Com aSeleção Italiana foi campeão mundial em1934 (onde foi eleito o melhor jogador da competição) e1938 (como capitão da equipe), sendo um dos dois únicos titulares em ambos os títulos (ao lado deGiovanni Ferrari), detendo por quarenta anos o recorde de artilharia pelaAzzurra.[3]
Meazza jogou nos três maiores clubes italianos, o que inclui os dois de sua cidade-natal,Internazionale eMilan, além daJuventus, deTurim. Nas rivalidades envolvendo o trio, destacou-se como o maior artilheiro doclássico entre Inter e Juventus (doze gols), embora tal rivalidade só tenha florescido nadécada de 1960;[4] e segundo maior artilheiro doclássico de Milão (treze gols, apenas um a menos que o do recordistaAndriy Shevchenko. Durante oséculo XX, Meazza foi o maior).[5] Foi apenas o segundo a jogar em todos esses três times e um dos cinco que pertenceram ao trio durante oséculo XX, quantidade que à altura de 2017 continuava seleta (apenas onze).[6]
Mesmo tendo passado pelos dois maiores rivais da Inter, tem sua imagem clubística mais apegada à equipe azul e preta, da qual ainda é o maior artilheiro.[6] Considera-se Meazza o segundo maior jogador da história interista, abaixo somente do longevoJavier Zanetti.[7] O estádio da cidade deMilão, oSan Siro, que também é o maior estádio do país, leva oficialmente o nome do craque dadécada de 1930.[8][3] A mudança ocorreu em 28 de outubro de 1979, justamente no primeiro clássico entre Internazionale e Milan após a morte de Meazza.[9]
Marcou época também por suas fintas; sua jogada característica era provocar os goleiros adversários quando ficava sozinho de frente para eles, chamando-os em sua direção, para driblá-los e completar para o gol vazio.[10] Além dos dribles, também tinha uma finalização precisa;[3] mesmo atualmente, um gol concluído após jogada individual no qual o jogador livra-se do goleiro e de outros adversários é chamado na Itália de "gol à Meazza".[2] Similarmente, o tempo em que jogou costuma ser referido como "os anos Meazza" pelos italianos.[10] Fora dos campos, era vaidoso,bon-vivant[2] e boêmio, chegando a frequentar bordéis horas antes de algumas partidas.[3]
Aos dezessete anos, começou a carreira, naInternazionale. Logo o centroavante firmou-se como titular,[10] sendo artilheiro do campeonato na temporada 1929–30, com 31 gols, e o clube, campeão pela primeira vez do campeonato na era profissional, no formato daSerie A.[3] Voltaria a ser artilheiro nas temporadas 1935–36 e 1937–38, temporada esta em que foi novamente campeão. Nesse período, foi um dos únicos presentes em ambos os títulos daSeleção Italiana no bicampeonato seguido daCopa do Mundo FIFA.[3] Na época, por pressãofascista, a Internazionale, cujo nome era visto como possível referência àInternacional Comunista, precisou chamar-se Ambrosiana a partir de 1929, e de Ambrosiana-Inter a partir de 1931.[8]
O grande adversário da época, impedindo que Meazza acumulasse mais títulos em tempos de poucos torneios internacionais de clubes, era aJuventus, pentacampeã italiana nadécada de 1930.[2] A rivalidade entre os dois clubes só cresceria a partir dadécada de 1960, mas Meazza está nos registros do chamadoDerby D'Italia por ser o primeiro dos três jogadores que já conseguiram marcar três gols em um só encontro entre os dois (Franco Causio eAlessandro Altobelli foram os outros), em um 4 a 0 na vitoriosa temporada 1935–36. Dos doze gols que Meazza fez nesse duelo, dez foram pela Inter. Ele ainda é o maior artilheiro do clássico, ao lado deRoberto Boninsegna, que também jogou pelos dois.[4]
Meazza também destacou-se noclássico entre Internazionale o Milan, com doze gols acumulados pelos dois lados, sobretudo pela Inter, sendo o maior artilheiro da rivalidade milanesa até ser superado em um gol porAndriy Shevchenko.[5] Ele iria ao Milan em 1940, após a conquista de novo título italiano com a Inter. Meazza já não vinha jogando regularmente nosnerazzurri; lesões lhe tiravam o espaço da equipe desde a temporada anterior, com seu pé esquerdo tendo problemas de fluxo sanguíneo. Chegou a passar um ano inteiro parado até ter sua saída decretada.[6] Ganhou ainda a primeiraCopa da Itália interista, em 1939.[3]
Deixou a equipe, mas não saiu deMilão, uma vez que se transferiu para o arquirrivalMilan, então chamadoMilano também por orientação fascista, que pregava o nacionalismo dalíngua italiana (o termo "Milan" vem dalíngua inglesa, idioma dos fundadores do clube).[8] Meazza foirossonero por duas temporadas, mas não conseguiu títulos: no máximo, um vice naCopa da Itália de 1942, perdida contra um antigo rival dos tempos de Inter, aJuventus. Foram apenas nove gols, sem conseguir êxito na outra força milanesa.[6]
Para a própria Juventus iria em seguida, ficando a temporada de 1942–43 na equipebianconera, conseguindo razoáveis 10 gols em 27 partidas do campeonato italiano, mas sem conquistá-lo. ASegunda Guerra Mundial, a interromper o campeonato com o agravamento do conflito em solo italiano, também brecou sua recuperação.[6] No ano de 1944, jogou por uma equipe dos arredores deMilão, oVarese, onde manteve a média de gols. A temporada 1945–46 o viu novamente vestir um uniformenerazzurro, mas o daAtalanta, onde já demonstrou sinais de decadência. Atuou simultaneamente como jogador e técnico da equipe deBérgamo.
A temporada seguinte, a de 1946–47, foi a sua última, jogando novamente pela sua queridaInternazionale, que recuperara o nome original após a queda do fascismo naSegunda Guerra Mundial. Também atuou como técnico, permanecendo exclusivamente na nova função até a temporada seguinte.
Meazza retratado entre 1930 e 1933 com a camisa daItália.
Meazza estreou pelaItália em 1930, logo marcando dois gols, na partida contra aSuíça.[10] Eles seriam essenciais em sua afirmação, pois o técnicoVittorio Pozzo o escalara no lugar deAttila Sallustro, ídolo doNapoli, fazendo com que três mil napolitanos indignados se prestassem a ir aRoma ver a partida apenas para vaiar o novato toda vez que ele tocasse na bola.[11] Após sair perdendo por 2-0, os italianos viraram a partida com Meazza marcando os dois últimos gols.[11]
Em 1933, o até então centroavante Meazza foi recuado por Pozzo para a posição de meia,[10] ideia que se mostrou produtiva: naCopa do Mundo de 1934, a primeira jogada pelaAzzurra, que também foi a anfitriã, o país foi campeão com Meazza no meio e o artilheiroAngelo Schiavio na frente.[10]
Mesmo recuado, anotou duas vezes na Copa: na estreia, em que os italianos massacraram por 7-1 osEstados Unidos; e no jogo-desempate das quartas-de-final, contra a forteEspanha. A partida extra era a regra prevista na época para decidir jogos empatados após prorrogação: no primeiro jogo contra os espanhóis, o resultado em 1-1 prolongou-se até o fim dos 120 minutos, sendo bastante extenuante para Meazza, que desmaiou após a partida.[12]
Mesmo saído carregado, voltou a campo no dia seguinte, quando realizou-se o jogo-desempate. E foi dele o gol salvador, em cabeçada indefensável para o goleiroJoan Josep Nogués,[13] em lance de muita malandragem: embora não lhe faltasse impulsão apesar da baixa estatura, apoiou-se nas costas de um colega para conseguir cabecear.[10] O gol foi o único da nova partida, permitindo aos italianos avançar no torneio.
Naquele mesmo ano, os italianos foram convidados pelaSeleção Inglesa para um embate. Isto fazia parte da mentalidade inglesa: a seleção recusava-se a jogar mundiais, proclamando-se a melhor do mundo e convidando adversários que se declarassem os melhores. As contínuas derrotas dos oponentes mantiveram essa postura, que só viria a se alterar após as derrota de 6 a 3 emWembley para os "mágicos magiares" daHungria no início dadécada de 1950, no que foi a primeira derrota inglesa em casa para equipes não-britânicas.[14] Nesse contexto, Meazza e os italianos conseguiram um resultado honroso para a época: a Inglaterra abriu 3 a 0 no primeiro tempo. No segundo, Meazza, mesmo em um gramado lamacento ocasionado pela chuva noestádio de Highbury, diminuiu a contagem para 3 a 2, e só não empatou por causa da trave.[10]
Quatro anos depois, o craque participou da segunda Copa da Seleção Italiana, agora como capitão do elenco. Nomundial de 1938, Meazza marcou um único gol, de pênalti: foi nas semifinais, contra oBrasil, convertendo a famosa penalidade ocasionada pela falta deDomingos da Guia emSilvio Piola mesmo com um curioso contratempo: quando estava pronto para chutar, o cordão que segurava sua calça rompeu-se. Como não havia tempo para trocá-lo, Meazza cobrou o pênalti segurando o calção com a mão direita, desajeitado, para os risos da plateia.[15]
Posteriormente, na vitoriosa final contra oshúngaros, era, ao lado de seu colega de Ambrosiana-InterGiovanni Ferrari, um dos dois únicos remanescentes dos jogadores que participaram da final de 1934. Teve participação decisiva no segundo gol italiano: recebeu a bola do próprio Ferrari na grande área, fintou seu marcador e serviu paraSilvio Piola, da marca do pênalti, marcar.[16]
A atuação acabaria manchada para o público, após o fim do jogo: antes e depois de receber aTaça Jules Rimet do entãopresidente da França,Albert Lebrun, Meazza fez a saudação fascista, não se intimidando com as vaias do estádio. Até hoje, é o único capitão da equipe campeã de uma Copa que foi vaiado ao receber o troféu.[17] AAzzurra já havia escandalizado os franceses quando enfrentou a própriaSeleção Francesa, nas quartas-de-final: como a anfitriã França também usa azul, a Itália jogou com seu uniforme secundário, utilizando vestimentas pretas, a cor-símbolo dofascismo. Na ocasião, Meazza e os demais jogadores ainda cumprimentaram as tribunas com a saudação fascista antes da partida, também recebendo assobios da torcida.[18]
Meazza fez sua última partida pela Itália no ano seguinte. Despediu-se como o maior artilheiro daAzzurra, com 33 gols, só tendo sido superado posteriormente porLuigi Riva,[10] cerca de quarenta anos depois.[3]
Ele, que tivera experiências como treinador no final da carreira de futebolista, seguiu por um tempo na nova função, chegando a treinar aSeleção Italiana e a equipeturca doBeşiktaş. Foi um dos primeiros italianos a treinar equipes estrangeiras. Como técnico na Internazionale, descobriuSandro Mazzola, grande artilheiro do clube nadécada de 1960.[7]
Meazza faleceu em 1979, a dois dias de completar 69 anos. OEstádio San Siro, deMilão e o maior do país, foi imediatamente rebatizado Stadio Giuseppe Meazza, em homenagem justa a um dos maiores jogadores italianos da primeira metade doséculo XX e um dos mais célebres a ter jogado nas duas grandes equipes da cidade, onde ele também nasceu.[8] A mudança foi oficializada exatamente no primeiroclássico entre Internazionale e Milan após a morte do ídolo.[9] É comum ser divulgado que, por ter Meazza se destacado mais na Inter, é pela torcida interista que o estádio é mais comumente chamado pelo nome oficial, ao passo que os milanistas em geral ainda preferem usar o nome "San Siro" para referir-se ao estádio.[8][19]
Há, porém, quem tenha desmistificado um pouco essa versão para o uso difundido do "nome duplo", sustentando que na realidade apenas uma pequena e mais fanática parcela dos torcedores da Inter usam o nome oficial; segundo tal apuração, a maioria da própria torcidanerazzurra não é intransigente e usa cotidianamente o nome popular de "San Siro", o que seria até motivo de mágoa para a família do ex-jogador perante torcida e imprensa.[20]
↑abcdeBERTOZZI, Leonardo (set. 2009).Uma dupla de grife. Trivela n. 43. São Paulo: Trivela Comunicações, pp. 56-59
↑abPlacar mundial (12 out. 1979). Placar n. 494. São Paulo: Editora Abril, p. 38
↑abcdefghiO baixinho italiano (nov. 1999). Placar - Edição Especial "Os Craques do Século". São Paulo: Editora Abril, p. 99
↑abBERTOZZI, Leonardo (23 de agosto de 2010).«Meazza 100 Anos». Trivela. Consultado em 23 de agosto de 2010
↑GEHRINGER, Max (out. 2005).Equilíbrio total. Placar Especial "A Saga da Jules Rimet fascículo 2 - 1934 Itália". São Paulo: Editora Abril, p. 35
↑GEHRINGER, Max.Escalação estranha (out. 2005). Placar Especial "A Saga da Jules Rimet fascículo 2 - 1934 Itália". São Paulo: Editora Abril, p. 35
↑GEHRINGER, Max (jan. 2006).Ninguém segura a Hungria. Placar Especial "A Saga da Jules Rimet fascículo 5 - 1954 Suíça". São Paulo: Editora Abril, pp. 6-8
↑GEHRINGER, Max (nov. 2005).Derrota amarga. Placar Especial "A Saga da Jules Rimet fascículo 3 - 1938 França". São Paulo: Editora Abril, p. 38
↑GEHRINGER, Max.Os gols da final (nov. 2005). Placar Especial "A Saga da Jules Rimet fascículo 3 - 1938 França". São Paulo: Editora Abril, p. 41
↑GEHRINGER, Max (nov. 2005).Vaias para o capitão. Placar Especial "A Saga da Jules Rimet fascículo 3 - 1938 França". São Paulo: Editora Abril,p. 43
↑GEHRINGER, Max (nov. 2005).Fascistas. Placar Especial "A Saga da Jules Rimet fascículo 3 - 1938 França". São Paulo: Editora Abril, p. 36
↑MASSAROTTO, Fernanda C. (nov. 2009).Briga de famíia. Placar n. 1324. São Paulo: Editora Abril, pp. 102-103