¹Não reconhecida internacionalmente. Os líderes depostos, o Presidente,Sidi Ould Cheikh Abdallahi, e o Primeiro-Ministro, Yahya Ould Ahmed El Waghef, deixaram de ter poder desde que foram presos por forças militares.
A escravidão na Mauritânia ainda existe, apesar de oficialmente abolida por três vezesː 1905, 1981, e de novo em Agosto de 2007. Ativistas antiesclavagismo são perseguidos, presos e torturados.[4][5]
Doséculo V ao VII, amigração detribosberberes doNorte da África expulsou da região osbafures, habitantes originais da atual Mauritânia, ancestrais dossoninquês. Os bafures eram primordialmenteagricultores, e estavam entre os primeiros povos doSaara a abandonar o seu estilo de vida tradicionalmentenômade. Com o gradual processo dedesertificação da região, migraram para o sul. Seguiu-se uma migração em massa do povo que habitava a região do Saara Central para aÁfrica Ocidental, até que em 1076monges-guerreirosislâmicos (almorávidas) atacaram e conquistaram o antigoImpério do Gana, e assumiram o controle da região. Pelos próximos 500 anos osárabes foram a casta dominante da sociedade local, enfrentando resistência feroz da população local (tanto berberes quanto não berberes), da qual aGuerra de Char Bubá (1644-1674) foi o esforço derradeiro e malsucedido. Esta guerra colocou a população da Mauritânia contra invasores árabes da tribomaquil, vindos doIêmen, liderados pela tribo dosBanu Haçane. Os descendentes desta tribo tornaram-sehaçanes, camada mais alta da sociedademoura. Os berberes mantiveram sua influência por terem a maior parte dosmarabutos - indivíduos que preservam e ensinam a tradição islâmica. Muitas das tribos berberes alegam origem iemenita (ou árabe em geral), porém há pouca evidência que comprove o fato, embora existam estudos que façam uma ligação entre os dois povos.[6] Ohassaniya, umdialeto árabe influenciado peloberbere, cujo nome é derivado de Banu Haçane, tornou-se o idioma dominante entre a população nômade da época.
A colonização francesa gradualmente absorveu os territórios da atual Mauritânia eSenegal a partir do início doséculo XIX. Em 1901 omilitarfrancêsXavier Coppolani assumiu o controle da missão colonial. Através de uma combinação de alianças estratégicas com as triboszauias e pressão militar sobre os guerreiros nômades haçanes, Coppolani conseguiu ampliar o domínio francês por todos osemirados mauritanos:Trarza,Brakna eTagant rapidamente se submeteram a tratados com os poderes coloniais (1903-1904), porém oEmirado de Adrar, situado ao norte, resistiu por mais tempo, auxiliado pela rebelião anticolonial (jiade) doxeiqueMaa al-Aynayn. Foi derrotado militarmente em 1912, e incorporado ao território da Mauritânia, que havia sido estabelecido em 1904. A Mauritânia passaria a fazer parte daÁfrica Ocidental Francesa a partir de 1920.
A dominação francesa trouxe proibições legais contra aescravidão, e pôs um fim às guerras entre os diferentesclãs. Durante o período colonial a população continuou nômade, porém diversos povos sedentários, cujos ancestrais haviam sido expulsos havia séculos, começaram a retornar aos poucos à Mauritânia. Quando o país obteve suaindependência, em 1960, e acapitalNuaquexote foi fundada, no local duma pequenaaldeia colonial, Ksar, 90% ainda era nômade. Com a independência, muitas populações indígenas daÁfrica subsaariana, como ostuculores,soninquês, euolofes, entraram na Mauritânia, movendo-se para a área ao norte dorio Senegal. Educados noidioma e nos costumes franceses, muitos destes recém-chegados tornaram-se funcionários, soldados e administradores do novo estado. Este fato, em conjunto com a opressão militar dos franceses, especialmente contra tribos haçanes mais intransigentes, do norte do país, predominantemente mouro, afetou os antigos equilíbrios de poder, e criou novos motivos para conflito entre as populações subsaarianas do sul do país e os mouros e berberes do norte. Entre estes grupos estavam osharatin, uma enorme população de escravos arabizados, devidamente inseridos na sociedade moura, e integrados numa casta inferior. A escravidão é até hoje em dia uma prática comum no país, embora ilegal.[7]
Os mouros reagiram a estas mudanças, e aos apelos dosnacionalistas árabes do exterior, através de uma maior pressão paraarabizar diversos aspectos da vida mauritana, como asleis e oidioma. Umcisma acabou por desenvolver-se entre os mouros que consideram a Mauritânia um país árabe, e aqueles que desejam um papel dominante para os povos não mouros, com diversos modelos para a contenção da diversidade cultural do país tendo sido sugeridos sem que qualquer um deles tenha sido implementado com sucesso. Esta discórdia étnica ficou evidente durante os episódios de violência intercomunitária que eclodiram em abril de 1989 (eventos de 1989 econflito senegalo-mauritano), que já arrefeceram. A tensão étnica e a questão delicada da escravidão - tanto no passado como, em diversas áreas do país, no presente - ainda é um tema de muita força no debate político nacional; porém um número significativo de pessoas de todos os grupos parece procurar uma sociedade mais diversa e pluralista. Foi também um dos últimos países a abolir a escravidão no mundo, somente em 9 de novembro de 1981, pelo decreto n.º 81 234.[8]
Com 1 030 700 km²,[9] a Mauritânia é o 29º país do mundo em extensão, com dimensões comparáveis às doEgito.
A Mauritânia é quase inteiramente plana, com a maior parte do seu território formandoplanícies vastas e áridas, cortadas portergos e formações semelhantes apenhascos. Uma série deescarpas, voltadas para o sudoeste, divide longitudinalmente estas planícies, no meio do país. As escarpas também separam uma série deplanaltos dearenito, dos quais o mais alto é oPlatô de Adrar, que chega a uma altitude de 500metros.
Diversosoásis sazonais percorrem os sopés de algumas destas escarpas. Algunspicos isolados, frequentemente ricos emminérios, se elevam sobre os planaltos; os menores deles são chamados deguelbs, e os mais altos dekedias. OGuelb er Richat, também conhecido comoEstrutura de Richat, tem forma concêntrica, e é um marco importante da região norte-central.Kediet Ijill, próximo à cidade deZouîrât, tem uma elevação de 1 000 metros, e é o pico mais alto.
Aproximadamente três quartos da Mauritânia sãodesérticos ou semidesérticos. Como resultado desecas intensas e prolongadas, o deserto vem se expandindo desde adécada de 1960. A oeste, entre ooceano e os platôs, alternam-se áreas de planíciesargilosas (regs) edunas deareia (ergs), muitas dos quais deslocam-se ao longo do tempo, movimentadas pelos fortesventos. As dunas geralmente aumentam de tamanho e movimentam-se mais rapidamente nas regiões situadas ao norte do país.
Em 2021, a população da Mauritânia chegou a 4,3 milhões de pessoas. A expectativa de vida é de aproximadamente 61,14 anos.[10] Entre os grupos étnicos, cerca de 70% são mouros, outros 40% mouros negros (Haratines) e 30%mouros brancos (Beydane); 30%negros de cultura não árabes.[10]
Oárabe é alíngua oficial e nacional da Mauritânia. A variedade falada localmente, conhecida comohassani, contém muitas palavrasberberes e difere significativamente doárabe moderno padrão utilizado para comunicação oficial. Opulaar, osoninquê e ouolofe também servem como línguas nacionais.[10] Ofrancês é amplamente utilizado na mídia e entre as classes instruídas.[11]
A situaçãopolítica da Mauritânia sempre foi determinada mais por indivíduos e tribos específicas do que porideologias. A habilidade dos líderes em exercer seu poder político esteve sempre intimamente ligada ao controle dos recursos, à visão comunitária a respeito de sua habilidade e integridade e considerações tribais, étnicas, familiares e pessoais. O conflito entre os chamados "mouros brancos", "mouros negros" (haratine) egrupos étnicos não mouros (haal pulaars,soninquês,uólofes ebambaras), com ênfase noidioma, propriedade de terras e outras questões, continua a ser o principal desafio à unidade nacional.
Aburocracia governamental é composta deministérios tradicionais, além de agências especiais e companhiasparaestatais. OMinistério do Interior comanda um sistema degovernadores eprefeitos regionais, que seguem o modelo do sistemafrancês de administração local. Sob este sistema, a Mauritânia se divide em treze regiões (vilaietes), incluindo o distrito da capital,Nuaquexote. O controle está fortemente centralizado no ramoexecutivo do governo central; no entanto, uma série de eleições nacionais e municipais desde 1992 já produziram algumadescentralização, ainda que limitada em seu escopo.
A Mauritânia, juntamente com oMarrocos, anexou o território vizinho doSaara Ocidental em 1976, capturando o terço sul do país a pedido da antiga potênciacolonial,Espanha. Após diversas derrotas militares na luta contra a resistência local, oPolisário, fortemente armada e apoiada pelaArgélia, a Mauritânia foi forçada a recuar em 1979 e sua parte foi tomada pelo Marrocos. Devido à sua economia enfraquecida, a Mauritânia tem tido um papel pouco significante nas discussões sobre as disputas territoriais daquele país e sua posição oficial é de que ela deseja uma solução rápida que seja aceita unanimemente por todas as partes envolvidas. Enquanto o antigo Saara Espanhol ou Ocidental acabou sendo incorporado ao Marrocos, aOrganização das Nações Unidas ainda o considera um território que precisa expressar seus desejos a respeito da sua soberania e planeja um futuroreferendo a este respeito.
Em 31 de janeiro de 2008, o representante permanente daRepública da Armênia nas Nações Unidas, Armen Martirosyan, assinou umprotocolo com Abderahim Ould Hadrami, representante da Mauritânia, estabelecendo as relações diplomáticas entre os dois países.
Em 6 de agosto de 2008, ocorreu umgolpe militar que depôs o governo civil eleito democraticamente em 2007. Presidente e primeiro-ministro foram presos. Arádio e atelevisão nacionais saíram do ar pouco antes do anúncio.
A Mauritânia está dividida em dozeregiões (régions) e umdistrito capital, que por sua vez está subdividido em 44departamentos (département). As regiões, o distrito capital (em ordem alfabética), juntamente com suascapitais, são:
Uma maioria da população depende daagricultura e dapecuária para a sobrevivência, ainda que a maioria dos nômades e praticantes do cultivo de subsistência tenham sido forçados para as cidades, devido às secas recorrentes ocorridas nas décadas de 1970 e 1980. A Mauritânia tem amplos depósitos de minério deferro, que totalizam quase 50% do total das exportações do país. Com o aumento dos preços dosmetais, companhias mineradoras deouro ecobre abriramminas no interior do país. As águas territoriais mauritanas estão entre as mais ricas empeixes no mundo, porém a exploração abusiva por parte de pescadores estrangeiros tem ameaçado esta fonte vital de renda. O primeiroporto de águas profundas foi aberto perto deNuaquexote, capital do país, em 1986. Nos últimos anos, as secas e as crises financeiras ocasionaram o aumento dadívida externa. Em março de 1999 o governo assinou um acordo com uma missão conjunta doBanco Mundial e doFundo Monetário Internacional, visando a fazer os ajustes necessários na situação econômica do país e estabelecer metas de crescimento.
Opetróleo foi descoberto na Mauritânia em 2001 noDepósito de Chinguetti. Embora sejam potencialmente significativas para a economia do país, as jazidas foram descritas como "de pequeno porte".[13] A Mauritânia possui 51 blocos confirmados de petróleo - 19offshore e 32onshore - mas existem pesquisas em andamento visando a futuras descobertas de campos petrolíferos.
A Amnistia Internacional acusou o sistema jurídico mauritano de funcionar com total desrespeito pelos procedimentos legais, julgamento justo ou prisão humana. A Amnistia Internacional também acusou o governo mauritano de um uso institucionalizado e contínuo de tortura durante décadas.[14][15]
OsHaratin, mauritanos negros, de origem africana, são discriminados a favor dosBidans, mauritanos claros, de origem berbere, de quem são muitas vezes escravos, apesar de, no papel, a Mauritânia já ter abolido a escravatura por três vezes. O governo continua a deter ativistas antiescravistas e antidiscriminação.[5][4][16]
A Mauritânia, juntamente comMadagascar, é um dos únicos dois países do mundo que não utilizam osistema decimal para a suamoeda, cuja unidade básica, oouguiya, é composto por cincokhoums.
Outros aspectos da cultura mauritana podem ser vistos em:
↑Chaabani H; Sanchez-Mazas A, Sallami SF (2000). «Genetic differentiation of Yemeni people according to rhesus and Gm polymorphisms».Annales de Génétique.43 (3-4): 155-62.PMID11164198A referência emprega parâmetros obsoletos|coautor= (ajuda);|acessodata= requer|url= (ajuda)
↑Ver o relato do proprietário de escravos Abdel Nasser Ould Yasser emEnslaved, True stories of Modern Day Slavery, editado por Jesse Sage e Liora Kasten
↑Agence Nationale de la Statistique et de l'Analyse Démographique et Economique.«Population des Wilayas, Moughataa et Communes»(PDF).Recensement Général de la Population et de l’Habitat 2023 (em francês). Consultado em 4 de novembro de 2024