AMauritânia (emárabe:موريتانيا;transl.Mūrītānyā; emberbere:Muritanya ouAgawej; emuolofe:Gànnaar; emsoninquê:Murutaane; empulaar:Moritani; emfrancês:Mauritanie,pronunciado: [moʁitani]), oficialmenteRepública Islâmica da Mauritânia (em árabe: الجمهورية الإسلامية الموريتانية, translit.:al-Jumhūriyyah al-ʾIslāmiyyah al-Mūrītāniyyah), é um país soberano nonoroeste da África. Faz fronteira com oOceano Atlântico a oeste, oSaara Ocidental a norte e noroeste, aArgélia a nordeste, oMali a leste e sudeste e oSenegal a sudoeste. Em termos de área territorial, a Mauritânia é o 11º maior país da África e o 28º maior do mundo; 90% do seu território está noSaara. A maior parte da sua população, cerca de 4,3 milhões, vive no sul temperado do país, com cerca de um terço concentrado na capital e maior cidade,Nuaquexote, na costa atlântica.
O nome do país deriva deMauretania, o nome latino para uma região do antigoMagrebe. Estendia-se da atual Argélia central até o Atlântico. Os berberes ocuparam o que hoje é a Mauritânia no início do século III d.C. Grupos de tribos árabes migraram para esta área no final do século VII, trazendo consigo o islamismo, a cultura árabe e a língua árabe. No início doséculo XX, a Mauritânia foicolonizada pela França como parte daÁfrica Ocidental Francesa. Conquistou a independência em 1960, mas desde então passou por golpes recorrentes e períodos de ditadura militar. Ogolpe de Estado mauritano de 2008 foi liderado pelo GeneralMohamed Ould Abdel Aziz, que venceu as eleições presidenciais subsequentes em2009 e 2014.[5] Ele foi sucedido pelo GeneralMohamed Ould Ghazouani após aseleições de 2019,[6] chefe de um governo autocrático com um histórico de direitos humanos muito ruim, particularmente devido à perpetuação daescravidão; oÍndice Global de Escravidão de 2018 estima que existam cerca de 90 mil escravos no país (ou 2,1% da população).[7][8][9]
Apesar da abundância de recursos naturais, incluindominério de ferro epetróleo, a Mauritânia permanece pobre; sua economia é baseada principalmente naagricultura,pecuária epesca. A Mauritânia faz parte cultural e politicamente domundo árabe; é membra daLiga Árabe e oárabe é a língua oficial. A religião oficial é oislamismo, e quase todos os habitantes sãomuçulmanos sunitas. Apesar de sua identidade árabe predominante, a sociedade mauritana é multiétnica; os Bidhan, ou os chamados "mouros brancos", representam 30% da população,[10] enquanto os Haratin, ou os chamados "mouros negros", representam 40%.[10] Ambos os grupos refletem uma fusão de etnia, língua e cultura árabe-berbere. Os 30% restantes da população compreendem váriosgrupos étnicos subsaarianos.
O território da Mauritânia moderna, localizado consideravelmente mais ao sul, não corresponde ao da antiga região. O nome "Mauritânia Ocidental" foi proposto por Xavier Coppolani, um oficial daÁfrica Ocidental Francesa, quando criou a nova colônia francesa no território da Mauritânia moderna. Este nome, que evoca o do antigo reino berbere, aparece pela primeira vez em 27 de dezembro de 1899 em um documento oficial francês.[11][13]
Antes de adotar seu nome atual, a Mauritânia era conhecida nomundo árabe como "Bilad Chinguetti " (o país de Chingueti), em referência à cidade deChingueti, um importante centro comercial, religioso e intelectual.[14][15]
Doséculo V aoVII, amigração detribosberberes doNorte da África expulsou da região os bafures, habitantes originais da atual Mauritânia, ancestrais dossoninquês. Os bafures eram primordialmenteagricultores, e estavam entre os primeiros povos doSaara a abandonar o seu estilo de vida tradicionalmentenômade. Com o gradual processo dedesertificação da região, migraram para o sul. Seguiu-se uma migração em massa do povo que habitava a região do Saara Central para aÁfrica Ocidental, até que em 1076monges-guerreirosislâmicos (almorávidas) atacaram e conquistaram o antigoImpério do Gana, e assumiram o controle da região. Pelos próximos 500 anos osárabes foram a casta dominante da sociedade local, enfrentando resistência feroz da população local (tanto berberes quanto não berberes), da qual a Guerra de Char Bubá (1644–1674) foi o esforço derradeiro e malsucedido. Esta guerra colocou a população da Mauritânia contra invasores árabes da tribo maquil, vindos doIêmen, liderados pela tribo dos Banu Haçane. Os descendentes desta tribo tornaram-se haçanes, camada mais alta da sociedademoura. Os berberes mantiveram sua influência por terem a maior parte dosmarabutos — indivíduos que preservam e ensinam a tradição islâmica. Muitas das tribos berberes alegam origem iemenita (ou árabe em geral), porém há pouca evidência que comprove o fato, embora existam estudos que façam uma ligação entre os dois povos.[16] Ohassaniya, um dialeto árabe influenciado peloberbere, cujo nome é derivado de Banu Haçane, tornou-se o idioma dominante entre a população nômade da época.
A colonização francesa gradualmente absorveu os territórios da atual Mauritânia eSenegal a partir do início doséculo XIX. Em 1901 omilitarfrancês Xavier Coppolani assumiu o controle da missão colonial. Através de uma combinação de alianças estratégicas com as tribos zauias e pressão militar sobre os guerreiros nômades haçanes, Coppolani conseguiu ampliar o domínio francês por todos osemirados mauritanos:Trarza,Brakna eTagante rapidamente se submeteram a tratados com os poderes coloniais (1903-1904), porém o Emirado de Adrar, situado ao norte, resistiu por mais tempo, auxiliado pela rebelião anticolonial (jiade) doxeique Maa al-Aynayn. Foi derrotado militarmente em 1912, e incorporado ao território da Mauritânia, que havia sido estabelecido em 1904. A Mauritânia passaria a fazer parte daÁfrica Ocidental Francesa a partir de 1920.
A dominação francesa trouxe proibições legais contra aescravidão, e pôs um fim às guerras entre os diferentesclãs. Durante o período colonial a população continuou nômade, porém diversos povos sedentários, cujos ancestrais haviam sido expulsos havia séculos, começaram a retornar aos poucos à Mauritânia. Quando o país obteve suaindependência, em 1960, e acapitalNuaquexote foi fundada, no local duma pequenaaldeia colonial, Ksar, 90% ainda era nômade. Com a independência, muitas populações indígenas daÁfrica subsaariana, como ostuculores,soninquês, euolofes, entraram na Mauritânia, movendo-se para a área ao norte dorio Senegal. Educados noidioma e nos costumes franceses, muitos destes recém-chegados tornaram-se funcionários, soldados e administradores do novo estado. Este fato, em conjunto com a opressão militar dos franceses, especialmente contra tribos haçanes mais intransigentes, do norte do país, predominantemente mouro, afetou os antigos equilíbrios de poder, e criou novos motivos para conflito entre as populações subsaarianas do sul do país e os mouros e berberes do norte. Entre estes grupos estavam osharatin, uma enorme população de escravos arabizados, devidamente inseridos na sociedade moura, e integrados numa casta inferior. A escravidão é até hoje em dia uma prática comum no país, embora ilegal.[17]
Os mouros reagiram a estas mudanças, e aos apelos dosnacionalistas árabes do exterior, através de uma maior pressão paraarabizar diversos aspectos da vida mauritana, como asleis e oidioma. Umcisma acabou por desenvolver-se entre os mouros que consideram a Mauritânia um país árabe, e aqueles que desejam um papel dominante para os povos não mouros, com diversos modelos para a contenção da diversidade cultural do país tendo sido sugeridos sem que qualquer um deles tenha sido implementado com sucesso. Esta discórdia étnica ficou evidente durante os episódios de violência intercomunitária que eclodiram em abril de 1989 (eventos de 1989 e conflito senegalo-mauritano), que já arrefeceram. A tensão étnica e a questão delicada da escravidão — tanto no passado como, em diversas áreas do país, no presente — ainda é um tema de muita força no debate político nacional; porém um número significativo de pessoas de todos os grupos parece procurar uma sociedade mais diversa e pluralista. Foi também um dos últimos países a abolir a escravidão no mundo, somente em 9 de novembro de 1981, pelo decreto n.º 81 234.[18]
Com 1 030 700 km²,[19] a Mauritânia é o 29º país do mundo em extensão, com dimensões comparáveis às doEgito.
A Mauritânia é quase inteiramente plana, com a maior parte do seu território formandoplanícies vastas e áridas, cortadas portergos e formações semelhantes apenhascos. Uma série deescarpas, voltadas para o sudoeste, divide longitudinalmente estas planícies, no meio do país. As escarpas também separam uma série deplanaltos dearenito, dos quais o mais alto é o Platô de Adrar, que chega a uma altitude de 500metros.
Diversosoásis sazonais percorrem os sopés de algumas destas escarpas. Alguns picos isolados, frequentemente ricos emminérios, se elevam sobre os planaltos; os menores deles são chamados deguelbs, e os mais altos dekedias. O Guelb er Richat, também conhecido comoEstrutura de Richat, tem forma concêntrica, e é um marco importante da região norte-central. Kediet Ijill, próximo à cidade de Zouîrât, tem uma elevação de 1 000 metros, e é o pico mais alto.
Aproximadamente três quartos da Mauritânia sãodesérticos ou semidesérticos. Como resultado desecas intensas e prolongadas, o deserto vem se expandindo desde adécada de 1960. A oeste, entre ooceano e os platôs, alternam-se áreas de planíciesargilosas (regs) edunas deareia (ergs), muitas dos quais deslocam-se ao longo do tempo, movimentadas pelos fortesventos. As dunas geralmente aumentam de tamanho e movimentam-se mais rapidamente nas regiões situadas ao norte do país.
Em 2021, a população da Mauritânia chegou a 4,3 milhões de pessoas. A expectativa de vida é de aproximadamente 61,14 anos.[20] Entre os grupos étnicos, cerca de 70% sãomouros. Destes, 40% são mouros negros (Haratines) e 30% mouros brancos (Beydane). O resto da população são 30%negros de cultura não árabe, como ostuculores,fulas,mandês ejalofos.[20]
Oárabe é alíngua oficial e nacional da Mauritânia. A variedade falada localmente, conhecida comohassani, contém muitas palavrasberberes e difere significativamente doárabe moderno padrão utilizado para comunicação oficial. Opulaar, osoninquê e ouolofe também servem como línguas nacionais.[20] Ofrancês é amplamente utilizado na mídia e entre as classes instruídas.[21]
A situaçãopolítica da Mauritânia sempre foi determinada mais por indivíduos e tribos específicas do que porideologias. A habilidade dos líderes em exercer seu poder político esteve sempre intimamente ligada ao controle dos recursos, à visão comunitária a respeito de sua habilidade e integridade e considerações tribais, étnicas, familiares e pessoais. O conflito entre os chamados "mouros brancos", "mouros negros" (haratine) egrupos étnicos não mouros (haal pulaars,soninquês,uólofes ebambaras), com ênfase noidioma, propriedade de terras e outras questões, continua a ser o principal desafio à unidade nacional.
Aburocracia governamental é composta deministérios tradicionais, além de agências especiais e companhiasparaestatais. O Ministério do Interior comanda um sistema degovernadores eprefeitos regionais, que seguem o modelo do sistemafrancês de administração local. Sob este sistema, a Mauritânia se divide em treze regiões (vilaietes), incluindo o distrito da capital,Nuaquexote. O controle está fortemente centralizado no ramoexecutivo do governo central; no entanto, uma série de eleições nacionais e municipais desde 1992 já produziram algumadescentralização, ainda que limitada em seu escopo.
A Mauritânia, juntamente com oMarrocos, anexou o território vizinho doSaara Ocidental em 1976, capturando o terço sul do país a pedido da antiga potênciacolonial,Espanha. Após diversas derrotas militares na luta contra a resistência local, oPolisário, fortemente armada e apoiada pelaArgélia, a Mauritânia foi forçada a recuar em 1979 e sua parte foi tomada pelo Marrocos. Devido à sua economia enfraquecida, a Mauritânia tem tido um papel pouco significante nas discussões sobre as disputas territoriais daquele país e sua posição oficial é de que ela deseja uma solução rápida que seja aceita unanimemente por todas as partes envolvidas. Enquanto o antigo Saara Espanhol ou Ocidental acabou sendo incorporado ao Marrocos, aOrganização das Nações Unidas ainda o considera um território que precisa expressar seus desejos a respeito da sua soberania e planeja um futuroreferendo a este respeito.
O Ministro do Exterior da Mauritânia Ahmed Sid’Ahmed e seu equivalenteisraelense David Levy assinaram um acordo emWashington, D.C., nosEstados Unidos, em 28 de outubro de 1999, estabelecendo as relações diplomáticas entre os dois países, na presença da secretária de estado estadunidenseMadeleine Albright. A Mauritânia se juntou aoEgito e àJordânia como únicos membros daLiga Árabe a terembaixadores em Israel.
Em 31 de janeiro de 2008, o representante permanente daRepública da Armênia nas Nações Unidas, Armen Martirosyan, assinou um protocolo com Abderahim Ould Hadrami, representante da Mauritânia, estabelecendo as relações diplomáticas entre os dois países.
A Amnistia Internacional acusou o sistema jurídico mauritano de funcionar com total desrespeito pelos procedimentos legais, julgamento justo ou prisão humana. A Amnistia Internacional também acusou o governo mauritano de um uso institucionalizado e contínuo detortura durante décadas.[24][25]
Os Haratin, mauritanos negros, de origem africana, são discriminados a favor dos Bidans, mauritanos claros, de origem berbere, de quem são muitas vezes escravos, apesar de, no papel, a Mauritânia já ter abolido a escravatura por três vezes. O governo continua a deter ativistas antiescravistas e antidiscriminação.[26][27][28]
A Mauritânia está dividida em dozeregiões (régions) e umdistrito capital, que por sua vez está subdividido em 44departamentos (département). As regiões, o distrito capital (em ordem alfabética), juntamente com suascapitais, são:
Uma maioria da população depende daagricultura e dapecuária para a sobrevivência, ainda que a maioria dos nômades e praticantes do cultivo de subsistência tenham sido forçados para as cidades, devido às secas recorrentes ocorridas nas décadas de 1970 e 1980. A Mauritânia tem amplos depósitos de minério deferro, que totalizam quase 50% do total das exportações do país. Com o aumento dos preços dosmetais, companhias mineradoras deouro ecobre abriramminas no interior do país. As águas territoriais mauritanas estão entre as mais ricas empeixes no mundo, porém a exploração abusiva por parte de pescadores estrangeiros tem ameaçado esta fonte vital de renda. O primeiro porto de águas profundas foi aberto perto deNuaquexote, capital do país, em 1986. Nos últimos anos, as secas e as crises financeiras ocasionaram o aumento dadívida externa. Em março de 1999, o governo assinou um acordo com uma missão conjunta doBanco Mundial e doFundo Monetário Internacional, visando a fazer os ajustes necessários na situação econômica do país e estabelecer metas de crescimento.
Opetróleo foi descoberto na Mauritânia em 2001 no Depósito de Chinguetti. Embora sejam potencialmente significativas para a economia do país, as jazidas foram descritas como "de pequeno porte".[29] A Mauritânia possui 51 blocos confirmados de petróleo — 19offshore e 32onshore — mas existem pesquisas em andamento visando a futuras descobertas de campos petrolíferos.
A Mauritânia, juntamente comMadagascar, é um dos únicos dois países do mundo que não utilizam osistema decimal para a suamoeda, cuja unidade básica, oouguiya, é composto por cinco khoums.
Outros aspectos da cultura mauritana podem ser vistos em:
↑User, Super.«CHINGUETTI».www.embajadamauritania.es (em espanhol). Consultado em 14 de junho de 2025. Arquivado dooriginal em 9 de dezembro de 2018
↑Chaabani H; Sanchez-Mazas A, Sallami SF (2000). «Genetic differentiation of Yemeni people according to rhesus and Gm polymorphisms».Annales de Génétique.43 (3-4): 155-62.PMID11164198A referência emprega parâmetros obsoletos|coautor= (ajuda);|acessodata= requer|url= (ajuda)
↑Ver o relato do proprietário de escravos Abdel Nasser Ould Yasser emEnslaved, True stories of Modern Day Slavery, editado por Jesse Sage e Liora Kasten
↑Agence Nationale de la Statistique et de l'Analyse Démographique et Economique.«Population des Wilayas, Moughataa et Communes»(PDF).Recensement Général de la Population et de l’Habitat 2023 (em francês). Consultado em 4 de novembro de 2024