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Friedrich Nietzsche

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Friedrich Nietzsche
Nietzsche em 1875.
Nome completoFriedrich Wilhelm Nietzsche
Escola/Tradição
Data de nascimento15 de outubro de1844
LocalRöcken,Saxônia,Reino da Prússia
Morte25 de agosto de1900 (55 anos)
LocalWeimar,Saxônia,Grão-Ducado de Saxe-Weimar-Eisenach,Império Alemão
Principais interesses
Ideias notáveis
Trabalhos notáveisAssim Falou Zaratustra
EraFilosofia contemporânea
Influências
Influenciados
Alma mater
Assinatura

Friedrich Wilhelm Nietzsche (Röcken,Reino da Prússia,15 de outubro de1844Weimar,Império Alemão,25 de agosto de1900) foi umfilósofo,filólogo,crítico cultural,poeta ecompositorprussiano doséculo XIX, nascido na atualAlemanha.[1] Escreveu vários textos criticando areligião, amoral, a cultura contemporânea, a filosofia e aciência, exibindo certa predileção pormetáfora,ironia eaforismo.[2][3]

Suas ideias-chave incluíam a dicotomiaapolíneo e dionisíaco, operspectivismo, avontade de poder, amorte de Deus, oÜbermensch e oeterno retorno. Sua filosofia central é a "afirmação da vida", que envolve o questionamento de qualquer doutrina que drene energias expansivas, não importando o quão histórica e socialmente predominantes sejam essas ideias.[4] Seu questionamento radical do valor e da objetividade da verdade tem sido extremamente debatido e sua influência continua a ser substancial, especialmente na tradiçãofilosófica continental compreendendoexistencialismo,pós-modernismo epós-estruturalismo. Suas ideias de superação individual etranscendência tiveram um impacto profundo sobre diversos pensadores entre o final do século XIX e o início do século XX, que usaram tais conceitos como pontos de partida para suas próprias filosofias.[5][6]

Nietzsche começou sua carreira como filólogo clássico — um estudioso da crítica textual grega e romana — antes de se voltar para a filosofia. Em 1869, aos vinte e quatro anos, foi nomeado para a cadeira de Filologia Clássica naUniversidade de Basileia, a pessoa mais jovem a ter alcançado esta posição.[7] Em 1889, com quarenta e quatro anos de idade, sofreu umcolapso mental. O incidente foi posteriormente atribuído àparesia geral atípica devido àsífilis terciária, mas esse diagnóstico tem sido enfrentado pelos leitores e estudiosos da obra de Nietzsche.[8] Nietzsche viveu seus últimos anos sob os cuidados de sua mãe até a morte dela em 1897. Depois, caiu sob os cuidados de sua irmã,Elisabeth Förster-Nietzsche, até morrer em 1900.[9]

Como sua cuidadora, sua irmã assumiu o papel de curadora e editora de seus manuscritos. Elizabeth era casada com um proeminente nacionalista eantissemita alemão,Bernhard Förster, e retrabalhou escritos inéditos de Nietzsche para adequá-los à ideologia de seu marido de maneira contrária às opiniões expressas por seu irmão, que estavam explicitamente opostas aoantissemitismo e ao nacionalismo. Através das edições de Förster-Nietzsche, o nome de Friedrich tornou-se associado aomilitarismo alemão e aonazismo, mas, desde o século XX, analistas literários vêm tentando neutralizar esse equívoco das ideias de Nietzsche.[10]

Biografia

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Juventude

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Friedrich Wilhelm Nietzsche ([ˈnə][11] ou[ˈnii][12]) nasceu em uma famílialuterana, em 15 de outubro de 1844. Filho de Karl Ludwig, seus dois avós eram pastoresprotestantes.[13] O próprio Nietzsche pensou em seguir a carreira de pastor, entretanto rejeitou a crença religiosa durante sua adolescência e o seu contato com a filosofia afastou-o da carreirateológica. Iniciou seus estudos no semestre de inverno de 1864-1865 naUniversidade de Bonn em filologia clássica e teologia evangélica. EmBonn, participou daBurschenschaft Frankonia, mas acabou abandonando-a em razão de sua participação atrapalhar seus estudos. Transferiu-se, depois, para aUniversidade de Leipzig: isso se deveu, acima de tudo, à transferência do professorFriedrich Wilhelm Ritschl (figura paterna para Nietzsche) para essa organização. Durante os seus estudos na Universidade deLeipzig, a leitura deSchopenhauer (O Mundo como Vontade e Representação, de 1820) veio a constituir as premissas da sua vocação filosófica. Aluno brilhante, dotado de sólida formaçãoclássica, Nietzsche foi nomeado, aos 24 anos, professor defilologia na Universidade deBasileia. Adotou, então, a nacionalidadesuíça. Desenvolveu, durante dez anos, a sua acuidade filosófica no contato com o pensamentogrego antigo, com predileção para osPré-socráticos, em especial paraHeráclito eEmpédocles. Durante os seus anos de ensino, tornou-se amigo deJacob Burckhardt eRichard Wagner. Em 1870, comprometeu-se como voluntário (médico)[14] naGuerra franco-prussiana. A experiência da violência e o sofrimento chocaram-no profundamente.

Com a pressão de ser jovem e ter que manter sua colocação como professor universitário, em 1872 Nietzsche publicaO Nascimento da Tragédia. O livro é recebido com críticas mordazes deUlrich von Wilamowitz-Moellendorff, filólogo de renome da época. Segundo o acadêmico, Nietzsche era a “desgraça de Schulpforta”, sendo Schulpforta uma escola preparatória de renome em que Nietzsche e ele próprio estudaram.[15]

Nietzsche em 1862

Em 1879, seu estado de saúde obrigou-o a deixar o posto de professor. Sua voz, inaudível, afastava os alunos. Começou, então, uma vida errante em busca de um clima favorável tanto para sua saúde como para seu pensamento (Veneza,Gênova,Turim,Nice,Sils-Maria: "Não somos como aqueles que chegam a formar pensamentos senão no meio dos livros — o nosso hábito é pensar ao ar livre, andando, saltando, escalando, dançando (…)." Em 1882, encontrouPaul Rée eLou Andreas-Salomé, a quem pediu em casamento. Ela recusou, após ter-lhe feito esperar sentimentos recíprocos. No mesmo ano, começou a escrever oAssim Falou Zaratustra, quando de uma estada em Nice. Nietzsche não cessou de escrever com um ritmo crescente. Este período terminou brutalmente em 3 de Janeiro de 1889 com uma "crise deloucura" que, durando até à sua morte, colocou-o sob a tutela da sua mãe e sua irmã. No início desta loucura, Nietzsche personificou alternativamente as figuras deDionísio eCristo, expressas em bizarras cartas, afundando, depois, em um silêncio quase completo até à sua morte. Uma lenda dizia que contraiusífilis. Estudos recentes defendem um diagnóstico detranstorno afetivo bipolar, manifesto desde sua adolescência, o que explicaria tanto suasdepressões como períodos de escrita intensa (grafomania), e mesmo sua criatividade literária e poética.[16] Após sua morte, sua irmã, Elisabeth Förster-Nietzsche e Peter Gast, dileto amigo do filósofo, segundo um plano de Nietzsche, datado de 17 de março de 1887, efetuaram umacoletânea de fragmentos póstumos para compor a obra conhecida como "Vontade de Poder".[17] Essa obra foi, amiúde, acusada de ser uma "deturpação nazista"; tal afirmação mostrou-se inverídica, frente às comparações com a edição crítica alemã, como denotaram os tradutores da nova tradução para o português,[18] e especialmente o filósofo Gilvan Fogel, que afirmou que "é preciso que se enfatize: os textos são autênticos. Todos são da cunhagem, da lavra de Nietzsche. Não foram, como já se disse e se insinuou, distorcidos ou adulterados pelos organizadores".[19]

Durante toda a vida, tentou explicar o insucesso de sua literatura, chegando à conclusão de que nascerapóstumo,[20] para os leitores do porvir.[21]:30-32 O sucesso de Nietzsche, entretanto, sobreveio quando um professor dinamarquês leu a sua obraAssim Falou Zaratustra e, então, tratou de difundi-la, em 1888.[22]

Muitos estudiosos da época tentaram localizar os momentos em que Nietzsche escrevia sob crises nervosas ou sob efeito de drogas.[23] Nietzsche estudou biologia e tentava descobrir sua própria maneira de minimizar os efeitos da sua doença.[24]

Colapso mental e morte (1889–1900)

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Foto de Hans Olde da sérieNietzsche adoecido,c. 1899

Em 3 de janeiro de 1889, Nietzsche sofreu umcolapso mental. O próprio teria testemunhado o açoitamento de umcavalo no outro extremo da Piazza Carlo Alberto, e então correu em direção ao cavalo, jogou os braços ao redor de seu pescoço para protegê-lo e, em seguida, caiu no chão.[25][26]

Nos dias seguintes, Nietzsche enviou escritos breves conhecidos comoWahnbriefe ("Cartas da loucura") para um número de amigos, comoCosima Wagner eJacob Burckhardt. Muitas delas assinadas como "Dionísio".[27]

Embora a maioria dos comentaristas considerem seu colapso como alheios à sua filosofia,Georges Bataille chegou a insinuar que sua filosofia pudesse tê-lo enlouquecido ("'Homem encarnado' também deve enlouquecer")[28] e a psicanálisepost mortem deRené Girard postula uma rivalidade de adoração com oRichard Wagner.[29]

Faleceu em 25 de agosto de 1900. Encontra-se sepultado emRöcken Churchyard,Röcken,Saxônia-Anhalt naAlemanha.[30]

Pensamento

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Ver artigo principal:Filosofia de Friedrich Nietzsche
Nietzsche ao lado de sua mãe

Acultura ocidental e suasreligiões, bem como amoral datradição judaico-cristã, foram temas recorrentes na obra de Friedrich Nietzsche. O filósofo foi alvo de intensas críticas na história dafilosofia moderna – em parte devido ao caráter aforístico e à complexidade de suascategorias conceituais –, o que frequentemente gera debates acerca dos limites entre interpretação literária e argumentação filosófica.[31]

Em 1874, Friedrich Nietzsche questiona o valor dahistória, relacionando-a a uma instância exterior, a vida, que ele qualifica então como não histórica. Em 1878, essa perspectiva é revista, quando ele propõe uma "filosofia histórica" que passa a identificar vida e história, possibilitando a construção de uma história dosvalores. Nesse contexto, Nietzsche aproxima-se doutilitarismo, perspectiva que ele critica e reelabora ao longo dos anos, como exemplificado emA Gaia Ciência (1882). Em 1887, o conceito degenealogia surge como uma nova abordagem histórica, na qual a análise crítica dos valores depende da superação do modelo utilitarista, constituindo também umaautocrítica ao seu pensamento anterior, como evidenciado na crítica aPaul Rée.[32]

Além disso, Nietzsche considerava ocristianismo e obudismo como “as duas religiões da decadência”, embora apontasse diferenças fundamentais entre elas – por exemplo, afirmando que o budismo seria "cem vezes mais realista que o cristianismo". Em seus escritos, o filósofo também manifesta uma posição pessoal em relação aoateísmo, como exemplificado emEcce Homo:[33]A crítica nietzschiana aoidealismo metafísico concentra-se na problematização das categorias e dos valores morais que, segundo ele, encobrem uma realidade mais primordial. Para isso, propõe agenealogia dos valores – uma abordagem que visa investigar as origens históricas e culturais dos conceitos morais.[34] Friedrich Nietzsche procurou despir os valores universalmente aceitos das ilusões e dos preconceitos que, segundo ele, serviram de alicerce àcivilização ocidental. Nesse sentido, tanto a moral tradicional – em especial a kantiana –, quanto a religião e a política, seriam máscaras que ocultam uma realidade profunda e, por vezes, ameaçadora.[35]

Sobre o tema daescravidão, há controvérsias na interpretação dos escritos nietzschianos. Alguns estudiosos apontam que o filósofo teria mencionado, em certos trechos, ideias que hoje podem ser lidas como compatíveis com uma visão aristocrática – chegando, inclusive, a fazer comparações relativas à aptidão para o trabalho braçal de diferentes povos.[36] Em um trecho específico, o filósofo afirma:

Cada elevação do "tipo homem" tem sido até agora obra de uma sociedade aristocrática e sempre será – uma sociedade que acredita em uma longa escala de de hierarquias e diferenças de valor entre os seres humanos; e exigindo a escravidão de uma ou outra forma.[37]

Nietzsche em agosto de 1868

Segundo Maudemarie Clark, essa passagem deve ser interpretada no contexto de uma crítica à moral que, segundo Nietzsche, legitima hierarquias sociais – interpretação que, entretanto, permanece objeto de debate entre os estudiosos.[38]

Para Nietzsche, a vida se mantém por meio de imbricações incessantes entre os seres, em uma luta constante em que vencedores podem, a qualquer momento, ser vencidos. Esse dinamismo é sintetizado na ideia davontade de poder, entendida não somente como domínio, mas como uma força vital que se manifesta na criatividade e na superação dos limites impostos pelas convenções.[31]Nesse sentido, não há meio-termo entre a aceitação plena da vida e a sua negação; o ideal nietzschiano consiste em arrancar as máscaras que distorcem a realidade, de modo a restituir à existência seu ritmo vital e exuberante.[35]

Nietzsche apresenta o ser humano como um “filho do húmus”, constituído de corpo e vontade, destinado não apenas a sobreviver, mas a vencer. Suas “virtudes” – como orgulho, alegria, saúde, vigor sexual e disciplina intelectual – seriam, portanto, atributos de uma elite criadora, enquanto ele rejeita qualquer concepção deigualitarismo ou doimperativo categórico proposto por Kant.[39]Em sua crítica aoracionalismo, Nietzsche denuncia uma razão que, ao impor limites à vida, aprisiona o potencial humano. Para ele, o mundo não se organiza segundo uma ordem ou estrutura racional, mas se caracteriza pela desordem – uma realidade que somente aarte pode transmutar embeleza.[31]

Ainda que reconheça pontos de convergência com pensadores comoKant ePlatão, Nietzsche enfatiza que a filosofia deve libertar o indivíduo das imposições que restringem sua autenticidade. Ele defende, assim, uma liberdade que implica a escolha consciente entre um conjunto de valores criados historicamente e uma moral mais instintiva e vital – uma tensão que ilustra sua rejeição tanto da moralidade tradicional quanto de modelos utópicos de emancipação.[39]

Para Kant, a razão – operando dentro de seus próprios limites – permitiria ao homem compreender-se e buscar a libertação. Em contraposição, Nietzsche entende que essa mesma razão aprisiona o espírito humano, transformando o processo de libertação em uma espécie de escravidão dos grilhões conceituais.[31]

Em sua busca por uma nova forma de filosofar, marcada por um caráterlibertário e pela superação dos condicionamentos históricos, Nietzsche propõe uma crítica radical àteleologia kantiana. Sua filosofia pressupõe que a verdadeira realidade não se encontra na conformidade a normas fixas, mas na expressão singular e instintiva da vida.[35] Nietzsche sustentava que a base racional da moralidade seria uma ilusão, descartando a noção de homem puramente racional. Para ele, o mundo é, antes de tudo, um fluxo de desordem e irracionalidade – onde a vida se revela na vivência do instante, sem as máscaras impostas por convenções artificiais.[31]

Übermensch

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Ver artigo principal:Super homem (filosofia)
Nietzsche em setembro de 1864

O conceito de Übermensch (em português, "Além-do-Homem" ou "Super-Homem") é apresentado por Friedrich Nietzsche em sua obraAssim Falou Zaratustra e se tornou um dos elementos mais emblemáticos de seu pensamento filosófico.[40]:12–15 O Übermensch representa o ideal do ser humano que transcende a moralidade convencional e cria seus próprios valores, rompendo com as normas impostas pela sociedade e pela religião.[41]:243–248

Para Nietzsche, o Übermensch não é um ser superior no sentido biológico ou racial, mas sim um indivíduo que afirma a vida em sua totalidade, aceitando tanto o sofrimento quanto o prazer como componentes inseparáveis da existência.[35]:208–210 Essa figura contrasta diretamente com oúltimo homem, um ser resignado, conformista e medíocre, que busca apenas o conforto e a segurança, evitando desafios e aspirações elevadas.[40]:78–80

O Übermensch está intimamente ligado ao conceito deeterno retorno, um experimento filosófico que propõe que a vida deve ser vivida de tal forma que o indivíduo desejaria reviver cada instante dela infinitamente.[42]:240 Nesse contexto, o Übermensch é aquele que aceita plenamente essa repetição eterna, transformando sua existência em uma obra de arte e criando novos valores que afirmam a vida, sem recorrer a princípiostranscendentais ouabsolutos.[43]:132–135

Nietzsche nunca define explicitamente o Übermensch, deixando-o como um ideal aberto a múltiplas interpretações. Enquanto alguns estudiosos o consideram um modelo ético e estético, outros o veem como uma crítica às aspirações utópicas ou absolutistas.[44]:45–48 Após a morte do filósofo, o conceito foi apropriado de forma distorcida por movimentos nacionalistas, notadamente pelonazismo, que o utilizou para promover ideias de superioridade racial. Essa apropriação foi fortemente incentivada por sua irmã,Elisabeth Förster-Nietzsche, que editou e manipulou as obras póstumas de Nietzsche, atribuindo-lhe um caráter antissemita que ele nunca endossou.[45]

No entanto, a leitura contemporânea do Übermensch tende a ressaltar seu caráter existencialista, focado na autonomia criativa, na autossuperação e na rejeição da moralidade herdada, reafirmando Nietzsche como um pensador que promove a liberdade individual e a reinvenção constante da existência.[46]:94–98

Niilismo

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Nietzsche em 1869

A questão doniilismo ocupa um lugar central na obra de Friedrich Nietzsche, sendo amplamente abordada em textos comoA Gaia Ciência,Assim Falou Zaratustra ePara Além do Bem e do Mal. Nietzsche define o niilismo como o reconhecimento de que os valores supremos perderam seu valor, ou seja, de que não há um fundamento objetivo que justifique os sistemas morais e metafísicos tradicionais.[42]:125 Essa crise emerge, segundo Nietzsche, com a "morte de Deus", um evento metafórico que marca o colapso das crenças religiosas e a emergência de um vazio existencial.

Para Nietzsche, o niilismo pode ser tanto passivo quanto ativo. No primeiro caso, há um sentimento de desesperança diante do vazio deixado pelo colapso dos valores tradicionais. No segundo, o niilismo assume um caráter afirmativo, em que o indivíduo cria seus próprios valores, rompendo com os dogmas estabelecidos.[47]

Diversos pensadores interpretaram Nietzsche como um defensor do niilismo, enquanto outros consideram que ele propôs uma superação do niilismo.Martin Heidegger argumenta que Nietzsche é o "último metafísico do Ocidente", pois, ao diagnosticar o niilismo, ele acaba reafirmando a lógica da metafísica ocidental, ainda que de forma crítica.[48] ParaWalter Kaufmann, por outro lado, Nietzsche não era um niilista no sentido tradicional, mas sim um crítico radical do niilismo passivo, propondo um "niilismo ativo" como forma de superá-lo e afirmar a vida.[35]:134–137

A partir dessa perspectiva, o niilismo em Nietzsche não seria um ponto de chegada, mas um processo de transição. Ele defende a criação de novos valores através da figura do Übermensch, um indivíduo que, em vez de sucumbir ao vazio, transforma a ausência de fundamentos objetivos em um impulso criativo.[46]:95–98

Controvérsias

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Nietzsche se mostrava crítico em relação às “ideias modernas” e à cultura de seu tempo. Para o filósofo, ideais comodemocracia,socialismo e certas formas deemancipação feminina refletiam, em sua visão, expressões de uma decadência do “tipo homem”. Essa perspectiva, ainda que controversa, o posiciona para muitos estudiosos como um precursor de debates que se estenderiam àpós-modernidade.[41]

A associação de Nietzsche com aAlemanha Nazista deve-se, em parte, à atuação deElisabeth Förster-Nietzsche, sua irmã simpatizante do regime, que procurou promover certos aspectos de seu pensamento para legitimar ideologias políticas. Conforme o próprioHeidegger – que teve uma relação complexa com o filósofo – "na Alemanha se era contra ou a favor de Nietzsche", evidenciando a instrumentalização de suas ideias em debates políticos posteriores.[49]Todavia, Nietzsche foi explicitamente crítico do antissemitismo – movimento que, posteriormente, se consolidaria no regime deAdolf Hitler e em seu entorno. EmA Genealogia da Moral, pode-se identificar sua oposição a interpretações que, a partir do ressentimento, incitassem a hostilidade contra determinados grupos sociais. Por exemplo, o filósofo declara:

Antes direi no ouvido dos psicólogos, supondo que desejem algum dia estudar de perto oressentimento: hoje esta planta floresce do modo mais esplêndido entre os anarquistas e antissemitas, aliás onde sempre floresceu, na sombra, como avioleta, embora com outro cheiro.[34]

Independentemente das apropriações ideológicas ocorridas ao longo da história, a obra de Nietzsche sobrevive e continua a ser objeto de intenso estudo. Em diversos momentos, o filósofo tentou estabelecer diálogos entre seus contemporâneos – por meio de encontros de leitura e discussão – embora, em geral, sua produção intelectual tenha seguido um caminho solitário, marcado por intensas reflexões pessoais.[41]

Estilo de escrita

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Nietzsche fotografado por Hans Olde no verão de 1899

O estilo de escrita de Friedrich Nietzsche é marcado por uma abordagem aforística, poética e provocativa, diferenciando-o de muitos filósofos de sua época. Ao invés de textos sistemáticos e rigorosamente estruturados, Nietzsche optou por um formato fragmentado, utilizandoaforismos,parábolas emetáforas para expressar suas ideias.[46]:34–38

Essa escolha estilística reflete sua concepção de que a verdade não pode ser capturada em sistemas fechados e dogmáticos, mas deve ser explorada de forma dinâmica e multifacetada. Obras comoAssim Falou Zaratustra eA Gaia Ciência exemplificam seu uso da linguagem metafórica e poética, evocando imagens poderosas e explorando um tom profético e visionário.[35]:176–180

Além disso, Nietzsche recorre frequentemente ao uso daironia e da crítica mordaz, adotando um tom combativo e polêmico. Em obras comoPara Além do Bem e do Mal eGenealogia da Moral, ele utiliza a crítica moral como uma forma de desconstruir osvalores ocidentais e expor suas contradições internas.[35]:89–92

A combinação de um estilo aforístico, poético e crítico contribui para a ambiguidade interpretativa de sua obra, tornando-a suscetível a múltiplas leituras e apropriações, desde afilosofia existencialista até opós-estruturalismo.[44]:23–25

Referências nietzschianas

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Contudo, no próprio legado do filósofo, é possível inferir suas posições críticas em relação a diversas correntes filosóficas eideológicas. Ressalta-se que Nietzsche perdeu o pai precocemente,[21]:22–24 fato que possivelmente influenciou seu desenvolvimento pessoal e intelectual. Seus primeiros trabalhos, publicados até 1878 – os quais não expunham as ideias mais ácidas que posteriormente caracterizariam sua obra – fizeram pouco ou nenhum sucesso.[50] Além disso, o filósofo manifestou profundo desapontamento com o sucesso deRichard Wagner, em virtude da aproximação deste com ocristianismo.[51] A existência de Nietzsche foi marcada por uma vida errante, com escassas relações interpessoais e por recorrentes crises de saúde.[52]

No entanto, Nietzsche demonstrava notório apreço pelanatureza, pelospré-socráticos e pelasculturas helênicas.[53] Nas obras de Nietzsche constata-se uma crítica severa a figuras e correntes comoImmanuel Kant, Richard Wagner,Sócrates,Platão,Aristóteles,Xenofonte eMartinho Lutero, bem como a conceitos e instituições como ametafísica, outilitarismo, oantissemitismo, osocialismo, oanarquismo, ofatalismo, ateologia, ocristianismo, a concepção deDeus, opessimismo, oestoicismo, oiluminismo e ademocracia.[54] Entre os poucos elogios que Nietzsche reservou, mesmo que frequentemente acompanhados de ressalvas, destacam-se referências aArthur Schopenhauer,Baruch Espinoza,Fiódor Dostoiévski,William Shakespeare,Dante Alighieri,Napoleão Bonaparte,Johann Wolfgang von Goethe,Charles Darwin,Gottfried Leibniz,Blaise Pascal,Lord Byron,Alfred de Musset,Giacomo Leopardi,Heinrich von Kleist,Nikolai Gogol,Voltaire,Friedrich Schiller e, curiosamente, ao próprio Richard Wagner – com quem manteve, por certo período, uma relação de amizade e confiança.[55][56][57]

Obras

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Ver artigo principal:Lista das obras de Friedrich Nietzsche
ONietzsche-Archiv emWeimar,Alemanha, que guarda muitos de seus manuscritos

Obras de Friedrich Nietzsche, na ordem em que foram compostas:

  • O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música (Die Geburt der Tragödie aus dem Geiste der Musik, 1872); reeditado em 1886 com o títuloO Nascimento da Tragédia, ou Helenismo e Pessimismo (Die Geburt der Tragödie, Oder: Griechentum und Pessimismus) e com um prefácio autocrítico. — Contra a concepção dos séculosXVIII eXIX, que tomavam a cultura grega comoepítome da simplicidade, da calma e da serenaracionalidade, Nietzsche, então influenciado peloromantismo, interpreta a cultura clássica grega como um embate de impulsos contrários: odionisíaco, ligado à exacerbação dos sentidos, à embriaguezextática emística e à supremacia amoral dosinstintos, cuja figura éDionísio, deus dovinho, dadança e damúsica, e oapolíneo, face ligada à perfeição, à medida dasformas e dasações, à palavra e ao pensamento humanos (logos), representada pelo deusApolo. Segundo Nietzsche, a vitalidade da cultura e do homem grego, atestadas pelo surgimento datragédia, deveu-se ao desenvolvimento de ambas as forças, e o adoecimento da mesma sobreveio ao advento dohomem racional, cuja marca é a figura deSócrates, que pôs fim à afirmação dohomem trágico e desencaminhou acultura ocidental, que acabou vítima do cristianismo durante séculos.
  • A Filosofia na Idade Trágica dos Gregos (Philosophie im tragischen Zeitalter der Griechen - provavelmente os textos que o compõem remontam a 1873 - publicado postumamente). Trata-se de um livro deixado incompleto, mas que se sabe ter sido intenção de Nietzsche publicar. Trata-se, no fundo, de um escrito ainda filológico mas já de matriz filosófica disfarçada por uma pretensa intenção histórica; mas o grande diferencial desta obra, sua inovação, consiste em sua interpretação psicológica dos pensadores originários. Considera os casos gregos deTales,Anaximandro,Heráclito,Parménides eAnaxágoras sob uma perspectiva inovadora e interpretativa, relevadora da filosofia que é de Nietzsche.
  • Sobre a Verdade e Mentiras em um Sentido Não-Moral[58] (Über Wahrheit und Lüge im außermoralischen Sinn, 1873 - publicado postumamente; edição brasileira, 2008). — Ensaio no qual afirma que aquilo que consideramosverdade é mera "armadura demetáforas,metonímias eantropomorfismos". Apesar de póstumo é considerado por estudiosos como elemento-chave de seu pensamento.
  • Considerações Extemporâneas ouConsiderações Intempestivas (Unzeitgemässe Betrachtungen, 1873 a 1876). — Série de quatro artigos (dos treze planejados) que criticam a cultura europeia e alemã da época de um ponto de vista antimoderno, e anti-histórico, de crítica àmodernidade.
  • Humano, Demasiado Humano, um Livro para Espíritos Livres (Menschliches, Allzumenschliches, Ein Buch für freie Geister, versão final publicada em 1886); primeira parte originalmente publicada em 1878, complementada comOpiniões e Máximas (Vermischte Meinungen und Sprüche, 1879) e comO Andarilho e sua Sombra ouO Viajante e sua Sombra (Der Wanderer und sein Schatten, 1880). — Primeiro de estilo aforismático do autor.
  • Aurora, Reflexões sobre Preconceitos Morais (Morgenröte. Gedanken über die moralischen Vorurteile, 1881). — A compreensãohedonística das razões da ação humana e da moral são aqui substituídas, pela primeira vez, pela ideia depoder,sensação de poder, início das reflexões sobre avontade de poder, que só seriam explicitadas emAssim Falou Zaratustra.
  • A Gaia Ciência, traduzida também comAlegre Sabedoria, ouCiência Gaiata (Die fröhliche Wissenschaft, 1882). — No terceiro capítulo deste livro é lançada o famoso diagnóstico nietzschiano: "Deus está morto. Deus continua morto.E fomos nós que o matamos", proferido peloHomem Louco em meio aos mercadores ímpios (§125). No penúltimo parágrafo surge a ideia de eterno retorno. E no último, apareceZaratustra, o criador da moral corporificada doBem e doMal que, como personagem na obra posterior, finalmente superará sua própria criação e anunciará o advento de um novo homem, umAlém-Homem.
  • Assim Falou Zaratustra, um Livro para Todos e para Ninguém (Also Sprach Zarathustra, Ein Buch für Alle und Keinen, 1883-85). Nessa trama centrada na figura do sábio solitárioZaratustra, o conceito dosuper-Homem surge necessário quando o homem já não mais se identifica com os seus semelhantes, com os demais homens. A necessidade da superação, reafirmando os valores imutáveis da natureza (como a força vital, o amor e o devir) tornam-se indispensáveis para que não se perca a própria identidade em meio ao caos do mundo, mesmo que isso não seja aceito ou bem interpretado pela sociedade.
  • Além do Bem e do Mal, Prelúdio a uma Filosofia do Futuro (Jenseits von Gut und Böse. Vorspiel einer Philosophie der Zukunft, 1886). Neste livro denso são expostos os conceitos devontade de poder, a natureza da realidade considerada de dentro dela mesma, sem apelar a ilusórias instânciastranscendentes,perspectivismo e outras noções importantes do pensador. Critica demolidoramente as filosofias metafísicas em todas as suas formas, e fala da criação de valores como prerrogativa nobre que deve ser posta em prática por uma nova espécie de filósofos.
Placa com uma dedicatória para Nietzsche na casa em que ele residiu na cidade deTurim
  • Genealogia da Moral, uma Polêmica (Zur Genealogie der Moral, Eine Streitschrift, 1887). Complementar ao anterior — como que sua parte prática, aplicada — este livro desvenda o surgimento e o real significado de nossos corriqueirosjuízos de valor.
  • O Crepúsculo dos Ídolos, ou como Filosofar com o Martelo (Götzen-Dämmerung, oder Wie man mit dem Hammer philosophiert, agosto-setembro 1888). Obra onde dilacera as crenças, osídolos (ideais ou autores docânone filosófico), e analisa toda a gênese daculpa no ser humano.
  • O Caso Wagner, um Problema para Músicos (Der Fall Wagner, Ein Musikanten-Problem, maio-agosto 1888).
  • O Anticristo - Praga contra o Cristianismo (Der Antichrist. Fluch auf das Christentum, setembro 1888) - Apesar de apontarCristo, mesmo em sua concepção "própria", como sintoma de uma decadência análoga à que possibilitou o surgimento do Budismo, nesta obra Nietzsche dirige suas críticas mais agudas aPaulo de Tarso, o codificador do cristianismo e fundador daIgreja. Acusa-o de deturpar o ensinamento de seu mestre — pregador da salvação no agora deste mundo, realizada nele mesmo e não em promessas de um Além — forjando o mundo de Deus como acima e além deste mundo. "O único cristão morreu na cruz", como diz no livro que seria o início de uma obra maior a que deu sucessivamente os títulos deVontade de Poder eTransmutação de Todos os Valores: uma grande composição sinótica (verMagnum in parvo: Uma filosofia em compêndio)[59] da qual restam apenas meras peças (O Anticristo,Crepúsculo dos Ídolose oNietzsche contra Wagner) não menos brilhantes que a restante obra.
  • Ecce Homo, de como a gente se torna o que a gente é (Ecce Homo, Wie man wird, was man ist, outubro-novembro 1888) — Uma autobi(bli)ografia, onde Nietzsche, ciente de sua importância e acometido por delírios de grandeza, acha necessário, antes de expor ao mundo a sua obra definitiva (jamais concluída), dizer quem ele é, por que escreve o que escreve e por que "é um destino". Comenta as suas obras então publicadas. Oferece uma consideração sobre o significado deZaratustra. E por fim, dizendo saber o que o espera, anuncia oapocalipse: "Conheço minha sina. Um dia, meu nome será ligado à lembrança de algo tremendo — de uma crise como jamais houve sobre aTerra, da mais profunda colisão de consciências, de uma decisão conjurada contra tudo o que até então foi acreditado, santificado, requerido. (… ) Tenho um medo pavoroso de que um dia me declarem santo: perceberão que público este livro antes, ele deve evitar que se cometam abusos comigo. (… ) Pois quando a verdade sair em luta contra a mentira de milênios, teremos comoções, um espasmo de terremoto, um deslocamento de montes e vales como jamais foi sonhado. A noção de política estará então completamente dissolvida em uma guerra de espíritos, todas as formações de poder da velha sociedade terão explodido pelos ares — todas se baseiam inteiramente na mentira: haverá guerras como ainda não houve sobre a Terra."[60]
  • Nietzsche contra Wagner (Nietzsche contraWagner, Aktenstücke eines Psychologen, dezembro 1888).

Manuscritos publicados postumamente

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Nietzsche escreveu uma coletânea de poemas, publicados postumamente sob o títuloDitirambos de Dionísio.

O filósofo deixou um vasto acervo de cadernos manuscritos e correspondências. Esses textos, em volume, superam suas obras publicadas. Os manuscritos da década de 1870 abordam, em grande parte, temas relacionados a umateoria do conhecimento. Já os escritos da década de 1880, produzidos antes de seu colapso mental, foram selecionados por sua irmã,Elisabeth Förster-Nietzsche, que organizou e publicou sob o títuloA Vontade de Poder. Esses textos exploram questõesontológicas, incluindo as doutrinas davontade de poder e doeterno retorno, como princípios interpretativos da realidade. Uma das afirmações recorrentes nesses fragmentos é que "não há fatos, apenas interpretações".[61]

A obraFragmentos Finais compila parte desses manuscritos reestruturados noNietzsche-Archiv, preservando a autenticidade dos escritos originais.[62]

Composições musicais

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Além de ser amplamente reconhecido por suas contribuições filosóficas, também se dedicou àpoesia e acomposição musical.[8] Sua formação na música foi fortemente marcada pela tradiçãoromântica alemã, o que o levou a desenvolver um interesse profundo pela arte musical desde a infância.[21]:22–24 Nietzsche recebeu uma educação musical formal, destacando-se tanto comopianista quanto comocompositor. Durante sua juventude, seu contato com renomados compositores, sobretudoRichard Wagner, exerceu forte influência sobre sua visãoestética. Contudo, divergências filosóficas e pessoais levaram a um posterior distanciamento de Wagner.[51] Apesar de sua produção musical ter ficado em segundo plano em comparação à sua obra filosófica, as composições de Nietzsche contribuem para uma melhor compreensão de seu pensamento estético e emocional. Elas demonstram como o filósofo via aarte como meio de expressão e reflexão sobre acondição humana.[55] Sua obraAssim Falou Zaratustra inspirou o poema sinfônico homônimo deRichard Strauss, que se tornou um ícone da cultura popular contemporânea.[63]

Legado

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Retrato de Nietzsche por Edvard Munch, 1906, naGaleria Thielska, Estocolmo

Friedrich Nietzsche exerceu um impacto profundo e duradouro nacultura ocidental, sobretudo nafilosofia,psicologia,literatura earte. Suas obras, marcadas por uma crítica incisiva àmoralidade cristã, àmetafísica e à noção de verdade objetiva, desafiaram as bases do pensamento ocidental tradicional e abriram caminho para novas correntes filosóficas. Na filosofia, Nietzsche é amplamente reconhecido como precursor doexistencialismo, dopós-estruturalismo e dafilosofia pós-moderna, influenciando pensadores comoJean-Paul Sartre,Martin Heidegger eMichel Foucault. Suas concepções sobre o "eterno retorno", a "vontade de poder" e a dicotomiaapolíneo-dionisíaca redefiniram a análise da condição humana e fomentaram debates sobre a criação de valores em um mundo desprovido de absolutos.[64]

Na psicologia, Nietzsche é frequentemente considerado um precursor dapsicanálise, apesar de nunca ter sido formalmente umpsicólogo. Sua exploração dos impulsos inconscientes e dos conflitos entre desejos e repressões antecipou conceitos centrais da teoria freudiana,Sigmund Freud reconheceu implicitamente a afinidade entre suas ideias e as de Nietzsche, e estudiosos contemporâneos continuam a explorar essa relação, enfatizando como ambos identificaram a luta entre pulsões instintuais e imposições culturais.[65] Napsicologia analítica, ele exerceu influência nos conceitos deinconsciente coletivo earquétipos,Carl Gustav Jung consideravaAssim Falou Zaratustra uma representação poderosa do confronto entre a consciência e o inconsciente, explorando as dimensões simbólicas presentes no texto.[66]

Literariamente, Nietzsche influenciou escritoresmodernistas eexpressionistas, cujas obras exploram oniilismo, a crise de identidade e a busca pelo sentido da existência. A prosa poética e aforística de Nietzsche inspirou autores comoRainer Maria Rilke,Hermann Hesse eAndré Gide. Sua linguagem metafórica e crítica social ecoam nas obras desses escritores, que frequentemente exploraram a tensão entre a liberdade individual e as imposições sociais.[67]

A obra de Friedrich Nietzsche exerceu um impacto significativo nasartes visuais, influenciando movimentos como oexpressionismo, osurrealismo e omodernismo. Seus conceitos sobre oniilismo, a crise da subjetividade e o confronto entre o apolíneo e o dionisíaco ressoaram nas obras de artistas comoEdvard Munch, cujo quadroO Grito é frequentemente associado ao desespero existencial descrito por Nietzsche.[68] No surrealismo, a exploração do inconsciente e a rejeição da moralidade tradicional ecoam as críticas nietzschianas às convenções sociais, refletindo-se em obras deSalvador Dalí eMax Ernst.[69] Além disso, a figura do Übermensch foi reinterpretada em performances e instalações artísticas no século XX, desafiando noções estabelecidas de identidade e poder.[46]:135–143

Seu legado permanece vivo nafilosofia contemporânea, napsicologia existencial, naliteratura pós-moderna e até nacultura popular, consolidando-se como um dos pensadores mais influentes e controversos do pensamento ocidental. Em 2025, aUNESCO reconheceu seu acervo de manuscritos comoPatrimônio da Humanidade, destacando sua contribuição intelectual e artística.[70]

Ver também

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Referências

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