João Saldanha | |
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![]() O treinador em 1973 | |
Nome completo | João Alves Jobim Saldanha |
Nascimento | 3 de julho de1917 Alegrete,Rio Grande do Sul |
Morte | 12 de julho de1990 (73 anos) Roma,Itália |
Nacionalidade | brasileiro |
Ocupação | jornalista treinador de futebol escritor |
João Alves Jobim Saldanha (Alegrete,3 de julho de1917 —Roma,12 de julho de1990) foi um militante político,jornalista, escritor etreinador defutebolbrasileiro.
Atuou profissionalmente por alguns anos noBotafogo, mas abandonou a carreira e se graduou emjornalismo, tendo se tornado um dos mais destacados da crônica esportiva brasileira. Como técnico de futebol, levou o Botafogo ao título carioca de 1957 e aSeleção Brasileira a classificar-se para aCopa do Mundo de 1970. Foi afastado do comando da seleção nacional meses antes do início da competição, em uma história até hoje não esclarecida.
Apelidado porNelson Rodrigues comoJoão Sem-Medo, militou por toda sua vida adulta noPartido Comunista Brasileiro e chegou à sua cúpula.[1]
Saldanha nasceu noAlegrete, no estado doRio Grande do Sul, no dia3 de julho de1917. Sua família envolveu-se naRevolução de 1923 e Saldanha, aos 6 anos, ajudava no contrabando de munição entreBrasil eUruguai. No mesmo ano, a família refugiou-se emRivera. Ao fim do conflito, os Saldanha voltaram para o Rio Grande do Sul e, no ano seguinte, foram para oParaná.[2] Após percorrer várias cidades do interior, decidiram se instalar emCuritiba.[3]
O primeiro grande contato de João com o futebol aconteceu ali, pois a casa comprada por Gaspar Saldanha, seu pai, ficava a dois quarteirões do campo doAtlético Paranaense, onde sempre ia assistir aos treinos das divisões de base, permitindo a proximidade do garoto com o futebol. Além disso, a casa da família em Curitiba permitia uma integração com toda a garotada da vizinhança, que organizava times, campeonatos, jogos, enfim, tudo dentro do estilo de vida da expansão urbana e das novas modas citadinas. Ali, João completaria o primário na mesma escola de um garoto que ainda seria importantíssimo personagem na história nacional como presidente da República:Jânio Quadros. Em1928, a família voltou para o Rio Grande do Sul, com o pai de Saldanha aliando-se a Getúlio Vargas. Quando este tornou-se presidente do Brasil, a família foi para oRio de Janeiro, onde Gaspar ganhou umcartório.[2] Filiou-se aoPartido Comunista Brasileiro com pouco tempo estabilizado no Rio e engajou-se em muitas campanhas do partido. Logo mais, se tornaria um dos mais ferrenhos opositores daditadura militar brasileira e figura de destaque no "Partidão". Tornou-se secretário-geral daUnião da Juventude Comunista, chegando a ser mantido preso e fichado noDOPS em1947.[4]
Jogou futebol profissionalmente por uns poucos anos no clube carioca doBotafogo. Formou-se emDireito pelaFaculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, atualUFRJ. EstudouJornalismo e se tornou um dos mais destacados cronistas esportivos brasileiros, começando a carreira em 1960. Incentivado por amigos e por sua esposa na época, Ruth (irmã do jornalistaRui Viotti), aceitou o convite para fazer um teste para integrar a equipe da Rádio Guanabara (atual Bandeirantes AM), montada por Édson Leite. A partir daí, acumulou passagens marcantes pelas rádios Nacional, Globo, Tupi e Jornal do Brasil, TVs Rio, Manchete e Globo (onde apresentou seus comentários esportivos no programaDois Minutos com João Saldanha) e assinou colunas nos jornais Última Hora, O Globo, Jornal do Brasil e revista Placar. Com toda sua experiência vivida no futebol, não media palavras ao criticar jogadores, treinadores e dirigentes, conquistando fãs e desafetos.
Entre1939 e1940, Saldanha foi o intérprete no Botafogo do técnico húngaroDori Kürschner, com quem aprendeu sobre tática no futebol.[2] Foi diretor de futebol do clube a partir de 1944, com um intervalo entre1949 e1956, período em que esteve clandestino como dirigente do PCB.[2] Saldanha foi contratado em 1957 como técnico doBotafogo, apesar de sua falta de experiência. O clube conquistou ocampeonato estadual daquele ano, em uma final histórica, em que goleou o Fluminense por 6x2, com um time que contava comGarrincha,Didi eNílton Santos. Em 4 de fevereiro de 1969, ele foi anunciado como novo treinador da seleção nacional. O presidente daConfederação Brasileira de Desportos (CBD),João Havelange, alegou que o contratou na esperança de que os jornalistas fizessem menos críticas à seleção nacional, tendo um deles como técnico.[5]
NaCopa do Mundo de 1966, uma das principais críticas da imprensa era a falta de um time-base. Saldanha tentou resolver esse problema, convocando um time formado em sua maioria por jogadores doSantos e doBotafogo, os melhores times da época, e os conduziu a 100% de aproveitamento em seis jogos de qualificação (eliminatórias). De uma frase sua, quando teria dito que convocaria somente "feras", surgiu a expressãoAs feras do Saldanha, para designar aquela seleção. Graças ao seu trabalho, a seleção brasileira reconquistaria a autoestima e a confiança do torcedor, que tinha perdido depois da pífia campanha de 1966.
O time de Saldanha, que se destacou nas eliminatórias, contraVenezuela eParaguai, com a duplaTostão ePelé, estava mesclado com jogadores do Santos, Botafogo eCruzeiro. Foi uma grande ideia de Saldanha, aproveitando o entrosamento dos jogadores em seus respectivos clubes, e que formavam um 1-4-2-4 bem montado. O time brasileiro de Saldanha era:Felix,Carlos Alberto Torres,Djalma Dias, Joel eRildo;Piazza eGerson;Jairzinho,Tostão,Pelé eEdu.
Apesar das vitórias, Saldanha foi publicamente criticado porDorival Knipel, conhecido comoYustrich, treinador do clube cariocaFlamengo. Saldanha respondeu ao confronto brandindo umrevólver.[6][7] Também havia rumores de que não entendia depreparação física, havendo alguns desentendimentos com a comissão técnica sobre a condução dos treinamentos.
Como o próprio Saldanha disse em entrevista aTV Cultura, e sabido conhecimento popular, ele teria sido retirado do comando da seleção por causa da sua negativa em selecionar jogadores que eram indicados pessoalmente pelo presidenteEmílio Garrastazu Médici, durante aditadura militar, em particular o atacanteDario Maravilha.[nota 1] Sua punição, agravada por ser militante doPartido Comunista Brasileiro, foi a dispensa do comando da seleção meses antes do mundial, o que deixou eternos rumores do medo da ditadura de ver um comunista voltar da copa do México com a Jules Rimet nas mãos.
O último atrito foi quando o auxiliar técnico pediu para sair da seleção, dizendo que era impossível trabalhar com Saldanha. SegundoJoão Havelange, então presidente daCBD, o esquema adotado por Saldanha de dois pontas abertos (Jair e Edu) e o meio-campo desprotegido do Brasil, que adotava o esquema 1-4-2-4, não iria a lugar nenhum. Daí a demissão de João Saldanha e, depois de uma tentativa de se contratarDino Sani, ele foi substituído porMário Zagallo, ex-jogador de futebol e ganhador de duas copas:Copa do Mundo de 1958 eCopa de 1962, com seu tradicional e eficiente (na época) 1-4-3-3, montando a equipe comFélix; Carlos Alberto Torres,Brito, Piazza e Marco Antônio (depoisEveraldo);Clodoaldo, Gérson eRivelino; Jair, Tostão e Pelé.
Saldanha retornou aojornalismo depois desse episódio e continuou a criar algumas das mais famosas citações da história do futebol brasileiro, como: "o futebol brasileiro é uma coisa jogada com música". No final da vida, foi um dos maiores críticos daeuropeização do futebol brasileiro, com a adoção de esquemas mais defensivos e a perda de algumas de nossas principais características, como o jogo hábil e voltado ao ataque.
Em 1985, foi pela primeira vez candidato nas primeiras eleições diretas para prefeito do Rio de Janeiro, sendo indicado pelo seu Partido, o PCB, como candidato a vice-prefeito, na chapa encabeçada pelo advogado Marcelo Cerqueira, do PSB.
Bastante debilitado devido ao vício tabagista, seu último trabalho jornalístico foi a cobertura daCopa do Mundo de 1990 para aTV Manchete.[9] Saldanha morreu devido a umenfisema pulmonar emRoma, no dia12 de julho de1990.[10][11]
Em sua homenagem, foi criado oTroféu João Saldanha, concedido a cada ano à equipe que termina o segundo turno doBrasileirão em primeiro lugar.