Handroanthus impetiginosus,[1]comumente conhecida comoipê-roxo, é uma árvore da América do Sul, conhecida pela utilização medicinal e comomadeira de lei.
Deve-se salientar que ipê-roxo é um nome popular, e não reflete a verdadeira cor das flores, que vai de um rosa intenso ou magenta, até um rosa claro. Não existem ipês com flores verdadeiramente roxas.
Há alguns autores que classificam aHandroanthusimpetiginosus e aHandroanthus avellanedae como fazendo parte da mesma espécie, mas há discordância entre os botânicos brasileiros.[Nota 1]
Há uma espécie conhecida como ipê-rosa, ipê-roxo-de-sete-folhas e também ipê-roxo, com flores de cor semelhante (rosa), que corresponde à espécieHandroanthus heptaphyllus, a qual facilmente se diferencia do ipê-roxo devido às suas folhas compostas (5-7) foliadas.[2]
Além de ipê-roxo, esta árvore dá ainda pelos seguintes nomes comuns:piúva,pau-d’arco[4] (não confundir com as espécies da família dasBignoniáceas, do géneroTabebuia, que consigo partilham este nome comum),pau-d’arco-roxo,piúna,ipê-roxo-de-bola,ipê-una,ipê-roxo-grande,ipê-de-minas epiúna-roxa.[2]
O nome ipê provém dalíngua tupi e significa "pau cascudo", sendo uma composição de'yba, pau, epé, casca. É árvore de madeira muito dura.[5]
É originária daMata Atlântica brasileira, encontrada tanto nafloresta pluvial atlântica como nasemidecidual. Por vezes ocorre também noCerrado. Sendo nativa dos estadosbrasileiros do Acre, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Rio de Janeiro e São Paulo; e no Distrito Federal.
Ocorre também na Argentina, Bolívia, Colômbia, Guiana Francesa, Paraguai, Peru, Suriname e Venezuela, na América do Sul; em El Salvador, Costa Rica, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá, na América Central, e no México (América do Norte).
Árvore decídua, de crescimento rápido, com altura de 8 a 12 m, pode chegar aos 30 m no interior da mata. Ocupa na mata primária odossel superior.[2]
As folhas são compostas com 5 folíolos grandes, como a maioria dos ipês. São coriáceas ou subcoriáceas.
Inflorescência e vagem com sementes
Como os demaisipês, é uma árvore ornamental, cuja floração ocorre na estação seca (maio-agosto), época em que perde todas asfolhas. A inflorescência é um panículo terminal, as flores que vão dorosa aolilás duram poucos dias e fornecem alimento parainsetos como abelhas, que são importantes polinizadores, destacando o vespãomamangava,aves, entre as quais oscolibris e mesmomacacos.[7]
Os frutos são cápsulas septicidas grossas em uma vagem deiscente. As sementes membranáceas são dispersas poranemocoria (pelo vento).[2]
A árvore é muito usada emarborização urbana no sudeste e centro-oeste do Brasil.
A madeira apresenta boa durabilidade e resistência contraorganismos que dela se alimentam (xilófagos), sendo difícil de serrar ou pregar.É utilizada na construçãocivil, em currais, acabamentos internos,instrumentos musicais ebolas deboliche.[2]
Da casca são extraídos os ácidos tânicos e lapáchico, sais alcalinos e corante que é usado para tingir algodão e seda.
Lapachol, um composto natural fenólico isolado do córtex de diversas espécies do gênero Handroanthus (em espanhol Lapacho), especialmenteH. impetiginosus[8][9]
O pau d'arco ou ipê-roxo é uma planta incorporada à farmacopeia de dezenas de tribos sul-americanas e andinas há milhares de anos. Ipê inclusive é uma palavra de origem tupi, que significa ‘árvore cascuda’,[10] da sua utilização indígena inclusive sobreveio o nome "pau d'arco", de seu uso para fabricação desta arma, oarco e flecha.[11]Guilherme Piso (1611–1678) se refere ao pau'arco (de flores amarelas) também com o termo "queraíba" informando que de sua casca esmagada e cozida se extrai "um óleo eficacíssimo para curar feridas e úlceras antigas nas pernas e em outras partes".[12]
Um de seus nomes na América andina é "tahebo", conhecida por médicos doImpério Inca, descendentes entre os quais a notável tribo dos curandeiroskallawayas, cuja cultura foi declarada pela Unesco como Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade, no ano 2003.[13][14][15][16] Na Farmacopeia Kallawaya (Callawya) compilada por Enrique Oblitas Poblete, o pau d'arco chama-seTajibo,Tayu (Lapacho,Bignonia longissima) "usan en maceracion y en mate para la arterioesclerosis, diabetes, ulceras cancerosas e com miel de abejas p manter el hombre sano y fuerte"(p.338).[17]
Sua utilização popular no Brasil envolve o uso para banho, chás das folhas, o decocto da entrecasca (caule e cascas) egarrafadas com indicações que incluem gripes, bronquite, sinusite, impetigo, úlceras sifilíticas e blenorrágicas, tratamento local de cervicite e cervico-vaginite, controle da anemia (antianêmica), cistite (diurético), "sangue grosso", calmante, alívio das inflamações de ouvido, dor no corpo (antirreumática), picada de cobra, afta, gastrite, verminoses, diarreia e câncer (leucemia, tumores).[18][19][20]
Balbach refere-se ao uso das folhas de uma espécie conhecida como ipê-batata ou braco (T. leucantha) como eupéptico, diurético, depurativo e útil na litíase vesical. Do ipê-roxo (T. impetiginosa) se usa a casca em decoção contra inflamações artríticas, impinges, sarna, catarro da uretra, leucorreia (também em banhos e lavagens vaginais).[21]
O ipê-roxo também é usado como recurso medicinal no estado do Mato Grosso para tratamento dediabetes mellitus.[22]
Apesar da discutível ação antineoplásica,[31] ou atividade antineoplásica e teratogênica,[32] o ipê-roxo é muito usado em medicina popular no combate decâncer e inflamações, além das propriedades citadas e do poder de inibir o crescimento de tumores malignos e, ao mesmo tempo, reduzir a dor.[33] O extrato da entrecasca e cerne do lenho contém uma substância amarela da classe das naftoquinonas, estruturalmente relacionada com avitamina K, conhecida comolapachol entre outrasnaftoquinonas eantraquinonas presentes.[34][8][35]
Testes da bioatividade do extrato de pau d'arco e do lapachol indicam sua ação como um antagonista da vitamina K (especialmente a vitamina K1) possivelmente inibindo alterações na coagulação e problemas tromboembólicos induzidos por algumas formas de neoplasia.[36][37] Lübeck,[14] porém, ressalta a importância do efeito sinérgico ou interação complexa das diversas substâncias contidas na planta em relação às distintas manifestações da doença (p.33-34), destaca, sua atuação de estimulação do sistema imunológico (p.35), seu efeito analgésico da dor oncológica (p.38; p.66).
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Notas
↑Lorenzi não concorda explicitamente com a identidade entre essas espécies, postulada por A.H.Gentry. Refere com área de ocorrência no Brasil, oH. avellanedae nos estados de Mato Grosso do Sul e São Paulo até o Rio Grande do Sul (floresta latifoliada semidecídua da bacia do rio Paraná), e oH. impetiginosus os estados do Piauí, Ceará até Minas Gerais, Goiás e São Paulo, na mata pluvial atlântica e na floresta semidecídua, ocasionalmente no cerrado (Lorenzi, Harri:Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas do Brasil (o.c.))