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ONascimento de Jesus, chamado também deNatividade, é uma referência aos relatos donascimento deJesus presentes principalmente nos evangelhos deLucas eMateus, mas também em algunstextos apócrifos.
Osevangelhos canônicos de Lucas e Mateus contam que Jesus nasceu emBelém, naprovíncia romana daJudeia de uma mãe aindavirgem. No relato do Evangelho de Lucas,José eMaria viajaram deNazaré para Belém para comparecer a um censo e Jesus nasceu durante a viagem numa simplesmanjedoura.[1] Anjos o proclamaram salvador de todas as pessoas e pastores vieram adorá-lo. No relato de Mateus, astrônomos seguiramuma estrela até Belém para levar presentes a Jesus, nascido o "rei dos judeus". O reiHerodes ordenou em seguida o massacre de todos os garotos com menos de dois anos da cidade, mas a família de Jesus conseguiu escapar para oEgito e, depois que Herodes morreu, voltou para Nazaré.
Muitos acadêmicos defendem que as duas narrativas são não históricas e contraditórias.[2][3][4][5] Outros estudiosos cristãos defendem o contrário, ou seja, que não há contradição alguma e destacam as similaridades entre os relatos.[6] Finalmente, há os que entendem que a discussão sobre a historicidade dos evangelhos é secundária, argumentando que eles foram escritos como documentos teológicos e não como cronologias históricas.[7][8][9][10]
A principal celebração religiosa entre os membros daIgreja Católica e de diversos outros grupos cristãos é o serviço religioso daVéspera de Natal ou o da manhã doDia de Natal. Durante os quarenta dias que levam ao Natal, aIgreja Ortodoxa pratica oJejum da Natividade, enquanto que a maioria das congregações cristãs (incluindo a Igreja Católica, aComunhão Anglicana, muitas igrejasprotestantes e osbatistas) iniciam a observância da temporada litúrgica doAdvento quatro domingos antes do Natal — para todos, o período é de limpeza e renovação espiritual para a celebração do nascimento de Jesus. Na Igreja Católica, a Natividade de Jesus é o terceiro mistério gozoso doSanto Rosário.
Nateologia cristã, o nascimento é aencarnação de Jesus comosegundo Adão, a realização da vontade de Deus com o objetivo de desfazer o dano provocado pela queda doprimeiro Adão. Asrepresentações artísticas da Natividade tem sido um grande tema para osartistas cristãos desde o século IV. A partir do século XIII, opresépio enfatiza a humildade de Jesus e promove uma imagem mais terna de Jesus, um importante ponto de inflexão em relação às mais antigas imagens do Jesus "Senhor e Mestre", o que acabou por influenciar o ministério pastoral do cristianismo.[11][12][13]
Contudo, muitos eventos do relato de Lucas não estão em Mateus — por exemplo, a viagem de Nazaré para Belém — e outros aparecem apenas em Mateus, como aFuga para o Egito.[18][19][20]
A Natividade é um elemento importante do Evangelho de Lucas e abrange mais de 10% do texto. Seu relato é três vezes mais longo que o de Mateus e maior do que muitos livros do Novo Testamento.[21]Lucas não se apressa para chegar ao nascimento e prepara-se para o evento narrando diversos episódios anteriores[21]: ele é o único a relatar o nascimento deJoão Batista, um episódio que ele utiliza para traçar paralelos com o nascimento de Jesus,[22] por exemplo, entre a visita do anjo (Lucas 1:5–25) aZacarias sobre o nascimento de João Batista e aAnunciação a Maria (Lucas 1:26–38) a respeito do nascimento de Jesus ou também entre aCanção de Zacarias (Lucas 1:57–80) sobre João e aCanção de Simeão (Lucas 2:1–40) sobre Jesus.[22] Porém, enquanto Lucas dedica apenas dois versículos (Lucas 1:57–58) ao nascimento de João, o nascimento de Jesus aparecem em vinte (Lucas 2:1–20).[23] Lucas então liga os dois nascimentos no episódio daVisitação[21] e afirma que Maria eIsabel são primas.[24] Não existe menção de parentesco entre João e Jesus nos demais evangelhos e o estudiosoRaymond E. Brown afirma que o fato é de"duvidosa historicidade".[25]Géza Vermes o chama de"artificial e indubitavelmente uma criação de Lucas".[26]
Em Lucas, Maria fica sabendo peloanjo Gabriel que irá ter um filho chamado Jesus. Quando ela pergunta como seria possível, dado que era ainda umavirgem, Gabriel afirma que oEspírito Santo«virá sobre ti [ela]» (Lucas 1:35) e que«nenhuma palavra, vinda de Deus, será impossível» (Lucas 1:37). Sua resposta ficou depois famosa:«Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lucas 1:38). DepoisMaria visita uma parente,Isabel, que está grávida deJoão Batista.
Quando Maria está perto dedar à luz, ela e o marido viajam deNazaré para a terra ancestral de José emBelém para se registrarem nocenso de Quirino (Lucas 2:2). Maria entra emtrabalho de parto e, sem conseguir encontrar um lugar para se hospedar, o casal se refugia com o recém-nascido numa manjedoura (Lucas 2:1–7).
Umanjo visita os pastores que estavam nas redondezas e lhes leva«uma boa nova de grande gozo» (Lucas 2:10):«Hoje vos nasceu na cidade de Davi um Salvador, que é Cristo Senhor» (Lucas 2:11). O anjo conta que encontrarão a criança embrulhada em panos e deitada numa manjedoura. Ao anjo se junta uma«multidão da milícia celestial» (Lucas 2:13) que canta«Glória a Deus nas maiores alturas, E paz na terra entre os homens a quem ele quer bem.» (Lucas 2:14) Os pastores correram para o estábulo em Belém e lá encontraram Maria, José e Jesus. Eles repetiram o que ouviram do anjo e depois retornaram aos seus rebanhos (Lucas 2:16–20). Maria e José levaram depois Jesus atéJerusalém para sercircuncidado (Lucas 2:22) antes de retornarem todos para Nazaré (Lucas 2:39).
A mensagem do anjo a José emMateus 1:21 inclui a origem do nome Jesus e adquireimplicações salvíficas quando o anjo instrui José:«a quem chamarás JESUS; porque ele salvará o seu povo dos pecados deles» (Mateus 1:21).[28][29] É o único ponto de todo o Novo Testamento no qual o termo "salvar [seu povo]" aparece junto com "pecados" criando uma relação de causa e efeito.[30][28][31][32]
Estudiosos há muito debatem seMateus 1:22–23 foi dito pelo anjo ou por Mateus.[33] Porém, Mateus 1:23 é, sem dúvida, a base para o uso do nome "Emanuel" ("Deus está conosco").[31] O nomeEmanuel — das palavrashebraicas אֵל (’El - "Deus") e עִמָּנוּ (ʻImmānū - "conosco") — está relacionado comIsaías 7:14 e esta é mais uma de mais de uma dúzia ocorrências neste evangelho na qualMateus, enquanto discute Jesus como sendo a realização de antigas profecias, faz referência ao livro de um dos profetas.[31][32]
EmMateus 2:1–12, aEstrela de Belém revela o local do nascimento de Jesus para um número (tradicionalmente três) dos"magos" (emgrego:μάγος; emlatim:magi), geralmente traduzido como "magos" ou "sábios",[34][35] que viajaram até Jerusalém vindos de um país desconhecido "no oriente" (Mateus 2:1–4).
Os magos visitaram primeiroHerodes, o Grande, e perguntaram onde poderiam encontrar o recém-nascido "rei dos judeus". Herodes questionou seus conselheiros onde oMessias nasceria e eles responderam que seria em Belém, a terra natal dorei David, citando o profetaMiqueias (Miqueias 5:2–4). Herodes pediu aos magos que seguissem para lá e que depois voltassem para reportar se tinham conseguido encontrar a criança (Mateus 2:4–6).
Conforme os magos viajavam para Belém, a estrela«ia adiante deles» (Mateus 2:9) levando-os para uma casa onde encontraram eadoraram Jesus. Eles lhe deram presentes deouro,incenso emirra (Mateus 2:9–11), conforme previsto emIsaías 60, um capítulo que trata da peregrinação apocalíptica dos pagãos aSião (Zion). No caso de Jesus, era a elite pagã que estava naquele momento com Jesus enquanto a elite do povo escolhido de Israel (osjudeus) estava contra ele.[36]
Num sonho, os magos foram alertados por Deus de que Herodes pretendia matar Jesus, a quem ele via como rival, e, por isso, voltaram para casa sem dizer-lhe onde encontrar o menino.Em sonho, um anjo então pede a José quefuja com a família para o Egito. Enquanto isso, Herodes, furioso, ordenou que todos os garotos com menos de dois anos de Belém fossem assassinados, o infame "Massacre dos Inocentes". A afirmação de Herodes emMateus 2:16–18 sobre garotos com dois anos ou menos sugere que os magos teriam chegado a Belém muitos meses depois do nascimento de Jesus.[37]
Depois da morte de Herodes, a família retornou do Egito, mas ficaram com medo de voltar para Belém por que o filho de Herodes governava aJudeia. Por isso, foram direto para aGalileia e se assentaram emNazaré, realizando, segundo Mateus, outra profecia:«Ele será chamado Nazareno» (Mateus 2:23).
A maioria dos estudiosos da corrente principal (mainstream) não acredita que os relatos da Natividade de Lucas e Mateus sejam historicamente factuais.[2][3][4][5][38] Outros acreditam que esta discussão é secundária, pois os evangelhos foram escritos primariamente como documentos teológicos e não como cronologias históricas.[7][8][9][10] Como exemplo, eles citam que Mateus presta muito mais atenção ao nome da criança e às suas implicações teológicas do que ao evento do nascimento em si[31] e, segundoKarl Rahner, os evangelistas demonstram pouco interesse em sincronizar os episódios do nascimento ou da vida posterior de Jesus com a história secular da época.[39]
Como resultado, estudiosos modernos geralmente não fazem uso das narrativas da Natividade como fonte de informações históricas.[5][40] Seja como for, a narrativa do nascimento contém algumas informações biográficas úteis e o fato de ele ter nascido perto do fim do reinado de Herodes ou nome de seu pai (José) são considerados "historicamente plausíveis".[40][41]
Tradicionalmente, as narrativas bíblicas eram consideradas aPalavra de Deusinerrante. Alguns famosos estudiosos cristãos modernos ainda defendem esta visão, argumentando que os dois relatos são historicamente corretos e não se contradizem entre si, destacando as similaridades entre eles:[6] o nascimento em Belém e onascimento virginal. Em 1997, uma pesquisa revelou que 31% dosvigários anglicanos naInglaterra não acreditavam no nascimento virginal,[42] por exemplo.
George Kilpatrick e, separadamente,Michael Patella defendem a mesma tese e acrescentam ainda a infância em Nazaré como similaridade entre os dois. Os dois afirmam que, apesar de haver diferenças entre eles, uma narrativa geral pode ser construída combinando os dois.[43][44]
Nem Lucas e nem Mateus afirmam que suas narrativas sejam baseadas no testemunho direto de Maria ou de José.[45]James Hastings e, separadamente, Thomas Neufeld afirmam que as circunstâncias do nascimento foram mantidas deliberadamente restritas a um pequeno grupo de cristãos e mantidas em segredo por muitos anos depois de sua morte, o que explicaria as variações entre os dois relatos.[46][47]
Daniel J. Harrington afirma que, por conta da escassez de registros antigos, diversos problemas sobre a historicidade de alguns episódios da Natividade jamais poderão ser completamente determinados e que a mais importante tarefa é decidir o que está narrativa significava para as primeiras comunidades cristãs.[48]
Diversosestudiosos bíblicos, deBernard Orchard e Reuben Swanson até Cox e Easley, tentaram demonstrar como os textos das duas narrativas poderiam ser intercalados na forma de umaharmonia evangélica para criar um único relato que começa com a viagem de Nazaré para Belém, continua com o nascimento, aFuga para o Egito e termina com o retorno a Nazaré.[49][50][51][52][53]
Jeffrey A. Gibbs apresentou uma harmonização diferente, que foca emMateus 2:7–9. Segundo ele, Herodes e os magos já esperavam que a criança nasceria em Belém, que fica a uns poucos quilômetros ao sul de Jerusalém. A necessidade de uma estrela guiar os magos"sugere que Jesus não estava no lugar esperado".[54] Baseado em Lucas, este local desconhecido fora de Belém poderia ser Nazaré. Sem saber que a estrela levou os magos para lá, Herodes teria ordenado a execução dos meninos de Belém desnecessariamente.[54]
Muitosestudiosos modernos consideram as narrativas da Natividade como não históricas por estarem repletas de teologia e pelas discrepâncias entre os dois relatos.[40][55] Eles afirmam, por exemplo que o relato de Mateus sobre o aparecimento de um anjo a José num sonho, os magos, o massacre e a fuga para o Egito não tem paralelo em Lucas, que, por sua vez, descreve sozinho a aparição de um anjo a Maria, um censo, o nascimento numa manjedoura e o coro de anjos.[56]
A maioria dos estudiosos modernos aceita a hipótese daprioridade de Marcos, ou seja, que os relatos de Lucas e Mateus teriam se baseado noEvangelho de Marcos, mas que as narrativas da Natividade teriam sido baseadas das fontes independentes de cada um deles — conhecidas comofonte M para Mateus efonte L para Lucas — e foram adições posteriores.[57]
Além disso, os estudiosos também rejeitam a historicidade dos relatos do nascimento especificamente, narrados de forma diferente e apresentando diferentesgenealogias.[3][4][5][40][58] EnquantoVermes eSanders descartam o relato completamente como ficções piedosas,Brown acredita que eles foram construídos com base em tradições históricas mais antigas que os evangelhos.[59][60][61]
De acordo com Brown, não há um consenso único entre os estudiosos sobre a historicidade dos relatos e, entre os que acreditam neles, há os que rejeitam o nascimento em Belém defendendo outras cidades, principalmente Nazaré, mas tambémCafarnaum e até mesmo a distanteCorazim.[62]Bruce Chilton e o arqueólogo Aviram Oshri propuseram um nascimentoBelém da Galileia, um local a dez quilômetros de Nazaré onde foram escavados artefatos da época de Herodes, o Grande.[63][64] Armand P. Tarrech afirma que a hipótese de Chilton não tem suporte nas fontes cristãs e nem judaicas, apesar de Chilton aparentemente ter levado a sério o fato de que José«subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém» (Lucas 2:4).[65]
A maior parte das biografias modernas de Herodes negam que o massacre tenha ocorrido.[66] Steve Mason afirma que, se o Massacre dos Inocentes tivesse ocorrido como relata Mateus, seria muito estranho queFlávio Josefo não o tenha citado, negando por isso a historicidade do evento.[67] Sanders, da mesma forma, caracteriza o estilo de Josefo como convencido da crueldade de Herodes, sugerindo que ele teria incluído o evento em seu relato se ele tivesse ocorrido.[4] Ele prossegue afirmando que, tendo pouca informação de fato histórica, Mateus teria aparentemente baseado sua história no relato do jovemMoisés, que foi ameaçado pela ordem dofaraó de matar todos os meninos hebreus e que este tipo de utilização dasEscrituras para contar a história do nascimento de Jesus era considerado legítimo para os padrões da época.[4]
Há também aqueles que defendem a historicidade do massacre.R. T. France afirma que o massacre foi um evento de baixo impacto que não teria chamado a atenção de Josefo, apesar de ser típico dele em sua concepção.[68]Paul L. Maier argumenta que Belém era uma cidade pequena e que o massacre seria um evento irrelevante para Josefo, que nasceu, supostamente, mais de quarenta anos depois[69]Paul Barnett e, separadamente,Craig L. Blomberg defendem o mesmo, acrescentando que o número de crianças seria muito pequeno para atrair a atenção dos historiadores.[70][71]
Mapa da região doLevante na época do Nascimento de Jesus. O domínio deHerodes Antipas em rosa, o deFilipe em verde e em laranja os territórios sob controle direto dos romanos.
Duas abordagens diferentes tem sido utilizadas para estimar o ano do nascimento de Jesus, uma analisando os relatos da Natividade nos evangelhos de Lucas e Mateus e relacionando-os a outros dados históricos, e a outra vindo de trás para frente a partir da data estimada do início doministério de Jesus.[72][73]
Os relatos dos evangelhos de Mateus e Lucas não mencionam uma data ouestação do ano para o nascimento de Jesus eKarl Rahner afirma que os evangelhos, de forma geral, não proveem informações cronológicas suficientes para satisfazer as demandas de um historiador moderno.[39] Mas tanto um quanto outro associam o nascimento de Jesus com a época deHerodes, o Grande[39] e, por isso, a maior parte dos estudiosos geralmente assume uma data para o nascimento entre 6 e 4 a.C.[74]
Porém, muitos estudiosos enxergam nos relatos uma contradição, pois enquanto o Evangelho de Mateus localiza o nascimento de Jesus durante o reinado de Herodes, que morreu em 4 a.C., o Evangelho de Lucas o faz dez anos depois da morte dele, durante ocenso de Quirino, descrito pelo historiadorJosefo.[39] A maioria acredita que Lucas teria simplesmente se enganado,[75] enquanto outros tentaram reconciliar relato com os detalhes fornecidos por ele,[76][77] utilizando abordagens que vão desde "erros gramaticais" — a tradução da palavragregaprote, utilizada em Lucas, deveria ser lida como"registro [censo] antes de Quirino ser governador da Síria" — até argumentos arqueológicos e referências aTertuliano sugerindo um"censo em duas fases" — que teria envolvido um registro inicial, baseado emLucas 2:2, que cita um"primeiro recenseamento".[53][78][79][80] Géza Vermes descarta estas tentativas como sendo"acrobaciasexegéticas".[81]
Apesar da celebração do Natal em dezembro, nem Lucas e nem Mateus mencionam uma estação do ano para o nascimento de Jesus. Porém, argumentos acadêmicos sobre o realismo dos pastores deixando seus rebanhos pastando no inverno já foram propostos, tanto disputando um nascimento no inverno (nohemisfério norte) para Jesus quanto defendendo-o com base na brandura dos invernos em Israel e nas regrasrabínicas sobre ovelhas perto de Belém antes de fevereiro.[82][83][84]
Segundo Santo Agostinho, em seu livro De Trinitate, 4º volume, a data do Natal foi estabelecida em 7 de Janeiro (hoje em dia modificada para 25 de Dezembro) porque uma tradição afirma que a concepção de Jesus foi no dia 8 de Abril e a gestação ocorreu durante 9 meses exatos. Eis o que diz o Pai da Igreja:
"Octauo enim kalendas apriles conceptus creditur quo et passus; ita monumento nouo quo sepultus est ubi nullus erat positus mortuorum nec ante nec postea congruit uterus uirginis quo conceptus est ubi nullus eminatus est mortalium. Natus autem traditur octauo kalendas ianuarias."[85]
Uma abordagem para estimar o ano do nascimento de Jesus independente dos relatos da Natividade envolve contar o tempo para trás a partir da afirmação em3 23: de que Jesus"tinha cerca de trinta anos" quando começou a pregar.[72][86]
Três independentes formas de estimar as datas desta forma foram propostas: a primeira utilizando o«décimo quinto ano do reinado deTibério César» (Lucas 3:1), a segunda via uma referência durante a disputa entre Jesus e osfariseus emJoão 2:20 ("Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu o levantarás em três dias?") e finalmente a terceira com base na referência de Flávio Josefo àprisão eexecução de João Batista.[87] Esta última se relaciona ao período doministério de Jesus, mas as duas anteriores são referências à data quando ele começou a pregar.
Calculando de trás para a frente desta forma, alguns estudiosos estimaram o ano de 28 d.C. como sendo, a grosso modo, o 32º aniversário de Jesus e, portanto, que ele teria nascido entre 6 e 4 a.C.[72][86][88]
Igreja da Natividade emBelém, cujo edifício original foi construído porSanta Helena, no século IV, sobre o local onde tradicionalmente se acredita ter nascido Jesus.Mosaicos da Igreja da NatividadeGruta da Igreja da Natividade
Lucas e Mateus afirmam que Jesus nasceu emBelém (Mateus 2:1;Lucas 2:4). Embora Mateus não afirme a origem de José ou onde ele morava antes do nascimento,[89][90] o seu relato deixa a impressão que a família vivia em Belém.[91] Porém,Lucas 1:26–27 claramente afirma que Maria vivia em Nazaré antes do nascimento de Jesus.[90]
O relato de Lucas afirma que Maria deu à luz Jesus e o deitou numa manjedoura«porque não havia lugar para eles na hospedaria» (Lucas 2:7).[92] A palavra grega"kataluma" pode ser trazida tanto como "hospedaria" quanto como "quarto de hóspedes" e alguns estudiosos já propuseram que José e Maria teriam tentado ficar na casa de parentes ao invés de numa hospedaria, mas as encontraram lotadas (e por isso decidiram se abrigar numa sala com uma manjedoura[93]).
No século II,Justino Mártir afirmou que Jesus teria nascido numa caverna fora da cidade em linha com oapócrifoProtoevangelho de Tiago, que relata um nascimento lendário numa caverna próxima.[94][95] AIgreja da Natividade, em Belém, foi construída porSanta Helena e está sobre o local tradicional da caverna/manjedoura venerado como local de nascimento de Jesus e que pode ter sido no passado um santuário do deusTamuz.[96] Em "Contra Celso" 1.51,Orígenes, que viajou pela Palestina a partir de 215, escreveu sobre a "manjedoura de Jesus".[97]
Sanders considera que o censo de Lucas, no qual todos teriam sido obrigados a voltar para sua terra natal, como sendo historicamente pouco crível, dado que era contrário à prática dos romanos, que não teriam obrigado seus súditos a abandonarem suas casas para voltarem às suas terras natais para um simples registre e que as pessoas eram incapazes de retraçar suas linhagens quarenta e duas gerações para trás.[4]
Helmut Koester afirma que a narrativa de Mateus se formou num ambiente bíblico enquanto que a de Lucas tinha como objetivo ser atrativa nomundo greco-romano.[98] Particularmente, segundo ele, enquanto os pastores eram vistos com ressalvas pelos judeus na época de Jesus, na cultura greco-romana eles eram considerados como"símbolos de uma era de ouro quando deuses e homens viviam em paz e a natureza estava em harmonia".[98] Porém, C. T. Ruddick, Jr. afirma que as narrativas da Natividade de Lucas (tanto de Jesus quanto de João) foram baseadas emGênesis 27:43.[99] Seja como for, o relato de Lucas representa Jesus como salvador de todo o povo e sua genealogia retrocede até Adão, demonstrando sua humanidade em comum conosco, assim como seu nascimento em circunstâncias pouco nobres. Escrevendo para uma audiências degentios, Lucas retrata Jesus como salvador de gentios e judeus.[100] Mateus utiliza cotações dasEscrituras judaicas, cenas reminiscentes da vida deMoisés e um padrão numérico em sua genealogia para identificar Jesus como um "filho deDavid" e deAbraão. O seuprelúdio é muito maior que o de Mateus, enfatizando a era doEspírito Santo e a chegada de um salvador para todos os povos, gentios e judeus.[101]
Acadêmicos da corrente principal (mainstream) interpretam o relato de Mateus sobre a Natividade como representando Jesus como um novo Moisés, com uma genealogia que retrocede até Abraão.[102][103]
Segundo estes estudiosos, Mateus coloca Jesus no papel de um segundoMoisés: como ele, Jesus é salvo de um tirano assassino e foge de seu país natal até que seu perseguidor esteja morto e depois volta para casa como salvador de seu povo.[104]
Acadêmicos há muito debatem seMateus 1:22 eMateus 2:23 são uma referência a passagens específicas doAntigo Testamento. O versículo em Mateus 1:22,"Ora tudo isto aconteceu, para que se cumprisse o que dissera o Senhor pelo profeta", não menciona o profetaIsaías em documentos do século IV (como oCodex Sinaiticus), mas alguns manuscritos dos séculos V e VI (como oCodex Bezae), já apresentam a forma"Isaías, o profeta".[105]«Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho» (Mateus 1:23) utiliza o termo grego"parthenos" como "virgem" como o trecho de Isaías naSeptuaginta, ao passo que o mesmo trecho no muito mais antigotexto massorético utiliza a palavrahebraico"almah", que pode significar "donzela", "jovem mulher" ou "virgem".[106]
Já o versículo em Mateus 2:23,"para se cumprir o que foi dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno", não faz menção a uma passagem específica doAntigo Testamento e há diversas interpretações acadêmicas sobre ao que o trecho se refere.[107] B. Aland e outros estudiosos consideram o gregoΝαζωραιος, utilizado para "nazareno", como de origem eetimologia incerta,[108] mas M. Menken afirma que trata-se dogentílico dos "habitantes de Nazaré".[109] Ele também afirma que o trecho pode ser uma referência aJuízes 13:5–7.[110] Gary Smith afirma que "nazireu" pode significar "aquele consagrado a Deus", ou seja, umasceta, ou pode ser uma referência aIsaías 11:1.[111]
Queda do homem. Segundo o apóstoloPaulo, Jesus nasceu como um "novo Adão" ou "segundo homem", para redimir a herança de desobediência deixada pelo "primeiro homem",Adão
A Natividade tem importância central na doutrina cristã, desde a épocapatrística até os tempos atuais.[112][113][114] O primeiro a endereçar as questões teológicas do evento foiPaulo de Tarso e o debate continuou, dando origem a importantes diferençascristológicas emariológicas entre os cristãos que resultaram os primeiroscismas daIgreja no início do século V.
Paulo considerava o nascimento de Jesus como um modelo para toda acriação e sua doutrina sobre a questão está emColossenses 1:15–16:"[Ele] é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação. Pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, quer sejam tronos querdominações querprincipados querpotestades; todas as coisas têm sido criadas por ele e para ele".[115][116][117][118]
Além disso, Paulo entendia o nascimento de Jesus como um evento de importância cósmica que deu origem ao "novo homem" que desfez o dano provocado pelaqueda do primeiro homem,Adão. Da mesma forma que avisão joanina de Jesus como oLogos encarnado proclama a relevância universal de seu nascimento, a perspectiva paulina enfatiza o nascimento de um novo homem e de um novo mundo no nascimento de Jesus.[119] Nadoutrina de Paulo, Adão se posiciona como o primeiro homem e Jesus, o segundo: o primeiro, tendo se corrompido por sua desobediência, infectou também a humanidade e a deixou com uma maldição como herança. A visãoescatológica de Paulo, o nascimento de Jesus, por outro lado, contrabalançou a queda de Adão, trazendo a redenção e reparando o dano feito por ele.[120][119]
Na teologiapatrística, o contraste paulino de Jesus como novo homem versus Adão foi o ponto de partida para a discussão sobre a singularidade do nascimento de Jesus e dos eventos de sua vida. A Natividade passou a ser o início da "cristologia cósmica" na qual o nascimento, a vida e aressurreição de Jesus tem implicações universais.[119][121][122] O conceito de Jesus como "novo homem" repete o ciclo de nascimento e renascimento de Jesus, de seu nascimento até sua ressurreição: depois do nascimento, por sua moralidade e obediência aoPai, Jesus deu início a uma "nova harmonia" na relação entre Deus Pai e o homem. Desta forma, os dois eventos deram origem ao autor e ao exemplo a ser seguido de uma nova humanidade.[123]
Quando Ele se encarnou e foi feito homem, começou de novo uma longa linhagem de seres humanos e nos deu, de maneira rápida e abrangente, a salvação; para que o que havíamos perdido em Adão — existir de acordo com a imagem e semelhança de Deus — possamos recuperar em Cristo Jesus.
Ireneu foi também um dos primeiros teólogos a utilizar a analogia do "segundo Adão" e da "segunda Eva", que, segundo ele, era aVirgem Maria. Em sua obra, Ireneu afirma que Maria"desatou o nó do pecado atado pela virgem Eva" e que, assim como Eva havia tentado Adão a desobedecer a Deus, Maria abriu o caminho de obediência para o "segundo Adão" (Jesus), daAnunciação até oCalvário, para que ele pudesse nos salvar, desfazendo o dano feito por Adão.[124]
No século IV, esta singularidade nas circunstâncias relativas à Natividade de Jesus e suas inter-relações com o mistério da encarnação tornou-se o elemento central tanto da teologia quantohinódia deSanto Efrém da Síria. Para ele, à esta singularidade se somou o sinal de majestade do Criador, claramente perceptível pela habilidade de um Deus todo-poderoso de entrar neste mundo como um pequeno recém-nascido.[125] De Paulo, Agostinho citava«Pois assim como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos serão vivificados» (I Coríntios 15:22).[126]
Esta teologia persistiu durante aReforma Protestante e o "segundo Adão" era um dos seis modos deexpiação discutidos porJoão Calvino.[127] Noséculo XX, o proeminente teólogoKarl Barth continuou a mesma linha de raciocínio e propôs que a Natividade de Jesus seria o nascimento de um novo homem que sucedeu Adão. Porém, na teologia de Barth, Jesus, ao contrário de Adão, serviu como umFilho obediente na realização da vontade divina e era, portanto, livre do pecado e capaz, por isso, de revelar a justiça de Deus Pai e de salvar o homem.[112]
A Natividade de Jesus teve importantes consequências para o debatecristológico sobre apessoa de Cristo desde osprimeiros dias do cristianismo. A cristologia deLucas está centrada nadialética das duas naturezas das manifestações divina e terra da existência de Cristo, ao passo que a deMateus se foca na missão de Jesus e no seu papel como salvador da humanidade.[128][129]
A crença na divindade de Jesus levou à questão de se Jesus era um homem nascido de uma mulher ou Deus nascido de uma mulher. Diversas hipóteses e crenças sobre a natureza de seu nascimento circularam nos primeiros quatro séculos do cristianismo. O debate sobre o títuloTeótoco ("portadora/mãe de Deus") dado àVirgem Maria é um exemplo do impacto da mariologia na cristologia na época. Algumas destas hipóteses e doutrinas foram finalmente consideradasheresias — onestorianismo, por exemplo — enquanto outras levaram acismas e à formação de novos ramos da Igreja — aIgreja Assíria do Oriente, que existe até hoje.[130][131][132][133]
Aênfase salvífica deMateus 1:21 impactou muito depois o debate teológico e a devoção aoSanto Nome de Jesus.[29][134][135]Mateus 1:23 é fonte da "Cristologia de Emanuel" no Novo Testamento. Começando com este versículo, Mateus demonstra um claro interesse em revelar Jesus como "o Senhor entre nós" ("Emanuel") e em desenvolver a caracterização de Jesus como "Emanuel" em pontos chave de seu evangelho.[136] O nome em si não aparece mais nenhuma vez no Novo Testamento, mas Mateus parte dele emMateus 28:20 ("Eis que eu estou convosco todos os dias até o fim do mundo") para indicar que Jesus estará com os fiéis nofim dos tempos.[136][137]Ulrich Luz vai mais longe e afirma que o tema de "Emanuel" está presente em todo o Evangelho de Mateus entre 1:23 e 28:20, aparecendo implícita ou explicitamente em diversos outros versículos.[138]
Diversosconcílios ecumênicos se reuniram nos séculos IV e V para lidar com estes temas. OConcílio de Éfeso debateu aunião hipostática das naturezas humana e divina versus omonofisismo (uma única natureza), omiafisismo (duas naturezas unidas como uma só) e onestorianismo (duas naturezas distintas).[139][140] OConcílio de Calcedônia (451) foi muito influente e um ponto de inflexão nos debates cristológicos da época, pois, ao encerrar definitivamente a discussão iniciada em Éfeso, provocou uma grande divisão na Igreja — asIgrejas ortodoxas orientais, que existem até hoje. Em Calcedônia, a união hipostática foi decretada parte docredo e doutrina oficial da Igreja.[141][142][143][144]
No século V,papa Leão Magno utilizou a Natividade como elemento principal de sua teologia. Ele compôs dez sermões sobre o tema, dos quais sete sobreviveram, e o que ele proferiu no natal de 451 demonstra sua preocupação com o aumento da importância dada à festa do natal e enfatiza as duas naturezas de Cristo em linha com a doutrina cristológica da união hipostática.[145] Leão frequentemente utilizava estes sermões para atacar os pontos de vista contrários, mas sem declarar nominalmente seus adversários, utilizando assim a festa da Natividade para deixar claras as fronteiras do que seria considerado herético sobre o nascimento e a natureza de Cristo.[130]
No século XIII,São Tomás de Aquino tratou da questão sobre se o "nascimento" deveria ser aplicado à pessoa (oVerbo) ou apenas à natureza humana assumida. O assunto foi tratado em oito artigos distintos daSuma Teológica, cada um propondo uma questão diferente:"Deve a Natividade considerar a natureza ao invés da Pessoa?","Deve uma Natividade temporal ser atribuída a Cristo?","Deve a Santa Virgem Maria ser chamada de Mãe de Cristo?","Deve a Santa Virgem Maria ser chamada de Mãe de Deus?" e assim por diante.[146] Aquino distingui entre a pessoa nascida e a natureza na qual o nascimento se realiza,[147] resolvendo a questão argumentando que, segundo aunião hipostática, Cristo tem completamente duas naturezas, uma recebida do Pai, eterna e divina, e outra de sua mãe, temporal e humana. Esta abordagem resolveu o problema mariológico de Maria ter recebido o título deTeótoco, pois ela seria de fato a "mãe de Deus" (Jesus) em sua natureza humana.[147]
Durante aReforma Protestante,João Calvino argumentou que Jesus não foi santificado como"Deus manisfestado encarnado" (emlatim:Deus manifestatus in carne) apenas por causa de seunascimento virginal, mas através da ação doEspírito Santo"no instante de seu nascimento". Assim, Calvino argumenta que Jesus estava livre dopecado original e foi santificado quando nasceu para que sua geração fosse sem mácula, como era a geração antes daqueda de Adão.[148]
Nos séculos I e II, oDia do Senhor (domingo), a mais antiga celebração cristã, reunia diversos temas teológicos. No século II, aRessurreição de Jesus se separou na festa daPáscoa e, no mesmo século, aEpifania começou a ser celebrada no oriente em 6 de janeiro.[149] A festa dosmagos ("Dia de Reis") em 6 de janeiro pode estar relacionada à celebração pré-cristã da benção doNilo noEgito, que se realizava em 5 de janeiro, mas não é certo.[150] A festa da Natividade, que transformar-se-ia noNatal, era uma festa do século IV nocristianismo ocidental, particularmente em Roma e nonorte da África, embora não se saiba ao certo quando e nem onde ela foi celebrada primeiro.[151]
A primeira fonte citando 25 de dezembro como data do nascimento de Jesus foiHipólito de Roma (170–236), que escreveu no início do século III e se baseou na premissa de que a concepção de Jesus se deu noequinócio da primavera nohemisfério norte, que ele datou em 25 de março, nove meses antes do nascimento.[152] Há evidências históricas de que, em meados do século IV, as igrejas cristãs do oriente celebrassem o nascimento e oBatismo de Jesus no mesmo dia, em 6 de janeiro, enquanto que as do ocidente celebravam o nascimento em 25 de dezembro (provavelmente influenciadas pelosolstício do inverno no hemisfério norte). É certo também que, nesta época, os calendários de ambas incluíam as duas festas.[153] A mais antiga sugestão de uma festa do Batismo de Jesus em 6 de janeiro vem deClemente de Alexandria, mas não existe nenhuma outra menção ao evento até 361, quando conta-se que oimperadorJuliano teria participado de uma.[153]
Omanuscrito iluminado "Cronografia de 354", compilado em Roma, inclui uma referência à celebração do Natal.[154] Num sermão emAntioquia em 25 de dezembro dec. 386,São João Crisóstomo oferece informações mais específicas sobre a festa lá, afirmando que ela era celebrada havia apenas dez anos.[153] Por volta de 385, a festa do nascimento de Jesus foi separada do Batismo e passou a ser celebrada em 25 de dezembro emConstantinopla,Níssa eAmaseia. Num sermão em 386,Gregório de Níssa relacionou especificamente a festa da Natividade com a véspera domartírio deSanto Estêvão, celebrada no dia 26 de dezembro. Em 390, a festa já era realizada também emIcônio no mesmo dia.[153]
Nos séculos XIV e XV, a importância teológica da Natividade de Jesus foi ligada à crescente importância da natureza amorosa da devoção doMenino Jesus nos sermões de importantes figuras comoJean Gerson. Em seus sermões, além da natureza amorosa, Gerson destacava ainda o plano cósmico de Jesus para a salvação da humanidade.[157]
Na primeira parte do século XX, o Natal tornou-se uma "assinatura cultural" do cristianismo e de toda a cultura ocidental, mesmo em países como osEstados Unidos, que são oficialmente não religiosos. No início do século XXI, estes países começaram a prestar mais atenção aos sentimentos dos não cristãos durante as festas de Natal, abrindo espaço para manifestações de outras religiões.[158]
Os primeiros cristãos viam Jesus como "o Senhor" a e palavra"Kyrios" aparece mais de 700 vezes noNovo Testamento como referência a ele[159] e seu uso naSeptuaginta é também uma forma de atribuir a Jesus os atributos típicos de um Deus onipotente doAntigo Testamento.[159] O uso do termo é anterior à época dePaulo de Tarso, mas ele expande e elabora sobre o tema eu suasepístolas.[159]
As obras paulinas consolidaram entre os primeiros cristãos a imagem do"Kyrios" e seus atributos referentes não apenas à sua vitóriaescatológica, mas à sua "imagem divina" (emgrego:εἰκών;romaniz.:eikōn), a partir de cuja face brilha a Glória de Deus. Esta imagem persistiu entre os cristãos como a percepção predominante de Jesus por muitos séculos.[160] Mais do que qualquer outro título,"Kyrios" definiu a relação entre Jesus e os que acreditavam nele como Cristo: Jesus era o Senhor e Mestre que deveria ser servido com todo coração e que viria um dia para julgar suas ações.[161]
Os atributos de senhor associados com a imagem de"Kyrios" de Jesus também implicavam em seu poder sobre toda a criação (Filipenses 2:10).[162] Paulo em seguida analisou o passado e propôs que o domínio final de Jesus fora preparado já desde o princípio, começando com apré-existência e a Natividade, com base em sua obediência como imagem de Deus.[163] Com o tempo, principalmente por influência deAnselmo de Cantuária,Bernardo de Claraval e outros, esta imagem"Kyrios" de Jesus começou a ser suplantada por"uma imagem mais terna de Jesus", para cuja consolidação teve um papel fundamental a abordagem piedosa popular praticada pelosfranciscanos.[162]
O século XIII testemunhou um importante ponto de inflexão no desenvolvimento desta nova "imagem terna" de Jesus no cristianismo, pois os franciscanos começaram a enfatizar principalmente a humildade de Jesus, tanto no nascimento quanto na morte. A construção dopresépio porSão Francisco de Assis foi instrumental para retratar essa nova imagem de Jesus mais suave que contrastava com a poderosa e radiante imagem daTransfiguração (e a imagem"Kyrios") e enfatizava o caminho da humildade escolhido por Deus para realizar seu próprio nascimento.[11] Conforme aPeste Negra devastava a Europa medieval, duasordens mendicantes — franciscanos ebeneditinos — ajudavam os fieis a liderem com a tragédia. Um elemento da abordagem franciscana era a ênfase na humildade de Jesus e na pobreza de seu nascimento: a imagem de Deus era a imagem de Jesus e não um Deus severo e punitivo, ele próprio humilde no nascimento e sacrificado na morte.[12] O conceito de que um Criador onipotente poderia se despir de todo poder para conquistar o coração dos homens pelo amor e que pudesse ser colocado indefeso numa manjedoura era maravilhosa e tão tocante para os fiéis quanto o sacrifício damorte na cruz no Calvário.[13]
Assim, já no século XIII, as ternas alegrias da Natividade de Jesus foram acrescentadas à agonia de sua crucificação e um novo e amplo repertório de emoções religiosas oficialmente aprovadas foi apresentado aos fiéis, com significativos impactos culturais sentidos nos séculos seguintes.[13] Os franciscanos abordavam as duas extremidades deste espectro emotivo. Por um lado, a introdução do presépio encorajou a imagem terna de Jesus enquanto, por outro, o próprio Francisco de Assis tinha uma profunda devoção pelos sofrimentos de Jesus na Cruz e disse ter recebido seusestigmas como expressão do amor que tinha. A natureza dual da piedade franciscana, baseada na alegria da Natividade e no sacrifício da Crucificação tinham um profundo apelo para as populações urbanas e, conforme os frades franciscanos viajavam, estas emoções se espalharam pelo mundo, transformando a imagem"Kyrios" de Jesus definitivamente numa outra, mais terna, amorosa e misericordiosa.[13] Estas tradições não se limitaram à Europa e logo se espalharam para outras partes do mundo, como aAmérica Latina, asFilipinas e osEstados Unidos.[164][165]
De acordo com oarcebispo de CantuáriaRowan Williams, esta transformação, acompanhada pela proliferação da imagem terna de Jesus na imagem daMadona com o Menino teve um importante impacto no ministério cristão ao permitir que os cristãos sentissem a presença viva de Jesus como uma figura amorosa"quem está sempre ali para abrigar e cuidar dos que se voltam para ele em busca de ajuda".[166][167]
A narrativa da Natividade em Lucas deu origem a quatrocânticos muito conhecidos: o"Benedictus" ("Canção de Zacarias") e o"Magnificat" no primeiro capítulo e o"Gloria in Excelsis Deo" e o"Nunc Dimittis" ("Canção de Simeão") no segundo.[22] Estes "cânticos evangélicos" são atualmente parte integral da tradiçãolitúrgica cristã.[168] A estrutura paralelizada da narrativa de Lucas sobre os nascimentos de Jesus e João Batista passa por três dos quatro cânticos, com exceção do"Gloria".[169]
O"Magnificat" (Lucas 1:46–55) é a resposta de Maria ao anjo naAnunciação, um dos oitohinos cristãos mais antigos e provavelmente o mais antigohino mariano.[170] O"Benedictus" (Lucas 1:68–79) foi dito porZacarias e o"Nunc Dimittis", porSimeão.[171] Finalmente, o"Gloria in Excelsis" tradicional é mais longo que a linha de abertura que aparece emLucas 2:14 e é chamado geralmente de "Canção dos Anjos", pois foi por eles cantado durante aAnunciação aos pastores.[172]
Os três primeiros, se não forem da autoria do próprio Lucas, podem ter sua origem nos primeiros ritos litúrgicos ainda emJerusalém, mas a origem exata deles permanece obscura.[173]
As mais antigas representações artísticas da Natividade de Jesus estão nascatacumbas esarcófagos emRoma. Como visitantesgentios, os magos eram populares nestas cenas, que também traziam o ciclo do nascimento e morte de Jesus e ressaltavam sua importância cósmica representandoAdão e Eva. Porém, a mensagem inerente de pobreza e humildade da Natividade não caía bem com alguns romanos mais ricos, que embelezavam tanto a cena a ponto de algumas mostrarem Maria sentada num trono quando os magos chegaram.[174] No século XIV, começaram a aparecer imagens de Maria que combinavam atributos humildes terrenos com outros dignos de uma rainha no céu, como por exemplo as representações daMadona da humildade.[175]
Representações da Natividade são atualmente um componente normal das sequências ilustrando tanto ciclos daVida de Cristo quanto daVida da Virgem. Osícones da Natividade também trazem em si uma mensagem de redenção: a unificação de Deus com a matéria forma o mistério da Encarnação, um ponto de inflexão na perspectiva cristã sobre asalvação.[176]
NaIgreja Ortodoxa, os ícones da Natividade geralmente correspondem ahinos marianos específicos, como ocontácio:"A Virgem hoje deu à luz o Transubstancial e a terra ofereceu uma caverna ao Inaproximável...".[177] Em muitos ícones ortodoxos (geralmente acompanhados de seus respectivos hinos), dois elementos básicos são enfatizados. Primeiro, o evento retrata o mistério da Encarnação como a fundação da fé cristã e a natureza combinada de Cristo como Deus e homem. Segundo ele relaciona o evento à vida natural do mundo e suas consequências para a humanidade. De acordo comGregório de Níssa, a festa do Natal na Igreja Ortodoxa não é um festival da Criação, mas da Recriação e da Renovação.[177]
Como os judeus do século I, os primeiros cristãos rejeitavam o uso de instrumentos musicais em cerimônias religiosas e se contentavam com cantos ecantochões, levando finalmente à utilização do termoa cappella ("na capela") para este tipo de canto sem instrumentos.
Um dos primeiros hinos sobre a Natividade foi"Veni redemptor gentium", composto porSanto Ambrósio, emMediolano (modernaMilão), no século IV. No início do século seguinte, o poeta hispânicoPrudêncio escreveu "Do Coração do Pai", que contém novestanza dedicadas à Natividade e representou Jesus como criador do universo. No mesmo século, o poeta gaulêsSedúlio compôs"Das Terras Que Veem o Sol Nascer", sobre a humildade de Jesus.[174] O"Magnificat" é provavelmente o mais antigo hino mariano e se baseia na narrativa daAnunciação noEvangelho de Lucas.[170][171]
São Romano, o Melodista, teve um sonho daVirgem Maria na noite anterior à festa da Natividade e, quando acordou no dia seguinte, compôs seu primeiro hino "Sobre a Natividade" e continuou compondo hinos (provavelmente algumas centenas) até o final de sua vida.[178]Peças sobre a Natividade passaram a fazer parte dotropário, hinos na liturgia das igrejas derito bizantino, a partirSão Sofrônio no século VII.[179] No século XIII, osfranciscanos já tinham encorajado a formação de uma forte tradição popular decanções de Natal nas diversas línguas da Europa.[180]
A maior parte das narrativas musicais da Natividade, com exceção dos hinos, não tem origem bíblica e não existiam até a música eclesiástica assimilar aópera no século XVII. Depois, houve uma explosão de novas músicas, como a "História de Natal" (1660), deSchutz,"Christus", deLiszt, e o "Oratório de Natal", deBach, no século seguinte.[181] O poema clássico deJohn Milton, "Ode à Manhã do Nascimento de Cristo" (1629)", foi utilizado por John McEwan em 1901.[181]
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