questão. O enviado do Paquistão na ONU, Zamir Akram, disse a desistência palestina teria sido decorrente da"imensa pressão dos EUA".[208]
Altos funcionários palestinos e norte-americanos emRamallah e emWashington disseram que a decisão palestina foi tomada após forte pressão dos Estados Unidos e de uma advertência de que seguir com a resolução poderia prejudicar o processo de paz noOriente Médio.[209]
A diretora daHuman Rights Watch para o Oriente Médio,Sarah Leah Whitson, declarou que a falta de apoio ao relatório Goldstone, por parte dos Estados Unidos e daUnião Europeia, contém uma mensagem terrível: a de que violações dasleis de guerra por estados aliados seria tolerada. Ainda segundo Whitson, a rejeição do relatório pelo primeiro-ministroNetanyahu, sob a alegação de que iria atrapalhar o processo de paz, corresponde a negar a importância da justiça para se alcançar a paz."A impunidade persistente - e não a justiça - é a maior ameaça para a paz."[210]
Em26 de fevereiro de 2010, aAssembleia Geral das Nações Unidas adotou uma resolução que concede mais cinco meses a Israel e aos palestinos para concluir as investigações sobre os possíveis crimes de guerra denunciados pelo relatório Goldstone.[211]
Em10 de março, oParlamento Europeu anunciou que apoia o relatório da comissão Goldstone. Os eurodeputados consideram que os 27 estados-membros da União Europeia e a nova chefe da diplomacia europeia,Catherine Ashton, devem "publicamente exigir a implementação das recomendações" do relatório, ou seja, basicamente, a investigação dos "alegados crimes de guerra" cometidos em Gaza entre 2008 e 2009, com eventual recurso aoTribunal Penal Internacional, caso o Estado hebraico se recuse a realizar uma investigação "credível" sobre os acontecimentos.[212]