Ocenso local de2001 apurou que 20,5% da população do País de Gales são falantes do galês, em uma população de aproximadamente três milhões de pessoas. De acordo com oEthnologue, o galês contava com 562 000 falantes nativos noReino Unido em 2011 e 5 000 na Argentina em 2017. Contudo, o número de falantes nativosmonolíngues vem diminuindo; em 1971, havia apenas 32 700 monolíngues em galês.[7] Atualmente, quase todos os falantes do galês são bilíngues, falando também o inglês ou o espanhol (na Argentina).
No País de Gales, o uso do galês como língua primária concentra-se nas regiões menos urbanizadas ao norte e ao oeste, principalmente nas regiões administrativas deGwynedd,Merioneth,Anglesey (Ynys Môn),Carmarthenshire (Sir Gaerfyrddin),Pembrokeshire (Sir Benfro) no Norte,Ceredigion, e no oeste da região deGlamorgan (Morgannwg) ao sul. Contudo, há falantes nativos e falantes fluentes em todo o território galês.
De acordo com a classificação devitalidade linguística daUnesco publicada em 2010, o galês é considerado umidioma vulnerável, o que indica que a língua “é falada pela maioria das crianças, mas seu uso é restrito a certos domínios comunicativos (ex. o lar)”.[8] Apesar da condição minoritária, a língua galesa pode ser vista e ouvida em vários registros por todos os lados no País de Gales. Ademais, o galês possui imagem positiva no País de Gales[7] e tende a ser usado por todos, em menor ou maior grau, no país.
O governo do País de Gales (inclusive aAssembleia Galesa) usa o galês como idioma oficial, órgãos públicos emitem literatura oficial e publicidade em versões galesas (por exemplo, cartas das escolas para os pais, informaçãobibliotecária, e as informações do conselho). Toda a sinalização de trânsito no País de Gales é em inglês e galês, incluindo as versões galesas de nomes de lugares (dentre os quais há neologismos recentes criados com base natoponímia inglesa).
Há muitos cidadãos galeses que falam apenas inglês. Entretanto, um grande número de falantes do galês se sentem mais confortáveis ao se expressarem em galês do que em inglês. A preferência por um ou outro idioma tende a variar de acordo o domínio do assunto em questão (conhecido na linguística comomudança de código).
Apesar do galês ser uma língua minoritária, e portanto ameaçada pela predominância doinglês, o apoio ao idioma cresceu durante a segunda metade doséculo XX, juntamente com o surgimento de organizações políticasnacionalistas tais como o partido políticoPlaid Cymru (’’Partido dos Galeses’’) e aCymdeithas yr Iaith Gymraeg (”Academia da Língua Galesa”). O Comissariado da Língua Galesa (Comisiynydd y Gymraeg) foi criado em 2012 com o intuito de promover e regular o uso do galês nos meios públicos e privados no País de Gales.[9]
Tradicionalmente se divide o galês em três dialetos principais: o galês meridional e o galês setentrional, ambos falados em Gales, e o galês patagônio, falado na Argentina.[11] Atualmente não existe um dialeto coloquial padrão, sendo ambos os dialetos meridional e setentrional aceitos no País de Gales.
Há diferenças significativas dentre osdialetos em pronúncia, vocabulário e morfossintaxe.
Diferenças lexicais entre os dialetos galeses falados na Grã-Bretanha[11]
Pode-se considerar que o galês moderno se enquadra amplamente em doisregistros principais - o galês coloquial (Cymraeg llafar) e galês literário (Cymraeg llenyddol).[11] A gramática descrita aqui é a do galês coloquial, que é usada na maioria dos contextos comunicativos e na escrita informal. O galês literário é mais próximo da forma de galês padronizada pela tradução de 1588 da Bíblia, e é encontrado em documentos oficiais e outros registros formais, incluindo a literatura. Como uma forma padronizada, o galês literário mostra pouca ou nenhuma variação dialetal encontrada no galês coloquial.
O Galês (Cymraeg) provém da antiga língua dosceltasbritônicos, que chegaram à ilha vindos daGália, noséculo V a.C.,[12] e que permaneceu sendo usado no interior da Grã-Bretanha, mesmo após as invasões germânicas, em regiões ondeanglos,saxões ejutos tinham menor influência.[13] Após ainvasão normanda, os falantes do galês recuaram mais para o oeste, onde a língua sobreviveu, ao passo que no sul da Escócia, a língua dos celtas foi suplantada pelo inglês arcaico. Os estudioso identificam três períodos na história do galês: o galês antigo, o galês medieval e o galês atual, descrito nesta página.[14]
Ogalês arcaico (Hen Gymraeg) é a denominação que se dá à língua galesa desde o momento que se desenvolveu a partir dobritônico, momento que geralmente se situa entre meados doSéculo VI e meados doSéculo VII até princípios doSéculo XII, quando começam a se manifestar características relacionadas ao galês medieval.
Do galês arcaico há registros de poemas e alguma prosa, ainda que alguns desses textos provenham de manuscritos escritos em épocas posteriores, como no texto do poemaY Gododdin. O texto mais antigo integralmente em galês arcaico é provavelmente o de uma lápide que se conserva hoje naigreja de São Cadfan na cidade de Tywyn, que dataria de princípios doSéculo VIII. Também há um texto em galês arcaico do Livro deSão Chad que se pensa escrito em finais doséculo VIII e início do IX, mas que poderia ser cópia de um texto doséculo VI ou VII. O galês arcaico só é inteligível para um falante de galês atual com a ajuda de abundante aparato de notas.
Ogalês medieval (Cymraeg Canol ) é como se descreve a língua galesa no período doséculo XII aoXIV. Desta etapa da língua restam mais registros que do galês arcaico Esta forma de galês desenvolveu-se a partir de mudanças linguísticas ocorridas no galês antigo. O galês medieval é a língua de quase todos os manuscritos da coletânea de escritos em prosa doMabinogion, ainda que a origem dos contos em si seja muito mais antiga. OMabinogion é também a língua da maior parte dos manuscritos da Lei Galesa. O galês medieval é razoavelmente inteligível, com algum trabalho, para um falante letrado do galês moderno.
As vogais /ɨ̞/ e /ɨː/ só ocorrem nosdialetos setentrionais; nos dialetos do sul são substituídas por /ɪ/ e /iː/, respectivamente. Nos dialetos meridionais, o contraste entre vogais longas e curtas é encontrado somente emsílabas tônicas; nos dialetos do norte, o contraste só é encontrado em oxítonas, incluindo monossílabos tônicos.
O alfabeto latino é usado para representar o galês. Além das letras únicas, a escrita galesa utilizadígrafos e trígafos para representar sons inexistentes no latim. As letras < v >, < x > e < z > não são usadas em palavras nativas.
Nas línguas celtas, o termomutação consonantal se refere às alterações fonéticas em consonantes iniciais de palavras de várias classes em função do papel gramatical da palavra na oração. No galês, as mutações consonantais gramaticais realizam funções tais quais[16]:
Marcação do gênero feminino em adjetivos no singular (llyfrdiddorol - dramaddiddorol / ‘livro interessante’ - ‘peça interessante’)
Marcação de posse no singular (car -fynhar,dygar,ei char / ‘carro’ - ‘meu carro’, ‘teu carro’, ‘carrodela’)
As mutações presentes no galês moderno são três[17]: a mutação delenição, a mutação denasalização e a mutação deaspiração. Amutação de lenição sinaliza ovozeamento ou a fricativização da consonante; amutação de nasalização se caracteriza por transformar asconsoantes oclusivas em nasais. Por sua vez, amutação de aspiração sinaliza um processo de espirantização no qual asconsonantes oclusivas surdas se tornamfricativas surdas. Nem todas as consoantes estão sujeitas a todas as possibilidades de mutação. De fato, apenas as oclusivas surdas /p t k/ apresentam quatro formas distintas no galês moderno. As mutações presentes no galês literário, assim como no galês coloquial padrão, são as seguintes (símbolos fonéticos, seguidos de símbolos ortográficos quando diferentes):
As mutações consonantais resultam de processos de mudança fonética naturais ocorridos já no primeiro milênio daEra Cristã.[19] Ao longo dos séculos, osambientes fonéticos que causaram as mudanças perderam-se, e distribuição das mutações consonantais tornou-se algo arbitrária.[19] Por exemplo, o possessivoei (‘seu’/‘sua’) causa a mutação de lenição quando o gênero do possuidor é masculino, mas a mutação de aspiração quando o possuidor é feminino:eithad ‘o paidela’ eeidad ‘o paidele’ (tad - ‘pai’). A tabela abaixo contém um resumo do uso das mutações no galês falado padrão:
Palavras que causam mutação consonantal no item seguinte[17]
Mutação de lenição
Mutação de nasalização
Mutação de aspiração
Preposições
i, ar, am, drws, o, heb, wrth, etc.
yn (em, locativo)
â, gyda, tua
Possessivos
dy, ei (masculino)
fy (meu)
ei (feminino)
Numerais
un (1, feminino),dwy/dau (2)
-
tri (3),chwech (6)
Gênero
adjetivos que modificam substantivos femininos,
substantivos femininos seguidos do artigo definidoy/yr/’r
Algumas palavras não sofrem mutação consonantal no galês moderno,[11] devido a fatores tanto históricos como estilísticos. Os seguintes casos se observam no galês atual:
Palavras que começam com vogais ou com os sons consonantais /h/, /r/, /f/, /v/, /χ/, /s/, /l/:
Aber -oAber (‘Aber’ - ‘de Aber’);hi -ihi (‘ela - para ela’);chwaer -fy chwaer (‘irmã’ - ‘minha irmã’), comparado a:
Amorfossintaxe do galês se caracteriza sobretudo pelaordem VSO, pelasmutações consonantais como forma deconcordância gramatical, pelo uso de locuções verbais preposicionadas, pelaspreposiçõesflexionadas, pelos gêneros masculino e feminino e pela flexãoverbal em trêsmodos: afirmativo, interrogativo e negativo. As flexões verbais podem diferir drasticamente entre o galês coloquial e o galês literário (ver abaixo), além de haver diferenças dialetais. O galês compartilha grande parte de suamorfologia com as demais línguas celtas vivas.[20]
Há duas classes nominais em galês, tradicionalmente classificadas como osgêneros gramaticais feminino e masculino. Como no português (e ao contrário do inglês), o gênero em galês é determinado lexicalmente, isto é, a maioria das palavras apresenta características morfossintáticas relacionadas a um do dois gêneros. Por exemplo, a palavrapont 'ponte’ é feminina, mas a palavrabwrdd ‘mesa’ é masculina em galês. A categoria de gênero é expressa através de cinco estratégias morfossintáticas:[21]
Mutação de lenição no feminino singular precedido do artigo definido (y/yr/’r)
O galês tem apenas um verbo,bod, que expressa o significada tanto de ‘ser’ como de ‘estar’ e, como em várias outras línguas, é altamenteirregular. Além da variação em forma dependendo dapessoa, dotempo e domodo,[19] no galês os verbos também apresentam flexão em três modos: afirmativo, negativo, e interrogativo.
O modo negativo do verbobod é formado a partir das respectivas formas do modo afirmativo. No tempo presente, acrescenta-sedy- à forma afirmativa na maioria dos casos (dw i ‘eu sou’;dydw i ‘eunão sou’).
Conjugação do verboBOD (ser/estar) em três modos[17]
O galês é uma língua derivada do britônico comum, por sua vez derivado do proto-celta, do qual a maioria das palavras galesas foram herdadas. Os vocábulos galeses de origem cética dizem respeito sobretudo àterminologia de parentesco, às cores e a nomes de animais, alimentos e verbos.[19] A tabela abaixo contém termos equivalentes na língua irlandesa.
Em meados dos anos 70 do século I, a maior parte daIlha da Grã-Bretanha foi ocupada pelosromanos, com a exceção do norte da Escócia. O latim tornou-se a língua oficial da província, porém o britônico, alíngua materna dos habitantes celtas da Britânia, era a língua falada no dia-a-dia. Durante esse período, muitas palavras em latim foram incorporadas na língua, sobretudo termos para os fenômenos e a cultura que os romanos traziam consigo.