Nininha Chochoba | |||||
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| Nininha Chochoba vestindoP 25 Parangolé capa 21 Xoxoba (1968), de Hélio Oiticica, durante as filmagens do documentário “H.O.” (1979). | |||||
| Informações pessoais | |||||
| Nome completo | Sebastiana Texeira de Almeida | ||||
| Data de nasc. | 15 de dezembro de1922 | ||||
| Local de nasc. | Rio de Janeiro, | ||||
| Falecido em | 14 de fevereiro de1996 (73 anos) | ||||
| Local da morte | Rio de Janeiro, | ||||
| Informações profissionais | |||||
| Escola atual | Falecida | ||||
| Escolas de samba | |||||
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Sebastiana Texeira de Almeida (Rio de Janeiro,15 de dezembro de1922 -14 de fevereiro de1996), mais conhecida comoNininha Chochoba ouNininha Xoxoba,[1] foi uma personalidade docarnaval carioca e a segundaporta-bandeira daEstação Primeira de Mangueira. Iniciou as atividades carnavalescas com cinco anos de idade, no momento da unificação dosblocos carnavalescos doMorro da Mangueira e dacriação das primeiras escolas de samba em 1929.
Desempenhou a função de porta-bandeira da Mangueira entre os anos 1941 e 1953, fazendo par com os mestres-sala Jorge Rasgado, Ailton, Noel Canelinha eDelegado.[2][3] Recebeu notoriedade por compor o papel de personalidade da Mangueira e conquistar oEstandarte de Ouro de "Melhor destaque feminino" para a escola em 1978.
Nascida na cidade do Rio de Janeiro em 15 de dezembro de 1922, era filha de Albino Antônio Teixeira e Maria Coador[nota 1], uma tradicional frequentadora de rodas dejongo, caxambu e corimá. Coador era denominada como "jongueira", detinha de uma Casa de Jongo, influenciou na transição dosterreiros religiosos para as rodas desamba de terreiro e colaborou nas danças criadas por Chochoba posteriormente.[6][4][5] Recém nascida, Chochoba se mudou para oMorro da Mangueira com a família, residindo no alto do morro ao fim da rua Travessa Saião Lobato,[7] próximo do endereço da primeira sede da agremiação.[8] Aos cinco anos começou a desfilar na união dos blocos de Mangueira naPraça Onze,[9] e com sete anos, em 1929, participou da criação das rodas de samba, partido alto e aquece de terreiro daEstação Primeira de Mangueira, que iniciava suas organizações como uma escola de samba. Durante esses anos, desfilou no bloco infantil da Mangueira.[10]
Em 1941, chamava a atenção na escola por sambar e gritar a palavra "Chochoba" na medida que se empolgava com a batucada. A partir de então, começou a ser denominada como Nininha Chochoba. Ainda no mesmo ano, após a saída da primeira porta-bandeira oficial da Mangueira, assumiu o pavilhão da escola.[10] No Morro, além das atividades na escola, era famosa por serrezadeira, benzedeira e conhecedora de ervas parasimpatias.[11] Se ausentou do posto de porta-bandeira em 1953, por decorrência da doença de sua mãe. Outras fontes, como reportagens doJornal do Brasil, apontam que Chochoba abandonou o pavilhão após casar,[12] o que teria ocasionado no nascimento de seus dois filhosgêmeos posteriormente.[13] Em 1954, a Mangueira, patrocinada pela loja de tecidosKhalil M. Gebara, organizou o primeiro concurso de porta-bandeira. Chochoba compunha o juri da competição, e na disputa estavam as sambistas Marta, Irací eNeide da Mangueira, sendo a última a vencedora para substituir Chochoba nos desfiles oficiais da agremiação.[14]
Anos depois, quando Roberto Paulino assumiu a presidência da Mangueira entre 1958 e 1960, resolveu reunir toda avelha-guarda da escola que estava afastada, chamando Nininha para virar destaque de honra na agremiação.[10] Após sua solidificação como personagem de honra da escola,[15] ao lado deDona Neuma e Cecéia, organizou a Ala Infantil, que desfilava a partir dos anos 1960 com mais de 52 crianças,[16] além de desempenhar o papel debaiana nos desfiles.[17] Em 1965, chamou atenção do atorGrande Otelo, sendo convidada por ele para participar como uma "sambista doente" no filme italianoUna rosa per tutti, cuja personagem era medicada pela atriz e protagonistaClaudia Cardinale e se mostrava "curada" após ouvir abateria de uma escola de samba.[5] Em meados dos anos 1970, ainda era assídua nas atividades da escola de samba, participando como personalidade essencial em eventos comoarraial, ensaios e festas em geral.[1] Em 1978, ganhou oEstandarte de Ouro de "Melhor destaque feminino" por sua performance no desfile da Mangueira,[18][5] com uma fantasia no valor deCr$ 30 mil, pagos pela agremiação.[19] Conforme reportagem publicada peloJornal O Globo, Chochoba faleceu em 14 de fevereiro de 1996[20] e foivelada em uma capela do núcleo populacional "Buraco Quente" no Morro da Mangueira, porém as causas da morte são desconhecidas.[21]
Aliás, que capítulo especial ver Nininha Xoxoba já envelhecida, os calcanhares ralados a caco de telha, girando o PARANGOLÉ com o garbo e a majestade de ex-porta bandeira da Escola de Samba, e, suas mirongas reavivadoras do jongo, filha que era da grande jongueira Maria Coador e nascida e criada dentro do maior centro de jongo, samba-raiado, samba duro da Mangueira. O despertar do inconformismo de uma vida tecida de acasos miseráveis e festa que se dobra sobre si mesma e se abre no espaço em torno, se reassume e se expressa. Estandarte antilamúria. Em dois PARANGOLÉS exemplares estão impressos noções-alicerces: em um, ESTOU POSSUÍDO e noutro, INCORPORO A REVOLTA. PARANGOLÉ, gíria do morro, com uma multiplicidade imensa de significações, variando, dançando conforme os conformes.
—Maurice Merleau-Ponty sobre Chochoba na conferência "O Homem e a adversidade".[22]
Embora Chochoba tenha contribuído desde a infância na criação daEstação Primeira de Mangueira,[9][10] seus esforços não constam na história oficial da agremiação.[8] Inicialmente, a sambista não aceitou o cargo de primeira porta-bandeira após a saída de Raimunda, em 1941. A oficialização no posto aconteceu após Francisco Honorato do Nascimento, presidente da Mangueira na época, juntamente com Pedro Palheta e Jorge Candinho, obrigar Chochoba a assumir o pavilhão com ameaça de expulsão. A partir de então, foi par de Jorge Rasgado, Ailton e Noel Canelinha, quando finalmente descobriu a figura deDelegado, resgatando-o da “Ala dos Duques” da Mangueira.[2] Enquanto porta-bandeira, a sambista inovou por mandar beijos para o público e júri enquanto aplicava o rodopio da bandeira no bailado, com o "estandarte acompanhando os passos cadenciados da sua porta bandeira",[23] sendo classificada por Delegado como "a melhor" ou "uma grande" porta-bandeira.[24] Entre o período de 1941 e 1953, quando exerceu a função de "porta estandarte" ou "porta bandeira" oficial da agremiação, algumas vezes era substituída nos ensaios por Raimunda, que abandonou o posto mas manteve-se presente nos desfiles da escola.[25]
Mesmo que tenha aparecido em colunas de fofoca sobre o samba no jornalA Manhã da década de 1940,[26] Chochoba acabou ganhando notoriedade nos meios de comunicação a partir dos anos 1960, por conta da sua retomada aos desfiles da Mangueira nessa época. O jornalistaSérgio Cabral, cobrindo o Carnaval do Rio de Janeiro em 1961 peloJornal do Brasil, declarou em dois momentos diferentes, que "atualmente, Nininha é a figura de destaque da escola"[12] e "Nininha, a melhor e mais famosa pastora de escola de samba".[15] Em decorrência de sua maneira peculiar de dançar por fazer movimentos verticais com asnádegas, a sambista, em um relato escrito pelo artistaHélio Oiticica em 1964, se tornou "tradição do samba", o que fazia "dela uma das maiores preferências dos que assistem aodesfile − há quem venha só para vê-la".[27] Por conta da popularidade, Chochoba protagonizou uma rivalidade contra a passistaPaula do Salgueiro,[nota 2] que além de disputarem, travavam críticas sobre “desfile para jurí” contestando para a mídia os critérios, as notas e exaltando um carnaval popular sem competições.[9]
Por conta da sua assídua presença noCarnaval do Rio de Janeiro e participar de um filme italiano sobre o tema, aumentou a notoriedade de sua participação nos eventos de Mangueira.[5] Após a presença de Oiticica nesse mesmo espaço, Chochoba foi convidada para fazer parte do projetoParangolés, sendo fotografada por Andreas Valentin com uma capa verde e rosa na obra intitulada "Parangolé P8, Capa 05 – Mangueira".[29] As obras do projeto receberam notoriedade internacional, onde Chochoba foi notada pelo filósofo francêsMaurice Merleau-Ponty, na conferência "O Homem e a adversidade".[22]
NoMorro da Mangueira, Chochoba desempenhou funções administrativas na escola de samba, pelo menos, desde 1940, organizando festas e fazendo parte de comissões promotoras de eventos.[30] Por conta dessa presença assídua, construiu uma identidade na comunidade, sendo reconhecida porCartola como "o despertador do morro", por cantar com uma voz poderosa logo no amanhecer do dia.[20] Após seu falecimento, foi reconhecida em exposições sobre "história do samba e sua gente" no "Museu do Samba", doCentro Cultural Cartola.[31] Em 2014, oPrograma de Aceleração do Crescimento transformou a Travessa Saião Lobato, na Mangueira, em um "Corredor Cultural". A casa de Chochoba se tornou um dos pontos turísticos do projeto.[32][33]
Nocarnaval de 2022 da Mangueira, que homenageou três personalidades do Morro:Cartola,Jamelão eDelegado, Chochoba foi novamente lembrada. Na décima nona ala do desfile, chamada de "Nota Dez", foi um tributo às notas máximas desempenhadas por Delegado nas disputas, com Chochoba sendo uma das suas companheiras. Na vigésima ala, chamada de "Ele e Elas", homenageia as portas-bandeira que acompanharam Delegado, sendo Chochoba novamente relembrada com uma foto sua nas fantasias.[34]
| Ano | Título | Personagem | Nota | Ref |
|---|---|---|---|---|
| 1967 | Una rosa per tutti | Sambista | Longa-metragem; não creditada | [35][5] |
| 1979 | H.O. | Ela mesma | Curta documentário; não creditada | [36][37] |
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