Os historiadores retrataram-no como alguém pavoroso,[2] tanto por serariano como por se tornar dono deRoma e deCartago, duas das mais célebres cidades do mundo desse tempo, cidades que ele teria supostamente destruído, o que é falso em grande parte.
Foi escolhido rei em428, com a morte do seu meio irmãoGunderico. Brilhante e muito versado na arte militar, buscou o modo de aumentar o poder e a prosperidade do seu povo, que residia na época naHispania Bética e que havia sofrido os ataques dos mais numerososvisigodos. Assim, pouco depois de ascender ao trono, Genserico decidiu ceder a Hispania aos seus rivais, empregando para isso a poderosa frota criada no reinado do seu predecessor.
Depois de várias vitórias sobre uns defensores romanos fracos e divididos, fixaram-se com controle de um território que compreendia o atualMarrocos e o norte deArgélia,pondo sob assédio a cidade deHipona, que tomariam ao cabo de catorze meses de duros combates. No ano seguinte, o imperadorValentiniano III teve que reconhecer Genserico como soberano de todos estes territórios.
Em435, Genserico chegou a um acordo com o Império Romano pelo qual o reino vândalo passou a serfederado de Roma com a concessão daNumídia. Não obstante, em439 Genserico tomou a cidade deCartago, capturando a frota imperial ali atracada. Com este movimento fez os vândalos donos doMediterrâneo Ocidental, apoderando-se em seguida de bases marítimas de grande valor estratégico e comercial: asIlhas Baleares,Córsega,Sicília eSardenha. Roma, privada de uma das maiores zonas de produção cerealista do velho mundo, teve que comprar em seguida os grãos do norte da África para a sua própria provisão.
Os vândalos, sob Genserico,[Nota 1] derrubaram as muralhas de quase todas as cidades da África, para que os romanos não as tomassem de volta e usassem as muralhas como defesa;[3] apenas Cartago e algumas outras cidades permaneceram muradas.[4]
Em455, o imperador romanoValentiniano III foi assassinado, sucedendo-lhePetrônio Máximo. Genserico, considerando rompido o tratado de paz firmado com Valentiniano em442, desembarcou napenínsula Itálica e marchou sobre Roma, cuja população rebelou-se contra o novo imperador e o matou três dias antes que, em22 de abril de 455, os vândalos tomassem sem resistência a cidade. O saque subsequente não produziu uma destruição notável, se bem que os vândalos fizeram provisão de grande quantidade de ouro, prata e objetos de valor. Genserico levou consigoLicínia Eudóxia como refém aCartago, viúva de Valentiniano, e as suas duas filhas,Placídia eEudócia, que contrairia depois matrimônio com seu filho e sucessorHunerico.
Em468, o reino de Genserico teve que enfrentar ao último esforço militar conjunto das duas metades do Império Romano. Não obstante, o rei vândalo logra derrotar, frente aocabo Bon, a uma poderosa frota dirigida pelo que logo seria o imperadorbizantinoBasilisco. No verão de474, assinou a paz perpétua com Constantinopla, pela qual oImpério Bizantino reconheceu a soberania vândala sobre as províncias norte-africanas (Cirenaica,África Proconsular eMauritânia),Baleares,Sicília,Córsega e Sardenha.
Na sua política interna, Genserico tolerou ocatolicismo, apesar de ter exigido a conversão à doutrinaariana dos seus conselheiros mais próximos e procedeu a numerosos confiscos de bens daIgreja Católica, que se converteria assim numa poderosa força opositora à monarquia vândala. Debilitou em forma sangrenta a nobreza tradicional vândalo-alana, substituindo-a por uma corte leal à sua própria família e aumentou a pressão fiscal sobre a população à custa das famílias ricas de origem romana e do clero católico.
Em 474, Genserico fez a paz com o Império Romano do Oriente por meio de um tratado negociado pelo senador bizantino Severo, que agia sob a autoridade de Zenão.[5] Depois de desfrutar de poucos anos de paz, Genserico morreu emCartago em 25 de janeiro de 477, sucedido por seu filhoHunerico, que não tinha a reputação invejável de seu pai e a autoridade vândala começou a diminuir.[6] No entanto, a paz estabelecida por Zenão entre Cartago e Constantinopla, controlada por vândalos, durou até 530, quando as conquistas de Justiniano a quebraram.[7]
↑"o terrível Genserico cujo nome merece ser colocado com os deAlarico eÁtila, o Huno na história da destruição do Império Romano",Histoire de la décadence et la chute de l'Empire romain, Edward Gibbon, Bouquins T.1, p.984.
↑CONANT, Jonathon (2012).Staying Roman: Conquest and Identity in Africa and the Mediterranean, 439–700. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 32.ISBN978-0-52119-697-0
↑MERRILLS, Andy; MILES, Richard (2010).The Vandals. [S.l.]: Wiley-Blackwell. p. 123-126.ISBN978-1-44431-807-4
↑KULIKOWSKI, Michael (2019).The Tragedy of Empire: From Constantine to the Destruction of Roman Italy. [S.l.]: The Belknap Press of Harvard University Press. p. 244.ISBN978-0-67466-013-7