Grigori Kulik | |
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Nascimento | 28 de outubro de 1890 Dudnykove |
Morte | 24 de agosto de 1950 Moscovo |
Cidadania | Império Russo,República Russa,União Soviética |
Etnia | ucranianos |
Alma mater | |
Ocupação | militar,político |
Distinções |
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Lealdade | União Soviética |
Comando | 1st Guards Motor Rifle Division, 3rd Rifle Corps, 54th Army (Soviet Union), 4th Guards Army, 10th Army, 14th Army,1.º Exército de Cavalaria Bolchevique, North Caucasus Military District |
Grigori Ivánovich Kulik (emrusso: Григо́рий Ива́нович Кули́к;Poltava,9 de novembro de1890 -Moscou,24 de agosto de1950) foi um comandante militarsoviético emarechal da União Soviética.
Nascido em uma família de camponeses perto de Poltava, naUcrânia, Kulik juntou-se aoexército doImpério Russo naPrimeira Guerra Mundial. Mais tarde ele se juntou aoPartido Bolchevique, em 1917, e aoExército Vermelho, no ano seguinte. Durante aGuerra Civil Russa, ele se tornou comandante da artilharia soviética.
Em 1937 Kulik tornou-se comandante da Direção Principal de Artilharia do Exército Vermelho, e permaneceu comandante das forças de artilharia soviéticas até 1941. Considerado um stalinista bajulador e um conservador militar radical, ele posicionou-se fortemente contra as reformas propostas porMikhail Tukhachevski durante a década de 1930. Por essa razão, ele sobreviveu aoGrande Expurgo deJosef Stalin e, em 1939, tornou-seComissário do Povo para Defesa, participando também da ocupação soviética daPolônia, em setembro. Ele comandou o ataque de artilharia soviético no início daGuerra de Inverno, e mais tarde foi premiado com o título deHerói da União Soviética, em reconhecimento por seus "serviços excepcionais para o país e coragem pessoal".[1] Como amigo de Stalin, Kulik conseguiu convencê-lo a poupar mais de 150 mil prisioneiros poloneses da execução durante omassacre de Katin.
Em 8 de maio de 1940, Kulik foi nomeado Marechal da União Soviética, juntamente comSemion Timoshenko eBoris Shaposhnikov. Apesar de sua reputação como um oficial incompetente, sua amizade com Stalin o protegia das críticas.
Kulik começou sua carreira servindo com distinção mínima comooficial não-comissionado de artilharia doexército czarista. No início daGuerra Civil Russa, sua amizade com obolcheviqueKliment Voroshilov fez com que ele se juntasse àsforças vermelhas, resultando em uma introdução pessoal aJosef Stalin e no comando da artilharia do1º Exército de Cavalaria (co-liderado por Stalin e Voroshilov), naBatalha de Tsaritsin, em 1918.
Sua posição era quase inteiramente de natureza política, uma recompensa pela entrada de Kulik nos Vermelhos e sua lealdade a Voroshilov. O próprio Kulik não tinha nenhuma experiência em comandar equipes de artilharia, e toda a força de artilharia bolchevique em Tsaritsin consistia de 3 peças obsoletas de artilharia. Apesar de ter pouco ou nenhum efeito perceptível no resultado da batalha, a performance de Kulik de alguma forma impressionou muito Stalin.
Depois da guerra civil, Kulik continuou como um dos generais favorecidos e politicamente mais confiáveis de Stalin, e ele comandou pessoalmente ainvasão da Polônia em 1919. Seu desempenho ruim resultou na sua substituição porSemion Budyonni. Imperturbável, Stalin promoveu Kulik ao cargo de primeiroVice-Comissário do Povo para a Defesa, subordinado a Voroshilov.
A amizade de Kulik com Voroshilov, um dos únicos dois dos cinco marechais originais a sobreviver aoGrande Expurgo, resultou na sua nomeação como chefe do Diretório Principal de Artilharia, em 1935. Responsável por supervisionar o desenvolvimento e a produção de novostanques e peças de artilharia, seu desconhecimento do tema sob sua chefia, juntamente com sua personalidade abusiva e tendência em condenar avanços tecnológicos como "sabotagem burguesa", foram um sério obstáculo para a modernização do Exército Vermelho antes da guerra com a Alemanha.
Kulik manteve suas opiniões sobre o Exército Vermelho como em 1918, a última vez que ele teve um comando de campo. Ele condenou quase todos os grandes avanços em tecnologia ou doutrina depois dessa época, muitos dos quais foram posteriormente adotados e provaram ser inestimáveis na vitória soviética durante aSegunda Guerra Mundial.
Notadamente, ele denunciou os esforços do marechal Tukhachevski, em reestruturar as forças mecanizadas do Exército Vermelho em unidades independentes, como aPanzerkorps daWehrmacht alemã. A criação de divisões separadas permitiu aos soviéticos tirassem proveito de sua maior mobilidade emoperações em profundidade do tipoguerra de manobra, explorando rapidamente os avanços em vez de simplesmente ajudar a infantaria.
Sentindo corretamente que Stalin considerava novas ideias ameaças potenciais à sua autoridade, Kulik argumentou com sucesso contra a mudança, sugerindo numa carta a Stalin que tais atitudes mostravam uma simpatia ideológica insalubre com a "ideologia fascista degenerada" de favorecer o fingimento e o engano ao invés de ataques frontais. As ideias pouco ortodoxas de Tukhachevski acabaram lhe custando a vida durante o Grande Expurgo, mas em menos de uma década o marechalGueorgui Júkov estava usando as mesmas técnicas com grande efeitona Manchúria, contra os japoneses. Essa experiência convenceria Stálin do seu valor, e seu uso durante aOperação Bagration teve efeitos muito positivos.
Também não ajudou que Kulik pessoalmente desprezasse tanques e veículos blindados, argumentando que eles eram inferiores aos cavalos e "nunca os substituiriam". Em um episódio conhecido, ele criticou o apoio dado por seu amigo, o marechal Voroshilov, à produção detanques T-34 eKV-1, que mais tarde provaram ser instrumentos para a sobrevivência da URSS. Depois que sua crítica foi rejeitada por Stalin, e ele foi ordenado a produzir os tanques, Kulik começou a atrasar deliberadamente a produção de munição e armas, resultando em uma escassez drástica de munições de 76,2 mm. No início da guerra, não mais do que 12% dos tanques T-34 e KV-1 tinham carga total de munição; poucos tinham qualquer munição antitanque, a maioria não tinha mais do que alguns projéteis explosivos, e um número chocante de tanques dependia apenas de suas metralhadoras coaxiais, não possuindo cartuchos de 76,2mm.[2] Muitos tanques T-34 eKV-1 foram enviados para a batalha insuficientemente armados e, eventualmente, tiveram que ser abandonados por suas tripulações quando ficaram sem munição.
De particular interesse foi a intromissão de Kulik no armamento dostanques T-34 e KV-1 antes e durante o período inicial da guerra com a Alemanha. Já contrário aos tanques, Kulik se opôs à adoção da arma F-34 projetada por P. Muraviev do escritório de design de Vasili Grabin. A F-34 provou ser muito mais eficaz e mais barata do que o canhão L-11 de 76,2mm projetado pelaFábrica Kirov, mas como patrono político desta última Kulik foçou a sua adoção. Essa decisão de curta visão acabou exigindo mudanças apressadas nas armas dos tanques KV-1 e T-34 no meio da invasão alemã, quando se tornou evidente que a arma L-11 não era capaz penetrar nem mesmo a blindagem doPanzer III. A crise foi mitigada pela desobediência de Grabin: com o endosso de inimigos políticos de Kulik, ele secretamente ordenou a fabricação de um estoque de reserva de canhões F-34, prevendo corretamente que eles seriam necessários e que a decisão seria finalmente endossada por Stalin, uma vez que se provasse em batalha. Grabin provou-se correto, e embora Kulik tenha tentado denuncia-lo, ele acabou silenciado por numerosas cartas de tripulantes de tanques enviadas a Stalin, elogiando a nova arma.
Kulik também desaconselhou o uso decampos minados como medida defensiva, argumentando serem incompatíveis com uma estratégia propriamente agressiva e "uma arma dos fracos". Essa decisão desastrosa permitiu o movimento essencialmente livre das forças alemãs através das linhas defensivas russas durante aOperação Barbarossa. Ele também apoiou fortemente as recusas de Stálin em autorizar retiradas, e isso permitiu que muitas divisões soviéticas fossem cercadas e aniquiladas, ou rendessem-se em massa aos alemães. Após o rebaixamento de Kulik, a instalação de múltiplas camadas deminas antitanque permitiu tanto a defesa bem-sucedida deLeningrado duranteo cerco alemão, quanto o ataque bem-sucedido às forças blindadas alemãs muito mais fortes, naBatalha de Kursk.
Kulik similarmente desconsiderou a produção alemã dasubmetralhadoraMP-40 e sua distribuição às suas tropas de choque, dizendo ser uma "afetação fascista burguesa" que encorajava a imprecisão e o consumo excessivo de munição. Ele proibiu a entrega de submetralhadorasPPD-40 às suas unidades, afirmando que ela era adequada apenas como uma "arma policial". Somente em 1941 as restrições de Kulik foram anuladas, e uma simples modificação do processo de fabricação da PPD-40 permitiu a produção daPPSh-41, que se mostrou uma das mais amplamente produzidas, baratas e eficazes armas de pequeno porte da guerra. De fato, ela era considerada por muitos soldados de infantaria alemães como sendo superior à MP-40.
Enfim Kulik se recusou a aprovar a produção do inovador sistema deartilharia de foguetesKatiusha, simplesmente por não confiar em outra coisa além da artilharia puxada por cavalos da época da Primeira Guerra Mundial. Embora lançadores de foguete pudessem ter sido produzidos muito antes na guerra, Kulik barrou o seu desenvolvimento. Como com outras inovações rejeitadas por ele, o "órgão de Stalin" provou ser uma das invenções soviéticas mais eficazes da guerra, e um grande avanço na tecnologia de artilharia.
Quando aAlemanha invadiu a URSS em junho de 1941, Kulik recebeu o comando do 54º Exército naFrente de Leningrado.[3] Aqui sua incompetência tornou-se visível, e ele presidiu as derrotas soviéticas que resultaram nocerco a Leningrado. Isso levou o generalGueorgui Júkov a ser chamado às pressas, a fim de estabilizar as defesas e assumir o comando local.
Júkov afirma que Kulik "foi demitido do seu comando, e aStavka colocou o 54º Exército sob o comando da Frente de Leningrado" em 29 de setembro de 1941.[4] Em 22 de junho, as Indústrias de Defesa e a Diretoria de Artilharia foram transferidas de Kulik para um diretor de fábrica de 32 anos,Dmitrii Ustinov. Em março de 1942, Kulik foi submetido a umacorte marcial e rebaixado ao posto demajor-general. Sua amizade com Stalin salvou-o do pelotão de fuzilamento, então o destino dos generais soviéticos derrotados. Em abril de 1943, ele tornou-se comandante do 4º Exército da Guarda, e de 1944 a 1945 ele foi vice-diretor do Diretório de Mobilização e Comandante do Distrito Militar do Volga.
Kulik era considerado um comandante e burocrata notoriamente abusivo e ineficaz, imprevisível e violento em suas ações. Ele defendeu um estilo de comando que ele apelidou de "cadeia ou medalha": aqueles que ele comandou recebiam muitos prêmios e decorações se eles o favorecessem, ou eram presos e enviados aoGulag sob falsas acusações, se ele não o fizesse. Embora práticas desse tipo fossem relativamente comuns dentre os burocratas stalinistas, a influência de Kulik nas fábricas de armas e departamentos de design estatais resultou em grande interrupção na produção soviética.
Apesar de sua reputação como um oficial incompetente, sua amizade com Stalin o protegia das críticas. Contudo, ele não pôde proteger sua esposa, Kira Simonich, que dois dias antes da promoção de Kulik fora presa sob as ordens de Stalin e posteriormente executada porVasili Blokhin.[5]
Uma das poucas ações históricas positivas relacionadas a Kulik foi sua defesa bem-sucedida das vidas de mais de 150 milprisioneiros de guerra poloneses capturados durante ainvasão da Polônia em setembro de 1939. Stalin, preocupado com a invasão da Alemanha nazista, ordenou que todos os poloneses capturados fossem executados como potenciaisquinto-colunistas. Sua decisão foi apoiada porLev Mékhlis, eLavrenti Beria, mas Kulik, comandante da Frente Polonesa, argumentou duas vezes com Stalin para sua libertação, e acabou convencendo-o a executar apenas oficiais. Assim, mais de 150 mil homens comuns alistados foram libertados.
Apesar dos protestos de Mékhlis e Beria, esses homens foram devidamente libertados. Os 26 mil oficiais restantes foram executados menos de um mês depois (muitos deles pelo carrasco doNKVD,Vasili Blokhin) noMassacre de Katin.[6]
Anos depois de sua nomeação como chefe de artilharia (e seu desempenho pobre em duas guerras separadas),Nikita Khrushchev questionou sua competência a Stalin, mas acabou repreendido: "Você nem conhece Kulik! Eu o conheço da guerra civil, quando ele comandou a artilharia em Tsaritsin. Ele conhece a artilharia!"[7]
Depois da guerra, Stalin iniciou uma nova rodada de expurgos militares. Kulik foi demitido de seus cargos em 1946, depois que delatores doNKVD o ouviram dizer que os políticos estavam roubando o crédito dos generais. Preso em 1947, ele permaneceu na prisão até 1950, quando foi condenado à morte e executado por traição. Sua memória foi reabilitada porNikita Khrushchev em 1956, e ele foi postumamente restaurado ao posto de marechal daURSS.