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Flávio Josefo

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(Redirecionado deJosephus)
Flávio Josefo

Busto romano tido como de Flávio Josefo
Nome completoYosef ben Mattityahu
(יוסף בן מתתיהו)
Nascimento37 (ou38 d.C.)
Morte100 (63 anos)d.C.

Flávio Josefo, ou apenasJosefo (emlatim:Flavius Josephus;37 ou38[1] — ca.100[2]), também conhecido pelo seu nomehebraicoYosef ben Mattityahu (יוסף בן מתתיהו, "José, filho de Matias" [Matias é variante de Mateus]) e, após se tornar umcidadão romano, comoTito Flávio Josefo (latim:Titus Flavius Josephus),[3] foi umhistoriador eapologistajudaico-romano, descendente de uma linhagem de importantessacerdotes ereis, que registrouin loco adestruição de Jerusalém, em70 d.C., pelas tropas doimperador romanoVespasiano, comandadas por seu filhoTito, futuro imperador. As obras de Josefo fornecem um importante panorama dojudaísmo noséculo I.

Suas duas obras mais importantes sãoA Guerra dos Judeus (c. 75) eAntiguidades Judaicas (c. 94).[4] O primeiro éfonte primária para o estudo darevolta judaica contra Roma (66-70[5]), enquanto o segundo conta a história do mundo sob uma perspectiva judaica. Estas obras fornecem informações valiosas sobre a sociedade judaica da época, bem como sobre o período que viu a separação definitiva docristianismo do judaísmo e as origens dadinastia flaviana, que reinou de 69 a 96.[4]

Biografia

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As informações de que dispomos sobre a sua vida provêm principalmente de sua autobiografia (Vida de Flávio Josefo). Josefo, que se apresentou emgrego comoIósepos (Ιώσηπος), filho de Matias,sacerdotejudaico,[6] teria nascido emJerusalém numa família decohanim (sacerdotes), onde teria recebido uma educação sólida naTorá. Sua mãe descendia dafamília real dosAsmoneus. Aos treze anos de idade, iniciou seu aprendizado sobre três das quatro seitas judaicas:saduceus,fariseus eessênios optando aos dezenove anos de idade por aderir ao farisaísmo. Em sua obra, Josefo atribui aoszelotas, a quarta seita, a responsabilidade por ter incitado a revolta contra osromanos, que conduziu à destruição de Jerusalém e doTemplo.

Em 64, contando com vinte e seis anos de idade, seguiu numa embaixada aRoma onde obteve, por intermédio dePopeia Sabina, esposa doimperadorNero, a libertação de alguns sacerdotes hebreus condenados pelo governador daJudeia,Marco Antônio Félix. Ao regressar à Judeia, Jerusalém encontrava-se à beira da revolta. Josefo procurou dissuadir os líderes mas seus esforços foram inúteis, tendo os revoltosos tomado aFortaleza Antônia (66). Josefo, com receio de ser acusado de partidário dos romanos, refugiou-se no Templo. Entretanto, após a morte deManaém e dos principais líderes da revolta, uniu-se aos sacerdotes doSinédrio (Sanhedrin) que, naquele momento, aguardavam a chegada das tropas deCássio[desambiguação necessária] para sufocar a revolta, o que não se concretizou pela derrota destas.

O Sinédrio o enviou àGalileia. À sua chegada, relatou a Jerusalém que os galileus estavam prestes a marchar sobreSéforis, cidade leal a Roma. O Sinédrio então o designou governador militar da província, que fez fortificar. Defrontou-se com a oposição dos extremistas liderados porJoão de Giscala, que o acusavam de tender à contemporização.

Galileia, governada brevemente por Josefo.

Enfrentou as forças dePlácido, enviadas porGéstio Galo para a região. Em 67, as tropas deVespasiano tomaramJotapata, e Josefo, com quarenta homens, escondeu-se em umacisterna. Com a descoberta do esconderijo, foi-lhes proposto que se rendessem em troca das próprias vidas. Josefo teria sugerido então um método de suicídio coletivo: tirariam a sorte e matar-se-iam uns aos outros, de três em três pessoas; restaram apenas Josefo e mais um homem. Há quem veja o ocorrido como umproblema matemático, por vezes designado comoproblema de Josefo ouRoleta Romana[7]). Josefo convenceu este seu soldado a se entregar às forças romanas que invadiram a Galileia, em julho de 67, tornando-se prisioneiro de guerra. As tropas romanas doimperador romano, (Flávio)Vespasiano, eram comandadas por seu filho,Tito, ele próprio futuro imperador. Em 69, Josefo foi libertado[8] e, de acordo com seu próprio relato, teria tido um papel de relevo como negociador com as tropas de resistência durante ocerco de Jerusalém, em 70 após a queda de Jerusalém, foi bem aceito, assumindo o nome romano de seu protetor Flávio Vespasiano, e recebido acidadania romana. Passou também a receber uma generosa pensão. Além disso, tratou de aumentar suas rendas, obtendo permissão de Vespasiano para, através de seus agentes, adquirir, a preço vil, terras na Judeia, confiscadas dos envolvidos na revolta.[9] As honrarias prosseguiram sob o reinado de Tito e deDomiciano.

Em 71, Josefo chegou a Roma com a comitiva de Tito; cidadão romano, passou a ser umcliente dadinastia dominante, osflavianos. Durante sua estada em Roma, e sob patronagem flaviana, escreveu todas as suas obras conhecidas. Embora Josefo só se refira a si próprio por este nome, parece ter adotado oprenome Tito (Titus) e onome Flávio (Flavius) de seuspatrões.[10] Esta prática era costumeira para todos os 'novos' cidadãos romanos.

A primeira esposa de Josefo morreu, juntamente com seus pais, durante o cerco de Jerusalém. Vespasiano arranjou-lhe um casamento com uma mulher judaica que também fôra capturada. Esta mulher o abandonou e, por volta de 70, casou-se com uma judia deAlexandria, com quem teve três filhos. Apenas um, Flávio Hircano (Flavius Hyrcanus), sobreviveu além da infância. Josefo se divorciou posteriormente desta sua terceira esposa e, no ano 75, se casou pela quarta vez, com uma judia de uma família distinta deCreta. Este último casamento produziu dois filhos, Flávio Justo (Flavius Justus) e Flávio Simônides Agripa (Flavius Simonides Agrippa).

Imagem romantizada de Flávio Josefo, na tradução de suas obras porWilliam Whiston.

A vida de Josefo é recheada de ambiguidades; para seus críticos, ele nunca explicou satisfatoriamente seus atos durante a Guerra Judaica — como por que ele não teria cometido suicídio na Galileia, com seus companheiros, e por que, depois de sua captura, aceitou a patronagem dos romanos.[11] Seus críticos, no entanto, ignoram o fato de queSimão bar Giora eJoão de Giscala, ambos zelotas extremistas e grandes oponentes de Josefo que permaneceram em Jerusalém e lideraram os combates contra os romanos em sua última etapa, preferiram — num momento de honestidade — a vida ao suicídio, e humildemente se renderam aos romanos. Aqueles que viram Josefo como um traidor e informante também questionaram sua credibilidade comohistoriador — desprezando suas obras comopropaganda romana ou umaapologética pessoal, destinada a reabilitar sua reputação histórica. Mais recentemente, críticos vêm reavaliando as visões pré-concebidas de Josefo. Um argumento importante é a comparação entre os danos causados por seus atos e aqueles dos idealistas que reprovaram seu comportamento; enquanto Josefo teria sido responsável pelo suicídio de alguns soldados, pela humilhação temporária de um exército enfraquecido e pelo transtorno de uma esposa, os bons, leais, idealistas e corajosos, devotos e patrióticos líderes de Jerusalém tinham sacrificados dezenas de milhares de vidas à causa da liberdade; Tito e Vespasiano sacrificaram dezenas de milhares mais à causa da ordem civil, e até mesmo Agripa II, o rei da Judéia, cliente romano, que fez tudo o que podia para evitar a guerra, acabou supervisionando a destruição de meia dúzia de cidades e a venda de seus habitantes como escravos.[12]

Josefo foi sem dúvida alguma um importante apologista, nomundo romano, para a cultura e o povo judaico, particularmente numa época de conflito e tensão. Sempre permaneceu, pelo menos em seus próprios olhos, um judeu leal e cumpridor das leis. Fez tudo o que podia para indicar o judaísmo aos gentis letrados, e para insistir sobre sua compatibilidade com o pensamento aculturado greco-romano. Constantemente se manifestou a respeito da antiguidade da cultura judaica, apresentando seu povo como civilizado, devoto e filosófico. Eusébio relata que uma estátua de Josefo teria sido erguida em Roma.[13]

Obra

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Escreveu um relato daGrande Revolta Judaica, dirigida à comunidade judaica daMesopotâmia, emlíngua aramaica. Escreveu, depois, emgrego, outra obra de cariz histórico que abarcava o período que vai dosMacabeus até a queda de Jerusalém. Este livro,A Guerra dos Judeus, foi publicado em 79. A maior parte do livro é diretamente inspirada na sua própria vida e experiência militar e administrativa.

AsAntiguidades Judaicas (escritas cerca de 94 em grego) é a história dos Judeus desde a criação doGénesis até à irrupção da guerra da década de 60. Acrescentou, no final, um apêndice autobiográfico onde defendeu a sua posição colaboracionista em relação aos invasores romanos. O seu relato, ainda que com um paralelismo evidente em relação aoAntigo Testamento, não é idêntico ao das escrituras sagradas. Há quem defenda que estas diferenças se devam à possibilidade de Josefo ter tido acesso a documentos antigos (que remontariam até à época de Neemias) que teriam sobrevivido à destruição do templo. A maior parte dos académicos não dá crédito a tal suposição. Neste livro encontra-se o famosoTestimonium Flavianum, uma das referências mais antigas a Jesus, mas considerada por alguns estudiosos uma interpolação fraudulenta posterior.[14][15]

Contra Apião é outra obra importante deste autor, onde ojudaísmo é defendido como religião e filosofia realmente clássica, em contraponto às tradições mais recentes dos gregos. O livro serve para expor e refutar algumas alegaçõesantissemíticas deApião, bem como mitos antigos, como os deManetão.

Sua última obra, foi umaautobiografia (Vida de Flávio Josefo), que nos revela o nome do adversário (Justo de Tiberíades, filho de Pistos), ao qual essa obra vem responder e as censuras que lhe faz Josefo. Essa obra é cheia de lacunas, confusa e hipertrofiada. E ela traz sobre a vida de Josefo informações preciosas, que não encontramos em nenhum outro historiador da antiguidade.

Segundo Alberto Manguel,[16] por volta de 1830, a obra de Flavio Josefo foi uma das mais usadas para leitura em voz alta nas famílias escocesas. Algumas décadas mais tarde, Guerra Judaica é indicada como uma das obras mais lidas na Inglaterra.[17][18]

Referências

  1. Nas suas próprias palavras: "…eu tenho o meu nascimento no primeiro ano do reinado do imperadorCaio César." (Josefo, Flávio.Autobiografia)
  2. Feldman, Louis H. e Mason, Steve (1999).Flavius Josephus. [S.l.]: Brill Academic Publishers  !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
  3. Josefo se referia a si mesmo nas suas obras emgrego comoJōsēpos Matthiou pais ("José, filho de Matias"). Embora ele também falassearamaico e provavelmente ohebraico, não existem fontes da época que registraram seu nome nestes idiomas.
  4. abHarris, Stephen L.,Understanding the Bible, (Palo Alto: Mayfield, 1985).
  5. Algumas fortificações dos rebeldeszelotas resistiram mais algum tempo, comoMacheron,Heródio e, por último,Massada (73) (Josefo, Flávio.Guerra dos Judeus.)
  6. Guerra dos Judeus I.3
  7. Roman Roulette [Roleta romana] (em inglês),ES: UVA, consultado em 8 de novembro de 2008, cópia arquivada em|arquivourl= requer|arquivodata= (ajuda) 🔗 .
  8. Guerra dos Judeus IV. 622-629
  9. Hadas-Lebel, Mirelli.Flávio Josefo, o judeu de Roma. Rio de Janeiro. Editora Imago, 1992
  10. Orígenes,teólogocristão doséculo III (Comm. Matt. 10.17).
  11. Smallwood, E. Mary. Introdução àGuerra Judaica, de Josefo, tradução para o inglês de G.A. Williamson, Nova York, Penguin, 1981, p. 24
  12. O'Rourke 104.
  13. História Eclesiástica (Eusébio) 3.9.2
  14. Kautsky, KARL A origem do cristianismo, 1908, p. 42
  15. Schürer, EMIL Geschichte des Jüdischen Volkes im Zeitalter Jesu Christi, vol.I, 3ª ed., 1901, p544
  16. Alberto Manguel. Uma história da leitura, S.Paulo: Cia das Letras, 1997, p.142-143.
  17. Louis Finkelstein. The Jews: Their History, Culture and Religion. N. Yorque: Harper & Brothers Publishers, 1949, p. 754.
  18. Cf ROCHA, Ivan E. A vida quotidiana na Palestina do século I na visão de Flávio Josefo. São Paulo: Annablume, 2014, p. 36.

Ligações externas

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