Huíla é uma das 18províncias deAngola, localizada naregião sul do país, sendo a mais rica província da porção meridional angolana. Tem como capital a cidade e município doLubango.
Segundo as projeções populacionais de 2018, elaboradas peloInstituto Nacional de Estatística, conta com uma população de 2.819.253 habitantes e com uma dimensão de 79 023 km², sendo a província mais populosa de Angola depois deLuanda.[1]
A presença europeia na região começa em 1627, no partir de uma expedição luso-espanhola comandada por Lopo Soares Lasso, que partiu da cidade deMoçâmedes alcançando aSerra da Chela, de onde era possível ver oplanalto da Huíla e vasto vale de domínio do soba Calubango, o País de Humbi-Onene.[2]
A rota de exploração básica, entre os séculos XVII e XVIII, seguia os cursos dos riosGiraul, Neves, Caculavar, Calonga,Cunene e Cuunje, partindo deMoçâmedes, passando porBibala,Planalto da Humpata,Quipungo eMatala, até chegar emCaconda. Assim, a bacia do Giraul e a doCunene foram as primeiras rotas seguras de exploração, dado a disponibilidade de água. A escolha de Caconda como posto avançado cumpria três objetivos: como rota alternativa mais segura que o norte e o centro angolano, ainda dominado pelos dos poderosos reinos doDongo-Matamba,Cassange-Jaga,Huambo eBailundo; controle de uma região menos organizada socio-politicamente em relação ao restante do território angolano e de vales muito férteis, e; a proximidade com a densamente povoada e prosperamente agrícola regiãocentro-planáltica. A rota seguindo o leito principal do rio Cunene só foi explorada após a segunda metade do século XIX.[3]
O maior dos marcos de colonização inicial da Huíla se deu com a construção daFortaleza de Alva Nova, em 1682, após um acordo com os galangues. A fortaleza ficaria sob coordenação de um capitão-mor português.[4]
Entretanto, a presença colonial manteve-se tensa até a Guerra de Galangue (1768-1769), onde os lusitanos derrotaram o rei Caconda, conseguindo forçar a retomada da Fortaleza de Alva Nova (ou Alba Nova, renomeada para Fortaleza de Caconda). No mesmo ano, ao final da guerra contra o Reino Galangue, Portugal decide por instalar, junto à fortaleza, a "Missão Católica da Caconda", sob coordenação do padre capuchinho Gabriel de Braga.[4]
Em meados de 1845, o major João Francisco Garcia deslocou-se do povoado deMoçâmedes para Caconda encarregado de instalar um presídio junto à fortificação.[5] Em 1850, cria-se umconcelho com sede em Caconda, com o nome de Huíla, com major Garcia na qualidade de regente. Até essa altura, Caconda era a segunda entidade com estatuto jurídico-administrativo no sul de Angola (a mais velha é Moçâmedes), sendo, assim, a mais velha municipalidade huilense.[4]
Em 1866 o padre e botânico Carlos Duparquet realiza, com auxiliares, uma expedição até a Serra da Chela, onde tenta estabelecer uma missão científica e evangelizadora, sendo expulso pelos nativos em seguida. Anos mais tarde, em 1881, padre Duparquet e o padre José Maria Antunes realizam uma nova expedição ao mesmo local, que culmina num acordo com o soba para a fundação de uma missão católica agropastorial junto a actual comuna daHuíla,[4] que no mesmo ano ganha estatuto eclesiástico ao servir como sede para aMissão Sui Iuris do Cunene.[6][3]
A fundação da Missão Sui Iuris do Cunene serviu de base para a segunda onda de povoamento europeu,[3] desta vez formada porbôeres, denominada Colônia de São Januário daHumpata, nas proximidades daquela Missão Católica da Huíla. Humpata, liderada por Jacobus Botha, em 1884 contava com 325 bôeres instalados em 60 casas, possuindo 50 carros (wagons) e cerca de um milhar de cabeças de gado bovino. Oficialmente inaugurada em 19 de fevereiro de 1882, seu surgimento se deu com a transferência de um contingente de imigrantes que estava no Cunene (emOndijiva) e naDamaralândia para a Huíla, após aPrimeira Guerra dos Bôeres. Das 600 famílias iniciais que rumaram para o norte antes da instalação na Huíla, mais da metade pereceu durante a peregrinação peloCalaári, que ficou conhecido como asjornadas para as terras de sede (Dorsland Trek). Posteriormente formaram colônia também na vila de Palanca. Essas colônias, e as demais desenvolvidas, fez surgir um subgrupo étnico chamado de angobôeres.[7][5]
A terceira onda de colonização ocorreu com a vinda de uma comissão demadeirenses, liderados por José Augusto da Câmara Leme, que decidiram embarcar numa expedição rumo a Moçâmedes e ao planalto da Huíla. Chegaram ao Lubango no dia 24 de dezembro de 1884, onde ficava a antiga ombala dos muílas.[5] Em 19 de janeiro de 1885 é fundada a Colónia Sá da Bandeira e, em 16 de setembro do mesmo ano é fundada por madeirenses e bôeres a colónia deSão Pedro da Chibia.[4]
Lubango tornou-se uma administração autônoma (1887)[4] e concelho (1889),[4] com Câmara Leme nomeando chefe do concelho do Lubango em 19 de fevereiro de 1890, e; comandante militar do concelho do Lubango, com o posto de capitão de 2ª linha, em 19 de outubro de 1890.[5]
Em 2 de setembro de 1901 foi criado, por desmembramento do distrito de Moçâmedes, o novo distrito da Huíla, com sede no Lubango, sendo esta povoação, pelo mesmo decreto, elevada à categoria de vila, com o nome de Vila de Sá da Bandeira. Na criação, o distrito compunha-se dos territórios da Huíla e doCunene.[8]
No processo de formação administrativa, a Huíla enfrentou grandes períodos de instabilidade sócio-territorial nas suas duas primeiras décadas. Em 1914, durante aCampanha de Cubango-Cunene, uma extensão daPrimeira Guerra Mundial, as tropas alemãs invadiram o sul e sudeste do distrito, massacrando portugueses e nativos, alterando o frágil equilíbrio com os reinos tradicionais. Uma vez expulsos os alemães, as batalhas continuaram, culminando numasangrenta guerra, levada a cabo porAntónio Pereira de Eça, contra osnhaneca-humbes do vale do Cunene e contra osovambos, que haviam se rebelado contra o imperialismo lusitano. A guerra tomou contornos de massacre contra os povos nativos, em especial contra osReinos Confederados Ovambos.[9]
Em 31 de maio de 1923 oCaminho de Ferro de Moçâmedes chega no Lubango, marcando um período de grande virada econômica para o distrito provincial da Huíla, na medida em que poderia se comunicar de maneira mais eficiente com o litoral.
Desde aGuerra de Libertação até à independência de Angola e a subsequenteGuerra Civil Angolana, a Huíla foi directamente afectada, ficando livre de combates durante períodos relativamente curtos de tempo.
Limita-se ao norte com as províncias deBenguela eHuambo, ao leste com as províncias deBié eCuando-Cubango, ao sul com a província deCunene, e ao oeste com a província deNamibe. A Huíla não possui litoral, sendo uma província interior.
Segundo aclassificação climática de Köppen-Geiger, no território da província predomina oclima oceânico (Cwb). O clima é, em geral, quente, com chuvas uniformes ao longo do ano, e temperatura média anual maior que 20ºC. Nas áreas situadas em maior altitude pode ser classificado como temperado marítimo (Cfc).[10]
A população original da área compunha-se decoissãs, dos quais ainda existem pequenos grupos remanescentes. Os coissãs foram marginalizados por povos de pastores ou de agro-pastores de diversas proveniências e que hoje constituem uma variedade deetnias[11]. As etnias agro-pastoras fazem parte do grupo relativamente heterogéneo dosnhaneca-humbes,[12] com destaque para osmuílas, que são os mais numerosos e de cujo nome o planalto e a província da Huíla derivam as suas designações. De entre as etnias pastoras, há ainda oscuvales.[13] Dentre os povos migrantes, nas grandes cidades há populações relevantes deambundos,ovimbundos,congos eovambos, além de grupos menores miscigenados de angobôeres e luso-angolanos.[14]
A principal língua falada na província é oportuguês, sendo registrado a variantedialeto sulista, um dos quatro que há dentro doportuguês angolano.[15] Já entre as tradicionais a presença maior é da língua nhaneca.[16]
Domina o norte, nordeste, centro e leste da paisagem da província a ecorregião das "florestas de miombo angolanas",[17] com flora de savana de folha larga decídua úmida e floresta com domínio demiombo, além de pastagens abertas.[18] O sul, entre aSerra da Chela e o vale dorio Cunene, é dominado pelas "florestas angolanas de mopane", caracterizada por árvores demopane de caule único earbustos.[19] Há ainda o "mosaico de pastagens e florestas montanhosas angolanas", nos arredores daSerra da Neve e daSerra da Leba, comfloresta afromontana,gramíneas e arbustos.[19]
O principal curso d'água da província é orio Cunene, que atravessa o território de norte a sul, tendo inclusive os importantes afluentes em terras huilensesrio Que erio Caculuvar. Já orio Cubango irriga as terras do extremo leste da província. Outro rio importante é oCatumbela, que corre para o norte.[22]
Na pecuária, são destaque os rebanhos degado bovino ecaprinos para carne, lete e peles, além da criação de galináceos para carne, postura e penas.[8]
Na Huíla ainda há cultivos florestais de deeucaliptos epinus para uso exportação comercial de madeira;[24] e extrativismo, concentrado napesca artesanal.
A Huíla possui um dos mais importantes parques industriais angolanos, com relativa diversificação. Foca-se na transformação agroindustrial de alimentos e de bebidas, além de produção moveleira e de materiais de construção, produção de tabacos, de produtos químicos finos (como aromáticos e rícino) e desisal. Há uma presença de indústria metalúrgica voltado para o setor de logística.[24]
Na mineração industrial, há extração de caulino, manganês, mica,granito negro e água mineral.[8] O destaque, propriamente dito, fica com a produção deminério de ferro e de ouro naMina de Cassinga.[25]
Pelo setor de comércio e serviços, a atividade logística gera grande massa salarial com destaque aoCaminho de Ferro de Moçâmedes e à suas várias rodovias.[24] Os grandes centros de comércio deretalhos evenda por grosso são Lubango, Humpata, Matala, Cuvango e Caconda.[8]
O turismo é uma das actividades econômicas provinciais de relevo, assentada nas belezas naturais huilenses e na arquitetura e história local.[26]
A província dispõe de uma rede de estradas de ligação da capital a todos os municípios, bem como a todo o país, sendo as principais as rodoviasEN-110,EN-105 eRodovia Transafricana 3 (TAH 3/EN-120), que permitem o contato com o Huambo e com o Cunene, e; aEN-280, que dá acesso ao Namibe e ao Cuando-Cubango.
No sector ferroviário, a província dispõe doCaminho de Ferro de Moçâmedes para o transporte de pessoas e bens, com as estações provinciais de Quipungo, Matala, Dongo Novo, Entroncamento, Mukanka (Lubango) e Jamba.[27]
A província conta ainda com ligações aéreas regulares aos principais centros do país, além de ligações internacionais, operando principalmente noAeroporto Internacional da Mukanka.[28]
↑Carlos Estermann (1956).Etnografia do Sudoeste de Angola.3. Em termos gerais, continua a manter-se o panorama esboçado neste livro. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar
↑Angola ethnic groups. Perry-Castañeda Library Map Collection. University of Texas, 1973.
↑Júlio Artur de Morais (1974).Contribution à l'étude des écosystèmes pastoraux: Les Vakuvals du Chingo.VII. Dissertação de doutoramento. Paris: Université de Paris
↑Jover, Estefanía.; Pintos, Anthony Lopes.; Marchand, Alexandra. (setembro de 2012).Angola: Private Sector Country Profile.(PDF). Reino Unido: Printech Europe/Banco Africano de Desenvolvimento !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑Angola. L'aménagement linguistique dans le monde. 6 de novembro de 2018.
↑nhaneca. Ethnologue: Languages of the World. 2019.
↑Angola Vegetation. Perry-Castañeda Library Map Collection. University of Texas, 1973.
↑abCOUCELO, Josefina Maria Costa Parreira Cruz - Caracterização de hábitos alimentares na Província da Huíla, Angola: contribuição para a elaboração de um guia alimentar
José Pereira Neto,O Baixo Cunene: Subsídios para o seu desenvolvimento, Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, 1963
Carlos Alberto Medeiros (1976).A colonização das Terras Altas da Huíla (Angola). Lisboa: Centro de Estudos Geográficos/Universidade de Lisboa & Instituto de Altos Estudos
Elisete Marques da Silva,Impactos da ocupação colonial nas sociedades rurais do Sul de Angola, Lisboa: Centro de h Africanos/ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, 2003
José Manuel Gonçalves,Dinâmicas sociais na estruturação geoeconómica do Baixo Kunene: Novas e velhas transumâncias, in: Fernando Florêncio et alii,Vozes do Universo Rural: Reescrevendo o Estado em África, Lisboa: Gerpress, 2010, pp. 237 - 267