| Marcha de Aníbal a Roma | |||
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| Segunda Guerra Púnica | |||
Roma na época do ataque deAníbal. | |||
| Data | 211 a.C. | ||
| Local | Roma,Lácio | ||
| Coordenadas | 41° 54' N12° 30' E | ||
| Desfecho | Fracasso estratégico cartaginês | ||
| Beligerantes | |||
| Comandantes | |||
| Forças | |||
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| Baixas | |||
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| Localização de Roma no que é hoje aItália | |||
AMarcha de Aníbal a Roma, conhecida também comoBatalha de Roma, foi realizada em 211 a.C. durante aSegunda Guerra Púnica. O general cartaginêsAníbal marchou de surpresa com seu exército contra Roma, causando, num primeiro momento, uma grande preocupação entre os líderes e de cidadãos daRepública Romana. Esta invasão, porém, terminou em fracasso: rapidamente, diante da firme resistência dos romanos, Aníbal se afastou da cidade e seguiu com suas tropas paraBrúcio.
Depois do inverno de 212/211 a.C., Aníbal retornou a Cápua, cercando os romanos quecercavam a cidade, comandados porÁpio Cláudio Pulcro. Sem conseguir atrair o comandante romano para uma batalha[1], passou a incomodá-los constantemente, enviando contra eles esquadrões de cavalaria para lançar dardos no acampamento romano enquanto a infantaria tentava arrancar a paliçada esxterior[2]. Ainda assim não conseguiu, pois os romanos permaneceram firme no cerco[3]. Irritado com o impasse, pois não conseguia nem entrar em Cápua, sua aliada, e nem atrair os romanos para o combate[4], Aníbal se preocupava ainda em se ver cercado pela chegada dos novoscônsules, o que acabaria cortando sua linha de suprimentos[5].
A solução que ele encontrou foi marchar rapidamente e inesperadamente contra a própriaRoma,"que era o centro da guerra", provocando nos habitantes da cidade tamanho espanto que fez com que Cláudio Pulcro levantasse o cerco para correr para ajudar sua pátrica, dividindo seu exército entre a força enviada a Roma e uma outra deixada em Cápua em posição mais precária e vulnerável[6]</ref>Lívio,Ab Urbe Condita XXVI, 7.3-5.</ref>:
| “ | [...] o desejo desta empreitada nunca o abandonou [...] Aníbal não escondia que tinha deixado escapar uma oportunidade depois daBatalha de Canas. | ” |
Decidido, Aníbal enviou a Cápua um mensageiro líbio, que fingiu desertar para entrar no acampamento romano e, dali, seguir para a cidade, completamente bloqueada pelo cerco e inacessível para os cartagineses. Ele temia que os habitantes de Cápua acreditassem que ele os havia abandonado e se rendessem[8]. Para evitá-lo, decidiu escrever uma carta explicando que o motivo de sua nova campanha era justamente permitir que os capuanos pudessem continuar resistindo ao cerco[9][10]:
| “ | A carta [de Aníbal] estava repleta de encorajamentos [para os campânios]. Nela, Aníbal defendia que sua partida seria sua salvação, pois afastaria do cerco de Cápua os comandantes romanos e seus exércitos, que correriam para salvar Roma. Os campânios não deveriam perder a confiança. Se tivessem paciência por uns poucos dias, logo se veriam livres do cerco | ” |
Capturada as embarcações que estavam no rioVolturno, Aníbal ordenou que se exército se dirigisse à fortaleza que havia construído para defendê-lo. Quando a quantidade correta de embarcações foi amealhada para que o exército pudesse atravessar o rio em uma única noite, depois de apenas cinco dias de sua chegada a Cápua, Aníbal reuniu seus homens, preparativos e víveres para dez dias. Depois, mandou acender as fogueiras e tochas por todo campo para que ninguém percebesse o que estava acontecendo. Na mesma noite, cruzou o rio com seus homens e já estava na outra margem ao amanhecer[12][13].

| “ | Aníbal se aproximava, nem tanto para cercar Roma, mas principalmente para libertar Cápua de seu cerco | ” |
Aníbal seguiu pelaVia Latina enquantoQuinto Fúlvio Flaco vinha atrás pelaVia Ápia segundo o relato deLívio[15]. No dia seguinte à travessia do Volturno, os cartagineses acamparam não muito longe do rio. No dia seguinte, Aníbal chegou ao território dossidicínios, onde estava a cidade deCales, onde permaneceu por apenas um dia para poder saquear e reunir provisões para o exército em marcha. Continuou seguindo pela Via Latina, passando porSessa Aurunca,Alife eCassino, onde acampou por dois dias e saqueou o território vizinho[16]. UltrapassadaInteramna Lirenas eAquino, chegou aFrégelas, perto dorio Liris, onde foi atrasado pela destruição da ponte[17]. Como punição, saqueou com violência máxima toda a zona rural à volta da cidade e seguiu primeiro para o território deFrosino, depois deFerentino eAnânia, chegando aLábico. Dali, atravessou omonte Algido e seguiu paraTúsculo, onde também foi mal recebido. Dali se desviou e dirigiu-se paraGabii, pois passou para a região dePupinia e depois para um campo a apenas 8milhas de Roma. E, enquanto se aproximava com a vanguarda dacavaleiros númidas, foi massacrando as populações locais e fazendo muitos prisioneiros[18].
SegundoPolíbio, Aníbal atravessou oSâmnio em uma marcha forçada enquanto Roma estava preocupada com o cerco de Cápua. Sempre sem ser detectado, superou orio Aniene e montou seu próprio acampamento a uma distância de cerca de 40estádios deRoma[19].
| Mapa doVelho Lácio (Latium vetus) |
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Segundo o relato de Lívio,Quinto Fúlvio Flaco soube do plano de Aníbal por desertores e escreveu imediatamente aoSenado Romano. A notícia causou grande comoção e, como a situação se mostrou crítica, foi convocada aAssembleia do povo.Públio Cornélio Cipião Násica propôs que fossem reconvocados da Itália todos os comandantes e seus exércitos para defender Roma, o que significava abandonar ocerco de Cápua. Outros, por outro lado, comoFábio Máximo, consideravam vergonhoso abandonar Cápua por causa do medo e por deixar claro que os romanos estavam sendo comandados pelos movimentos de Aníbal[20]:
| “ | Como esperam que [Aníbal] possa se apoderar de Roma agora que foi expulso de Cápua se ele não se atreveu a marchar contra Romana depois davitória em Canas? | ” |
Entre estas duas opiniões opostas, prevaleceu a mais equilibrada dePúblio Valério Flaco, que, tendo escutado as outras duas, propôs que se escrevesse aos comandantes que cercavam Cápua, informando-lhes das forças que defendiam Roma. Eles, por sua vez, sabiam melhor quantos soldados Aníbal havia levado consigo e quantos seriam necessárias para manter o cerco de Cápua. Eles decidiram qual comandante enviar a Roma,Ápio Cláudio Pulcro ouQuinto Fúlvio Flaco, e com quais forças para defender a pátria do ataque cartaginês[22].
Foi assim que Fúlvio Flaco foi escolhido para seguir para Roma, pois seu colega estava ferido. Foram escolhidos 15 000 soldados entre os três exércitos à sua disposição e 1 000 cavaleiros, que seguiram para orio Volturno. Como sabiam que Aníbal seguia pelaVia Latina, Flaco escolheu aVia Ápia e enviou mensageiros às cidades ao longo do caminho, comoSetia,Cora eLavínio, com o objetivo de que fossem colegados suprimentos suficientes para sustentar a passagem do exército romano. Ele ordenou ainda que fossem colocadas em alerta as guarnições da cidade, que deveriam ficar prontas para defendê-las[23].
Neste ínterim, um mensageiro que havia sido enviado aFrégelas para anunciar a marcha de Aníbal sobre Roma gerou entre a população um temor generalizado[24][25], pois era um movimento improvisado e inesperado, considerando principalmente que nunca antes o general cartaginês chegara tão perto da cidade. Havia também uma suspeita por parte dos habitantes de Roma que as legiões teriam sido destruídas em Cápua[26]. Os homens ocuparam as muralhas e as mulheres lotaram ostemplos, suplicando aosdeuses e limpando o piso dos locais sagrados com seus próprios cabelos, uma prática comum na iminência de grandes perigos[27]. Foram colocadas guarnições naCidadela do Capitolino e no próprioCapitólio, no entorno da cidade atémonte Albano e no rochedo deÉfula. Depois chegou a notícia de que também o procônsul Fúlvio Flaco havia partido de Cápua em marcha forçada e estava chegando em Roma para defendê-la. O Senado então decretou que a autoridade de seu comando fosse equivalente a de um cônsul, ainda que não lhe tenha sido concedido o posto[28].
E, enquanto Aníbal se aproximava de Roma, Fúlvio Flaco, depois de um atraso inicial na travessia do rio Volturno, pois o general cartaginês havia incendiado todos os navios utilizados em sua travessia, conseguiu, com a pouca madeira recuperada, construir balsas para atravessar mais ao norte. A partir daí, a marcha seguiu rapidamente, pois muitas das cidades encontradas ao longo da estrada já haviam deixado à disposição do comandante romano os suprimentos necessários para uma marcha muito rápida[29].
| “ | [...] enquanto os soldados, muito alegremente, se encorajavam uns aos outros a uma marcha veloz, lembrando sempre do fato de que deviam correr para defender a pátria. | ” |
Flaco entrou em Roma pelaPorta Capena e passou pelo meio da cidade através do bairro dosCarinae, seguindo depois para oEsquilino. Deste monte, saiu da muralha romana e montou seu acampamento entre aPorta Esquilina e aPorta Colina, na parte nordeste da cidade[31]. Osedis plebeus levaram até lá as provisões enquanto os cônsules deliberaram acampar separadamente, cada um perto de uma das portas. Opretor urbano,Caio Calpúrnio Pisão, recebeu a missão de defender o Capitólio e a cidadela, enquanto os senadores permaneceram perto doFórum Romano, prontos para responderem a qualquer demanda que se fizesse necessária[32].

O passo seguinte foi dado por Aníbal, que ergueu seu acampamento perto dorio Aniene, a apenas trêsmilhas de Roma. Ele então seguiu com 2 000 cavaleiros até a Porta Colina e chegou perto doTemplo de Hércules para tentar observar as defesas da cidade. A reação romana, por Fúlvio Flaco, foi enviar contra o comandante cartaginês um contingente de cavalaria para tentar repeli-los de volta ao seu acampamento[33]. Os cônsules, uma vez que se apresentava uma batalha equestre, ordenaram que 500 desertoresnúmidas, que estavam noAventino, que atravessassem a cidade e fossem até o Esquilino, ficando de prontidão para intervir no combate. Porém, quando alguns cidadãos viram este contingente estrangeiro saindo do Capitólio e depois subindo via Publicia, começaram a gritar que o Aventino havia sido capturado pelo inimigo, gerando na população uma grande confusão[34]:
| “ | O povo correu para se refugir em suas casas e terraços, de onde atiravam pedras e objetos em seus próprios cidadãos que corriam nas ruas, confundidos com os inimigos. | ” |
No final da batalha, venceucavalaria romana, que conseguiu repelir os númidas de Aníbal. Todavia, como na cidade ainda imperava o caos e a confusão, o resto do dia e a noite seguinte foram dedicados a acabar com os numerosos tumultos que irromperam em toda parte[36].
Quando Aníbal decidiu tomar de assalto aMuralha Serviana, um evento acidental interrompeu o plano. Os cônsules de 211 a.C.,Cneu Fúlvio Centúmalo ePúblio Sulpício Galba, haviam acabado de alistar uma novalegião, ordenando que os soldados se apresentassem em Roma já armados para o juramento e, naquele mesmo dia, queriam alistar uma segunda. Este evento fortuito havia reunido na cidade uma grande multidão de soldados, algo muito apropriado para a ocasião. Os cônsules, com grande coragem, saíram da muralha e frearam o ardor do exército cartaginês. Aníbal, que inicialmente só pensava em tomar a cidade, assim que que viu os inimigos dispostos emordem de batalha, preferiu abandonar o plano do assalto e deu início a um grande saque da região à volta, matando e queimando. Os cartagineses conseguiram recolher em seu acampamento uma grande quantidade debutim, pois ninguém ousava enfrentá-los[37].
Lívio conta que no dia seguinte à primeira batalha entre os dois exércitos, Aníbal cruzou o Aniene e perfilou seu exército em ordem de batalha. Flaco e os cônsules não fugiram do combate e os dois exércitos ficaram de frente um para o outro, mas uma fortíssima chuva degranizo obrigou os soldados a fugirem para seus respectivos acampamentos tamanho foi o medo provocado pelo evento, considerado umpresságio. No dia seguinte, um evento similar dispersou novamente os exércitos já dispostos para o combate[38]:
| “ | Tão logo os soldados retornavam aos seus acampamentos, o céu se tornava milagrosamente sereno e tranquilo. Isto foi interpretado pelos cartagineses como um prodígio divino e diz-se que Aníbal teria afirmado que uma vez que os deuses lhe havia recusado a captura de Roma e na outra não lhe haviam concedido a sorte [de atacá-la]. | ” |
Abalado por estes eventos, sabendo também que um exército romano com reforços havia partido para aHispânia ainda durante o cerco do general cartaginês e que o terreno onde ele havia erguido seu acampamento havia sido vendido sem que o preço fosse diminuído em nada por causa disto (duas demonstrações de confiança dos romanos), retirou seu exército até o rioTuzia, a seis milhas de Roma[40].
Em seguida, quando os cônsules tiveram coragem para acampar a apenas 10estádios de distância (1 850 metros) dos cartagineses, no raiar do dia Aníba levou seu exército de volta a Cápua, seja porque já havia recolhido butim em grande quantidade, seja por que considerou impossível cercar a cidade, mas, sobretudo, por que acreditava que seu plano havia surtido o efeito esperado já que havia transcorrido um número suficiente de dias para ou obrigar oprocônsulÁpio Cláudio Pulcro a levantar o cerco e correr para salvar sua pátria ou forçá-lo a dividir seu exército para manter o cerco e retornar a Roma. Ambos os resultados eram bons para Aníbal[41].
Lívio narra em seguida Aníbal se dirigiu ao bosque sagrado da deusaFerônia, cujo templo era famoso por sua riqueza. Oscapenatos e as outras populações locais levavam para lá oferendas, como os primeiros frutos da colheita e o templo estava repleto de ouro e prata. Aníbal saqueou completamente o templo[42].
Ainda segundo o relato de Políbio, Públio Sulpício, depois de ter destruído todas as pontes no Aniene, obrigou Aníbal a tentar cruzar com seu exército enfrentando a correnteza e o atacou no momento de maior dificuldade. Porém, ele não conseguiu infligir-lhe uma derrota decisiva por causa do elevado número de cavaleiros, especialmente oscavaleiros númidas, particularmente hábeis naquele tipo de terreno. E depois de conseguirem recuperar dos cartagineses uma boa parte do butim e assassinado cerca de trezentos homens, ordenou a retirada ao seu próprio acampamento. Acreditando que os cartagineses estavam se retirando, decidiu segui-los mantendo uma distância segura[43].
O retorno de Aníbal no relato de Lívio passou pelas seguintes cidades:Eretum, Templo de Ferônia,Reate,Cutília eAmiterno[44]. Aníbal, que num primeiro momento havia ordenado uma marcha normal, quando soube que Cláudio Pulcro não havia levantado o cerco a Cápua, resolveu atacarPúblio Sulpício, que vinha seguindo suas forças e, durante a noite, atacou seu acampamento. A batalha que seguiu foi uma nova derrota romana: muitos soldados foram mortos e alguns conseguiram se salvar refugiando-se numa colina bem defendida, o que fez com que Aníbal desistisse de atacá-la novamente[45].
Aníbal, da Campânia, teria prosseguido peloSâmnio e, depois, invadiu o território dospelignos, chegando até a cidadeSulmona. Em seguida passou pela terra dosmarrucinos, deAlba Fucens, dosmársios e terminou na vila deForuli (Scoppito)[44]. Dali, Aníbal decidiu continuar sua marcha até aDáunia (a parte setentrional daApúlia) e oBrúcio, onde atacou repentinamente a cidade deRégio, aliada dos romanos, que por pouco não foi capturada[46][47].