Oshuguenotes eram religiososprotestantes franceses que mantiveram a tradição reformada (calvinista) do protestantismo. O termo, que pode ser derivado do nome de um líder político suíço, oburgomestre genebrino Besançon Hugues (1491-1532), era de uso comum em meados do século 16.Huguenot foi frequentemente usado em referência aos daIgreja Reformada da França da época daReforma Protestante. Em contraste, as populações protestantes do leste da França, naAlsácia,Mosela eMontbéliard, eram principalmente luteranas.[1]
Em suaEnciclopédia do Protestantismo, Hans Hillerbrand escreveu que, na véspera domassacre de São Bartolomeu, em 1572, a comunidade huguenote representava até 10% da população francesa. Em 1600, declinou para 7-8%, e foi reduzido ainda mais no final do século após o retorno da perseguição sobLuís XIV, que instituiu asdragonnades para converter protestantes à força, e então finalmente revogou todos os direitos protestantes em seuÉdito de Fontainebleau de 1685.[1]
Os huguenotes estavam concentrados nas partes sul e oeste doReino da França. À medida que os huguenotes ganhavam influência e exibiam mais abertamente sua fé, a hostilidadecatólica crescia. Uma série de conflitos religiosos se seguiram, conhecidos como asGuerras Religiosas Francesas, travadas intermitentemente de 1562 a 1598. Os huguenotes eram liderados por Jeanne d'Albret; seu filho, o futuroHenrique IV (que mais tarde se converteria ao catolicismo para se tornar rei); e os príncipes de Condé. As guerras terminaram com oÉdito de Nantes de 1598, que concedeu aos huguenotes substancial autonomia religiosa, política e militar.[1]
As rebeliões huguenotes na década de 1620 resultaram na abolição de seus privilégios políticos e militares. Eles mantiveram as disposições religiosas doÉdito de Nantes até o governo deLuís XIV, que gradualmente aumentou a perseguição ao protestantismo até que ele emitiu o Édito de Fontainebleau (1685). Isso acabou com o reconhecimento legal do protestantismo na França e os huguenotes foram forçados a se converter ao catolicismo (possivelmente comoNicodemitas) ou fugir como refugiados; eles estavam sujeitos a violentas dragonnades. Luís XIV afirmou que a população huguenote francesa foi reduzida de cerca de 900 000 ou 800 000 adeptos para apenas 1 000 ou 1 500. Ele exagerou o declínio, mas as dragonnades foram devastadoras para a comunidade protestante francesa. O êxodo dos huguenotes da França criou uma fuga de cérebros, já que muitos deles haviam ocupado lugares importantes na sociedade.[2][3][4]
Os huguenotes restantes enfrentaram perseguição contínua sob Luís XV. Na época de sua morte, em 1774, o calvinismo havia sido quase eliminado da França. A perseguição aos protestantes terminou oficialmente com o Édito de Versalhes, assinado por Luís XVI em 1787. Dois anos depois, com aDeclaração Revolucionária dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, os protestantes ganharam direitos iguais como cidadãos.[1]
O Protestantismo francês iniciou-se com o reformador protestanteJacques Lefevre, que iniciou suas pregações em 1514, portanto antes deLutero. Depois que a Reforma tornou-se pública na Alemanha, atingiu também as massas francesas, principalmente a nobreza e os artesãos da classe média. Logo, osprotestantes franceses passaram a seguir as orientações deJoão Calvino, reformador francês que fugiu paraGenebra,Suíça.[1]
O reiFrancisco I da França tinha tendências humanistas e inicialmente tolerou os reformadores, influenciado por sua irmãMargarida de Angolema, nobre de espírito renascentista que flertava com o protestantismo.[1]
Porém, devido aoCaso dos Cartazes (1534), quando calvinistas espalharam cartazes anticatólicos por toda a capital e chegaram ao conhecimento do rei, Francisco iniciou uma dura perseguição.[9] 24 reformistas foram mortos seguidos de uma procissão que glorificava a Eucaristia católica,[10] mostrando a postura mais rígida do monarca. O Édito de Fontainebleau (1540) foi o primeiro de uma série de éditos restringindo os direitos civis dos huguenotes, considerando-os hereges e promotores de alta traição contra Deus e a humanidade e condenando-os a tortura, extorsão de bens e morte. Esses éditos de perseguição geraram asguerras de religião. OÉdito de Orléans de 1561 interrompeu a perseguição por alguns anos, e em 17 de Janeiro de 1562, oÉdito de Saint-Germain reconheceu os seus direitos pela primeira vez.[1]
Asguerras religiosas em França começaram com ummassacre de 63 huguenotes emVassy a 1 de Março de 1562. Em 1572, milhares de huguenotes foram mortos nomassacre da noite de São Bartolomeu, com estimativa média de 30 mil vítimas, havendo estimativas mais exageradas como a de 70 mil mortos concedida pelo sobreviventeMaximilien de Béthune, duque de Sully.[1] A maior delas é a concedida pelo arcebispo de Paris, Hardouin de Péréfixe de Beaumont (1606-1671), dando um número de 100 mil mortos.
Discutindo sobre a estimativa de Péréfixe, Guillaume Félic diz:
Esse último número é exagerado, mas apenas se considerarmos os que sofreram uma morte violenta. Mas se adicionarmos aqueles que morreram de miséria, fome, sofrimento, velhos abandonados, mulheres desabrigadas, crianças sem pão, - todos os miseráveis cuja vida foi encurtada graças a essa grande catástrofe, veremos que a estimativa de Peréfixe está abaixo da realidade. Se pesarmos todas as circunstâncias de São Bartolomeu (...) devemos estar convencidos que é o maior crime da Era Cristã, visto que a invasão dos góticos e vândalos, as vésperas sicilianas, o extermínio dos albigenses, os horrores da Inquisição, os assassinatos dos espanhóis noNovo Mundo, atrozes como são, não mostram o mesmo grau de violação de todas as leis, divinas e humanas.[11]
No ano seguinte receberam a anistia. A quinta guerra santa contra os Huguenotes começou a23 de Fevereiro de1574 e a perseguição continuou periodicamente até1598, quando o reiHenrique IV emitiu oÉdito de Nantes autorizando aos protestantes a liberdade religiosa e direitos idênticos aos dos católicos.[12]
No dia 7 de março de 1557 chegou àBaía de Guanabara um grupo de Huguenotes, como parte do reforço pedido pelo católicoNicolas Durand de Villegagnon. Entre as causas apontadas para o fracasso deste estabelecimento francês aprontam-se as disputas religiosas, sendo os franceses derrotados por uma armada portuguesa em 1560.[13]
Luís XIV começou a perseguir os protestantes outra vez, levando muitos à fuga. Ele revogou o Édito de Nantes (supostamente irrevogável) em 1685, tornando o protestantismo ilegal noÉdito de Fontainebleau. Depois disto, muitos Huguenotes fugiram para os países protestantes vizinhos, especialmente para aPrússia, cujo reiFrederico Guilherme I (Friedrich Wilhelm) era calvinista (fora educado na Holanda) e lhes deu boas-vindas, na esperança de reconstruir o seu país depauperado pela guerra e despovoado. Muitas das palavras de origem francesa no vocabulário alemão (por exemplo:Portemonaie - porta-moedas - ouEnquete - inquérito) foram introduzidas por estes novos elementos da sociedade da Prússia. Muitos destes novos compatriotas foram alojados emBerlim e nas proximidades.[1]
Em 31 de Dezembro de 1687, um grupo de Huguenotes velejou desde a França em direção aoCabo da Boa Esperança, na África do Sul, onde implantaram a cultura da uva e a produção dovinho. A África do Sul é hoje um dos principais produtores de vinho fora da Europa.[1]
Muitos fugiram para as treze colônias britânicas naAmérica do Norte. Entre eles contava-se um artífice chamado Apollos Rivoire, que mudou o seu nome para Paul Revere e cujo filho, também chamadoPaul Revere, foi um famoso líder darevolução americana.[1]
Shoreditch, uma zona deLondres, tornou-se a casa para muitos dos refugiados huguenotes naInglaterra. Eles deram fomento à indústria da tecelagem na zona de Spitalfields.[1]
A fábrica de cerveja deTruman surgiu em 1724, apesar de ser então conhecida como Black Eagle Brewery nessa altura.[1]
Muitos Huguenotes fugiram da cidade francesa deTours, o que acabou por significar a ruína das grandes fábricas de seda que eles tinham construído ali. Alguns deles trouxeram os seus talentos para benefício daIrlanda do Norte, onde foram responsáveis pela fundação da grande indústria do linho irlandesa.[1]
Durante aSegunda Guerra Mundial, a população deLe Chambon-sur-Lignon, no sul daFrança, na sua maioria constituída por huguenotes, forneceu abrigo e refúgio para 3 a 5 miljudeus. O pastorAndre Trocme foi o líder da comunidade neste esforço. Ele e trinta e quatro outros residentes da área foram reconhecidos pelo Museu Israelita Memorial doHolocaustoYad Vashem como "Justos entre as nações".[1]
↑Baofu, Peter (2013).The Future of Post-Human Migration: A Preface to a New Theory of Sameness, Otherness, and Identity. Cambridge Scholars Publishing. p. 243.ISBN 9781443844871
↑Le Hir, Marie-Pierre (2020).French Immigrants and Pioneers in the Making of America. McFarland. p. 64. ISBN9781476684420.The exodus of Huguenots who left France to settle in England, Holland, Switzerland, and German principalities before sailing to British North America, created a brain drain ...
↑ndrews, Kerry (2020).The Collected Works of Ann Yearsley. Taylor & Francic. p. 332. ISBN9781000743791.The exodus of Huguenots from France caused an early kind of 'brain drain' whereby France lost many of its most skilled workers and artisans
↑Cottret, Bernard (2000).Calvin: A Biography. Grand Rapids, Michigan: Wm. B. Eerdmans. 0-8028-3159-1Traduzido para o inglês do original Calvin: Biographie, Edição de Jean-Claude Lattès, 1995.
↑Félice, Guillaume (1851).History of the Protestants of France: From the Commencement of the Reformation to the Present Time. Nova Iorque: New York Public Library. p. 217-221
↑CAIRNS, Earle Edwin. O cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã / Earle Edwin Cairns; tradução Israel Belo de Azevedo, Valdemar Kroker - 3ª edição - São Paulo : Vida Nova, 2008