AEspanha estava sem rei desde 1868, devido à abdicação deIsabel II, em virtude daRevolução de 1868 e asCortes —parlamento espanhol — ofereceram a coroa ao príncipe prussianoLeopoldo de Hohenzollern, primo do rei daPrússia,Guilherme I. UmHohenzollern no trono espanhol seria demais para a Europa antiprussiana.[2] O imperador francêsNapoleão III pressionou oReino da Prússia para impedir que o parente distante do rei prussiano assumisse o trono espanhol. O ministro do exército francês realizou, na câmara, um discurso indignado e belicoso contra a Prússia, o que gerou sentimentos antifranceses no sul daAlemanha.[3]
Oficiais alemães prestam homenagem aos prisioneiros franceses feridos, 1876 Édouard Detaille
O chanceler prussianoOtto von Bismarck e seus generais estavam interessados em uma guerra contra a França, pois esse país punha empecilhos à integração dosEstados do sul daAlemanha na formação de um novo país dominado peloReino da Prússia — oImpério Alemão. Bismarck preparara um poderoso exército e conhecia a situação precária do exército francês. Sabia também que, se fosse atacado pelos franceses, teria o apoio dos estados alemães do Sul e, derrotando a França, já não haveria nenhum obstáculo a seu projeto de unificar a Alemanha. Por outro lado, os conselheiros de Napoleão III asseguraram-lhe que o exército francês era capaz de derrotar os prussianos, o que restauraria a declinante popularidade do imperador, perdida em consequência das muitas derrotas diplomáticas sofridas.
Bismarck também sabia da superioridade de seu poderio militar sobre o exército francês. Todavia, antes de o conflito começar,Napoleão III, temendo a expansão prussiana, protestou e exigiu do rei da Prússia a renúncia do príncipe Leopoldo, que desistiu de disputar o trono espanhol.
Napoleão III, ainda não satisfeito, e para agradar àopinião pública francesa, exigiu novas garantias de que jamais um membro de sua família ocuparia o trono espanhol. Apesar deGuilherme I aceitar todas as condições impostas pelo imperador francês, este último insistia que o rei deveria dar estas garantias e negociar pessoalmente com o embaixador Benedetti da França. O rei prussiano, que anteriormente atendera a todas as reivindicações de Napoleão III, refutou ter que negociar e dar novas garantias ao embaixador francês. EmParis, a atitude do rei prussiano foi tida como uma ofensa ao orgulho nacional da França e ao povo francês.
Finalmente, França e Prússia entraram em guerra em 1870. A guerra em si foi provocada por Bismarck, que habilmente insultou a França e alterou uma indiscutível mensagem de seu rei (otelegrama de Ems — telegrama que Napoleão III enviou ao rei Guilherme I da Prússia),[2] que buscava justamente dar fim à crise.
APrússia desde logo contou com o apoio dos estados germânicos do Sul na sua luta contra aFrança. As forças alemãs estavam unificadas sob o comando supremo deGuilherme I que contava com o grande estrategistaHelmuth von Moltke como chefe doEstado-Maior. À frente das tropas francesas encontrava-sePatrice Mac-Mahon.
Exércitos prussianos avançaram para dentro da França. A eficácia da ofensiva alemã contrastou com a ineficiência da mobilização francesa. As forças francesas foram expulsas daAlsácia, enquanto a divisão de exército francês, comandado pelo generalFrançois Achille Bazaine, foi obrigada a se retirar deMetz.
Em1 de setembro, os franceses tentaram inutilmente romper o cerco e, em2 de setembro, Napoleão, Mac-Mahon e 83 000 soldados renderam-se aos alemães. Napoleão III foi capturado e, desacreditado aos olhos dos franceses, deixou de ser imperador.
A resistência francesa prosseguiu sob um novo governo de defesa nacional, que assumiu o poder emParis em4 de setembro, depois de dissolver aAssembleia Nacional, proclamar a deposição do imperador e estabelecer arepública. Bismarck recusou-se a assinar a paz e, em19 de setembro, começou o cerco aParis. No dia19, os alemães começaram a sitiar Paris.[3] O novo governo dispôs-se a negociar com Bismarck, mas suspendeu as conversações quando soube que os alemães exigiam aAlsácia e aLorena. O principal líder do novo governo,Léon Gambetta, fugiu de Paris numbalão, estabelecendo um governo provisório na cidade deTours para reorganizar o exército no interior. A partir daí seriam organizadas 36 divisões militares, todas destinadas ao fracasso.
Esperanças de um contra-ataque francês dispersaram-se quando o marechalFrançois Achille Bazaine, com um exército de 173 000 homens, apresentou sua rendição, emMetz, no dia27 de outubro.[1]
A capitulação oficial deParis ocorreu em28 de janeiro de1871.Louis Adolphe Thiers, velho político francês, foi eleito pela assembleia como chefe doexecutivo e solicitou umarmistício aos prussianos, o qual foi concedido por Bismarck. O armistício incluía a eleição de uma assembleia nacional francesa que teria a autoridade de firmar uma paz definitiva. AAssembleia Nacional Francesa reuniu-se emBordéus, em13 de fevereiro, nomeando Louis Adolphe Thiers o primeiro presidente daTerceira República Francesa. O acordo, negociado por Thiers, foi assinado em26 de fevereiro e ratificado em1.º de março. A população de Paris, entretanto, recusou-se a depor as armas e, em março de1871, revoltou-se, estabelecendo um breve governo revolucionário, aComuna de Paris.
O governo francês assinou, em 10 de maio de 1871, oTratado de Frankfurt, pondo fim à guerra entre aFrança e aPrússia. Neste documento ficava estabelecido que, por direito de guerra e pela população daAlsácia-Lorena ser de maioria germânica, a província francesa daAlsácia e parte daLorena (até mesmoMetz) passariam para o domínio doImpério Alemão. Devido aos grandes danos causados à Prússia, a França foi obrigada a pagar uma indenização de guerra de cinco bilhões de francos de ouro e a financiar os custos da ocupação das províncias do norte pelas tropas alemãs, até o pagamento da indenização. Em troca, foram libertados 100 milprisioneiros de guerra franceses, os quais foram admitidos nas linhas prussianas para reprimir aComuna de Paris. Depois de dois meses de luta sangrenta, a comuna foi esmagada pelas tropas deLouis Adolphe Thiers.
A onerosa obrigação francesa só foi cumprida em setembro de 1873. Naquele mesmo mês, as tropas alemãs abandonaram a França, depois de quase três anos de ocupação.
A derrota daFrança, comandada pelo general francêsPatrice Mac-Mahon, deu-se por ser o exército prussiano maior e estar mais bem organizado para a guerra. Enquanto oscanhões franceses eram carregados pela boca, osprussianos tinham os famososKrupp, de aço, carregados pelaculatra, o que possibilitava tiro mais rápido. Paris resistiu o quanto pôde aos prussianos, mas capitulou após quatro meses, por causa da fome.
Logo a Prússia mostrou-se preparada o suficiente para encurralar a França em seu próprio território. Os franceses perderam em todas as frentes, o que sucedeu na esmagadora vitória naBatalha de Sedan (1 de setembro de 1870), na qual o próprio imperador francês foi feito prisioneiro. No dia 2 de setembro de 1870, concluiu-se a batalha de Sedan, onde a cavalaria francesa resistiu bastante, a ponto do reiGuilherme I admirar a bravura com que estes lutaram. Porém, Napoleão III viu que era inútil sacrificar tantos soldados seus, e mandou hastear a bandeira branca, e entregou sua espada, ficado prisioneiro do rei prussiano. Dois dias depois, a república seria proclamada em Paris. No dia 20 de setembro, os prussianos cercavam Paris. Perante esta situação, o governo de Defesa Nacional (republicano, em funções desde 4 de setembro, quando Napoleão III foi deposto) assinou a rendição. NaTratado de Frankfurt, 10 de maio de 1871, a França, para além de pagar uma pesada indenização de 5 bilhões de francos para a Prússia, entregava o rico território daAlsácia-Lorena, de maioria germânica e rico em carvão e hematita (minério de ferro), para o novoImpério Alemão.