Após sua fundação, tornar-se-ia capital doReino da Bitínia(297–74 a.C.) e mais tarde, sob aRepública Romana(509–27 a.C.), daprovíncia daBitínia. Noséculo I a.C., começou a cunhar moedas e abrigou o fugitivoSexto Pompeu aquando de sua derrota naBatalha de Nauloco (36 a.C.) contraMarco Vipsânio Agripa, vindo depois a dedicar precinto em honra aOtaviano. Sob oImpério Romano(27 a.C.–395 d.C.), foi vítima de um importante incêndio sob a administração dePlínio, o Jovem, como relatado nas cartas aoimperadorTrajano(r. 98–117). Apesar disso, floresceu por séculos e abrigou uma guarnição e uma estação docorreio imperial e damarinha. Se sabe que foi visitada pelos imperadores, que ali invernaram, e que recebeu o estatuto decolônia durante o Império Romano Tardio (século III-V).
Nicomédia se localizava na área da atualIsmite, naTurquia. SegundoEstrabão, estava no recesso mais profundo do golfo Astaqueno, oposta aÁstaco.[1] Esta a cerca de 91 quilômetros a sudeste daIstambul (antigasBizâncio eConstantinopla). Por estar num golfo, era importante cidade portuária, ao mesmo tempo em que teve papel nas comunicações terrestres entre aEuropa eÁsia peloBósforo, pois a estrada que ligava os dois continentes tinha uma de suas paradas no sítio. Nessa posição, tinhaNiceia como rival.[2]
Nicomédia foi a refundação de uma cidade anterior chamada Ástaco (emlatim:Astacus; emgrego clássico:Αστακός;romaniz.:Astakós; lit. "lagosta")[3] fundada pelaCalcedônia (Caronte de Lâmpsaco) ouMégara (Estrabão eMemnão de Heracleia) em data indeterminada; Estrabão e Memnão dão o ano de712/711 a.C. à fundação, mas atualmente os estudiosos preferem data posterior, noséculo VII a.C., já que assumem ser mais plausível que tenha sido fundada pela Calcedônia, que só foi fundada por volta de675 a.C..[4] Foi destruída porLisímaco(r. 306–281 a.C.) e refundada como Nicomédia, quiçá num processo desinecismo da antiga Ástaco e deÓlbia, a outra colônia grega na região, de provável origem megarense.[5] Seu refundador foi oreiNicomedes I(r. 278–255 a.C.), que a fez capital doReino da Bitínia e o episódio ocorreu pouco antes de260 a.C.;[1] alguns autores defendem o ano de264 a.C..[6] É possível ainda queZipoício, o sítio pré-Nicomédia começado porZipoetes I(r. 326–278 a.C.), pai de Nicomedes, seja o núcleo original do sítio novo.[7]
Ditizele, a primeira esposa de Nicomedes, foi sepultada na cidade de acordo comArriano. No sítio foi descoberta inscrição fragmentada que registra um decreto no qual se cita suabulé e o rei Prúsias, sejaPrúsias I(r. 228–182 a.C.) ouPrúsias II(r. 182–149 a.C.). Cunhou moedas desde oséculo I a.C., aquando da conquista pelaRepública Romana(509–27 a.C.), que a transformou em capital daprovíncia daBitínia. O generalSexto Pompeu, após sua derrota naBatalha de Nauloco (36 a.C.) perante as forças do generalMarco Vipsânio Agripa, fugiu ao leste e passou pela cidade; poucos anos depois, Otaviano (futuroimperadorAugusto) deixou os bitínios consagrarem precinto em seu nome.[2]
Sob oImpério Romano(27 a.C.–395 d.C.), há evidências de algumastribos (Dia, Hiera, Asclépias e Posidônias), bem como que tinha nomes adicionais de Adriana (referência aAdriano(r. 117–138)) e Severiana (alusão aSétimo Severo(r. 193–211)).[1] Foi comum a sua menção nas cartas dePlínio, o Jovem(61/62–114), que na condição de governador da Bitínia, trouxe à atenção deTrajano(r. 98–117) a situação dos edifícios (senado,aqueduto,fórum, templo deCibele, etc.) e do suprimento de água e notificou o incêndio que a avariou muito.[8] Em passagens deDião Crisóstomo(40–115) é evocada sua prosperidade e crescimento. Se sabe ainda que os imperadores a visitavam e invernavam, que tinha guarnição e abrigou estação docorreio imperial e damarinha.[2] A contar do Império Romano Tardio (século III-V), gozou da posição decolônia.[8] Em 256, foi atacada porgodos. SobDiocleciano(r. 284–305), tornar-se-ia capital oriental e a cidade mais adornada do império,[2] recebendo palácio,hipódromo, casa da moeda e arsenal.[9][10]
Em 303, foi epicentro daperseguição aos cristãos. Em 23 de fevereiro, por ocasião do festival daTerminália, Diocleciano ordenou que a recém construída igreja local fosse arrasada, suas escrituras incendiadas e suas pedras preciosas tomadas.[11] A destruição causou pânico na cidade e, no fim do mês, um incêndio destruiu parte do palácio imperial, seguido 16 dias depois por outro. Apesar de ter sido feita investigação, nenhum partido foi oficialmente acusado, mas o coimperadorGalério colocou a culpa nos cristãos. Supervisionou a execução de doiseunucos do palácio, que alegou terem conspirado com cristãos, seguidos por mais seis execuções até o fim de abril. Pouco depois, declarou a Nicomédia como insegura e partiu paraRoma, seguido por Diocleciano.[12] Na perseguição, vários foram os cristãos martirizados em Nicomédia, dentre os quais:Ântimo,[13]Dásio, Zótico e Caio,[14]Doroteu e Gorgônio,[15]Evécio,[16]Migdão,[17]Pantaleão,[18]Pedro,[19]Teopempto e Teonas,[20]Trófimo e Eucárpio[21] e os20 000 mártires.[22]
A cidade continuou servindo de sede aos imperadores, sobretudo quando montavam incursões no Oriente contra oImpério Sassânida(224–651).[8] Em 330,Constantino(r. 306–337) fundou Constantinopla e transferiu a sede oriental para lá, iniciando o lento declínio do assentamento.[2] Em 337, Constantino foi até Nicomédia, onde foi batizado pelo bispoEusébio pouco antes de falecer em 22 de maio.[23] Depois disso, a cidade reteve alguma importância como sede provincial e da escola de filosofia chefiada porLibânio, mas os sismos ocorridos nos séculos IV e V,sobretudo o de 358, a debilitaram de modo que nunca mais se recuperou.[10]
Seu bispoTeofilacto(ca. 800–815) construiu um complexo que englobava hospício e mosteiro e umxenodóquio imperial foi criado noséculo IX,[10] mas o sítio foi descrito poribne Cordadebe(820–912) como em ruínas, quiçá pois a cidade portuária foi abandonada em detrimento de uma colina defensável. Com o expansão dosseljúcidas a Constantinopla após atomada de Niceia em 1081, serviu de base aos esforços deAleixo I(r. 1081–1118) para reter a zona costeira. APrimeira(1096–1099) eSegunda Cruzadas(1147–1150) lhe cruzaram;Eudo de Deuil descreveu-a como cidade cujas ruínas estavam cobertas com espinhos e arbustos.[10]
Após aQuarta Cruzada (1204), ficou em posse doimperadorTeodoro I(r. 1204–1221), que derrotou oimperadorDavi I(r. 1204–1212) em suas cercanias. Em 1206, foi tomada peloImpério Latino e por seus muros estarem em ruínas, a Igreja de Santa Sofia foi fortificada e tornar-se-ia seu principal castelo. Um tratado de 1207 retornou-a para Teodoro e suas fortificações foram demolidas, mas em seguida os latinos a retomariam e manteriam-na até ca. 1240, quandoJoão III(r. 1221–1254) a recapturou. Ficou à mercê de ataques dobeiOsmã I(r. 1299–1323/1324), que infligiu pesada derrota às tropas bizantinas nascercanias de Bafeu em 1302. Com isso, a população que residia nos campos se refugiou no interior das muralhas e osturcomanos pilharam as cercanias. Em 1304 e 1330, foi bloqueada e ameaçada com fome, mas na última ocasiãoJoão VI(r. 1347–1354) salvou-a com afrota. Em 1337,caiu aOrcano I(r. 1326–1359).[29] Com sua conquista, tornar-se-ia capital dosanjaco de Cojaéli, um dos mais antigos do Beilhique Otomano(1299–1389), o Estado que originou oImpério Otomano(1389–1922).[30]
Ruínas de aquedutoSítio descoberto após o terremoto
Suas ruínas estão soterradas sob a moderna e densamente povoadaIsmite, que obstruiu muito as escavações. Poucas escavações ocorreram e muito do que poderia ser visto noséculo XIX não é mais visível.[2] Osismo de Ismite, em 1999, que fez enorme estrago na cidade, também revelou muitos artefatos na subsequente remoção de detritos, como as estátuas deHércules eAtena e um painel representando Diocleciano e Constantino. Nos anos seguintes, a Diretoria Cultural da Província de Ismite se apropriou de áreas para escavação, incluindo o Palácio de Diocleciano e um teatro. Em abril de 2016, uma escavação mais extensa do palácio foi iniciada sob supervisão doMoseu de Cojaéli, que estimou que o local ocupa 60 000 metros quadrados.[31] Os artefatos do sítio estão abrigados nos museus arqueológicos de Istambul eEsmirna.[2]
Com as escavações feitas antes de 1999 foram identificados um edifício helenístico de uso desconhecido, elementos demármore dumninfeu doséculo II, restos de dois ou três aquedutos, um deles helenístico, e uma grandecisterna romana tardia, cujos drenos antigos estiveram em uso até 1933 e que estava sob um cemitériojudeu. Seus muros, erigidos por Diocleciano, têm restaurações e acréscimos bizantinos e turcos e são compostos por fileiras de tijolos alternados com fileiras de pedras. No limite nordeste há restos duma torre alta e, ao lado, o portão da estrada ao norte. Parte dos muros do porto, perceptíveis até o início doséculo XX, eram de alvenaria romana.[2] Sobrevive ainda a fortaleza de colina dos séculos XII-XIV.[32] A cerca de oito quilômetros ao norte de Ismite, provavelmente dos reis da Bitínia.[2]
Inscrições, moedas e textos citam obras perdidas: templo deRoma (29 a.C.) no qual faziam reuniões da assembleia provincial; templo deDeméter e estruturas associadas, num grande recinto retangular na colina visível do porto; teatro; rua decolunata, cujos fragmentos sobrevivem, que talvez ligava o templo de Deméter ao porto; fórum; templo deÍsis; salão àgerúsia; templo aCômodo(r. 177–192); e precinto para Otaviano. Diocleciano ergueu seu palácio, arsenal, casa da moeda e novos estaleiros.[2] Libânio, em relação ao sismo de 358, comentou da perda determas,basílicas, templos, ginásios, escolas e jardins públicos, alguns dos quais refeitos por Justiniano.[8] Uma moeda citou Adriano como "Restituidor de Nicomédia" (emlatim:Restitutor Nicomedine). Plínio, o Jovem, e mais tarde Justiniano eSolimão, o Magnífico(r. 1520–1566), esperaram terminar um canal, há muito proposto e nunca realizado, que ligaria oPropôntida aoPonto Euxino via Nicomédia, ou seja, ligando olago Sabanja (lago Sunonense deAmiano Marcelino) ao sistema dorio Sangário (Sacaria).[2]
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