| Guimarães Rosa | |
|---|---|
| Nome completo | João Guimarães Rosa |
| Nascimento | |
| Morte | 19 de novembro de1967 (59 anos) |
| Nacionalidade | brasileiro |
| Cônjuge | Lígia Cabral Pena eAracy de Carvalho Guimarães Rosa |
| Alma mater | Universidade Federal de Minas Gerais |
| Ocupação | escritor,médico,diplomata |
| Prémios | PrêmioFilipe d’Oliveira (1946) Prêmio Carmem Dolores Barbosa (1957) |
| Gênero literário | Romance,Bildungsroman, Conto e Poesia |
| Movimento literário | Modernismo, Regionalismo Universalista,Pós-modernismo, Romance Regionalista |
| Assinatura | |
João Guimarães RosaOMC (Cordisburgo,27 de junho de1908 –Rio de Janeiro,19 de novembro de1967) foi um contista, romancista e poeta brasileiro. Nascido na cidade deCordisburgo, no estado deMinas Gerais, exerceu a profissão de médico e, depois, diplomata. Identificado, historicamente, com a terceira geração domodernismo brasileiro, o seu estilo inovador, sobretudo, o levou a ser considerado por muitos o maior escritor brasileiro do século XX e, no mundo, reconhecido através das traduções de suas obras. Casou-se, pela segunda vez, comAracy Moebius de Carvalho, denominadaAnjo de Hamburgo.[1][2]
Os contos e o romance escritos por Guimarães Rosa têm como ponto de partida o chamadosertãomineiro[3][nota 1], estendendo-se a outros estados com esta natureza. A sua obra destaca-se pelas inovações de linguagem, sendo marcada pela influência de falares regionais que, somados à erudição do autor, permitiu a criação de inúmeros vocábulos a partir de arcaísmos e palavras populares, invenções e intervenções semânticas e sintáticas.[4]
Eleito membro daAcademia Brasileira de Letras (ABL) em 8 de agosto de 1963, sendo o terceiro ocupante da Cadeira nº 2, da qual é patronoÁlvares de Azevedo.[5] Mas, "supersticioso", temendo morrer, adiou a sua posse por 4 anos. A posse ocorreu, enfim, em 16 de novembro de 1967. Morreu Guimarães Rosa, em 19 de novembro de 1967, vítima de um ataque cardíaco.[1]
Foi o primeiro dos seis filhos de Francisca Guimarães Rosa ("Chiquitita") e de Florduardo Pinto Rosa ("Flor"), juiz de Paz, vereador e comerciante em Cordisburgo.
Começou ainda criança a estudar diversos idiomas, iniciando pelo francês quando ainda não tinha 6 anos. Em entrevista concedida a uma prima, anos mais tarde, afirmou:
| “ | Eu falo:português,alemão,francês,inglês,espanhol,italiano,esperanto, um pouco derusso; leio:sueco,holandês,latim egrego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei agramática: dohúngaro, doárabe, dosânscrito, dolituano, dopolonês, dotupi, dohebraico, dojaponês, docheco, dofinlandês, dodinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração. | ” |
Ainda pequeno, mudou-se para a casa dos avós, emBelo Horizonte, onde concluiu o curso primário. Iniciou o curso secundário noColégio Santo Antônio, emSão João del-Rei, mas logo retornou a Belo Horizonte, onde se formou. O tio Adonias, fazendeiro muito rico, dono da fazenda Sarandi, patrocinou os estudos de Guimarães Rosa noColégio Arnaldo. Em 1925 matriculou-se na entãoFaculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais, com apenas 16 anos, tendo sido o orador da Turma, em 1930.[2]
Em 27 de junho de 1930, casou-se com Lígia Cabral Pena, com quem teve duas filhas: Vilma e Agnes. Ainda neste ano se formou e passou a exercer a profissão emItaguara, cidade do interior mineiro, então distrito deItaúna, onde permaneceu cerca de dois anos. Foi nessa localidade que passou a ter maior contato com os elementos do sertão, que forneceram também de inspiração à sua obra.

Saindo deItaguara, durante aRevolução Constitucionalista de 1932, voltou para Belo Horizonte a fim de servir como médico voluntário da Força Pública de Minas Gerais (atualPolícia Militar de Minas Gerais), estado cujo governo estava alinhado politicamente com o presidenteGetúlio Vargas. Indo para o setor do Túnel em Passa Quatro, em Minas Gerais, tomou contato com o futuro presidenteJuscelino Kubitschek, formado na mesma Faculdade de Medicina de Minas Gerais, trabalhando, naquela ocasião, também como médico da Força Pública de Minas Gerais. Posteriormente, por concurso, entrou para o quadro da Força Pública. Em 1933, foi paraBarbacena na qualidade de oficial médico do 9º Batalhão de Infantaria. Após a Revolução, dirigiu-se à cidade doRio de Janeiro, para prestar concurso público de diplomata, noItamaraty (Ministério das Relações Exteriores). Aprovado em 1934, exerceu sua função naEuropa e naAmérica Latina.[2]
No início da carreira diplomática, assumiu, como primeiro posto no exterior, o cargo de cônsul-adjunto do Brasil emHamburgo, naAlemanha, de 1938 a 1942. Lá conheceu e veio a casar-se comAracy Moebius de Carvalho, funcionária do Itamaraty que, durante aSegunda Guerra Mundial, para auxiliar judeus a fugir para o Brasil, emitiu mais vistos do que as cotas legalmente estipuladas. Por esta razão, a sua ação humanitária e de extrema coragem, Aracy de Carvalho Guimarães Rosa (nome de casada) foi agraciada, no pós-guerra, peloEstado de Israel. É a única mulher brasileira homenageada noJardim dos Justos entre as Nações, noYad Vashem, que é o Memorial Oficial de Israel, situado emJerusalém, para relembrar a todas as pessoas que sofreram noHolocausto.[6]

Depois de servir em Hamburgo, Guimarães Rosa atuou, ainda, como diplomata, nas Embaixadas do Brasil emBogotá e emParis.[2]
No Brasil, Guimarães Rosa, na segunda vez em que se candidatou para a Academia Brasileira de Letras, foi eleito por unanimidade em 1963. Temendo ser tomado por uma forte emoção, adiou a cerimônia de posse por quatro anos. Em seu notável discurso de posse, quando enfim decidiu assumir a cadeira da Academia, em 16 de novembro de 1967, chegou a afirmar, em tom de despedida, como se soubesse o que se passaria ao entardecer do domingo seguinte:"…a gente morre é para provar que viveu."[7] Morreu, na cidade do Rio de Janeiro, em 19 de novembro. Seu laudo médico atestou um infarto.[8]

Realismo mágico,regionalismo, liberdade de invenções linguísticas eneologismos são algumas das características fundamentais da literatura de Guimarães Rosa, mas não as suficientes para explicar seu sucesso. Guimarães Rosa prova o quão importante é ter a linguagem a serviço da temática e vice-versa, uma potencializando a outra. Nesse sentido, o escritor mineiro inaugura uma metamorfose no regionalismo brasileiro que o traria de novo ao centro da ficção brasileira.[carece de fontes?]
Sua obra mais marcante foiGrande Sertão: Veredas, romance qualificado por Rosa como uma "autobiografia irracional", marcada por elementos regionalistas, existencialistas e religiosos.[9] Talvez a explicação esteja na própria travessia simbólica do rio e do sertão de Riobaldo, ou no amor inexplicável por Diadorim, maravilhoso demais e terrível demais, beleza e medo ao mesmo tempo, ser e não-ser, verdade e mentira, estar e não estar. Diadorim-Mediador, a alma que se perde na consumação do pacto com a linguagem e a poesia. Riobaldo (Rosa-IO-bardo), o poeta-guerreiro que, em estado de transe, dá à luz obras-primas da literatura universal. Biografia e ficção fundem-se e confundem-se nas páginas enigmáticas de João Guimarães Rosa, morto prematuramente aos 59 anos de idade, no ápice de sua carreira literária e diplomática. Imortal, foi sepultado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras noCemitério de São João Batista na cidade do Rio de Janeiro.[3]
As questões existenciais e religiosas impactaram a obra de Rosa. De acordo com a poetisaDora Ferreira da Silva, interlocutora de Rosa, junto com seu marido, o filósofoVicente Ferreira da Silva, Rosa afirmara que “[era] só religião, [mas] alheio a qualquer associação ou organização religiosa”.[10]
Guimarães Rosa também seria incluído nocânone internacional a partir doboom da literatura latino-americana pós-1950.[9] O romance entrara em decadência nosEstados Unidos (onde à época era vitrine da própria arte literária, concorrendo apenas com o cinema),[carece de fontes?] especialmente após a morte deLouis-Ferdinand Céline (1951),Thomas Mann (1955),Albert Camus (1960),Ernest Hemingway (1961),William Faulkner (1962). E, a partir deCem anos de solidão (1967), docolombianoGabriel García Márquez, aficção latino-americana torna-se a representação de uma vitalidade artística e de uma capacidade de invenção ficcional que pareciam, naquele momento, perdidas para sempre. São desse período escritores comoMario Vargas Llosa (Peru),Carlos Fuentes (México),Julio Cortázar (Argentina),Juan Rulfo (México),Alejo Carpentier (Cuba) e, mais recentementeÁngel Rama (Uruguai).
Foi o terceiro ocupante da cadeira 2, eleito em 6 de agosto de 1963, na sucessão deJoão Neves da Fontoura e recebido pelo acadêmicoAfonso Arinos de Melo Franco em 16 de novembro de 1967.[11]
| Precedido por João Neves da Fontoura | 1963 — 1967 | Sucedido por Mário Palmério |