Este artigocita fontes, mas quenão cobrem todo o conteúdo. Ajude ainserir referências (Encontre fontes:Google (N • L • A • I • WP refs) • ABW • CAPES). |

Ahistória pré-cabralina do Brasil é a etapa dahistória do Brasil anterior àchegada dos portugueses no ano de1500 protagonizada pelo navegadorPedro Álvares Cabral,[1] e também analise daantropização (ação do humano sobre omeio-ambiente)[2] à época em que a região que hoje é o território brasileiro era ocupada por milhares dos chamadospovos indígenas.
A expressãopré-história do Brasil também é usada para se referir a este período, mas há criticas ao termo devido ao fato de o termo "pré-história", modernamente, ser combatido por algunsacadêmicos, por ser uma visãoeurocêntrica de mundo, na qual os povos semescrita seriam povos sem história. No contexto da história do Brasil, essa nomenclatura não aceitaria que osindígenas tivessem uma história própria.[1] Por essa razão, há quem prefira denominar esse período histórico como pré-cabralino.[3]
A pré-história tradicional geralmente se divide nos períodospaleolítico,mesolítico eneolítico. Porém, atualmente, essa periodização tem sido revista no mundo todo. No Brasil, alguns autores preferem trabalhar com asépocas geológicas do atualperíodo quaternário: opleistoceno e oholoceno.[4] Neste sentido, a periodização mais aceita se divide em: pleistoceno (caçadores e coletores de há, pelo menos, 12 000 anos) e holoceno, sendo que este último pode ser subdividido arcaico antigo (entre há 12 000 e há 9 000 anos), arcaico médio (entre há 9 000 e há 4 500 anos) e arcaico recente (de há 4 000 anos até à chegada dos europeus). Acredita-se que os primeiros povos começaram a habitar a região onde hoje se situa o território brasileiro há 60 000 anos. Recomenda-se o uso da abreviaçãoa.p. (antes do presente) para referir-se aos anos de acontecimento de cada período.

O estudo dahistória brasileira antes de 1500 é feito, sobretudo, por meio daarqueologia, uma vez que os povos que ocuparam o território onde hoje se encontra o Brasil não possuíam, até onde sabemos,escrita.[5][1] Estudos linguísticos, etnológicos e históricos têm auxiliado as pesquisas arqueológicas na medida do possível. No entanto, poucos foram os autores que tentaram reconstruir essa história de forma panorâmica (e as tentativas dos arqueólogos de estabelecer uma visão geral da história Pré-Cabralina não se provaram satisfatórias).[1] Para complicar mais a situação, ainda falta muito a ser feito em vários níveis de pesquisa – registros de línguas e comparações, análise de materiais escavados, relações entre sítios diversos da antiguidade e outros do período colonial, etc.[1]
O primeiro estudioso a se indagar sobre o passado brasileiro foi o dinamarquêsPeter Wilhelm Lund.[4] Este naturalista foi responsável pelo estudo de várias reminiscências de plantas antigas nas grutas da região deLagoa Santa (Minas Gerais), onde se fixou, entre 1834 e 1880.[4][6] Em suas buscas, chegou a encontrar ossos humanos misturados a esses vestígios pré-históricos, um dos primeiros achados que contradizia a teoria dacriação bíblica. Foi o primeiro a defender a antiguidade da presença humana na América, baseado em achados arqueológicos, mas não conseguiu convencer a comunidade científica de sua época.[4]
Os sambaquis, montes de conchas e outros resíduos acumulados por ação humana, foram vestígios arqueológicos responsáveis por suscitar considerável debate científico noséculo XIX.[6] O diretor doMuseu Nacional – que junto doMuseu Paulista representava o interesse oficial acerca dos fatos histórico-arqueológicos no Brasil –,Landislau Netto, enviou as primeiras expedições científicas para estas regiões. Após anos de pesquisas, essas missões alegaram que "montes de conchas" teriam formação antropogênica, isto é, origem humana.Hermann Von Ihering, contudo – o diretor do Museu Paulista – primeiramente se opôs a essa visão, dizendo que os restos de conchas teriam sido formados por fenômenos naturais e intertropicais.[4]
Entre 1880 e 1900 ocorreram as primeiras escavações naAmazônia.[1][4] Descobertas extasiantes de cerâmicas marajoaras foram realizadas nesse período[1], e foram analisadas em 1882 pelo egiptólogo Paul l'Epine, que acreditava identificar na cerâmica indígena grafias egípcias e asiáticas.Emílio Goeldi também realizou, nesta época, pesquisas importantes no norte.[7] O austríaco J. A. Padberg-Drenkpohl, contratado após a Primeira Guerra Mundial peloMuseu Nacional, foi outra figura importante da história da arqueologia brasileira, que escavou, entre 1926 e 1929, em Lagoa Santa. Seu objetivo era encontrar vestígios em Lagoa Santa que comprovassem os achados clássicos deLund. Drenpohl, contudo, não foi bem sucedido em sua empresa, tendo passado a criticar os defensores da antiguidade das populações de Lagoa Santa. Em 1934, pouco depois da última expedição de Drenkpohl, Angione Costa publicou o primeiro manual de arqueologia brasileira.[4]
Depois de 1950 a arqueologia oficial se contraiu, enquanto aumentou o número de amadores que passaram a realizar pesquisas no país. Um desses foi Guilherme Tiburtius,imigrante alemão emCuritiba, que teria realizado uma das buscas mais importantes de antiguidades indígenas pelo Brasil, coletando artefatos para sua coleção (recebida pelo Museu do Sambaqui deJoinville). Estudou o litoral catarinense e o planalto paranaense, tendo sido auxiliado pelaUniversidade Federal do Paraná em suas pesquisas. Harold V. Walter, cônsul inglês emBelo Horizonte, foi responsável por buscas no Estado deMinas Gerais, na região de Lagoa Santa. A despeito de ter empregado uma metodologia pouco válida para os dias atuais, contribuiu muito para a coleta de informações sobre a era pleistocênica. Ainda nessa época, foram realizados esforços substanciais no sentido de se preservar o patrimônio histórico brasileiro. Graças ao esforço de diversos intelectuais, o Instituto dePré-História daUSP (atualmente integrado aoMAE)[8] foi criado, enquanto, alguns anos mais tarde(1961), uma nova legislação sobre o patrimônio era promulgada.[4] Acompanhando esse avanço na questão de preservação da memória brasileira, havia sido realizadas escavações na foz doamazonas, por Clifford Evans e Betty J. Meggers entre 1949 e 1950, descobrindo importantes artefatos cerâmicos, e emSão Paulo e noParaná entre 1954 e 1956 por Joseph Emperaire e Annette Laming – onde foram feitas as primeiras datações carbono catorze.[4][9]
A história recente daarqueologia no Brasil inclui a criação daPRONAPA (Projeto Nacional de Pesquisas Arqueológicas)[10] com o auxílio doIPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional),[11] que teria como objetivo realizar buscas para fornecer um panorama mais completo do passado histórico-cultural brasileiro. Enquanto isso, instituições como oMuseu Nacional, oMuseu Paulista e o instituto de Pré-História realizaram pesquisas isoladas, enquanto o Museu Emílio Goeldi se lançou num projeto chamadoPRONAPABA (Projeto Nacional de Pesquisas Arqueológicas naBacia Amazônica). Vários estudos foram realizados desde então sobre ossambaquis, a pintura rupestre brasileira[1] e a indústria lítica antiga. Em 1980 foi criada a primeira Sociedade de Arqueologia Brasileira.[12][13] O ensino dearqueologia é hoje ministrado no Brasil, embora de forma limitada.[6]
A ocupação do território americano é um tema ainda controverso, sobretudo porque muitos arqueólogos ainda são reticentes em aceitar que humanos possam ter chegado à América por outras vias que não aponte terrestre de Bering.[1] Segundo a teoria tradicional, também conhecida comoTeoria de Clóvis, os primeiros habitantes da América teriam migrado da região atual daMongólia para oAlasca, atravessando a ponte terrestre de Bering.[14] Não obstante, descobertas efetuadas em sítios arqueológicos brasileiros têm colocado em questão a validade desta teoria.[1] NoPiauí, por exemplo, foi encontrado um fóssil deAncylostoma duodenale com a data de 7 750 A.P. De acordo com alguns arqueólogos, essa espécie não poderia ter sobrevivido à travessia na Beríngia, pois teria morrido com o frio. Assim, acreditam que a existência do fóssil indica a migração de povos oriundos de regiões quentes do globo. Achados emMinas Gerais e naBahia foram datados entre 25 000 a 12 000 A.P.[1] Nosítio arqueológico Alice Boer, emSão Paulo, foram encontradas peças com idade de 14 200 A.P.[15] EmSão Raimundo Nonato, no Piauí, os arqueólogos defendem a idade de 50 000 anos para um abrigo ocupado com vestígios humanos.[1] Ainda neste mesmo sítio, os arqueólogos conseguiram encontrar artefatos humanos que remontassem a mais de 48 000 A.P.[16]
As descobertas no Brasil polemizaram a visão tradicional da ocupação da América.[17] Os arqueólogos passaram a defender outras teorias sobre as grandes migrações, entre elas, a de que humanos teriam chegado àAmérica entre cerca de há 150 mil e 100 mil anos, vindo por correntes Malásio-Polinésias (oriundas do sudeste asiático) ou australianas (oriundas do pacífico sul), enquanto outros autores ainda pensam numa corrente migratória originada naÁfrica. Contribuem para a definição dessas teorias as similaridades entre os vestígios materiais encontrados na América com aqueles encontrados naOceania. De qualquer forma, pode-se admitir hoje de forma geral que o Brasil foi ocupado há 60 mil anos, no que diz respeito ao Piauí.[18] As correntes migratórias teriam atingido Minas Gerais há 30 mil anos e oRio Grande do Sul, há 15 mil anos.[19] Todo o país estava ocupado há 12 mil anos.

Luzia é o nome do fóssil humano mais antigo encontrado nas Américas.[20] Encontrado pela arqueóloga francesaAnnette Laming-Emperaire nadécada de 1970 no sítio arqueológico deLapa Vermelha, no município deLagoa Santa (Minas Gerais), o fóssil dessa mulher pré-histórica contribuiu para reacender um antigo debate em torno da migração humana à América.[20] De acordo com o paleoantropólogoWalter Neves, responsável por batizar o fóssil, a morfologia do crânio de Luzia a aproximaria dos atuaisaborígenes da Austrália e nativos daÁfrica.
Neves aventou a hipótese de que, portanto, a ocupação da América foi mais antiga do que até então se imaginava, embora não recuando muito no tempo (cerca de 14 mil anos antes do presente), e que foi realizada por povos de regiões distintas, como a Oceania e a África.[21] Essa tese não foi muito bem recebida por alguns cientistas.[20] De acordo com aNational Geographic, além de as raças não serem uma maneira científica de classificar seres humanos, as diferenciações entre os grupos humanos só surgiram após 9,5 mil anos.[22]
Os estudos realizados na região habitada porLuzia e outros paleoíndios demonstram que eles desconheciam a cerâmica e que sua indústria lítica era relativamente simples.[23] Pesquisas recentes, contudo, afirmam que essa população erasedentária. Achados como enterros numerosos e uso de matérias-primas existentes apenas neste local reforçaram estas ideias. Uma análise das cáries nos dentes destes americanos demonstra que eles, embora não tivessemagricultura, se aproveitavam intensamente de recursosvegetais.[24]
Os arqueólogos denominam por "fase" um complexo cultural onde os elementos são intimamente associados. Por "tradição", os arqueólogos entendem as práticas e técnicas padrão dos antigos para a confecção, por exemplo, da indústria lítica e dapintura rupestre. Uma subtradição é uma divisão dentro da tradição, normalmente porque houve uma diferenciação do padrão original em dois ou mais padrões novos.
No final do período pleistoceno, a temperatura variou amplamente em fases de expansão e contração das geleiras. Acredita-se que as temperaturas eram mais frias no pleistoceno do que no holoceno, quando sofreram um aumento considerável. No começo do período arcaico médio, o nível do mar se encontrava 10 metros abaixo do atual. Muitas regiões do país, como oPiauí, por exemplo, eram muito mais úmidas do que o são hoje.[20]
A idadepaleolítica brasileira é normalmente situada entre 12 mil e 4-2 mil anos antes do presente, quando do surgimento e difusão da prática agricultora na região.[25] Antes disso, humanos viviam de caça, pesca e coleta, fato comprovado por achados arqueológicos e representações em pinturas pré-cabralinas. Nesta época, os arqueólogos constataram a existência de diferentes tipos de indústria lítica em diversas regiões do Brasil. Nonordeste, váriossítios arqueológicos indicam o desenvolvimento dapedra lascada, contendo lesmas (artefato lítico em forma delesma utilizado para raspar suportes de madeira), lascas, furadores e fogões para assar caça. A pintura rupestre era realizada nesses primeiros sítios.[20]
Na região nordeste, as técnicas de trabalho com o material lítico se tornam cada vez mais diversificadas e complexas com o passar do tempo. O número de fogões, por exemplo, aumenta conforme as datações se aproximam do ano 8 mil antes do presente. Fogueiras também são encontradas.[25][26]
Aspinturas rupestres dessa região têm se revelado profundamente instigantes. Na Toca do Baixão da Perna 1, por exemplo, (na área arqueológica deSão Raimundo Nonato) foram encontradas pinturas rupestres que datam de há 10 500 anos. No sítio do boqueirão da Pedra Furada, inúmeras pinturas rupestres em pigmento vermelho foram encontradas. Os autores identificam a tradição de pintura desta área como "tradição nordeste".[27] Além da tradição nordeste, foram identificadas subtradições como a Várzea Grande (sudeste doPiauí) e a Seridó (Rio Grande do Norte). As figuras mais abundantes representam seres humanos, plantas e animais, mas também são encontrados grafismos puramente abstratos. Algumas paredes de caverna representam cenas de caça e celebrações rituais. De acordo com alguns arqueólogos, os temas deviolência na pintura rupestre antiga estariam vinculados ao desenvolvimento técnico obtido nos anos subsequentes, responsável por promover estratégias de caça mais eficientes. A tradição nordeste se encerra há cerca de 5 mil.[28]
Na região central e nordeste, uma importante tradição cultural foi identificada pelos estudiosos: a "tradição Itaparica" (Goiás,Minas Gerais,Pernambuco, Piauí). Essa tradição teria desenvolvidoferramentas líticas lascadas como lesmas, furadores e facas, mas poucaspontas de projéteis. Os povos dessas regiões teriam mudado sua forma de vida cerca de há 6 500 anos, quando teriam passado a se alimentar demoluscos e frutos. No centro do país, uma tradição de pintura rupestre denominada "Planalto" teria se desenvolvido.
As datas mais antigas no Sul são atribuídas à "tradição Ibicuí" (entre 13 000 e 8 500 anos), composta de artefatos simples, encontrados naBacia do Uruguai.[1][4] A fase Uruguai, que sucede a primeira cronologicamente, data de 11 555 a 8 640 A.P. e é composta por raspadores, facas bifaciais e pontas de projéteis.[29] EmSanta Catarina e noRio Grande do Sul foram localizados artefatos (facas, raspadores, pontas de flecha foliáceas) de há 8500 a há 6500 anos, estabelecidos como "tradição Vinitu". A "tradição Humaitá", mais recente (entre 6500 e 2000 anos) se estende deSão Paulo ao Rio Grande do Sul.[4][25] Populações dessa tradição produziram raspadores, furadores, ezoólitos (estátuas de pedra assumindo formas animais). Outra tradição identificada no sul foi chamada de "Umbu"; esta teria sido responsável pela confecção de fogões e pontas de projéteis.[1][20][30]
Os principais sítios arqueológicos do litoral são ossambaquis, montes de conchas de moluscos (com os quais se alimentavam as populações antigas) formados por ação humana.[1][31][32][33] Normalmente são encontrados junto dos sambaquis esqueletos dos antigos americanos, peças líticas, restos de alimentos, etc. Grande parte dos sambaquis brasileiros se encontram cobertos pelo mar, devido às mudanças climáticas ocorridas durante o pleistoceno tardio e o holoceno. Os sambaquis existem em quase todo o litoral brasileiro. Na época de sua descoberta, noséculo XIX, foram comparados com estruturas semelhantes existentes naEscandinávia. Os sambaquis são associados à "tradição Itaipu". Os povos que habitavam olitoral são normalmente definidos como pescadores seminômades.[1][34]
O aparecimento de plantas cultivadas emMinas Gerais data de há 4 000 anos.[35] EmSão Raimundo Nonato, a agricultura parece ter sido praticada desde há pelo menos 2 090 anos. Embora acerâmica amazônica seja mais antiga que a agricultura, o mesmo fenômeno não ocorre no resto do país, onde a cerâmica mais antiga data de há 3000 anos (na área de São Raimundo Nonato). Arqueólogos brasileiros consideram que o surgimento da cerâmica nas regiões em questão está ligado ao sedentarismo e àagricultura, uma vez que a cerâmica é de difícil transporte e, normalmente, teve a função de armazenar víveres. Atradição Taquara-Itararé é talvez a mais estudada tradição de cerâmica do país.[1]

As datações mais antigas da região amazônica atribuem aos primeiros habitantes da região datas como12 500 a.C. É provável que o território já houvesse sido colonizado anteriormente, mas apenas o avanço da pesquisa naAmazônia poderá confirmar essa hipótese. Os arqueólogos identificam um desenvolvimento da técnica de lascar pedras, começando pelo lascamento por percussão e seguindo para o lascamento por pressão. As mudanças nas técnicas de lascamento são associadas a diferentes modalidades de caça, uma voltada para os animais de grande porte, e outra para os animais de pequeno porte. Nada, contudo, é certo sobre o estilo de caça dos antigos povos amazônicos. Os estudiosos acreditam que esses povos se alimentavam demoluscos (observação baseada na descoberta de sítios como os sambaquis), pequenos animais e frutos. Ossambaquis continuam sendo os principais sítios arqueológicos desse período na Amazônia.[36]
Novas pesquisas emRondônia atribuem uma antiguidade muito maior à prática da agricultura naAmazônia. De acordo com o arqueólogo Eduardo Bespalez, a agricultura amazônica pode chegar a 8000 anos, uma data próxima dos primeiros registros de agricultura no mundo. Além disso, o sítio arqueológico de Garbin reforça a tese de Ana Roosevelt de que a cerâmica não esteve associada, nas suas origens, à agricultura. Os arqueólogos brasileiros encontraram apenas indústria lítica associada à terra preta (principal indício da prática de agricultura na região). As novas descobertas podem jogar luz sobre os mistérios que envolvem desde o significado de sociedades complexas na Amazônia até as origens daFloresta Amazônica, possivelmente antropogênica.[37] De acordo com o arqueólogo Marcos Pereira Magalhães, "A Cultura Neotropical Amazônica é o resultado de um acontecimento histórico regional de longa duração, derivada da Cultura Tropical desenvolvida por sociedades de caçadores-coletores integradas social, cultural e economicamente aos recursos da floresta tropical neotropical, com a qual interagiam objetiva e subjetivamente".[38]
Durante essa época os povos amazônicos adotaram um estilo de vida similar ao estilo de vida adotado por muitas tribos do território atualmente. Assim, osindígenas teriam vivido em estado de relativa fixação, realizando ahorticultura de raízes. Esses grupos desenvolveram a primeiracerâmica elaborada da América, com temas geométricos e zoomórficos, pinturas em tinta branca e vermelha.[39] Os vasos assumiram formatos ovais e circulares. Os grupos de estilos cerâmicos mais conhecidos são chamados de "Hachurado Zonado" e "Saldóide Barrancóide". O último é relacionado a incisões e pinturas em vermelho e branco, enquanto o primeiro à preferência pelo hachurado zonado.[1] Cerâmicas do estilo Saldoide, encontradas no baixo e médio Orenoco, parecem terem sido criadas entre 2 800 a800 a.C. Os estilos Hachurados Zonados de Tutoshcainyo e Ananatuba datam, respectivamente, de cerca de2 000–800 a.C. e1 500–500 a.C. Muitos estudiosos admitiram que essa cerâmica tenha sido influenciado pelos complexos culturais andinos, embora hoje já se admita que os indígenas daAmazônia tenham desenvolvido essa cerâmica elaborada na própria região baixa, tendo provavelmente influenciado osAndes posteriormente.[1]
Essas sociedades praticavam, além da horticultura, caça e pesca. O consumo demariscos foi reduzido, e esses povos passaram a se instalar nas várzeas e margens dos rios. Assadeiras de cerâmica grossa foram identificadas nesses territórios, de forma que alguns arqueólogos aventam a hipótese da presença damandioca. Sítios desses complexos culturais foram encontrados na bacia doUcaiali, nailha de Marajó, noOrenoco e noAmazonas.[1]
O aumento demográfico das populações amazônicas na época daPré-História tardia, combinado a outros fatores, suscitou grandes transformações entre as sociedades indígenas daAmazônia.[40] Segundo arqueólogos, as sociedades que habitavam regiões dabacia amazônica passaram a se organizar de forma cada vez mais elaborada entre1 000 a.C. e1000 d.C.[1] Os arqueólogos definem estas sociedades como “cacicados complexos”.[41] Essas sociedades tornaram-se cada vez mais hierarquizadas (provavelmente contendo nobres, "plebeus" e servos cativos), constituíram chefias centralizadas na figura docacique, e adotaram posturas belicosas e expansionistas. O cacique, além de dominar amplos territórios, organizava continuamente seus guerreiros visando conquistar novos territórios. Acerâmica dessas sociedades era altamente elaborada, demonstrando um domínio de técnicas complexas de produção. Havia urnas funerárias elaboradas (associadas ao culto dos chefes mortos),comércio e os indícios arqueológicos apontam uma densidade demográfica de escala urbana nessas civilizações.[42] Acredita-se que amonocultura era praticada, além da caça e da pesca intensivas, a produção intensiva de raízes e o armazenamento de alimentos.[43] Segundo a pesquisadora Anna Roosevelt, "O desenvolvimento da agricultura intensiva nos tempos pré-históricos parece ter estado correlacionado à rápida expansão das populações das sociedades complexas. Sugestivamente, os deslocamentos e o despovoamento do período histórico aparentemente fizeram com que estas economias retornassem aos padrões de cultivo menos intensivo de raízes e à captura de animais (...)".[44]
Crônicas do início doperíodo colonial são hoje empregadas na reconstrução das antigas civilizações brasileiras. Muitos cronistas estrangeiros descreveram elementos indígenas do período dos cacicados complexos. A dissolução dessas organizações sociais normalmente é relacionada à conquista, que teria abalado sua estrutura demográfica.[45]

A cerâmica produzida por estas civilizações é classificada em dois grupos principais: o "Horizonte Policrômico" e o "Horizonte Inciso Ponteado". Entre os sítios arqueológicos que apresentaram vestígios agrupados sob o Horizonte Policrômico estão: os Marajoaras (foz do Amazonas) e o Guarita (Médio Amazonas), entre outros localizados fora da Amazônia brasileira. Entre os sítios arqueológicos associados ao Horizonte Inciso Ponteado encontram-se:Santarém (Baixo Amazonas) eItacoatiara (Médio Amazonas). O primeiro horizonte é caracterizado pelas pinturas brancas, pretas e vermelhas, pelos temas geométricos e pelas incisões. O segundo horizonte é caracterizado pelas incisões profundas e pela técnica de ponteação. Acredita-se que o "Horizonte Inciso Ponteado" estivesse associado aos antepassados dos povos delíngua caribe, enquanto o "Horizonte Policrômico" teria sido produzido pelos antepassados dos povos delíngua tupi.
Os grandes sítios amazônicos da época dos cacicados complexos parecem ter tido regiões especializadas para o enterro, o culto, o trabalho e a guerra. A ocupação pré-histórica tardia do território erasedentarizada. A entrada domilho e de outras sementes na região, assim como sua popularização entre os americanos, data do primeiro milênio antes deCristo.[46]
Uma das civilizações amazônicas conhecidas por ter desenvolvido grandescidades e vilas durante o período Pré-Colombiano foi a de Kuhikugu.[47] O sítio arqueológico de Kuhikugu, descoberto pelo arqueólogo Michael Heckenberger, se localiza dentro doParque Nacional do Xingu (região doAlto Xingu), e provou ter sido um grande complexo urbano que pode ter abrigado até 50 mil habitantes. Construído provavelmente pelos antepassados dos atuais povosKuikuro, o sítio abriga construções complexas comoestradas, fortificações etrincheiras para proteção. Como a descoberta é recente, estudos sobre as formas de vida dessas populações ainda são necessários, embora os estudiosos acreditem que esse povo cultivava amandioca.[48] O desaparecimento dessa civilização, assim como de outras grandes civilizações amazônicas, é relacionado à entrada de doenças europeias no continente, responsáveis por dizimar as populações locais, por volta do ano 1500 de nossa era. As características naturais da Floresta Amazônica (mata densa etc.) explicariam porque os antigos europeus não travaram conhecimento com esta civilização brasileira.[49]
O Monte de Teso dos Bichos ou Tesos Marajoaras localizado nailha de Marajó, é o local onde haveria nascido uma das mais elaboradascivilizações daAmazônia pré-cabralina, ocupando 2,5 hectares.[50] Uma das características marcantes dassociedades complexas da Ilha de Marajó são os "tesos", aterros artificiais de grande porte construídos para a colocação de habitações, provavelmente visando evitar inundações. Os tesos marajoaras são considerados estruturas monumentais e, por esse motivo, são essenciais para a interpretação do passado marajoara.
Estimou-se que a civilização responsável pela obra teria uma população de 500 mil pessoas. Os habitantes dessa civilização pertenceriam a uma sociedade detuxauas, senhores dafoz dorio Amazonas. Haveriadivisão do trabalho entre homens e mulheres, uma dieta rica em proteína (animal e vegetal) e bebidas fermentadas (como oaluá).[51]
Em outubro de 2009, um grupo de geólogos alegou que os tesos poderiam ser expandidos a partir de estruturas naturais, por processos semelhantes aformação fluvial de montes em outros lugares, havendo evidências de atividade humana apenas nas camadas mais superficiais.[52] Esta interpretação sugere menos investimento em trabalho acumulado na construção dos montes, e se validada, invalidaria parcialmente as interpretações acerca da existência de sociedades complexas em Marajó.[52] Arqueólogos defensores da hipótese antropogênica questionaram a metodologia deamostragem da equipe, apontando dados no estudo que poderiam ser interpretados como evidência de atividade humana em larga escala.[53]
O sítio Alice Boer se localiza emIpeúna, município próximo a Rio Claro, emSão Paulo. Foi escavado por iniciativa da arqueólogos Maria Beltrão a serviço do Museu Nacional a partir de 1964. Os primeiros brasileiros da região parecem ser muito antigos e produziram artefatos como pontas de projéteis, raspadores e lesmas. Uma amostra de carvão deste sítio forneceu a data de 14 200 anos.[54][55]
O sítio Ponta de Flecha foi escavado entre 1981 e 1982 por C. Barreto e E. Robrahn. Os achados do sítio – entre eles pontas de flecha e ossos – datam tanto da época pleistocênica quanto holocênica. Os ossos de animais encontrados foram marcados por instrumentos líticos humanos.[56]
A professora deantropologia daUniversidade de Illinois, nosEstados Unidos, Anna Roosevelt (bisneta do presidente norte-americanoTheodore Roosevelt) coordenou, em 1996, uma equipe que pesquisou aCaverna da Pedra Pintada, emMonte Alegre,Pará, na margem esquerda doRio Amazonas, a poucos quilômetros do que é hojeSantarém.
Os brasileiros pré-históricos daquela região sustentaram-se com uma economia estável e produziram uma cultura e tecnologias bastante superiores às de seus primos daAmérica do Norte. Os paleoíndios moraram em cavernas confortáveis e protegidas, tinham uma dieta mais saudável e produziram cerâmicas, pinturas rupestres e pontas de flechas. Eles eram caçadores de pequenos animais e coletores de frutas. No auge de sua civilização, chegaram a abrigar cerca de 300 000 indivíduos.
Foram encontradas pontas de lança e cacos de cerâmica datados de 10 000 a 6 000 anos. Os resultados concluíram que os paleoíndios (os primeiros habitantes das Américas) viveram naregião amazônica de há 11 200 a há 10 000 anos. São provas convincentes de que a ocupação humana naAmérica se deu há mais de 20 000 anos.[57]
Ainda assim, as descobertas de Roosevelt ainda não refutaram totalmente a hipótese da chegada dos primeiros habitantes da América peloEstreito de Bering. O movimento migratório teria ocorrido em levas sucessivas. As populações amazônicas, cujos sinais encontrou na caverna da Pedra Pintada, provavelmente migraram para o sul sem ter tido contato com os caçadores de mamutes americanos.[58]

O sítio arqueológico dePedra Furada,[59] localizado emSão Raimundo Nonato, noParque Nacional da Serra da Capivara,Piauí, foi encontrado na década de 60. Ele vem sendo estudado, desde os anos 70, porNiède Guidon, uma arqueóloga franco-brasileira. Os achados (pedraslascadas e vestígios de fogueiras) datam de aproximadamente 11 000 anos. Segundo a equipe, não é impossível que os achados possam ter até 48 000 anos. A tese de Guidon vai bem mais longe - cerca de 100 000 anos - e pressupõe que humanos não teriam chegado à América vindo da Ásia por terra (via estreito de Bering como se acredita até hoje) e sim, pelo mar, já se utilizando de embarcações. Contudo, as descobertas de São Raimundo Nonato permanecem controversas e ainda não refutam totalmente aTeoria Clóvis.
O sítio também abriga oMuseu do Homem Americano. Painéis iluminados e auto explicativos contam a história da presença dos humanos na América com desenhos, mapas e textos. O espaço também guarda urnas funerárias em argila e réplicas de dois esqueletos humanos encontrados em cavernas da região. Um deles, uma índia de cerca de 30 anos de idade foi encontrado praticamente completo e data de 9,7 mil anos.
Também na região foram encontrados desenhos na Toca do Boqueirão, também em Pedra Furada, que parecem representar uma cena de ataque dos terríveisfelinos que já habitaram o continente. As concepções dos atuaisíndios que habitam a região nordeste do país, a exemplo doscariris, apesar de bastante modificadas, ainda podem se constituir num elemento útil para decifrar tais representações com uma estratégia conjetural. Uma interpretação sobre os desenhos da figura humana desses povos revela uma surpreendente complexidade que pode muito bem corresponder a um mapa das sensações corporais e/ou uma concepção de corpo e espírito. Osencantados são descritos peloscariris, em geral, como homens descomunais, ferozes e implacáveis, de feição rude e olhos esbugalhados, verdadeiramente assustadores, segundo oantropólogo Nascimento, que estudou em sua tese para Mestrado naUniversidade Federal da Bahia os rituais e identificação étnica dos índios do nordeste a partir das concepções de um grupo remanescente - oscariris deMirandela (Bahia) em 1994.[60]
No Brasil, além dos restos doPiauí, existe também um antiquíssimo conjunto achado na região de Lagoa Santa (Minas Gerais), possivelmente os representantes do antigo grupolinguístico do país - Macro Jê -, cujos descendentes mais próximos hoje seriam os índioscariris ebotocudos.[61][62][63]
Em 1974, na Lapa Vermelha IV durante a escavação da equipe deAnnette Laming-Emperaire, foi descoberto um esqueleto humano datado em 11,5 mil anos Antes do Presente, o mais antigo daAmérica, posteriormente apelidado deLuzia. Ela colocou ainda mais dúvidas sobre aTeoria Clóvis, já que é uma mulher com características bem distintas dos indígenas atuais (que são mais próximos do grupo epigenético mongolóide). Luzia foi investigada pelos bioantropólogos e arqueólogosWalter Alves Neves,André Prous, Joseph F. Powell, Erik G. Ozolins e Max Blum.[64]
Enquanto a maior parte da pesquisa sobre o Brasil mais antigo analisava principalmente osvestígios materiais deixados por esses povos, o Brasil pré-cabralino recente costuma ser estudado através daslínguas nativas. Com efeito, o estudo sobre aslínguas nativas permite compreender inúmeros aspectos das culturas pré-cabralinas, além de seus parentescos históricos e de suasmigrações. Quando os cronistaseuropeus descreveram os antigos povosbrasileiros, utilizaram sobretudo denominações linguísticas e, graças ao trabalho missionário de algunsjesuítas, temos hoje conhecimento das antigas línguas brasílicas (que deram origem às línguas indígenas modernas).

Resta-nos, contudo, a tarefa de associar os achados antigos aos povos recentes, que conhecemos principalmente a partir de grupos linguísticos. Um estudo desse tipo não foi realizado no Brasil ainda. Apenas um grupo pré-cabralino recente foi associado suficientemente aos achados antigos: os grupos da família linguísticaTupi-Guarani. Estes, na época da chegada dos europeus, dominavam o atuallitoral brasileiro, conhecido por "Pindorama". Outra fonte importante para a reconstrução da história recente dos povos pré-cabralinos é amitologia indígena. Sabe-se hoje ser possível estabelecer relações entre os elementos dosmitos e acontecimentos que consideramos "históricos". As fontes mitológicas tem sido empregadas para estudar movimentos migratórios, as relações estabelecidas entre os povos brasileiros e, por exemplo, o Império Inca, etc.
Quando os europeus passaram a ocupar a costa oriental daAmérica do Sul, encontraram etnias vinculadas a quatro principais grupos linguísticos: osarauaque, ostupi-guaranis, osjês e oscaraíbas.[65] Devemos tomar cuidado para não confundir grupo linguístico com grupos étnicos. Dentro de um mesmo grupo linguístico havia numerosas e diferentes unidades identitárias possuindo dialetos, práticas culturais e filosofias próprias. Nosso conhecimento dos povos indígenas por meio das crônicas europeias é limitado por diversas razões.
A primeira delas, é que a imagem europeia sobre os povos pré-cabralinos foi marcada por um processo de enquadramento daAmérica em categorias europeias, de forma que as crônicas nos fornecem informações mais valiosas para o estudo dos próprios europeus modernos do que para o estudo dos nativos. A segunda delas, é que as crônicas foram escritas numa época de transformação, uma vez que a entrada dos europeus trouxe doenças e influências novas para o mundo indígena, modificando consideravelmente a antiga realidade em que viviam. Por fim, as crônicas acompanham o avanço da "fronteira" europeia na América, de forma que grande parte dos povos indígenas só chegaram a ser conhecidos pelos ocidentais noséculo XIX, após terem modificado muitos de seus costumes; é interessante notar que muitas tribos indígenas no Brasil continuam isoladas do mundo ocidental até hoje.

Um dos grandes grupos linguísticos do Brasil, e que parece ter se expandido imensamente sobre o território brasileiro antes de 1500, é o grupotupi. A principal família linguística dentro desse grupo maior é atupi-guarani. Esses povos devem ter primeiramente habitado a região das cabeceiras dos riosMadeira,Tapajós eXingu. A expansão tupi-guarani aconteceu há 3 mil e 2 mil anos, pouco depois de esse grupo ter se diferenciado de outros na região entre o Xingu e o Madeira, formando novos subgrupos linguísticos, como oscocamas,omáguas,guaiaquis exirinós. Os povos de línguascocama e omágua dirigiram-se aorio amazonas, enquanto os guaiaquis chegaram aoParaguai e os xirinós àBolívia.Tapirapés etenetearas deslocaram-se em direção ao nordeste. Os povos de línguaspauserna,cajabi ecamaiurá deslocaram-se até a região extremo sul do Brasil.
Os povos delíngua oiampi chegaram até a região dasGuianas. A última fase de dispersão dos povos tupi-guaranis ocorreu por volta do ano 1000. Os falantes de línguas associadas à família tupi-guarani estariam já instalados no sul do Brasil (guaranis etc.), na bacia amazônica e também no litoral do Brasil (potiguares,tupinambás,tupiniquins). Os dados linguísticos nos permitem avaliar essas sociedades como expansivas e em constante movimento. Graças a uma impressionante rede de caminhos fluviais, os povos desse grupo linguístico puderam se difundir e, ao mesmo tempo, manter contato uns com os outros. O uso de canoas (ygara emtupi antigo) para navegar rios permitia o enviamento de missões militares e diplomáticas de uma região para outra.
Muitos artefatos arqueológicos do período cerâmico são filiados a esses antigos povos de matriz linguística tupi-guarani. Os sítios arqueológicos associados a essas populações constituíam-se em aldeias extensas, normalmente localizadas em regiões de planalto ou em terraços. Nessessítios arqueológicos, de largura média entre 10 000 e 2 000 metros quadrados, a cerâmica antiga é abundante. As unidades habitacionais são cabanas, que podiam alcançar até 60 metros quadrados de diâmetro. Dentro dessas cabanas, foram localizadosfogueiras efornos para cozimento.
As áreas dos sítios são definidas em espaço cerimonial, público e residencial. O espaço dos vivos é separado daquele dos mortos (muitoscemitérios antigos foram localizados). A arqueologia identificou sepultamentos em urnas e outros em terra. Artefatos líticos são encontrados junto dos sepultamentos, provavelmente objetos de uso pessoal. A cerâmica gupi-guarani (particularmente abundante noParaná) é caracterizada pelos desenhospolicrômicos de traços lineares.
A cronologia para a história dos povos tupis-guaranis se baseia em teorias arqueológicas, naglotocronologia e na datação de cerâmicas identificadas aos tupis-guaranis. Como vimos pela história dos tupis-guaranis a partir de suas línguas, o movimento de expansão ocorreu entre há 3000 e há 2000 anos a partir da região amazônica; a maior parte dos artefatos arqueológicos desses povos são datados entre o ano 500 e o ano 1500. A época da expansão para olitoral é constatada pela maior concentração de artefatos nessa região entre os séculos XI e XIII.
As línguas associadas à matriz linguísticamacro-jê devem ter sofrido diferenciação por volta de há 6000 anos. Sua expansão inicia-se há 3 mil anos, pelaRegião Centro-Oeste do Brasil. O grupo Jê propriamente dito é possivelmente originário das regiões das nascentes dos riosSão Francisco eAraguaia. Grande parte dos povos de língua Jê se afastaram doscaingangues exoclengues, seguindo para o sul da região central brasileira. Alguns grupos devem ter se separado destes últimos e seguido até a região amazônica há pelo menos mil anos. Os povos Jês preferiam se instalar em regiões de Planalto (como a original região do Planalto brasileiro), como nos permite constatar o estudo de suas línguas Entre as línguas do tronco Macro-Jê encontram-se:caiapós,Xerentes,Timbiras, etc.[1]
Os povos de línguacaraíbas também passaram por um processo de expansão há 3 mil anos, aproximadamente. Essa família linguística é talvez originária da atual região dasguianas e do extremo norte do Brasil. Osiucpas e oscarijonas, ramificações dessa família linguística, teriam se diferenciado e migrado para aColômbia, enquanto osbacairis teriam seguido para o centro do Brasil. O empréstimo de termos tupi nas línguas caribes (e vice-versa) aponta para a existência de redes complexas decomércio e tráfico de pessoas entre tais povos.
As línguas de matrizaruaque concentram-se hoje na região sudoeste daBacia amazônica. A principal família linguística associada a esse grupo é aMaipure, dividida em quatro subgrupos regionais. Existe grande polêmica em relação às origens, às migrações e aos descendentes desses povos, além de suas relações com outros grupos linguísticos do Brasil Antigo. Outros grupos linguísticos menores, sem parentescos com os outros maiores, existem no Brasil:mura,chapcura,pano,ianomami, etc.

Na véspera da chegada dos europeus à América em 1500, calcula-se que o atual território do Brasil (a costa oriental da América do Sul) fosse habitado por dois milhões de indígenas, do norte ao sul.[66]
Segundo Luís da Câmara Cascudo, ostupis foram o primeiro agrupamento "indígena que teve contacto com o colonizador".[67] A influência tupi se deu na alimentação, no idioma, nos processos agrícolas, de caça e pesca, nas superstições, costumes, folclore, etc. Os povos do grupo Tupi-Guarani habitavam a região chamada por eles de "Pindorama" (terra das palmeiras), atual região oriental daAmérica do Sul, que habitava o imaginárioTupi-Guarani como terra mítica, uma terra livre dos males. Os arqueólogos acreditam que o mito acerca de "Pindorama" tenha se formado na época das antigas migrações, quando ostupi-guaranis se dirigiram para o litoral brasileiro.[68]
Sabemos os nomes de alguns dos principais grupos que habitavam Pindorama na véspera da chegada europeia (entre eles alguns de origens não tupi): ospotiguaras, ostremembés, ostabajaras, oscaetés, ostupiniquins, ostupinambás, osaimorés, osgoitacás, ostamoios, oscarijós e ostemiminós. Os potiguaras habitavam a região entre oRio Acaraú e oRio Paraíba e controlavam a navegação fluvial. Durante a conquista, aliaram-se aos franceses, sendo que alguns relatos falam de casamentos entre potiguaras efranceses, envolvendo acordos bélicos antiportugueses. Os Tabajaras habitavam a margem meridional do rio Paraíba, na região atual do litoral pernambucano. Foram importantes aliados dos portugueses durante a conquista. Os Caetés habitavam a região dePernambuco desdeOlinda, "a Marim dos Caetés", até onde encontra-se hoje o estado deAlagoas, desmembrado de Pernambuco. Tornaram-se célebres naHistória do Brasil por terem devorado o Bispo Sardinha.
Os Tremembés habitavam a margem ocidental do rio Acaraú. Os tamoios habitavam aBaía da Guanabara; seus líderes,Cunhambebe e Aimberê, aliaram-se com os franceses no combate aos portugueses. Os carijós habitavam o litoral sul do país. Os tupiniquins habitavam a atual região do Estado deSão Paulo, e os Tupinambá a região sudeste do Brasil. Nosso conhecimento dotupi antigo é principalmente baseado na língua dos Tupinambás (embora esses não constituíssem os "principais tupis", como alguns autores apontam).
Os povos tupis viviam em aldeias que reuniam de 600 a 700 habitantes. Algumas aldeias eram fortificadas em razão das guerras inter-tribais. Nenhuma autoridade aparecia com força absoluta ou consideravelmente forte sobre os outros integrantes da sociedade, embora houvesse "hierarquias" em função do gênero, do mérito guerreiro e dos poderes xamânicos. Os Pajés (Payes em tupi antigo, intermediários entre o mundo religioso e o mundo humano) e os Caciques (morubixaba em tupi antigo, chefes guerreiros) ocupavam, em geral, o papel de autoridades das tribos.[4][69] A subsistência baseava-se na caça e na horticultura. Acreditavam nos bons e nos maus espíritos (tupã,anhang, etc.), que influenciavam os acontecimentos no cosmos. Cada homem trazia um maracá, no qual acreditavam habitar um espírito protetor de cada indivíduo. Acredita-se que apenas os filhos dos homens mais importantes da tribo fossem enterrados nas urnas funerárias. Os acontecimentos religiosos tinham alcance amplo, e reuniam diferentes etnias. Os antigos indígenas foram responsáveis por inúmeras manifestações artísticas, como peças decerâmica, danças, canções/poesia (registradas porLéry) e, a que mais impressionou os ocidentais, a plumária extremamente sofisticada e rica.[70] Aliteratura tupi aparece com a chegada da escrita europeia, quando missionários passam a escrever em tupi para converter os nativos, e as crônicas transcrevem canções indígenas.[71]
A permanência de nomes tupis (tupi antigo, nhe'enga tupi oulíngua geral) para nomear diversas regiões do Brasil atual é um indicador da influência da língua indígena nacultura brasileira. Os historiadores deBrasil Colonial concordam que até oséculo XVIII otupi era provavelmente a língua mais falada em algumas regiões daAmérica Portuguesa. Nomes de regiões, rios e cidades brasileiras têm suas raízes no período dePindorama, e no período colonial. Alguns exemplos:
Do lado europeu, a descoberta do Brasil foi precedida por vários tratados entrePortugal eEspanha, estabelecendo limites e dividindo o mundo já descoberto do mundo ainda por descobrir.[72][73]
Destes acordos assinados à distância da terra atribuída, oTratado de Tordesilhas (1494) é o mais importante, por definir as porções do globo que caberiam a Portugal no período em que o Brasil foi colônia portuguesa.[74] Estabeleciam suas cláusulas que as terras a leste de ummediano imaginário que passaria a 370léguas marítimas a oeste das ilhas deCabo Verde pertenceriam ao rei de Portugal, enquanto as terras a oeste seriam posse dos reis deCastela (atualmente Espanha). No atual território do Brasil, a linha atravessava de norte a sul, da atual cidade deBelém do Pará à atualLaguna, emSanta Catarina. Quando soube do tratado, orei de FrançaFrancisco I teria indagado qual era "a cláusula do testamento de Adão" que dividia o planeta entre os reis de Portugal e Espanha e o excluía da partilha.
Muitos estudiosos afirmam que o primeiro a chegar nas antigas terras do atual Brasil foi o navegador espanholVicente Yáñez Pinzón, que no dia 26 de janeiro de 1500 desembarcou noCabo de Santo Agostinho, litoral sul de Pernambuco — esta considerada a mais antiga viagem comprovada ao território brasileiro.[75][76]
|acessodata= requer|url= (ajuda)|coautores= (ajuda)| Período da história do Brasil | |
|---|---|
| Pré-cabralino (antiguidade à 1500) | Brasil Colônia (1500 a1822) |