Hipoglicemia é uma condição em que a taxa deglicose no sangue diminui para valores inferiores ao normal.[1] A condição causa vários sintomas, entre os quais desorientação, dificuldade em falar, estado de confusão, perda de consciência,convulsões ou morte.[1] Podem ainda estar presentes sintomas como fome,sudação em excesso, tremores e fadiga.[1] Geralmente os sintomas manifestam-se de forma súbita.[1] A condição oposta é ahiperglicemia.
A taxa deglicose no sangue que define a hipoglicemia varia.[1] Em pessoas com diabetes, o diagnóstico corresponde a uma taxa inferior a3,9mmol/L (70 mg/dL).[1] Em adultos sem diabetes, o diagnóstico é confirmado quando se verifica simultaneamente sintomas relacionados com a hipoglicemia, baixa glicose no sangue durante os sintomas, e melhoria desses sintomas assim que a taxa regressa ao normal.[5] Quando não se manifestam sintomas, pode ser usado um valor de referência inferior a 2,8 mmol/L (50 mg/dL) em jejum ou após a realização de exercício físico.[1] Em recém-nascidos, uma taxa inferior a 2,2 mmol/L (40 mg/dL), ou inferior a 3,3 mmol/L (60 mg/dL) quando acompanhada de sintomas, indica a presença de hipoglicemia.[4] Os valores de glicose são medidos comanálises ao sangue. Entre outros exames que podem ser úteis para determinar a causa estão os valores de insulina e depeptídeos-C no sangue.[3]
Em diabéticos, a prevenção da hipoglicemia consiste em adequar a dieta à quantidade de exercício físico praticado e aos medicamentos usados.[1] Quando as pessoas sentem que a taxa de glicose pode estar a diminuir, recomenda-se o uso de ummedidor de glicemia portátil.[1] Como algumas pessoas manifestam poucos sintomas iniciais quando a taxa de glicose diminui, recomenda-se a este grupo que monitorize frequentemente a taxa de glicose. O tratamento consiste em ingerir alimentos ricos emaçúcares simples ou na toma dedextrose.[1] Nos casos em que a pessoa não consegue ingerir alimentos pela boca, pode ser necessária uma injeção deglicagina.[1] O tratamento da hipoglicemia sem relação com a diabetes consiste em tratar também o problema subjacente e numa dieta saudável.[1]
Os sintomas hipoglicêmicos podem ser divididos naqueles produzidos peloshormônios contra-regulatórios (adrenalina eglucagon), acionados pelo declínio da glicose, e naqueles produzidos pela redução de açúcar no cérebro.
Nem todas as manifestações anteriores ocorrem em casos de hipoglicemia. Não há ordem certa no aparecimento dos sintomas. Manifestações específicas variam de acordo com a idade e com a severidade da hipoglicemia. Em crianças jovens com hipoglicemia matinal, há vômito frequentemente acompanhado decetose. Em crianças maiores e em adultos, a hipoglicemia moderadamente severa pode parecermania,distúrbio mental,intoxicação por drogas ouembriaguez. Nos idosos, a hipoglicemia pode produzir efeitos parecidos com umaisquemia focal ou mal-estar sem explicação.
Em ambos, pacientes de longa data ou não, o cérebro pode se habituar a níveis baixos de glicose, com redução dos sintomas perceptíveis em momentos deneuroglicopenia.Diabéticos insulinodependentes chamam a neuroglicopenia incondicionalmente de hipoglicemia, e que é um problema clínico importante quando tenta-se melhorar o controle glicêmico desses pacientes. Outro aspecto desse fenômeno ocorre emglicogenose tipo I, onde a hipoglicemia crônica antes do diagnóstico pode ser mais bem tolerada do que episódios agudos após o início do tratamento.
Quase sempre a hipoglicemia severa a ponto de ocasionarconvulsões ouinconsciência pode ser revertida sem danos aocérebro. Os casos de morte ou dano neurológico permanente que ocorreram com um único episódio envolvem ocorrências conjuntas de inconsciência não tratada ou prolongada, ou interferência narespiração, ou doenças concorrentes severas ou outros tipos de vulnerabilidade. De qualquer maneira, hipoglicemias severas podem eventualmente resultar em morte ou dano cerebral.
Jejum: alimentação insuficiente ou que não forneceaçúcares ecarboidratos em quantidade suficiente; pode se tratar de um problema pontual, mas também nutricional (dieta muito rígida, diagnóstico deanorexia,desnutrição de causas variadas, etc.)
Esforço físico: o funcionamento dosmúsculos pode ter consumido aglicose disponível no sangue e o corpo pode não ter tido tempo de liberar suas reservas; é sempre temporário nos indivíduos sadios
Da mesma forma que a maioria das células de animais, ometabolismo cerebral depende primeiramente deglicose para trabalhar. Em casos de privação de glicose, pode-se conseguir uma quantidade limitada dela armazenada nosastrócitos, mas que é consumida em minutos. De qualquer forma, o cérebro é dependente de fornecimento contínuo de glicose, que difunde dosangue aotecido intersticial dentro dosistema nervoso central, e aos própriosneurônios.
Por isso, se a quantidade de glicose suprida pelo sangue cai, o cérebro é um dos primeiros órgãos a percebê-lo. Na maioria das pessoas, a eficiência mental parece diminuir quando a glicemia cai abaixo de 65 mg/dL (3,6 mM). Ocorre limitação de ações e de julgamento geralmente quando a glicemia cai abaixo de 40 mg/dL (2,2 mM). Se cair ainda mais, podem ocorrerconvulsões. Próxima ou abaixo de 10 mg/dL, a maior parte dos neurônios fica eletricamente desligada, resultando nocoma.
A importância de um fornecimento adequado de glicose ao cérebro é clara pelo fato de ocorrerem inúmeras respostas nervosas,hormonais emetabólicas para combater uma hipoglicemia. A maior parte delas é defensiva ou adaptiva: ou tentando aumentar o açúcar no sangue viagliconeogênese eglicogenólise, ou providenciando formas de energia alternativas.
Embora se cite que 70 mg/dL (3.9 mmol/L) seja o limite inferior da glicemia normal, podem definir-se diferentes valores como baixos em diferentes populações, propósitos e circunstâncias. O nível preciso de glicemia considerado baixo o bastante para se definir uma hipoglicemia depende de: (1) método de medição; (2) idade da pessoa; (3) presença ou ausência de sintomas.
O nível de glicose neste artigo é o deplasmavenoso ou emsoro, medido por métodos-padrão deglicose oxidase usados em laboratórios. Para finalidades clínicas, tanto o nível no plasma quanto o no soro são similares o bastante para serem intercambiados. O plasmaarterial ou em soro são levemente superiores do que os níveis venosos, e os níveiscapilares estão entre os arteriais e os venosos. A diferença entre os níveis arterial e venoso é pequena sob jejum, mas é amplificada e pode ser até 20% maior em estadopós-prandial. Por outro lado, os níveis de glicemia totais (por exemplo os medidos porglicosímetros digitais) são cerca de 10-15% menores do que os níveis em plasma venoso. Além disso, os glicosímetros disponíveis garantem apenas exatidões de 15% em relação a valores de laboratórios clínicos.
Dois outros fatores afetam significantemente a medição da glicose. A disparidade entre a concentração venosa e a concentração total é maior quando ohematócrito é alto, como no caso de recém-nascidos. Em segundo, a menos que a amostra tenha sido colocada em umtubo de fluoreto ou processada imediatamente para separar o soro ou plasma das células, a glicose mensurável será gradualmentemetabolizadain vitro.
Dados estatísticos de crianças e adultos saudáveis mostram queglicemias em jejum abaixo de 60 mg/dL (3,3 mM) ou acima de 100 mg/dL (5,6 mM) são encontradas em menos de 5% da população. Em até 10% dos recém-nascidos e crianças jovens, foram encontrados níveis abaixo de 60 mg/dL depois de jejum noturno. Em outras palavras, muitas pessoas saudáveis podem eventualmente ter níveis glicêmicos na faixa de hipoglicemia sem apresentar sintomas ou distúrbios.
A faixa glicêmica normal de recém-nascidos ainda é motivo de debate. As estatísticas e a experiência revelam níveis de açúcar frequentemente abaixo de 40 mg/dL (2,2 mM) e, mais raramente, abaixo de 30 mg/dL (1,7 mM) em bebês saudáveis degravidez a termo nos primeiros dias de vida. Foi proposto que oscérebros de recém-nascidos são mais facilmente capazes de usar combustíveis alternativos quando os níveis glicêmicos estão baixos, em relação a adultos. Os especialistas continuam o debate quanto à significância e ao risco desses níveis glicêmicos, embora a tendência seja recomendar a manutenção dos níveis de glicose acima de 60–70 mg/dL (3,3-3,9 mM) após os primeiros dias de vida. Em bebês prematuros, adoecidos ou abaixo do peso é mais comum encontrar baixos níveis de glicose, mas há um consenso de que os açúcares devam ser mantidos ao menos acima de 50 mg/dL (2,8 mM) nestas circunstâncias. Alguns especialistas defendem 70 mg/dL (3,9mM) como um objetivo terapêutico, especialmente em circunstâncias tais comohiperinsulinismo, onde combustíveis alternativos podem ser mais escassos.
Pesquisas mostram que a eficiência mental diminui levemente mas de modo sensível quando a glicemia cai abaixo de 65 mg/dL (3,6 mM), em adultos saudáveis. Os mecanismos de defesa hormonal (adrenalina eglucagon) são ativados assim que a glicemia passa por limiares (cerca de 55 mg/dL ou 3,0 mM para a maioria das pessoas), produzindo tremores edisforia. Por outro lado, não ocorre com frequência um prejuízo de capacidade mental até que a glicemia caia abaixo de 40 mg/dL (2,2 mM), e até 10% da população pode eventualmente ter níveis de glicose abaixo de 65 (3,6) pela manhã sem efeitos aparentes. Os efeitos da hipoglicemia, chamados deneuroglicopenia, é que determinam quando um certo nível glicêmico é realmente um problema ao indivíduo.
É preferível que a pessoa com hipoglicemia use tanto os sintomas quanto os dados numéricos de seuglicosímetro para determinar as medidas a serem tomadas. É fácil notar hipoglicemia quando o valor lido é 50 mg/dL (2,8 mM); porém, um paciente que está com a diabetes descompensada e frequentemente lê valores acima de 200 mg/dL (11,1 mM) pode sentir sintomas de hipoglicemia quando o nível de glicose no sangue chegar a valores "normais" de 90 mg/dL (5,0 mM). Neste caso, a pessoa não apresenta uma hipoglicemia clássica, mas terá alívio de sintomas com o tratamento rotineiro para hipoglicemias. Além disso, quando a glicemia diminui a uma taxa rápida, também podem surgir sintomas de hipoglicemia.
Este critério é por si só complicado de se admitir pelo fato de os sintomas da hipoglicemia serem vagos e poderem ser produzidos por outros motivos; além do que, quando a pessoa passa por níveis baixos de glicemia com recorrência, ela pode perder a sensação de limiar, de forma que pode haver agravamento de seus sintomas (por neuroglicopenia) sem que ela note. Para completar a dificuldade, os glicosímetros são inexatos para baixos valores, o que descredita a sua utilidade nessas horas.
Procure sempre encontrar a causa de uma baixa glicémia. A glicémia diária normal não deverá ser inferior a 90 mg/dl (5 mmol/l). Utilize os testes à glicémia para evitar a hipoglicémia. É particularmente importante testar a glicémia ao deitar. Nenhuma criança diabética deverá deitar-se antes das refeições sem que lhe seja feito o teste da glicémia. Não injete insulina antes duma refeição se o valor for inferior a 90 mg/dl (5 mmol/l). Espere que a criança acabe a refeição e só depois injete insulina
O açúcar sanguíneo pode subir ao valor normal em minutos da seguinte forma: consumindo (por conta própria) ou recebendo (por outrem) 10-20 g de carboidrato. Pode ser em forma de alimento ou bebida caso a pessoa esteja consciente e seja capaz de engolir. Essa quantidade de carboidrato está contida nos seguintes alimentos:
100-200 mL de sumo de laranja, maçã ou uva
120-150 mL de refrigerante comum não dietético
uma fatia de pão
quatro biscoitos do tipocracker
uma porção de qualquer alimento derivado de amido
uma colher (sopa) de mel
O amido é rapidamente transformado em glicose, mas a adição de gordura ou proteína retarda a digestão. Os sintomas começam a melhorar em 5 minutos, embora demore 10-20 min até a recuperação completa. O abuso de alimentos não acelera a recuperação e se a pessoa for diabética isto simplesmente causará umahiperglicemia mais tarde.
Se a pessoa está sofrendo de efeitos severos de hipoglicemia de maneira que não possa (devido a combatividade) ou não deva (devido a convulsões ou inconsciência) ser alimentada, pode-se dar a ela umainfusão intravenosa de glicose ou uma injeção deglucagon..
A prevenção depende da causa da hipoglicemia. O risco de novos episódios pode ser frequentemente reduzida pelo abaixamento da dose de insulina ou medicamento, ou pela atenção maior à glicemia durante eventos inesperados, diminuição do ritmo de exercícios físicos ou de ingestão de álcool.
Muitos tipos de disfunções congêneres dometabolismo requerem evitar ou encurtar os intervalos de jejum, ou evitar carboidratos extras. Para distúrbios mais severos, como aglicogenose tipo I, isto pode ser feito pelo consumo de amido demilho de hora em hora ou porinfusão gástrica contínua.
Vários tratamentos são usados em caso de hipoglicemia hiperinsulinêmica, dependendo da forma exata e do grau de severidade. Algumas formas dehiperinsulinismo congênito respondem bem aodiazóxido ouoctreótido. A remoção cirúrgica da parte hiper-reativa dopâncreas é eficaz com risco mínimo quando o hiperinsulinismo é focal, ou devido a umtumor benigno produtor de insulina. Quando o hiperinsulinismo congênito é difuso ou imune às medicações, apancreatectomia subtotal pode ser o tratamento de último caso, mas neste caso é menos efetivo e passível de várias complicações.
A hipoglicemia devida a deficiências hormonais comohipopituitarismo ouinsuficiência adrenal geralmente cessa quando se administra o hormônio apropriado.
A hipoglicemia devida à síndrome do empachamento (ouSíndrome de dumping no português brasileiro) e outras condições pós-cirúrgicas é mais bem tratada com alteração dadieta. A inclusão degordura eproteína comcarboidratos pode retardar adigestão e reduzir a secreção antecipada deinsulina. Alguns desses casos respondem a tratamento com um inibidor deglicosidase, que retarda a digestão deamido.
A hipoglicemia reativa com baixa glicose no açúcar é frequentemente um incômodo previsível, que pode ser evitado pelo consumo de gordura e proteína com carboidratos, pela adição de lanches pela manhã e à tarde e pela redução do consumo deálcool.
Asíndrome pós-prandial idiopática sem níveis baixos de glicose no momento dos sintomas pode ser mesmo um desafio de conduta. Muitas pessoas encontram melhorias com a mudança no padrão de alimentação (refeições menores, evitando açúcar em demasia, refeições mistas em detrimento decarboidratos), ou fazendo mudanças no estilo de vida para evitar oestresse, ou diminuindo o consumo de estimulantes comocafeína.
Referências
↑abcdefghijklmnopqrs«Hypoglycemia».National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases. Outubro de 2008. Consultado em 28 de junho de 2015
↑abYanai, H; Adachi, H; Katsuyama, H; Moriyama, S; Hamasaki, H; Sako, A (15 de fevereiro de 2015). «Causative anti-diabetic drugs and the underlying clinical factors for hypoglycemia in patients with diabetes.».World journal of diabetes.6 (1): 30–6.PMID25685276.doi:10.4239/wjd.v6.i1.30
↑Cryer PE, Axelrod L, Grossman AB, Heller SR, Montori VM, Seaquist ER, Service FJ (Março de 2009). «Evaluation and management of adult hypoglycemic disorders: an Endocrine Society Clinical Practice Guideline».J. Clin. Endocrinol. Metab.94 (3): 709–28.PMID19088155.doi:10.1210/jc.2008-1410