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Melro-preto

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(Redirecionado deMelro)
 Nota: "Merlo" redireciona para este artigo. Para outros significados, vejaMerlo (desambiguação).
Como ler uma infocaixa de taxonomiaMelro-preto
de cima para baixo: juvenil; macho adulto; fêmea adulta
de cima para baixo:
juvenil; macho adulto; fêmea adulta

Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante(IUCN 3.1)
Classificação científica
Reino:Animalia
Filo:Chordata
Classe:Aves
Ordem:Passeriformes
Família:Turdidae
Género:Turdus
Espécie:T. merula
Nome binomial
Turdus merula
(Linnaeus, 1758)
Distribuição geográfica
  Residente   Estival   Invernante   Introduzido
  Residente
  Estival
  Invernante
  Introduzido
Subespécies
ver texto

Omelro-preto (Turdus merula), vulgarmente conhecido apenas comomelro oumérula, é umaave pertencente aogéneroTurdus.[1] Ocorre naturalmente naEuropa,Norte de África,Médio Oriente,Ásia Meridional eÁsia Oriental,[2] e foiintroduzida naAustrália eNova Zelândia na segunda metade doséculo XIX.[2][3][4] Dependendo dalatitude, pode serresidente,migratória ou parcialmente migratória.[2][5] A espécie tem numerosassubespécies na sua vasta área de distribuição, algumas das quais são consideradas espécies distintas por alguns autores.[5]

O melro-preto éomnívoro, consumindo uma grande variedade deinsetos,vermes,bagas edrupas.[6] Apresenta um fortedimorfismo sexual; o macho adulto da subespécie nominalT. m. merula é completamente preto, com exceção do bico e do anel orbital de cor amarela, e tem um vasto repertório devocalizações, enquanto que a fêmea adulta e osjuvenis são predominantemente de corcastanha.[7][8] Esta espécie nidifica embosques e jardins, construindoninhos em forma de taça com ervas elama[9] em trepadeiras ou arbustos, e pode ser encontrada tanto em florestas como em campo aberto e zonas urbanas.[8][10] Ambos os sexos exibem umcomportamento territorial nos locais de nidificação, cada qual com comportamentos agressivos distintos, mas é maisgregário durante as migrações e nas áreas onde inverna.[6] Tanto os machos como as fêmeas podem permanecer no seuterritório durante todo o ano desde que o clima seja suficientementetemperado e haja alimento disponível durante o inverno.

Apesar de poderem ocorrer flutuações locais nas populações devido a ameaças específicas, possui uma grande área de distribuição geográfica e uma grande população global, pelo que não se considera que se encontre globalmente ameaçada.[11] Existem numerosas referências literárias e culturais ao melro-preto, frequentemente relacionadas com o canto melodioso dos machos. O melro-preto é a ave nacional daSuécia.[12]

Taxonomia

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Macho adulto deT. m. merula,República Checa.

O melro-preto foi descrito em1758 pelozoólogosuecoCarolus Linnaeus no seu livroSystema Naturae comoTurdus merula, caracterizado como "Turdus ater, rostro palpebrisque fulvis" ("Tordo negro, com bico e pálpebras amarelas").[13] O seunome binomial deriva de duas palavras emlatim,turdus, "tordo", emerula, "melro".[14] O filósofo e enciclopedista romanoVarrão indica umdiminutivo demera, "só", como explicação etimológica para o termomerula, que significaria assimquod mera, "quase só", o que descreve bem o carácter solitário desta ave.[15] Este termo (e a sua forma tardiamerulu) deu ainda origem à designação comum para esta espécie não só emportuguês[1][16] ('melro', comsíncope do 'u' emetátese do 'r'), como também noutraslínguas românicas como ocastelhano ('mirlo'),[17] ofrancês ('merle')[18] e oitaliano ('merlo').[19] Já eminglês (blackbird,lit. "ave negra")[20] e emsueco (koltrast,lit. "tordo de carvão")[21] a designação comum parece derivar da sua aparência. EmPortugal, é normalmente conhecido comoo melro, apesar do termo se referir de forma mais abrangente a diversos membros dafamíliaTurdidae, como omelro-de-peito-branco (Turdus torquatus) e omelro-das-rochas (Monticola saxatilis).[1]

A taxonomia desta espécie, particularmente a dassubespécies asiáticas, é complexa. As subespécies encontradas nosubcontinente indiano,T. m. simillimus,T. m. nigropileus,T. m. bourdilloni,T. m. spencei eT. m. kinnissi, são relativamente pequenas (apenas 19–20 cm de comprimento) e possuem um anel orbital largo, para além de terem proporções, formato das asas, cor do ovos e vocalizações diferentes das outras subespécies de melro-preto. Por essas razões, são por vezes consideradas uma espécie separada,Turdus simillimus.[22][23][24] A subespécieT. m. maximus dosHimalaias é bastante maior (23–28 cm de comprimento) do que o grupo daT. m. simillimus, e difere de todas as outras subespécies de melro-preto pela total ausência do anel orbital e pelas suas vocalizações reduzidas, pelo que é por vezes considerada uma espécie separada,Turdus maximus.[22][24] As restantes subespécies asiáticas, as relativamente grandesT. m. intermedius eT. m. mandarinus, e a menorT. m. sowerbyi, também diferem em estrutura e vocalizações, e podem também representar uma espécie separada,Turdus mandarinus.[5] Alternativamente, alguns autores sugerem que sejam consideradas subespécies deTurdus maximus,[2] mas diferem desta em estrutura, vocalizações e existência do anel orbital.[5][22]

O parente mais próximo em termos evolutivos do melro-preto aparenta ser oTurdus poliocephalus, presente noSudeste Asiático e em algumas ilhas do sudoeste doPacífico, que provavelmente divergiu do melro-preto recentemente.[2]

Características

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Fêmea adulta deT. m. merula.

A subespécie nominalT. m. merula tem 23,5–29 cm de comprimento, uma envergadura de 34–38 cm e um peso de 80-125 g, dependendo do sexo e dasestações do ano. O macho adulto possui plumagem totalmente negra e lustrosa, patas de tamanho médio castanho-escuras, bico curto amarelo-alaranjado e um anel orbital amarelo.[7][8] O bico e o anel orbital tendem a escurecer um pouco no inverno.[7][25] A fêmea adulta possui plumagem castanha, ventre malhado de castanho-claro, garganta e peito com malhas esbranquiçadas, patas castanho-escuras, bico amarelo-acastanhado e um anel orbital castanho.[7][8] Osjuvenis são semelhantes às fêmeas, mas possuem manchas pálidas na parte superior do corpo. Os tons de castanho da plumagem dos juvenis varia de indivíduo para indivíduo, sendo os mais escuros presumivelmente machos.[7] A plumagem juvenil dura até à primeiramuda, que ocorre entre agosto e outubro.[2] Os jovens machos adquirem então uma plumagem semelhante à dos adultos, mas o seu bico é mais escuro, o anel orbital amarelo é mais esbatido e as asas quando dobradas são castanho-escuras. Os machos só adquirem a aparência adulta ao fim do primeiro ano de vida.[2][8]

Na Europa, os machos podem ser confundidos com o melro-de-peito-branco (Turdus torquatus), mas este último possui um crescente branco no peito e as asas são ligeiramente prateadas,[26] e são superficialmente semelhantes aoestorninho-comum (Sturnus vulgaris).[7] NoSri Lanka, a subespécieT. m. kinsii é semelhante a uma espécie local, oMyophonus blighi, e aotordo-unicolor (Turdus unicolor), nativo dosubcontinente indiano.[2] No entanto, o primeiro apresenta sempre azul na sua plumagem, e o segundo possui o ventre mais pálido.[27] As fêmeas podem ser confundidas com otordo-comum (Turdus philomelos), mas este último possui a parte inferior do corpo mais pálida e com malhas negras. Existem ainda algumas espécies do géneroTurdus, de aparência similar ao melro-preto, mas que vivem fora da sua área de distribuição geográfica, como por exemplo oTurdus chiguanco daAmérica do Sul.[28]

Subespécies

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Juvenil deT. m. merula,República Checa.

Como seria de esperar numa espécie com uma área de distribuição tão vasta, existem numerosas subespécies de melro-preto geralmente aceites, algumas das quais são consideradas como espécies separadas por alguns autores.[5] Este artigo segue o tratamento de Clementet al.[2]

Macho adulto deT. m. cabrerae,Gran Canaria,Espanha.
  • T. m. mauretanicus, pequena subespécie residente no norte e centro deMarrocos, na costa daArgélia e no norte daTunísia. Os machos possuem plumagem mais escura e lustrosa do que a da subespécie nominal, enquanto que a das fêmeas é negro-acinzentada.[30]
  • T. m. aterrimus, subespécie de menor porte que se reproduz naHungria, sul e este daGrécia,Creta, norte daTurquia e norte doIrão; e inverna no sul da Turquia, norte doEgito,Iraque e sul do Irão. A plumagem dos machos é menos lustrosa e a das fêmeas mais pálida do que a da subespécie nominal.[30]
  • T. m. syriacus, subespécie que se reproduz ao longo da costa mediterrânica desde o sul da Turquia até àJordânia,Israel e norte doSinai; é essencialmente residente, apesar de algumas aves migrarem para sudoeste ou oeste para invernarem novale do Jordão e nodelta do Nilo. Ambos os sexos desta subespécie apresentam uma plumagem mais escura e acinzentada do que os da subespécie nominal.[2]
  • T. m. intermedius, grande subespécie asiática que se reproduz desde aRússia central aoTajiquistão, norte e oeste doAfeganistão eChina oriental; é parcialmente residente, apesar de algumas aves serem migrantes altitudinais e invernarem no sul do Afeganistão e do Iraque.[2] A plumagem dos machos é negra-fuliginosa, enquanto que a das fêmeas é castanho-escura.[5]
Macho juvenil, presumivelmenteT. m. aterrimus,Hungria.
  • T. m. maximus, grande subespécie de montanha encontrada no este do Afeganistão,Himalaias (entre os 3 200 e os 4 800 m),Siquim,Assam, sul doTibete e oeste deSichuan. É um migrante altitudinal, descendo no inverno até aos 2 100 m no sudeste do Tibete, mas nunca abaixo dos 3 000 m mais a ocidente. Os machos possuem plumagem negra, enquanto que a das fêmeas é de um castanho muito escuro.[27] É a única subespécie que não possui um anel orbital amarelo ou laranja.[22]
  • T. m. mandarinus, grande subespécie[5] que se reproduz na maioria da China meridional, central e oriental;[33] é essencialmente residente, apesar de algumas aves migrarem para sul para invernarem emHong Kong,Laos eVietname. Os machos possuem plumagem negra-fuliginosa; as fêmeas são similares mas mais castanhas, e a parte inferior do seu corpo é mais pálida.[34]
  • T. m. sowerbyi, batizada em honra donaturalista e ilustradorbritânicoJames Sowerby, subespécie que se reproduz desde o este de Sichuan atéGuizhou; é parcialmente residente, apesar de algumas aves invernarem no sul da China e norte daIndochina. É semelhante àT. m. mandarinus, mas é menor e a parte inferior do seu corpo é mais escura.[5]
Fêmea adulta deT. m. maximus,Himachal Pradesh,Índia.
  • T. m. nigropileus, subespécie residente na Índia, encontrada até aos 1 800 m nosGates Ocidentais e no norte e centro dosGates Orientais; apesar de residente, algumas aves migram mais para sul no inverno.[35] Os machos possuem plumagem cor de ardósia-acastanhada com um barrete escuro, enquanto que as fêmeas são castanhas e possuem a parte inferior do corpo mais pálida.[27] É de menor porte e possui um anel orbital amarelo mais largo do que a subespécie nominal.[22]
  • T. m. spencei, batizada em honra do entomólogobritânicoWilliam Spence, subespécie residente nos Gates Orientais daÍndia. É muito semelhante àT. m. nigropileus, mas possui um barrete escuro menos distintivo.[2] Dadas as incertezas sobre a validade desta subespécie, ela é muitas vezes incluída naT. m. nigropileus, com a qual coabita nosmontes Nallamala.[22][35]
  • T. m. simillimus, subespécie residente na Índia, comum nos montes emKerala eTamil Nadu. É semelhante àT. m. spencei, mas é mais escura.[2]
  • T. m. bourdilloni, batizada em honra deThomas Fulton Bourdillon,conservador de florestasindiano no entãoestado principesco deTravancore, subespécie residente comum acima dos 900 m nos montes do sul de Kerala e Tamil Nadu. É semelhante àT. m. simillimus, com o qual coabita nosmontes Palni,[35] mas o macho possui plumagem cor de ardósia-acastanhada uniforme.[22]
  • T. m. kinnisii, descrita porEdward Blyth em1841 e batizada em honra de John Kinnis, cirurgião das forças militares britânicas no entãoCeilão,[2] subespécie residente acima dos 900 m nos montes doSri Lanka. Os machos possuem plumagem azul-acinzentada uniforme; as fêmeas são similares mas mais castanhas.[27] É semelhante em tamanho àT. m. nigropileus, mas o anel orbital é mais vermelho-alaranjado.

Anomalias na plumagem

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T. m. merulaleucístico.

Embora a observação de anomalias na coloração da plumagem dos melros-pretos seja rara em termos absolutos, em termos relativos parece ser bastante mais comum nesta espécie do que em outras aves. Segundo observações realizadas naGrã-Bretanha, de entre todas as aves identificadas com anomalias na coloração, 29% pertencem ao géneroTurdus, especialmente melros-pretos,[36] levando à ocorrência de melros-brancos. A existência de melros-brancos foi relatada noséculo XVIII pelo naturalistafrancêsGeorges de Buffon, entre outros.[37]

As anomalias são caracterizadas por uma descoloração mais ou menos pronunciada da plumagem e das partes moles, mas são de natureza diversa e podem ir desde oalbinismo total e verdadeiro a uma das diversas formas de albinismo parcial, como oleucismo e oesquizocromismo,[38] que pode dificultar significativamente a identificação das aves.[36] Enquanto que a causa do albinismo verdadeiro é puramentegenética, outros fatores comoenvelhecimento,vitiligo ou carências nutricionais evitamínicas podem ajudar a explicar as anomalias depigmentação.[36] O albinismo progressivo com a idade da ave, em particular, tem sido especialmente observado nos melros-pretos.[36] Em casos hereditários as anomalias são constantes de uma muda para outra, mas o albinismo causado por fatores ambientais é muitas vezes reversível.[36]

Os albinos verdadeiros são geralmente menos robustos do que os restantes indivíduos,[36] e têm maiores chances de ser caçados por predadores por seremconspícuos,[36][39] pelo que raramente sobrevivem por muito tempo e são raramente observados.[36] Por outro lado, também tendem a ter menores chances de reprodução, pois são geralmente evitados pelas outras aves e têm dificuldade em encontrar um parceiro.[36] Assim, a maioria dos melros-brancos que se podem observar atualmente, quer albinos verdadeiros quer não, são animais criados em cativeiro. Quanto às anomalias que ocorrem em aves selvagens, raramente representam mais de 1% do total de indivíduos, mas parecem ser mais frequentes em zonas urbanas.[39]

Canto e vocalizações

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Macho adulto deT. m. merula cantando,Dinamarca.

Os jovens machos da espécie nominal podem começar a cantar no fim de janeiro, desde que haja bom tempo, com o objetivo de estabelecer umterritório, sendo seguidos pelos machos adultos no fim de março. O canto do macho é um gorjeio aflautadograve,melodioso e variado, frequentemente terminando com sons menos puros e por vezes um pouco arranhados. É dado a partir de árvores, telhados ou outros poleiros elevados,[6][40] normalmente entre março e junho, mas por vezes até ao início de julho.[6] Um estudobritânico mostra que o canto dura mais tempo se o macho estiver em boa forma física, e se a fêmea estiver num período de fertilidade máxima.[41] O macho pode cantar a qualquer hora do dia, mas é aoamanhecer e aoanoitecer que o canto é mais intenso.[40]



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O melro-preto possui ainda várias outrasvocalizações, incluindo umsriiii agressivo, umpouk-pouk-pouk de alarme parapredadores terrestres comogatos, e numerosas vocalizações detchink etchouk-tchouk. Tal como outrospássaros, possui também umsriiiiii agudo de alarme paraaves de rapina, pois o som é rapidamente atenuado pela vegetação, tornando a fonte difícil de detetar.[42] Os machos territoriais invariavelmente emitem umtchink-tchink ao anoitecer numa tentativa (normalmente infrutífera) de dissuadir outros machos de procurarem poleiros para passar a noite no seu território.[6]

Pelo menos duas das suas subespécies,T. m. merula eT. m. nigropileus, são capazes de imitar outras espécies de aves, gatos, humanos ou alarmes, mas isso é geralmente discreto e difícil de detetar. As grandes subespécies de montanha, especialmente aT. m. maximus, possuem canções relativamente pobres, com um repertório limitado quando comparado com as subespécies ocidentais, indianas e do Sri Lanka.[2]

Habitat e migração

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Habitat

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Jovem macho deT. m. merula, ainda com penas castanhas nas asas,Inglaterra.

Comum em zonas arborizadas na maioria da sua área de distribuição, o melro-preto tem preferência porflorestas de folha caduca com vegetação rasteira densa,[6] podendo também ser encontrado emzonas arbustivas,campos de cultivo, jardins ou parques, mesmo em zonas urbanas.[8][10] Os jardins fornecem os melhores locais de nidificação, acomodando até 7,3 pares / ha, tendo as zonas arborizadas geralmente um décimo dessa densidade e os campos abertos ou demasiado urbanizados ainda menos.[6] Tipicamente, esta espécie pode ser encontrada até aos 1 000 m de altitude naEuropa, 2 300 m noNorte de África e 900–1 800 m naÍndia e noSri Lanka, mas a subespécie de montanhaT. m. maximus, residente nosHimalaias, nidifica entre os 3 200 e os 4 800 m, nunca descendo abaixo dos 2 100 m mesmo durante o inverno.[2] Na Europa, é frequentemente substituída pelomelro-de-peito-branco (Turdus torquatus) nas zonas de maior altitude.[43]

Migração

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Fêmea adulta deT. m. merula recolhendo material para a construção do ninho,Alemanha.

O melro-preto nidifica nas zonastemperadas daEurásia, no Norte de África, em algumas ilhas atlânticas (Açores,Madeira,Canárias) e naÁsia Meridional, e foi introduzido naAustrália eNova Zelândia.[2] Dependendo da latitude, esta espécie pode serresidente,migratória ou parcialmente migratória. As populações são residentes no sul e no oeste da sua área de distribuição, mas as aves do norte migram para sul até ao Norte de África e às zonastropicais daÁsia durante o inverno.[2] Os machos provenientes de zonas urbanas são mais propensos a invernar em climas mais frios do que machos provenientes de zonas rurais, uma adaptação tornada possível pelomicroclima mais quente e pela maior abundância de alimento nas cidades, que permite às aves estabelecer territórios e iniciar o acasalamento mais cedo.[44]

Desde que haja alimento disponível durante o inverno, tanto os machos como as fêmeas permanecerão no seu território durante todo o ano, embora ocupando zonas diferentes. Durante a migração os melros-pretos são mais sociáveis, viajando em pequenos bandos, geralmente de noite, e alimentando-se em grupos dispersos nos locais onde inverna. O voo de migração, que consiste de uma série de rápidas batidas de asa intercaladas com movimentos de planagem horizontal ou mergulhos, difere tanto do normal voo rápido e ágil desta espécie como dos mergulhos acentuados típicos de outros grandesturdídeos.[30]

Como seria de esperar para uma espécie migratória tão amplamente distribuída, já foi observada fora da sua área de distribuição habitual naEurásia, como noarquipélago de Svalbard, nailha de Jan Mayen e noJapão.[45] Os registos de aves observadas naAmérica do Norte são normalmente atribuídos a aves fugidas ao cativeiro, como por exemplo a ave observada noQuebec em 1971;[46] no entanto, uma ave observada em 1994 emBonavista,Terra Nova,Canadá, foi aceite como uma ave genuinamente selvagem,[2] pelo que a espécie consta da lista de aves da América do Norte daAmerican Ornithologists' Union.[47]

Comportamento

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Alimentação

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Macho adulto deT. m. merula alimentando-se de bagas num arbusto.

O melro-preto éomnívoro, consumindo uma grande variedade deinsetos,vermes,bagas edrupas.[6] A caça é predominante, sendo particularmente importante durante a época de nidificação, com as bagas e as drupas a serem mais consumidas durante o outono e o inverno.[2] Alimenta-se sobretudo no solo, correndo e pulando, progredindo aos trancos e barrancos, com a cabeça inclinada para um dos lados.[6][48] Caça principalmente com avisão mas também pode usar aaudição,[6] pesquisando ohúmus em busca deminhocas e fazendo-as sair das suas tocas com o bico,[49] e revirando folhas em decomposição de forma barulhenta e demonstrativa em busca de outrosinvertebrados.[6][10] Ocasionalmente, pode ainda caçar pequenosvertebrados comogirinos e pequenossapos oulagartos.[6]

Apesar de se alimentar sobretudo no solo, esta espécie também se empoleira em arbustos para recolher bagas e drupas, e apanharlagartas e outros insetos.[6] O tipo de drupas consumidas depende do que estiver disponível localmente, e frequentemente inclui espécies exóticas presentes em jardins oupomares.[2] Na Europa temperada, alimenta-se de bagas dealfeneiro, desabugueiro e de várias espécies dosgénerosHippophae,Cornus eRubus, entre outras. Durante o inverno, fazem parte da sua dieta bagas deazevinho, dehera e de várias espécies dos génerosCrataegus,Viscum eSorbus.[50] Mais a sul, podem também alimentar-se de bagas demurta e de espécies do géneroCeltis, deazeitonas e deuvas. No norte da Índia, os frutos dafigueira-de-bengala (Ficus benghalensis) e de várias espécies do géneroMorus são frequentemente consumidos, com as sementes de espécies do géneroErythrina e bagas de espécies do géneroTrema a fazerem parte do seu regime mais a sul.[2]

Tal como outros melros e tordos, esta espécieregurgita pequenas bolas contendo as sementes após a partes moles terem sido digeridas.[51]

Territorialismo

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Uma fêmea brigando com um macho.

O melro-preto não égregário, exibindo umcomportamento territorial nos locais de nidificação. Os machos estabelecem o seu território durante o primeiro ano de vida, e defendem-no por toda a vida.[52] Durante a época de nidificação o macho defende o seu território afugentando outros machos ou utilizando uma exibição de ameaça, que consiste numa pequena corrida, primeiro levantando a cabeça e depois baixando-a em simultâneo com a cauda.[6] Se efetivamente ocorrer uma briga entre dois machos, eles se enfrentam pairando a poucos centímetros do solo, gritando e esticando as pernas em direção ao oponente.[10] Estas lutas são geralmente curtas, mais demonstrativas do que violentas, e o intruso é rapidamente afugentado.[6] A fêmea também é agressiva na primavera, quando compete com outras fêmeas por um bom território de nidificação ou parceiro, e embora brigas entre fêmeas sejam menos frequentes, tendem a ser mais violentas.[6] Fora da época de nidificação, pequenos grupos de melros-pretos podem compartilhar fontes abundantes de alimento e locais de empoleiramento para passar a noite, mas mesmo nestes casos há pouca interação entre os indivíduos.[52]

A aparência do bico parece ser importante nas interações entre os melros-pretos. Um estudoneozelandês mostra que um macho defendendo o seu território reage mais agressivamente a intrusos com bico cor-de-laranja de que com bico amarelo, e menos a indivíduos com o bico castanho, típico dos machos juvenis. Por outro lado, as fêmeas são relativamente indiferentes à cor do bico, mas são sensíveis à reflexão deradiação ultravioleta no mesmo.[53]

Reprodução

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Ninho com três ovos.

A subespécie nominalT. m. merula pode iniciar o acasalamento em março, mas as subespécies orientais e indianas começam pelo menos um mês mais tarde, e as aves introduzidas na Austrália e na Nova Zelândia apenas em Agosto.[2][43] O melro-preto macho atrai a fêmea com uma exibição de corte, que consiste de corridas oblíquas combinadas com vénias, o bico aberto e uma canção grave "estrangulada". A fêmea permanece imóvel até levantar a cabeça e a cauda para permitir acópula.[6]

O casal procura então um local adequado para oninho numatrepadeira ou arbusto, geralmente a cerca de 2 m do solo, dando preferência a espécies espinhosas ou defolha persistente como a hera, o azevinho e espécies dos génerosCrataegus,Lonicera ePyracantha,[54] embora o ninho possa também ser instalado na forquilha de um galho de árvore.[55] Embora o macho possa ajudar na construção do ninho, principalmente no transporte de materiais de construção,[56] é a fêmea que constrói sozinha um ninho em forma de taça com ervas ou pequenos galhos, geralmente forrado comlama.[9][52] Cada postura possui habitualmente três a cinco (normalmente quatro)ovos verde-azulados salpicados com pequenas manchas vermelho-acastanhadas,[6] sobretudo do lado mais largo.[43] As posturas em zonas arborizadas tendem a ter maior número de ovos do que em zonas urbanas.[52] Os ovos da subespécie nominal têm um tamanho médio de 2,9 x 2,1 cm e um peso médio de 7,2 g, dos quais 6% correspondem à casca;[14] os ovos das subespécies residentes no sul da Índia são mais claros do que os das restantes subespécies.[2]

Crias deT. m. merula no nicho.

Aincubação é feita unicamente pela fêmea e dura geralmente de 12 a 14 dias. As crias recém-eclodidas sãoaltriciais, necessitando de 10 a 19 dias (em média 13,6) para abandonar o ninho, com ambos os progenitores a participar na sua alimentação e na remoção dossacos fecais.[30] O peso ganho pelas crias durante os primeiros oito dias de vida é fundamental para a sua sobrevivência, pois crias que não alcancem os 35-45 g durante esse período têm poucas hipóteses de sobreviver.[57] As crias não sabem voar quando abandonam o ninho, rastejando/saltando para fora deste e batendo as asas até chegar ao solo, e procurando cobertura na vegetação próxima. Se o ninho for perturbado, podem abandoná-lo nove dias apenas após a eclosão, uma importante adaptação contra eventuais predadores.[52] Os progenitores continuam a alimentar os juvenis, que seguem os adultos implorando por comida, até três semanas após estes abandonarem o ninho. Se a fêmea começar a construir outro ninho, o macho alimentará os juvenis sozinho.[6] Durante esse período eles aprendem a escolher os seus alimentos, e uma semana após abandonarem o ninho já são capazes de voar. Ao fim de três semanas os juvenis são independentes, e abandonam voluntariamente o território do progenitor pouco depois apesar deste não os afugentar,[52] atingindo o estado adulto ao fim de ano de vida.[58]

Juvenil deT. m. merula, Dornoch,Escócia.

Segundasninhadas são comuns, com o mesmo ninho sendo utilizando para a segunda ninhada se a primeira foi bem-sucedida,[2] sendo possíveis até cinco ninhadas por estação se as condições atmosféricas forem excecionalmente boas.[59]

A subespécie asiática de montanhaT. m. maximus têm uma época de nidificação mais curta, e apenas produz uma ninhada por ano. A fêmea também põe menos ovos (dois a quatro, em média 2,86), mas de maiores dimensões do que os da subespécie nominal, e enquanto o período de incubação é ligeiramente mais curto (12 a 13 dias), as crias necessitam de mais tempo (16 a 18 dias) para abandonar o ninho.[60]

A perda de ovos durante a incubação e a taxa de mortalidade entre as crias são consideráveis, pelo que apenas são produzidos juvenis em 30-40% das ninhadas,[52] e embora as posturas em zonas urbanas tendam a ter um menor número de ovos, produzem mais juvenis por ninho do que nas zonas rurais.[52][61] A taxa de sobrevivência entre os juvenis é de 56% durante o primeiro ano de vida e de 65% para os adultos.[14] Embora haja registos de indivíduos com mais de 21 anos de idade,[58][62] aesperança média de vida de um melro-preto adulto é de 5 anos.[63]

Geralmente, os casais são fiéis e permanecem juntos enquanto ambos sobreviverem,[30] mas são observadas taxas de separação na ordem dos 20% na sequência de uma época de nidificação com baixa taxa de sucesso,[64] e existem estudos que mostram que até 17% das crias não pertencem ao seu suposto pai, tornando esta espécie geneticamentepoligâmica apesar de socialmentemonogâmica.[65]

Ameaças naturais

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Um macho tentando distrair umpeneireiro-vulgar (Falco tinnunculus) próximo do seu ninho.

Predadores

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O melro-preto é muito vulnerável àpredação, visto que passa muito do seu tempo no solo em busca de alimento e patrulhando o seu território.[66] Junto a habitações humanas o principal predador desta espécie é ogato doméstico (Felis silvestris catus); noutros locais, asraposas e as aves de rapina, como as do géneroAccipiter, caçam os melros-pretos se a oportunidade se proporcionar,[61][66] ecorvídeos como apega-rabilonga (Pica pica) e ogaio-comum (Garrulus glandarius) caçam tanto os adultos como os seus ovos e crias. No entanto, frequentemente produz três ninhadas por estação, pelo que a predação não tem um impacto significativo sobre o tamanho das populações,[54] embora um estudo britânico mostre que 89% das ninhadas mal-sucedidas se deva à predação.[67]

O melro-preto é uma das espécies conhecidas por possuirsono de ondas lentas uni-hemisférico, o que significa que apenas um doshemisférios cerebrais está efetivamente a dormir, enquanto umEEG de baixa voltagem, característico do estado devigília, está presente no outro. O benefício disto é que ave pode descansar em áreas com alta incidência de predação ou durante longos voos migratórios, mas ainda reter um certo grau de alerta.[68]

Parasitas

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Juvenis deT. m. merula,Reino Unido.

Tal como acontece com outros pássaros, osparasitas são comuns nesta espécie. Estudos mostram que 88% dos melros-pretos apresentamparasitas intestinais, predominantemente dos génerosIsospora eCapillaria,[69] e que mais de 80% possuemhematozoários (génerosLeucocytozoon,Plasmodium,Haemoproteus eTrypanosoma).[70] Os melros-pretos passam muito do seu tempo em busca de alimento no solo, onde são infestados porcarraças, que normalmente se fixam na cabeça das aves.[71] Em França, um estudo revelou que 74% dos melros-pretos rurais estavam infestados com carraças do géneroIxodes, contra apenas 2% das aves urbanas.[71] Isto deve-se em parte ao facto de ser mais difícil para as carraças encontrarem outrohospedeiro em relvados e jardins em zonas urbanas do que em áreas rurais, mas também ao facto de ser provável que as carraças sejam mais comuns nas zonas rurais, onde são mais numerosos os hospedeiros de pelo longo, como as raposas, osveados e osjavalis.[71] Apesar das carraças do géneroIxodes puderem transmitirvírus ebactériaspatogénicas, e serem conhecidas por transmitir bactérias do géneroBorrelia às aves,[72] não existem provas de que isso afete a saúde dos melros-pretos, exceto quando estão exaustos e enfraquecidos após a migração.[71] No entanto, esta espécie é capaz de transmitir as bactérias do géneroBorrelia às carraças, servindo assim de reservatório para a bactéria.[73]

Ocasionalmente, esta espécie é alvo deparasitismo de ninhada por parte decucos como ocuco-canoro (Cuculus canorus), mas isso não é significativo pois o melro-preto é capaz de reconhecer tanto o adulto como os ovosnão miméticos dessa espécie parasita.[74] Um estudo neozelandês revelou que os melros-pretos introduzidos durante adécada de 1860 na Nova Zelândia, onde os cucos não ocorrem, perderam a capacidade de reconhecer os cucos-canoros adultos, mas continuam a rejeitar os seus ovos não miméticos.[75]

Estado de conservação

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Macho deT. m. merula em Dierenpark,Amersfoort,Países Baixos.

O melro-preto tem uma área de distribuição geográfica estimada de 13,9 milhões de km², e possui uma população global estimada de 150-500 milhões de indivíduos, incluindo mais de 40 milhões de pares na Europa.[11] A tendência global da população é desconhecida, mas existem indícios de flutuações locais.[11] No entanto, não se considera que a espécie se encontre em declínio segundo os critérios definidos pelaUnião Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN). Por esses motivos, foi avaliada comoPouco preocupante naLista Vermelha da IUCN de 2009,[11] e não tem estatuto especial ao abrigo daConvenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES), que regula o comércio internacional de espécimes de plantas e animais selvagens.[76]

De um modo geral, as populações dopaleártico ocidental estão estáveis ou em crescimento,[30] mas registaram-se declínios locais ao longo das últimas décadas, especialmente emzonas agrícolas, possivelmente devido a políticasagrárias que encorajaram os agricultores a remover sebes, que fornecem locais para os ninhos, e a drenar pastagens húmidas e aumentar o uso depesticidas, provocando a diminuição do número de invertebrados de que esta espécie se alimenta.[61] Na Europa, a população de melros-pretos regista uma tendência ligeiramente crescente desde adécada de 1990, particularmente naAlemanha, naFrança e naItália,[11] e noReino Unido registou-se uma recuperação assinalável durante a última década, após uma queda de cerca de 25% entre asdécadas de 1970 e1990, tendo o seu estado de conservação sido revisto deÂmbar (nível médio de preocupação) paraVerde (nível baixo de preocupação) em 2002.[77] EmPortugal, está classificada comoPouco preocupante.[78]

Espécie introduzida

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Fêmea deT. m. merula no ninho, Austin's Ferry,Hobart,Tasmânia,Austrália.

O melro-preto foiintroduzido na Austrália emMelbourne durante adécada de 1850, tendo-se expandido desde Melbourne eAdelaide a todo o sudeste da Austrália, incluindo aTasmânia e as ilhas doestreito de Bass.[3] Esta espécie é considerada umapraga nesse país, pois causa danos a uma grande variedade de drupas e bagas em pomares,vinhas, parques e jardins, sendo também particularmente destrutiva da vegetação rasteira, particularmente emhortas.[3][79] Para além disso, contribui para espalharervas daninhas introduzidas como assilvas, e compete comaves nativas por alimento e locais de nidificação.[79]

Na Nova Zelândia, foi introduzido em 1862, tendo-se expandido a todo o país até aos 1 500 m de altitude, incluindo asilhas Campbell eKermadec. É, juntamente com a espécie nativaZosterops lateralis, a mais amplamente distribuída ave dispersora de sementes do país.[4] Alimenta-se de uma grande variedade de drupas nativas e exóticas, contribuindo fortemente para o desenvolvimento de comunidades de ervas daninhas introduzidas como as silvas, cujos frutos são mais adequados à alimentação de aves nativasnão endémicas ou introduzidas do que a aves endémicas.[80] Sendo uma espécie introduzida, não é legalmente protegida nesse país, podendo ser abatida em qualquer altura.[81]

Caça

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NaUnião Europeia, acaça ao melro-preto é regulamentada pela Diretiva 79/409/CEE do Conselho, de 2 de abril de 1979, relativa à conservação das aves selvagens,[50][82] sendo permitida em diversos países incluindo a França[50] ePortugal.[83] Em França, oOffice National de la Chasse et de la Faune Sauvage (Gabinete Oficial da Caça e da Fauna Selvagem) estima que entre 1998 e 1999 tenham sido abatidas cerca de 985 000 aves desta espécie em todo o país.[50] O melro-preto pode ser caçado atiro ou capturado vivo com uma varinha enviscada (pequeno ramo revestido com cola) para servir de chamariz. Este último método, utilizado nosdepartamentos dosAlpes da Alta Provença,Alpes Marítimos,Bocas do Ródano,Var eVaucluse, é regulamentado pordecreto ministerial e sujeito a autorização por parte daprefeitura.[50]

Na cultura e na literatura

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Na cultura

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Brasão deSanta Maria de Merlès,Catalunha.

Algumas fontes indicam que, ao contrário de outras criaturas negras, esta espécie não é normalmente vista como um símbolo de má sorte,[84] enquanto outras afirmam o contrário.[85][86] O melro-preto era visto como uma ave sagrada mas destrutiva nofolclore daGrécia Antiga, e dizia-se que morreria se consumisseromã.[87] O canto melodioso desta espécie torna-o num símbolo para astentações, especialmente as sexuais;[85] segundo atradiçãocristã, oDiabo terá certa vez tomado a forma de um melro-preto e voado contra a cara deSão Bento, fazendo com que o santo sentisse um desejo sexual intenso por uma rapariga. Para se salvar da tentação, São Bento terá arrancado as suas roupas e saltado para dentro de um arbusto espinhoso, o que o terá libertado de tentações sexuais para o resto da vida.[85] Por outro lado, diz-se que dois melros-pretos juntos são um símbolo depaz e de boasorte,[85][86] e muitas culturas consideravam esta ave uma representação daalma, e como tal usavam-na para indicar a vida eterna.[86]

O melro-preto figura nosbrasões de armas de várias cidades e regiões de diferentes países, tais comoKrukow (Alemanha),Santa Maria de Merlès (Espanha),Braine eLe Merlerault (França). Esta espécie já surgiu ainda representada emselos postais de países como aSuécia, aFinlândia, as ilhas Feroe, aEstónia, o Reino Unido, aIrlanda e Portugal.[88] Como resultado de uma votação popular levada a cabo entre os leitores do jornal matutino suecoDagens Nyheter, o melro-preto é desde 1962 a ave nacional da Suécia,[12] que possui uma população de 1-2 milhões de pares.[30]

Dada a sua proximidade ao homem existem numerosas referências ao melro-preto emditados populares portugueses, tais como: "Cada tiro, cada melro." (quando alguém não consegue acertar em algo após sucessivas tentativas); "Água ao melro que lhe seca o bico."; "Cantam os melros, calam-se os pardais.";[89] "Melro que pia, o poiso denuncia."; "Melro que bem assobia, muita minhoca já engoliu."; "Quando o melro canta em janeiro, é tempo de sequeiro o ano inteiro." (quando os melros-pretos começam a cantar tão cedo é porque o tempo está mais quente e será uma estação com menos chuvas, e logo pior para as colheitas);[90] e "Melro de bico amarelo, come a semente e o farelo." (reflexo de como os agricultores veem esta ave).[90]

Ilustração deSing a Song for Sixpence (1880), porRandolph Caldecott.

Tal como muitas outras pequenas aves, o melro-preto foi no passado capturado nos seus poleiros noturnos naszonas rurais, a fim de servir como complemento àdieta,[84] e atualmente entra na composição de uma especialidade da cozinhacorsa, a tarte de melro. Abrincadeiramedieval de colocar aves vivas sob a crosta de uma tarte imediatamente antes de a servir pode ter sido a origem de uma familiarcantiga de rodainglesa,Sing a Song of Sixpence:[84][91]

"Sing a song of sixpence, a pocket full of rye.
Four and twenty blackbirds, baked in a pie.
When the pie was opened, the birds began to sing;
Wasn't that a dainty dish, to set before the king?"[91]

Uma canção infantil alemã intituladaEin Vogel wollte Hochzeit machen (lit.Uma ave queria casar-se) conta a história do casamento entre um melro-preto e um tordo,[92] eLe merle noir (O melro-preto) é o nome de uma composição musical do compositor francêsOlivier Messiaen, inspirada pelo canto destas aves. A canção do melro-preto serviu igualmente de inspiração à cançãoBlackbird, dosBeatles:

"Blackbird singing in the dead of night,
Take these broken wings and learn to fly
All your life,
You were only waiting for this moment to arise."[93]

Na literatura

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Turdus merula num selo dasilhas Feroe.

O melro-preto, espécie amplamente distribuída noVelho Mundo, é mencionada e descrita em diversos textos antigos. Uma das referências mais antigas a esta espécie remonta aAristóteles, que a menciona como a principal espécie de melro no décimo-nono capítulo do nono livro do seuHistoria animalium, sob o nome deCottyphus (Κοττύφος).[94]

Em 1555,Pierre Belon, na sua obraL'histoire de la nature des oyseaux, diz que "Chacun sait qu'il est de couleur noire, et que son bec devient jaune en vieillissant…" ("Toda a gente sabe que ele é negro, e que seu bico se torna amarelo com a idade...") e também que "Les médecins tiennent qu'il engendre bonnes humeurs, acomparants la chair à celle de la Grive aussi ont maintenant coutume de concéder aux malades d'en manger, l'estimant de facile digestion." ("Os médicos acreditam que gera bons humores, comparando a sua carne à do tordo que costuma ser utilizada para alimentar os doentes, considerando-a de fácil digestão.").[95] O melro-preto foi também recenseado porCarolus Linnaeus em 1746 na sua obra sobre a fauna da Suécia,Fauna Svecica.[96]

R. S. Thomas escreveu no seupoemaA Blackbird Singing que existe nele uma sugestão de lugares negros,[97] e o melro-preto simboliza aresignação natrágica e macabrapeça doséculo XVII,The Duchess of Malfi;[98] uma conotação alternativa é avigilância, simbolizada pelo distinto grito de alarme da ave.[98] O distinto canto melodioso do melro-preto é o tema do poema deEdward Thomas,Adlestrop,[99] e o poemeto deGuerra Junqueiro,O melro, publicado na edição de 1885 do seu livroA Velhice do Padre Eterno, é baseado na crença popular de que os melros-pretos e outros pássaros, como ospintassilgos e osrouxinóis, envenenam os filhos quando os encarceram.[100]

Ver também

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