Magno Máximo (emlatim:Flavius Magnus Maximus Augustus), conhecido também comoMaximiano (emlatim:Maximianus; emgalês:Macsen Wledig), foi umusurpador eimperador romano entre 383 e 388.
Em 383, como comandante daBritânia, ele se revoltou contra o imperadorGraciano e, depois de negociar com oimperador do orienteTeodósio I no ano seguinte, ele foi reconhecido como imperador na Britânia e naGália — o irmão de Graciano,Valentiniano II, manteve aItália,Panônia,Hispânia e aÁfrica. Em 387, numa tentativa de ampliar seu reino, Máximo invadiu a Itália e acabou derrotado por Teodósio naBatalha do Sava em 388. Do ponto de vista de alguns historiadores, sua morte marcou o fim da presença imperial direta no norte da Gália e da Britânia. Estas províncias, agora negligenciadas, permaneceram formalmente como parte do império, mas nenhum imperador romano (com exceção de alguns usurpadores fugazes e obscuros) avançou além deLugduno (Lyon) depois de Máximo.[1]
Porém, é importante lembrar que a carreira imperial deConstantino III entre 407 e 411, que foi aclamado imperador na Britânia e foi reconhecido como co-imperador pelo imperador legítimo, pode ser entendida como uma repetição da história de Máximo.[2]
Máximo nasceu naGalécia, nas terras doconde Teodósio (pai de Teodósio I). Apesar de algumas especulações de que ele teria tido uma origem humilde, é possível que ele seja parente dele, pois os relatos da época descrevem que seu status teria sido comprometido quando homens de posição inferior eram promovidos para cargos mais altos.
Ele era um importante general que serviu sob o conde na África em 373 e noDanúbio em 376. É provável que ele também tenha sido um oficial júnior na Britânia em 368 durante a supressão da "Grande Conspiração". Lotado na Britânia em 380, ele derrotou uma invasão dospictos e dosescotos em 381.
Oimperador do ocidenteGraciano havia se tornado bastante impopular por causa de seu aparente favoritismo com osalanos — um povo de língua iraniana oriental (vercitas eossetas) que adotaram muito cedo ocristianismo e migraram de suas terras para o ocidente e para o oriente — em detrimento doscidadãos romanos. Em 383, Máximo foi proclamado imperador por suas tropas e, logo em seguida, invadiu a Gália levando consigo boa parte da guarnição da Britânia consigo.
Logo depois de chegar, Máximo passou a perseguir Graciano, que ele derrotou perto deParis. Graciano, depois de fugir, acabou sendo assassinado emLugduno em 25 de agosto de 383. Continuando sua campanha Itália adentro, Máximo só foi impedido de derrubar o jovemValentiniano II, de doze anos, pela intervenção deTeodósio I, oimperador romano do Oriente, que enviouBautão à frente de uma poderosa força para enfrentá-lo. As negociações se seguiram no ano seguinte e contaram com a mediação deAmbrósio, obispo de Mediolano (Milão). Num acordo com Teodósio e Valentiniano II, Máximo foi reconhecido comoaugusto no ocidente.
Síliqua deFlávio Vítor, o filho de Magno Máximo estrangulado pelo generalArbogasto depois da derrota de Magno Máximo em Sava (388)
O novo imperador escolheu como capital a cidade deAugusta dos Tréveros (Tréveris), naGália, e seus domínios agora incluíam a Gália,Hispânia, Britânia eÁfrica. Ele passou a emitir suas próprias moedas e éditos que reorganizaram o sistema provincial da Gália. Alguns acadêmicos acreditam também que ele pode ter criado o cargo deconde dos britânicos (emlatim:comes britanniarum). Todas essas medidas fizeram dele um imperador bastante popular eQuinto Aurélio Símaco compôs em honra de suas virtudes umpanegírico. No campo militar, ele fez bom uso das forças dosfederados — como osalamanos — e perseguiu com firmeza osheréticos: foi por ordens suas quePrisciliano e seis de seus seguidores tornaram-se os primeiros cristãos na história a serem executados por heresia (opriscilianismo) por outros cristãos (embora as acusações que levaram ao veredito foram demagia oubruxaria, tecnicamente uma espécie de fraude espiritual através do uso deventriloquia como a que era praticada pelabruxa de Endor), mandando confiscar suas posses. Estas execuções seguiram adiante apesar da defesa de proeminentes cristãos comoSão Martinho de Tours. O édito de 387 de Máximo ou 388, que censurou os cristãos de Roma por queimar umasinagogajudaica, foi condenado por Ambrósio, que afirmou que o povo teria acusado o imperador de ter se tornado um judeu.[3]
Em 387, Máximo conseguiu expulsar o imperadorValentiniano II deMediolano, que fugiu para a corte de Teodósio. Os dois em seguida contra-atacaram do oriente e iniciaram uma campanha contra Máximo em julho-agosto de 388 liderada porRicomero e por outros generais. Máximo acabou sendo derrotado naBatalha de Sava[4] e recuou paraAquileia. Enquanto isso, osfrancos deMarcomero aproveitaram-se da oportunidade para invadir o norte da Gália, enfraquecendo ainda mais a posição de Máximo.
Andragácio,mestre da cavalaria (magister equitum) de Máximo e assassino de Graciano, foi derrotado perto deSiscia enquanto o irmão de Máximo, Marcelino, morreu em combate emPetóvio.[5] Sem opções, Máximo se rendeu em Aquileia e foi executado mesmo depois de implorar por misericórdia, mas sua mãe e pelo menos suas duas filhas foram poupadas. Osenado romano passou um decreto dedamnatio memoriae contra ele.[6] O leal general de Teodósio, Arbogasto, estrangulou o filho dele,Flávio Vítor, em Tréveris no outono do mesmo ano.[7]
Apesar da mãe e filhas de Máximo terem sido poupadas, o destino delas e da esposa de Máximo depois disso é desconhecido. Sabe-se com certeza que ele tinha uma esposa, que aparece nos registros se aconselhando comSão Martinho de Tours enquanto esteve em Tréveris. Porém, não se sabe o que aconteceu com ela e nem mesmo seu nome, apesar de a tradiçãogalesa (vide abaixo) atribuir-lhe o nome de "Helena" (Elen Luyddog). É possível que uma das filhas de Máximo tenha se casado comEnódio, oprocônsul da África, em 395. O neto dele,Petrônio Máximo, foi mais um dos imperadores fugazes doImpério Romano do Ocidente, reinando por apenas 77 dias até ser apedrejado até a morte enquanto fugia dosvândalos em 24 de maio de 455. Outros descendentes de Enódio e, portanto, de Máximo, incluemAnício Olíbrio, imperador em 472, e diversoscônsules ebispos, comoSão Magno Félix Enódio (bispo de Pavia entre 514 e 521). Uma outra suposta filha de Máximo, que não aparece em nenhum outro registro, chamadaSevira é nomeada noPilar de Eliseg, uma inscrição emGales que comemora seu casamento comVortigerno, o rei dosbritônicos.
Esta igreja medieval emLlanbeblig, noPaís de Gales, dedicada a Pebligo, um santo medieval doséculo V que, de acordo com a lenda, era filho deMacsen Wledig (Magno Máximo), cuja esposa "Helena" era uma galesa. Discípulo deSão Martinho de Tours, Pebligo teria retornado ao local e fundado omosteiro
O golpe de Máximo em 383 coincide com a última de data para a qual existe alguma evidência da presença militar romana noPaís de Gales, osPeninos ocidentais e a fortaleza deDeva Vitoriosa. Contudo, moedas posteriores foram encontradas em escavações ao longo damuralha de Adriano, o que sugere que as tropas não abandonaram completamente a guarnição ali como já se conjecturou.[8] NaDe Excidio et Conquestu Britanniae, escrita por volta de 540,Gildas afirma que Máximo deixou a Britânia não apenas com todas as tropas, mas também com todas as milícias armadas, os governadores e toda a juventude em idade militar para nunca mais voltar.[9]
Ao fazê-lo, ainda que pretendesse retornar no futuro, o resultado prático foi que ele transferiu a autoridade para governantes locais. Lendas galesas suportam este ponto de vista, com histórias comoBreuddwyd Macsen Wledig ("O Sonho do Imperador Máximo"), na qual ele não apenas se casa com uma belíssima britônica (o que torna provável que ele tenha tido descendentes britânicos), mas também concede ao pai dela a autoridade sobre toda a Britânia, o que representaria uma devolução da autoridade de Roma para os britânicos.
As mais antigasgenealogias galesas dão a Máximo (chamadoMacsen/Maxen Wledig — "Imperador Máximo") o papel de fundador de várias dinastias de reinos galeses medievais, incluindo as dePowys eGwent.[10][11] Ele também aparece como ancestral de um rei galês noPilar de Eliseg, erigido quase 500 anos depois de sua partida, e também nas listas dasQuinze Tribos de Gales.[12]
Depois de se tornar imperador do Império Romano do Ocidente, Máximo teria retornado à Britânia para enfrentar ospictos e osescotos (irlandeses), provavelmente para ajudar os aliados de longa data dos romanos, osdamnônios,votadinos enovantas (todos residentes no território da modernaEscócia). Durante a campanha, é provável que ele tenha feito acordos similares para transferir a autoridade para governantes locais — os futuros governantes deGalloway, na terra dos novantas, reivindicariam depois Máximo como fundador de sua linhagem da mesma forma que os reis galeses.[8]
AHistoria Brittonum, doséculo IX, fornece mais um relato de Máximo e atribui a ele um importante papel:
“
O sétimo imperador era Maximiano [Máximo]. Ele deixou a Britânia com todas as suas forças militares, assassinou Graciano, o rei dos romanos, e conseguiu o domínio sobre toda a Europa. Relutante em enviar seus companheiros de guerra de volta para suas esposas, famílias e terras na Britânia, ele conferiu-lhes numerosos distritos, do lago no topo domons Iovis até a cidade chamada deCant Guic e até oTumulus ocidental, que é chamadoCruc Occident. Estes são conhecidos comobretõesarmóricos e eles permanecem lá até hoje. Por conta de sua ausência, a Britânia foi conquistada por nações estrangeiras, os herdeiros legítimos foram expulsos, até que Deus interveio para ajudar.
”
Historiadores modernos acreditam que esta ideia de um assentamento massivo de tropas britônicas naBretanha (Armórica) por Máximo pode de fato refletir alguma realidade histórica, pois ela está de acordo com outras evidências históricas e com as tradições bretãs posteriores.
A Armórica declarou sua independência do Império Romano em 407, mas contribuiu comarqueiros para a defesa deFlávio Aécio contraÁtila, o Huno, e seu rei,Riotamo, foi depois mencionado em documentos contemporâneos como um aliado de Roma contra osgodos. Apesar do continuado uso de duas línguas distintas, obritônico e ogaulês, e de grandes invasões e conquistas porfrancos eviquingues, a Armórica conseguiu manter uma considerável coesão cultural até oséculo XIII.
Máximo também criou uma base militar em suaGalécia natal, ou seja, a modernaGaliza espanhola eNorte de Portugal, que persistiu como uma entidade cultural distinta apesar da ocupação dossuevos em 409. OReino da Galícia também conseguiu resistir aos avanços dosmouros e acabaria tendo um importante papel naReconquista.
Referências
↑"The New Cambridge Medieval History: c. 500-c. 700" by Paul Fouracre, Rosamond McKitterick (page 48)
↑Susan Wise Bauer, "The History of the Medieval World: From the Conversion of Constantine to the First Crusade", W. W. Norton & Company, 22 feb 2010 (p.68)