Nota: ""Mulata"" redireciona para este artigo. Para a canção dos Irmãos Valença, vejaMulata (canção). Para outros significados de "mulato", vejaMulato (desambiguação).
Existem duas teorias para a origem da palavra mulato: a latina e a árabe. Segundo a primeira, o termo 'mulato' adota oprefixo demula (mulus, emlatim). A mula é o progênito do cruzamento docavalo com a jumenta ou dojumento com aégua. Poranalogia, no século XVI, teria surgido o termo "mulato", que remete à ideia de "híbrido" (descendente de pessoas brancas e negras).[2]
A segunda teoria sustenta que o termo mulato provém do árabemowallad ("aquele que é nascido de pai árabe e de mãe estrangeira, ou de pai escravo e de mãe livre"). Também remete à ideia de filho nascido de pais de etnias diferentes.[2][3]
Nos últimos anos, vem ocorrendo polêmicas acerca do uso do termo "mulato". Grupos ligados ao Movimento Negro sustentam que a palavra é ofensiva e racista e que deveria ser abolida, porquanto deriva do animal "mula".[19][20]
Por outro lado, há quem argumente que uma palavra não deveria ser condenada em virtude da sua etimologia. Por exemplo, a historiadora Lita Chastan, autora de "Por Que América?" defende que o termo pode ter vindo do árabemuwallad (mestiço entre árabe e "não-árabe").[21] O escritorSérgio Rodrigues argumenta que o termo mulato é usado no idioma português desde o século XVI e que a etimologia da palavra já foi praticamente esquecida pois, há tempos, refere-se simplesmente ao filho de branco e negro. Ele faz uma comparação com o substantivo "rapaz", bastante usado em português para referir-se a um homem jovem, mas que deriva do latimrapacem, que significava "ladrão" ou "indivíduo que rouba".[22][23][24]
Cabo Verde é o país africano onde a maioria da população é etnicamente mulata. Segundo estudo genético de 2010, no país, 57% dos genes são de origem africana e 43% de origem europeia, principalmente do oeste africano e de Portugal, respectivamente.[25] EmAngola, os mulatos são uns 2% da população do país.[26] EmMoçambique, não chegam a 1%.[27]
Ahistória recente da África do Sul começou com a fundação dacidade do Cabo por colonos de origemholandesa efrancesa, que viram rapidamente que não era fácil converter os habitantes locais, principalmentekhoisan, em trabalhadores agrícolas ou, em geral, negros escravizados. Por isso, tiveram que importarmalaios dasÍndias Orientais Neerlandesas, aIndonésia e aMalásia, para além denegros de outras regiões daÁfrica Austral. Muitos desses malaios conservaram a suacultura ereligião (oislão) mas, com o tempo, apareceram pessoas de origemmestiça, que asautoridades trataram de separar num grupo a que chamaram “coloured” (ou “de cor”, para dizer que tinham características diferentes dosbrancos e dos negros, “inferiores” aos primeiros, mas “superiores” aos segundos). Com a chegada (e dominação) dosbritânicos e a importação de novos “assalariados” daÍndia, mais misturas se produziram e, com oapartheid, a estes “coloured” foram concedidos alguns direitos políticos.[28]
Com ademocratização na África do Sul, em 1995, o estado deixou de classificar as pessoas em termos raciais (durante oapartheid, as pessoas tinham direitos cívicos de acordo com a “raça” a que pertenciam) mas, os censos e estudosdemográficos continuaram a manter as antigas denominações, sendo que são os próprios inquiridos que se autoclassificam. Por isso, neste momento, os cerca de quatro milhões de “coloured” da África do Sul (e os daNamíbia, que se consideram um grupo ouetnia diferente dos vizinhos, ver nota anterior) correspondem à diversidadegenética que foi imposta pela história, incluindo uma minoria de “malaios”, possivelmente sem “mistura” que ainda subsistem. Por isso, dizer que na África do Sul existem quatro milhões de “mulatos” é uma simplificação duma situação étnica bastante complexa.[37]
Os mulatos são comuns no Brasil desde os tempos coloniais, em decorrência da interação sexual sobretudo entre homens portugueses e mulheres africanas. Esses mulatos são resultado dos mais diversos cruzamentos: o banda forra (branco com negro), o salta-atrás (mameluco com negro), o terceirão (branco com mulato). SegundoDarcy Ribeiro, os mulatos foram parte essencial da formação da identidade brasileira, porquanto, por serem mestiços, não se identificavam com suas origens europeias e africanas, restando a eles assumir uma identidade brasileira.[38]
Não se sabe ao certo qual o tamanho da população mulata no Brasil, uma vez que o censo brasileiro não inclui essa categoria, existindo a categoria depardos, que não abrange somente os mulatos, mas também outros tipos de miscigenação, como oscaboclos.[39]
Segundo diferentes estudos genéticos, a maioria dos brasileiros, incluindo os "brancos", "pardos" e "negros", têm ancestrais europeus, africanos e indígenas, não se enquadrando perfeitamente na definição de mulato, que não inclui a ancestralidade indígena.[40][41]
Barack Obama, ex-presidente norte-americano, é filho de mãe branca e pai negro.[43]
Estudos mostram que o termo "mulato" é pouco usado pelos brasileiros: segundo pesquisa de 2008 doIBGE, somente 0,6% dos entrevistados classificaram-se como "mulatos";[44] conforme outra pesquisa, de 2007, com estudantes do Rio de Janeiro, somente 0,21% deles classificam-se como "mulatos".[45]
No Brasil, o termo "moreno" é mais usado pela população, embora seja um termo ambíguo e que apenas parcialmente esteja ligado à miscigenação.[46]
Nos Estados Unidos, os mulatos eram contados nos censos do século XIX, mas a categoria foi eliminada em 1920, em decorrência da adoção do conceito da "regra de uma gota" ("one-drop rule"). Assim, os mulatos foram forçados a identificar-se como negros.[47] Todavia, no ano 2000, o censo americano modernizou-se e passou a aceitar que as pessoas possam escolher mais de uma raça com a qual se identificam. No censo de 2010, 1,8 milhão de americanos identificaram-se como a combinação de negro e branco.[48]
Na história doHaiti, os mulatos, conhecidos nos tempos coloniais como "pessoas de cor livres", adquiriram alguma educação e propriedade antes daRevolução haitiana. Em alguns casos, seus pais brancos conseguiram que seus filhos mestiços fossem educados naFrança e se juntassem às forças armadas, dando-lhes uma vantagem econômica. Mestiços ganharam algum capital social e poder político antes da Revolução, foram influentes durante a Revolução e depois dela. Os mulatos mantiveram sua posição de elite, baseada na educação e no capital social, que é evidente na hierarquia política, econômica e cultural do Haiti atual.[49]
Após a Revolução haitiana, a maioria dos franceses brancos que habitavam o Haiti foram massacrados ou deixaram a ilha, de modo que a minoria mulata se tornou o grupo econômico dominante do país, controlando as principais empresas e os bancos, enquanto a maioria negra vive na mais absoluta miséria, nesse que é o país mais pobre das Américas.[50][51][52][53] Os mulatos e brancos são 5% da população, e os negros 95%.[54]
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