| Noel Rosa OMC | |
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Noel Rosa e seu violão. | |
| Informações gerais | |
| Nome completo | Noel de Medeiros Rosa |
| Também conhecido(a) como | Poeta da Vila Rei das Letras |
| Nascimento | 11 de dezembro de1910 Rio de Janeiro,DF,Brasil |
| Origem | Vila Isabel |
| Morte | 4 de maio de1937 (26 anos) Rio de Janeiro,DF Brasil |
| Gênero(s) | samba,MPB |
| Ocupação | Cantor,compositor |
| Instrumento(s) | violão,bandolim,vocal |
| Período em atividade | 1927–1937 |
| Afiliação(ões) | Aracy de Almeida,Nelson Gonçalves,Francisco Alves,Ismael Silva,Vadico,Cartola,Carlos Cachaça,Bando de Tangarás,João de Barro,Almirante, Alvinho,Henrique Brito,Orestes Barbosa,Rômulo Pais,Marília Batista,Kid Pepe,Lamartine Babo |
Noel de Medeiros RosaOMC (Rio de Janeiro,11 de dezembro de1910 — Rio de Janeiro,4 de maio de1937) foi umsambista,cantor,compositor,bandolinista eviolonistabrasileiro, considerado um dos maiores e mais importantes artistas da música no Brasil.[1] Teve contribuição fundamental na legitimação dosamba de morro e no "asfalto", ou seja, entre aclasse média e orádio, principalmeio de comunicação em sua época - fato de grande importância, não só para osamba, mas para a história damúsica popular brasileira.[2][3]
Morto prematuramente aos 26 anos em decorrência detuberculose, deixou um conjunto de canções que se tornaram clássicas dentro docancioneiro popular brasileiro.
Em2016 foi agraciadoin memoriam com aOrdem do Mérito Cultural do Brasil(OMC), na classe de grão-mestre.[4]

Filho domineiro Manuel de Medeiros Rosa (1880-1935) e da carioca Marta Correia de Azevedo (1889-1940),[5] Noel nasceu de um parto muito difícil e complicado, que incluiu o uso defórceps pelo médico obstetra como medida para salvar as vidas da mãe e bebê. Além disso, tinhahipoplasia (desenvolvimento limitado da mandíbula, provávelSíndrome de Pierre Robin), o que lhe marcou as feições por toda a vida e destacou sua particular fisionomia.
Nascido na rua Teodoro da Silva n.º 130, no bairro carioca deVila Isabel,[6] Noel era de família de classe média. Estudou no tradicionalColégio de São Bento.[7]
Adolescente, aprendeu a tocar bandolim de ouvido e tomou gosto pela música e, pela atenção que ela lhe proporcionava, logo, passou ao violão e cedo tornou-se figura conhecida daboemia carioca. Em 1931 entrou para a Faculdade de Medicina, porém, em pouco tempo o projeto de estudar mostrou-se pouco atraente diante da vida de artista, em meio ao samba e noitadas regadas à cerveja. Noel foi integrante de vários grupos musicais, entre eles oBando de Tangarás desde 1929, ao lado deJoão de Barro (o Braguinha),Almirante, Alvinho eHenrique Brito.[8]
Em 1929, Noel arriscou as suas primeiras composições,Minha Viola eFesta no Céu, ambas gravadas por ele mesmo. Mas foi em 1930 que o sucesso chegou, com o lançamento deCom que roupa?, um samba bem-humorado que sobreviveu décadas e hoje é um clássico do cancioneiro brasileiro. Uma lenda desmentida por Almirante, seu parceiro musical e biógrafo, diz que a canção surgiu de um episódio em que queria sair com os amigos, mas sua mãe não deixou e escondeu suas roupas. Ele, então com pressa, perguntou: "Com que roupa eu vou?".[9]
Noel revelou-se um talentoso cronista do cotidiano, com uma sequência de canções que primam pelo humor e pela veia crítica.Orestes Barbosa, exímio poeta da canção, seu parceiro emPositivismo, o considerava o "rei das letras". Noel também foi protagonista de uma curiosa polêmica (Noel Rosa X Wilson Batista) travada através de canções com seu rivalWilson Batista. Os dois compositores atacaram-se mutuamente em sambas agressivos e bem-humorados, que renderam bons frutos para a música brasileira, incluindo clássicos de Noel comoFeitiço da Vila ePalpite Infeliz. Entre os intérpretes que passaram a cantar seus sambas, destacam-seMário Reis,Francisco Alves eAracy de Almeida.[10]

No ano de 1930, quando a canção popular começou a se firmar e o samba passou a definir a linhagem autêntica como raiz própria e brasileira, Noel Rosa ganhou destaque e preferência entre os ouvintes de rádio e participantes dos carnavais de rua do Rio de Janeiro. Sua música conquistava a todos pela autenticidade ao falar de amor, de encontros desencontros e do cotidiano.
Noel teve ao mesmo tempo várias namoradas e foi amante de muitas mulheres casadas. Casou-se em 1934 com Lindaura Martins, natural deSergipe. Apesar de ter afeto e carinho pela esposa, era apaixonado mesmo por Ceci, apelido de Juraci Correia de Araújo, uma dançarina e acompanhante decabaré, sua amante de longa data. Era tão apaixonado por ela, que ele escreveu e fez sucesso com a cançãoDama do Cabaré, inspirada em Ceci, que, mesmo na "vida fácil", era uma dama ao se vestir e ao se comportar com os homens, e o deixou totalmente enlouquecido pela sua beleza. Foram anos de caso: eles se encontravam no cabaré à noite e juntos passeavam, bebiam, fumavam, jogavam e andavam noite afora sem destino - principalmente pelo bairro carioca daLapa, onde se localizava o cabaré. Ele costumeiramente lhe dava presentes, joias e perfumes e queria retirá-la da prostituição e fazê-la sua esposa. No entanto, uma vez que seria um escândalo social e a família jamais aceitaria uma meretriz na família, tentou dar uma casa para Ceci, para que ela só se deitasse com ele, onde se encontrariam escondidos e a sustentaria. Ceci recusou-se, pois não queria depender de homem para sobreviver, e queria alguém que a assumisse como esposa. Após mais alguns anos juntos, o ciúme doentio de Noel por Ceci a fez terminar a relação, que ficou entre idas e vindas por um bom tempo, até que se afastaram de vez.[11][12]
Seu pai suicidou-se por enforcamento em 3 de maio de 1935, gesto extremo que sua avó paterna, Belarmina de Medeiros, já havia executado em 15 de outubro de 1927.[5]

Em depressão por alguns meses pela separação de Ceci, Noel passou os anos seguintes travando uma batalha contra atuberculose. A vida boêmia, porém, nunca deixou de ser um atrativo irresistível para o artista, que entre viagens para cidades mais altas em função do clima mais puro, sempre voltava ao samba, à bebida e ao cigarro, nas noites cariocas, cercado de muitas mulheres, a maioria, suas amantes. Mudou-se com a esposa paraBelo Horizonte, para tratar de seu problema pulmonar, ainda inicial e não transmissível pelo ar, e para salvar seu casamento, já que gostava de sua esposa, mas ela ameaçava se separar, pois não suportava mais as traições e bebedeiras do marido, mas se separar naquela época era um peso e uma vergonha enormes para a mulher, e por isso Lindaura reconsiderou, e também queria salvar seu matrimônio. Sem planejar, Lindaura engravidou, mas sofreu umaborto espontâneo no meado de sua gestação, e, devido as complicações por causa da forte hemorragia, afetando seu aparelho uterino, não pôde mais ter filhos, o que a deixou muito revoltada e deprimida. Foi por isso que Noel Rosa não foi pai, o que o deixou muito mal, já que era seu maior desejo. Da capital mineira, escreveu ao seu médico, Dr. Graça Melo: “Já apresento melhoras/Pois levanto muito cedo/E deitar às nove horas/Para mim é um brinquedo/A injeção me tortura/E muito medo me mete/Mas minha temperatura/Não passa de trinta e sete/Creio que fiz muito mal/Em desprezar o cigarro/Pois não há material/Para o exame de escarro".[13]
Trabalhou naRádio Mineira e entrou em contato com compositores amigos da noite, comoRômulo Paes, recaindo sempre na vida boêmia. O fato de não ter parado de beber e fumar, não fazer repouso absoluto e continuar pegando sereno nas madrugadas, pioraram sua tuberculose. De volta ao Rio, sentindo-se bem melhor, parou com as medicações, e jurou estar curado, mas poucos dias depois adoeceu fortemente, não conseguindo mais se alimentar e nem levantar da cama, faleceu repentinamente em sua casa, no bairro de Vila Isabel no ano de 1937, aos 26 anos, em consequência da doença que o perseguia há alguns anos. Deixou sua esposa viúva e desesperada. Lindaura, sua mulher, e Dona Martha, sua mãe, cuidaram de Noel até o fim. Seu corpo encontra-se sepultado noCemitério do Caju, noRio de Janeiro.[14][15]
"Cordiais Saudações", de Gilberto Santeiro (1967) curta.
Noel Rosa já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado porChico Buarque no filmeO Mandarim (1995) e Rafael Raposo no filmeNoel - Poeta da Vila (2006).[16]
O primeirolonga-metragem sobre o compositor,Noel - Poeta da Vila, foi baseado na biografia de Máximo e Didier e dirigido porRicardo van Steen. Teve sua estreia no Festival de Cinema do Rio de Janeiro em 2006 e na 30ª Mostra de Cinema de São Paulo. Entrou em circuito em agosto de 2007, ano que marcou os 70 anos da morte do poeta do samba.
Antes deste filme, outros filmes, de curta e média-metragem, foram realizados sobre Noel Rosa. O próprio Ricardo Van Steen, realizador deNoel - Poeta da Vila, dirigiu um curta-metragem,Com Que Roupa? (1997), com Cacá Carvalho no papel de Noel Rosa.
Rogério Sganzerla (1946-2004), um dos principais nomes do chamadoCinema Marginal, era fascinado pela vida e obra de Noel Rosa, e planejava fazer o seu próprio longa-metragem. O projeto acabou não vingando, mas durante esta espera, realizou dois documentários, um de curta-metragem,Noel Por Noel (1978), e um de média-metragem,Isto é Noel Rosa (1991).
EmO Mandarim (1995) — uma representação experimental da vida do cantor Mário Reis —Júlio Bressane (outro representante do Cinema Marginal) chamaChico Buarque para interpretar Noel Rosa.
Em 1994, Alexandre Dias da Silva descobre em uma feira de rua um filme raríssimo — o curta-metragemVamo Falá do Norte (1929), de Paulo Benedetti, com a única imagem filmada de Noel Rosa, junto com o Bando de Tangarás — e, com texto de José Roberto Torero e cenas de cinejornais e filmes de 1929, realiza o curta-metragemO Cantor de Samba.[17]
No mesmo ano, Noel Rosa se torna personagem do curta-metragem de ficçãoBar Babel, realizado no Paraná por Antônio Augusto Freitas.
Em 1998, Antonio Paiva Filho escreve e dirige, em vídeo, uma ficção inspirada no célebre samba de Noel RosaCoração, presente mesmo no título:A Paixão Faz Dor no Crânio Mas Não Ataca o Coração.
E em 1999, André Sampaio realiza uma ficção experimental,Polêmica, a partir da famosa polêmica musical entre Noel Rosa e Wilson Batista.
Antes de ser tema de filmes, a música de Noel Rosa esteve presente em um sem-número de filmes brasileiros.
Mesmo enquanto o Poeta da Vila ainda era vivo: na comédia musicalAlô, Alô, Carnaval, de Adhemar Gonzaga (produção Cinédia — 1936), duas marchas de carnaval de Noel Rosa estavam em sua trilha sonora:Pierrot Apaixonado (parceria comHeitor dos Prazeres) eNão Resta a Menor Dúvida (parceria comHervé Cordovil).
No mesmo ano, compôs seis canções, em parceria comVadico, para o filmeCidade-Mulher, deHumberto Mauro (produção Brasil-Vita): a canção-título do filme (interpretada porOrlando Silva),Dama do Cabaré,Tarzan, O Filho do Alfaiate,Morena Sereia,Numa Noite à Beira-Mar eNa Bahia.
Outros filmes de destaque com canções de Noel Rosa em sua trilha sonora foram os realizados por Carlos Alberto Prates Correia, outro grande admirador de sua música: emPerdida (1975), a gravação original deQuem Dá Mais? (1932), na voz do próprio Noel Rosa, serve de fundo para uma cena… digamos… didática, passada num bordel.
EmCabaret Mineiro (1980) — grande premiado noFestival de Gramado de 1981 —Pra Esquecer — comTavinho Moura e regional — eNunca… Jamais! - com Tavinho Moura, Silvia Beraldo e regional — tem a mesma função de reforço da ironia em duas sequências do filme.
Sua vida foi objeto de um excelente drama dePlínio Marcos —O Poeta da Vila e seus Amores — encenado no Teatro Popular do Sesi. Foram mais de dois anos ininterruptos em cartaz.[18]
Em 2010, cem anos depois do seu nascimento, oGRES Unidos de Vila Isabel, escola de samba sediada na Zona Norte do Rio de Janeiro, no bairro de Vila Isabel, levou Noel Rosa como seu enredo do carnaval de 2010. Fez-se um desfile em sua homenagem, com o samba intituladoNoel: A Presença do "Poeta da Vila", de autoria do compositorMartinho da Vila.[19]
O desfile realizado pela Unidos de Vila Isabel se deu na segunda-feira de carnaval, dia 15 de fevereiro de 2010. A escola foi a quinta escola a desfilar e o resultado oficial rendeu à escola aquarta colocação na ordem oficial de apuração dos pontos pelaLIESA.
Foram 259 composições criadas por Noel:
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