mercenários escravizados, soldados escravizados e escravizados livres não-árabes, de diversas origens étnicas
Mamelucos, também chamados demamalucos (emárabe:مملوك(singular), مماليك(plural);romaniz.:mamlūk(singular),mamālīk(plural),mamlouk,mamluq,mamluke,mameluk,mameluke,mamaluke oumarmeluke; "propriedade", "escravo", "pajem", "criado"[1]), eram mercenários escravizados, soldados escravos e ex-escravos não-árabes, de diversas origens étnicas (principalmente turcos, caucasianos, e povos do leste e sudeste europeu), que recebiam funções militares e administrativas de alto escalão, servindo as dinastias árabes e otomanas no mundo muçulmano.[2]
O mais duradouro reino mameluco foi a classe militar de cavaleiros doEgito medieval, que se desenvolveu a partir dos soldados escravizados. Originalmente, os mamelucos eram escravizados de origem turca vindos dasestepes eurasianas, mas, com o tempo, o sistema de escravidão militar se expandiu para incluircircassianos,abecásios,georgianos,armênios,russos,húngaros e povos dosBálcãs, comoalbaneses,gregos e eslavos do sul.[2] Também houve recrutamento de egípcios. O "Fenômeno Mameluco/Ghulam", como o historiadorDavid Ayalon chamou a criação dessa classe específica de guerreiros, teve grande importância política e perdurou por quase mil anos, doséculo IX ao início doséculo XIX.[3]
Com o passar do tempo, os mamelucos se tornaram uma poderosa classe militar de cavaleiros em várias sociedades muçulmanas controladas por dinastias árabes. Eles detinham poder político e militar, especialmente noEgito e naSíria, mas também no Império Otomano, noLevante, naMesopotâmia e naÍndia.[2] Em alguns casos, alcançaram o posto de sultão, enquanto em outros exerciam poder regional como emires ou beis. O mais notável foi quando facções mamelucas tomaram o sultanato centrado no Egito e na Síria, formando o Sultanato Mameluco (1250-1517). O Sultanato Mameluco é famoso por ter derrotado oIlcanato naBatalha de Ain Jalut, além de enfrentar os Cruzados europeus ocidentais entre 1154-1169 e 1213-1221, expulsando-os do Egito e do Levante. Em1302, o Sultanato Mameluco expulsou formalmente os últimos cruzados do Levante, encerrando a era dasCruzadas.[4]
Embora os mamelucos fossem comprados como propriedade, seu status estava acima dos escravos comuns, que não podiam portar armas ou realizar certas tarefas. No Egito, desde a dinastia aiúbida até a época deMaomé Ali do Egito, os mamelucos eram considerados "verdadeiros senhores" e "verdadeiros guerreiros", com um status social superior ao da população em geral no Egito e no Levante.[2] De certa forma, eram como mercenários escravizados.[5]
Desenho de 1810 deCarle Vernet retratando um mameluco egípcio
Daniel Pipes, Historiador e escritor norte-americano, argumenta que a primeira indicação da classe militar mameluca está enraizada na prática dos primeiros muçulmanos, comoZobair ibne Alauame eOtomão ibne Afane, que antes doIslã possuíam muitos escravos e praticavam amaula (a alforria islâmica de escravos). O exército dos zubaíridas, sob o comando deAbedalá ibne Zobair, filho de Zobair, usou esses ex-escravos libertos durante a segunda guerra civil.[6]
Enquanto isso, historiadores concordam que a implementação em massa de uma classe militar de escravos, como os mamelucos, começou a se desenvolver nas sociedades islâmicas a partir do Califado Abássida do século IX, com sede em Bagdá, sob o califaAlmotácime. Até os anos 1990, acreditava-se amplamente que os primeiros mamelucos eram conhecidos comogulam (termo amplamente sinônimo de escravos) e eram comprados pelos califas abássidas, especialmente por Almotácime (833-842).[2]
No final do século IX, esses guerreiros escravos se tornaram o elemento dominante no exército. Conflitos entre osgulans e a população de Bagdá levaram o califaAlmotácime a mudar sua capital para a cidade de Samarra, mas isso não foi suficiente para acalmar as tensões. Em 861, o califaAlmotauaquil(r. 847–861) foi assassinado por alguns desses soldados escravos (vejaAnarquia em Samarra).[2]
Desde o início doséculo XXI, historiadores sugerem que havia uma distinção entre o sistema Mameluco e o sistema gulam (anterior), em Samarra, que não possuía treinamento especializado e se baseava em hierarquias preexistentes da Ásia Central. No sistema gulam, tanto escravos adultos quanto homens livres serviam como guerreiros. Já o sistema Mameluco se desenvolveu mais tarde, após o retorno do califado a Bagdá na década de 870, e incluía o treinamento sistemático de jovens escravos em habilidades militares. O sistema Mameluco é considerado um experimento em pequena escala de al-Muwaffaq, que buscava combinar a eficiência dos escravos como guerreiros com maior confiabilidade. Essa interpretação recente parece ter sido aceita.[2]
Após a fragmentação do Califado Abássida, escravos militares, conhecidos como mamelucos ou gulans, foram utilizados em todo o mundo islâmico como base de poder militar. O Califado Fatímida (909-1171) do Egito capturava à força jovens armênios, turcos, sudaneses e coptas para treiná-los como soldados escravos. Esses jovens formavam a maior parte do exército fatímida, e os governantes selecionavam os escravos mais valorizados para servir na administração. Um exemplo é o poderoso vizir Badre Aljamali, que era um mameluco armênio. No Irã e no Iraque, a dinastia buída utilizava escravos turcos em todo o seu império. O rebelde Albassassiri, um mameluco, acabou abrindo caminho para o domínio seljúcida em Bagdá após tentar uma rebelião fracassada. Quando os abássidas posteriores recuperaram o controle militar sobre o Iraque, também confiaram nos gulans como seus guerreiros.[2]
Sob Saladino e os aiúbidas do Egito, o poder dos mamelucos aumentou e, em 1250, eles reivindicaram o sultanato, governando como o Sultanato Mameluco. Ao longo do mundo islâmico, os governantes continuaram a utilizar guerreiros escravizados até o século XIX. O sistema de "devşirme" do Império Otomano, ou "recolhimento" de jovens escravos para os janízaros, durou até o século XVII. Regimes baseados no poder dos mamelucos prosperaram em províncias otomanas como o Levante e o Egito até o século XIX.[2]
Os mamelucos eram escravos que, geralmente, serviam a seus amos como pajens ou criados domésticos e que, eventualmente, eram usados como soldados peloscalifas muçulmanos e peloImpério Otomano. Em alguns países, como noEgito, conquistaram o poder. Os primeiros mamelucos serviram os califasabássidas emBagdá noséculo IX. Os Abássidas recrutaram-nos das famílias não muçulmanas capturadas em áreas que incluem a atualTurquia,Europa de Leste e oCáucaso.
O uso de não muçulmanos justifica-se porque os governantes islâmicos, muitas vezes lidando com conflitostribais e debatendo-se com as intrigas de queibne Caldune nos relata para manter o poder, muitas vezes desejavam depender de tropas sem ligação com as estruturas (familiares e culturais) de poder estabelecidas. Também se pode justificar esta escolha em parte pelo argumento de que oIslão proibia que muçulmanos combatessem entre si (o que, naturalmente, era um argumentoretórico, dado que, na verdade, os muçulmanos combateram entre si). Além disso, era uma estratégia vantajosa para os muçulmanos retirar os homens jovens e sadios às suas famílias e terrascristãs, adiando ou mesmo evitando levantes que ameaçassem a integridade territorial dos impérios islâmicos, conforme se viu no recrutamento compulsório de jovens cristãos para o treinamento dejanízaros otomanos.
Como se disse, o principal motivo desta opção erapolítico. Os guerreiros locais eram frequentemente mais fiéis aosxeiques tribais, às suas famílias ou nobres, do que aosultão ou califa.
Se algum comandante militar localconspirasse contra o governante, era, frequentemente, impossível lidar com ele sem causar intranquilidade entre anobreza ligada a esse comandante por laços familiares ou culturais.
As vantagens das tropas escravas é que eles eram estrangeiros, possuíam o estatuto mais baixo possível nasociedade e não podiam conspirar contra o governante sem correrem o risco de ser punidos.
Após converterem-se ao Islão, os mamelucos deixavam de ser, tecnicamente, escravos e eram treinados como soldados decavalaria. Apesar de não serem mais formalmente escravos, após receberem treinamento, eram obrigados a servir o sultão e mantidos por ele como uma força autónoma sob o seu comando directo para uso em caso de atritos entre tribos locais. Muitos mamelucos ascenderam a posições de influência no império. Com o tempo, tornaram-se umacastamilitar poderosa e, em mais de uma ocasião, tomaram o poder para si mesmos, como, por exemplo, noEgito, de1250 a1517, e naÍndia.
Pipes, Daniel (1981).Slave Soldiers and Islam The Genesis of a Military System; al Maqrizi; Mawaiz. Yale: Yale University Press. p. 141.ISBN978-0-300-02447-0