Jeanne, na verdade, foi agraciada com o título de Duquesa de Pompadour, em12 de outubro de1752, mas nunca chegou a utilizar o título, apenas seus privilégios, como o de poder sentar na presença do rei e da família real e o de utilizar a Coroa Ducal em seu brasão e carruagens. Dotada de inteligência, encanto, beleza, e ao mesmo tempo uma mulher fria, em termos físicos e na alma, Madame de Pompadour via seu papel como o de uma secretária confidencial do rei.[3]
Governava Versalhes, concedia audiências a embaixadores e tomava decisões sobre todas as questões ligadas à concessão de favores, de forma tão absoluta quanto qualquermonarca. Influenciando politicamente as decisões reais, ela se tornou uma empreendedora, incentivando a fundação dafábrica deporcelanas deSèvres.[4]
Madame de Pompadour foi filha primogênita deLouise-Madeleine de La Motte, casada comFrançois Poisson.François logo após o casamento passou a trabalhar noHôtel des Invalides que servia de casa e hospital para os veteranos inválidos de guerra pobres, que era controlada pelos irmãos Pâris (Paris-Duverney, que era empreiteiro e tinha uma ativa participação como administrador do exército, e Paris-Montmartel, banqueiro do rei e da corte). Isto até 1719 quando foi transferido para ofront naguerra da Quádrupla Aliança. EnquantoFrançois estava no fronteLouise-Madeleine passou a compartilhar da companhia de vários homens, na maioria nobres.[5][6]
Acredita-se que o verdadeiro pai deJeanne-Antoinette, fossePâris de Montmartel que se tornou seu padrinho de batismo e que conhecia muito bemMadame Poisson, antes dela se casar.[7]
Madame de Pompadour
François conheceu os irmãos Pâris quando atuava como almoxarife do setor de suprimentos do regimento de Due de Villars, depois dissoFrançois foi requisitado por sua integridade e ação imediata na organização dos suprimentos necessários quando ocorreu a peste naProvença. Apesar de sua falta de educação formal e da falta de maneiras,François tinha um talento nato para resolver as situações mais delicadas — qualidades que logo o tornaram indispensável para seus empregadores.[6]
JáLouise-Madeleine vinha dos mesmos círculos que os irmãos Pâris. Seu pai, era envolvido com suprimentos do exército, além de ser fornecedor de carne para odes Invalides. Era considerada de uma classe socialmente superior à do marido e, segundo rumores, os irmãos Pâris combinaram seu casamento com Poisson para fornecer aClaude Le Blanc, secretário de Estado da guerra, acesso mais fácil a ela. Para compensarPoisson,Le Blanc conseguiu que ele e o pai da noiva recebessem nomeações oficiais do regenteFilipe II.[6]
Oportunidades de ter lucros enormes sempre existiram para os responsáveis pelo suprimento do exército.François prosperou e a família mudou-se para uma casa grande e bem-equipada na rue Saint-Marc. Quando Jeanne-Antoinette tinha quatro anos, seu pai se tornou bode expiatório em um escândalo do mercado negro envolvendo milho fornecido pelos irmãos Pâris. Poisson foi acusado de pagar uma quantia enorme e declarou-se devedor do tesouro. Para se salvar da prisão e provavelmente da forca, fugiu para aAlemanha deixando para trás a mulher e seus dois filhos.[6]
Charles Le Normant de Tournehem, um rico solteirão emecenas, assumiu a guarda deMadame Poisson e sua família. Otio Tournehem tratava os filhos deLouise-Madeleine como se fossem seus.[6]
EnquantoLouise-Madeleine descobria o que iria fazer em seguida, mandouJeanne-Antoinette, então com cinco anos de idade, para estudar no convento dasIrmãs Ursulinas emPoissy.[8] Cinco anos depois,Louise-Madeleine trouxe sua filha para casa e começou a ministrar-lhe um currículo totalmente diferente do que as boas irmãs ofereciam. Nas palavras deMarcelle Tinayre, vizinha e amiga íntima dos Poissons,Madame Poisson deu à filha a "educação de uma cortesã superior".[9]
Louise-Madeleine via na filha um reflexo de sua beleza e de sua vida. Acreditava que com os dotes naturais de sua filha,Jeanne-Antoinette poderia garantir uma vida melhor. Tendo experimentado a vida com oaçougueiro de baixa classe e depois experimentando o estilo de vida de alguns nobres que a entretinham,Louise-Madeleine imaginava como sua pequenaReinette (rainhazinha), como ela chamavaJeanne-Antoinette, poderia se tornar, se trabalhasse duro e se colocasse nos lugares certos, a amante do rei.[9]
Jeanne-Antoinette aprendeu ocravo, a dança e aoratória. Ela e sua mãe conversaram abertamente sobre como colocá-la no lugar apropriado para chamar a atenção do rei, para escalar "oOlimpo deVersalhes".[9]
Jeanne-Antoinette passou a frequentar circuito de reuniões refinadas nos grandes salões parisienses. Ao longo do caminho, ela foi flagrada por um banqueiro,Charles-Guillaume Le Normant d'Étiolles sobrinho deCharles Le Normant de Tournehem.[9]
Existem fatos que indicam que Monsieur de Tournehem viesse considerando essa união já há um certo tempo. Tendo ele mesmo cuidado do futuro financeiro do sobrinho, tornando-o sócio minoritário em várias pequenas empresas coletoras de impostos, e em 15 de dezembro de 1740 Tournehem deserdou todos os outros parentes, fazendo deste único sobrinho seu herdeiro absoluto.
Em março de 1741, com a idade de vinte anos, se casou comMonsieur Lenonnant. Após o casamento, a jovemJeanne-Antoinette ficou conhecida comoMadame d'Etioles.Lenonnant tinha uma casa de campo emÉtiolles, uma casa emParis, um salário impressionante e, o mais importante, tinha um círculo social que se relacionava realeza, um mundo onde as senhoras utilizavam oscoches para admirarem os cavalheiros e os nobres caçavam raposas na floresta deSénart. Foi em uma dessas caçadas, em 1744, três anos depois do casamento, queJeanne-Antoinette finalmente chamou a atenção deLuís XV.[9]
Considerado o homem mais belo do reino, provavelmente conheceu a ainda Madame d'Etioles em1742, em um baile onde ele a notou — como não notar aquela que era considerada uma das mulheres mais belas de Paris? Inicialmente, aos 11 anos de idade,Luís XV ficou noivo de umainfanta espanhola, mas a infanta acabou sendo mandada de volta para seu país. Logo depois ele ficou noivo da princesa polonesaMaria Leszczynska que vivera em exílio naAlemanha. QuandoMaria Leszczynska se casou com Luis, estava ela com 22 anos e o rei com 15.[10]
Luís XV foi fiel à sua esposa por 10 anos tendo, nesses 10 anos, 10 filhos com a rainha, mas nem todos sobreviveram à primeira infância. Mas mesmo assim Jeanne-Antoinette não foi a primeira. Luís XV teve outras amantes, como por exemploLouise-Julie, acondessa de Mailly.[11] Não tardou muito, eLuís demonstrou interesse por uma irmã da condessa de Mailly,Pauline, que veio a falecer ao dar à luz um filho do rei. Devastado pela morte de sua segunda amante, Luís deixou a corte por um mês. Mas, pouco tempo depois, para incredulidade geral e consternação de toda a sociedade, Luís XV interessou-se por mais uma irmã, a caçula das três,Marie-Anne,marquesa de La Tournelle, detentora de grande força e ímpeto, foi sagradaduquesa de Châteauroux.[12]
Depois de uma série de problemas envolvendo membros do corpo político de Luís XV, aDuquesa de Châteauroux morreu de pneumonia aos 27 anos.[12] Toda a sociedade começou a comentar sobre as suspeitas de envenenamento. As suspeitas mais pungentes recaíam sobre oConde de Maurepas, ministro da Marinha, que tinha sido um de seus mais ferrenhos inimigos, sempre conspirando contra ela. Com a morte da duquesa, todos sabiam: estava livre a vaga demaîtresse déclarée (amante declarada). Todos sabiam que o Monarca não ficaria muito tempo sem uma amante. Havia chegado a hora e a vez de Madame d'Etioles.[12]
É praticamente impossível dizer exatamente como, quando e ondeMadame d'Etiolles e Luís XV se conheceram, mais difícil ainda seria definir a data de quando eles se tornaram amantes; muitas possibilidades são consideradas por muitos autores de biografias da lendária amante de Luís XV. No decorrer do tempo em que Luís XV ficou sem uma amante, surgiram os primeiros boatos sobre seu romance comJeanne-Antoinette. A aristocracia se negava a acreditar que o rei fosse capaz de conspurcar os régios domínios da corte com uma simples burguesa. O abismo intransponível que havia entre burguesia e aristocracia era sempre ressaltado, e que nunca uma burguesa seria o mesmo que uma marquesa ou duquesa.
Era inaceitável que Luís XV tomasse como amante uma mulher que, embora rica, bela e culta, viesse da burguesia. Mas a decisão de Luís XV já estava tomada.Jeanne-Antoinette Poisson, a outroraMadame d'Etiolles, seria apresentada à corte, mas para isso, era necessário antes de mais nada, que ela obtivesse um título de nobreza. As investigações para a obtenção do título recaíram sobre oMarquesado de Pompadour, uma propriedade noLimousino, cuja posse não era exata. Como os ajustes para a obtenção de seu título correram bem,Jeanne-Antoinette, agoraMarquesa de Pompadour, passaria o verão em sua antiga propriedade,Etiolles, aprendendo os estranhos e confusos hábitos da corte de Versalhes, adquirindo o refinamento para alcançar tudo aquilo que almejava e que lhe fora dado a acreditar desde tenra idade.
Voltaire foi um dos que ao longo deste aprendizado em Etiolles se tornaram seus amigos para a vida inteira, mesmo ele tendo deixado a corte da França e rumado para a Prússia, para a corte deFrederico II da Prússia. Mas ainda havia muito o que aprender neste período em que ela teve que aprender os títulos e nomes das famílias mais importantes do reino, ela teve o auxílio do Abade de Bernis, de Voltaire e de alguns outros interessados em se beneficiar da posição de Marquesa de Pompadour e amante declarada do rei. Contra ou a favor da burguesa, agora enobrecida, Jeanne-Antoinette, foi apresentada à corte do dia 14 de dezembro, no salão Oeil-de-Boeuf. Trajando o obrigatóriorobe de cour negro, coberta de jóias, empoada e usandorouge, estava, a partir daquele momento, assumindo seu lugar no mundo de intrigas de Versalhes.[13]
Madame de Pompadour sofreu dois abortos em1746 e1749, e ela disse ter arranjado amantes menores para o prazer do rei para substituir a si mesma. Apesar de terem deixado de ser amantes depois de1750, eles continuaram amigos, eLuís XV foi dedicado a ela até sua morte em1764 por tuberculose, na idade de quarenta e dois anos. Mesmo seus inimigos admiravam sua coragem durante as dolorosas semanas finais.Voltaire escreveu: "Estou muito triste com a morte de Madame de Pompadour — estava em dívida com ela e eu lamento-a além da gratidão. Parece absurdo que, enquanto um velho burocrata, dificilmente capaz de caminhar, deve ainda estar vivo, uma mulher bonita, no meio de uma esplêndida carreira, deveria morrer na idade de quarenta e dois".[14] Muitos de seus inimigos ficaram, no entanto, aliviados. Olhando para a chuva durante a partida do caixão de sua amante de Versalhes, o Rei teria dito:"La marquise n'aura pas de beau temps pour son voyage" ("A marquesa não terá tempo bom para sua viagem").[15] Ela foi enterrada noConvento das Capuchinhas emParis.
↑Martin, Meredith (2011).Dairy Queens:. The Politics of Pastoral Architecture from Catherine De' Medici to Marie-Antoinette (em inglês). [S.l.]: Harvard University Pres, p. 137s.ISBN9780674048997
↑Potter, Maximillian (2014).Shadows in the Vineyard:. The True Story of the Plot to Poison the World's Greatest Wine (em inglês). [S.l.]: Grand Central Publishing, p. 163.ISBN9781455516087
↑Ramage, Craufurd Tait (1866).Beautiful Thoughts from French and Italian Authors:. With English Translations and Lives of the Authors, an English Index of Subjects Analytically Arranged, Also Numerous References to Parallel Passages from Latin, Greek, and English Authors (em francês). [S.l.]: E. Howell, p. 379