OFogo Sagrado (emgrego:Ἃγιον Φῶς) - "Luz Sagrada") é descrito peloscristãos ortodoxos como ummilagre que ocorre todos os anos naIgreja do Santo Sepulcro emJerusalém, noGrande Sábado - ouSábado Santo, o dia que antecede aPáscoa naIgreja Ortodoxa. Este evento é considerado por muitos escritores como o mais antigo milagre anual atestado no mundo cristão. Ele tem sido consecutivamente documentado desde 1106, com referências esporádicas antes disso[1][2]. A cerimônia é transmitida ao vivo para aGeórgia,Grécia,Ucrânia,Rússia,Romênia,Bielorrússia,Bulgária,Chipre,Líbano e para outros países de tradição ortodoxa, como oEgito. Além disso, o Fogo Sagrado também é levado diretamente para vários desses países anualmente por meio de voos especiais e é recebido com honras pelos governantes.
No dia apropriado, ao meio dia, opatriarca grego ortodoxo inicia umaprocissão solene e grandiosa, juntamente com os membros doclero, cantando hinos. O grupo marcha três vezes em volta do Santo Sepulcro. Uma vez terminada, o patriarca ou outroarcebispo ortodoxo recita uma oração específica, remove suas roupas litúrgicas e entra sozinho no sepulcro. Antes de entrar notúmulo de Jesus, o patriarca é examinado por autoridadesisraelensesjudaicas para provar que ele não carrega consigo nenhum meio artificial para acender o fogo. Esta investigação costumava ser executada por soldadosturcos otomanos. Os arcebispos daIgreja Apostólica Armênia permanecem na ante-câmara, onde oanjo do Senhor estava sentado quando ele apareceu paraMaria Madalena após aressurreição de Jesus[3]. A congregação em seguida canta oKyrie eleison ("Senhor tenha misericórdia") até que o Fogo Sagrado espontaneamente desça sobre as trinta e três velas brancas amarradas juntas pelo patriarca no período que ele permaneceu sozinho dentro do túmulo de Jesus. O patriarca então sai do túmulo e recita algumas orações antes de acender ou as 33 ou as 12 velas e as distribui para a congregação. O fogo é considerado pelos fiéis como sendo a chama do poder da ressurreição e também o dasarça ardente noMonte Sinai.
Peregrinos alegam que o Fogo Sagrado não queima o cabelo, face, roupas ou qualquer outra coisa durante os primeiros trinta e três minutos a partir de sua aparição[4].
O patriarcaDiodoro de Jerusalém descreveu o processo da descida do Fogo Sagrado da seguinte forma:
“ | Eu passei pela escuridão até a câmara interna e caí de joelhos. Lá, eu recitei algumas orações que chegaram nos foram passadas através dos séculos e, tendo-as dito, esperei. Algumas vezes, por alguns minutos, mas normalmente o milagre acontece imediatamente após eu ter recitado as orações. Do centro da pedra na qual Jesus esteve deitado uma luz indescritível aparece. Ela geralmente tem um tom azulado, mas a cor pode mudar e tomar diversas outros padrões. Ela não pode ser descrita em termos humanos. A luz sai da pedra como uma bruma que sobe de um lago, quase como se a pedra estivesse coberta por uma núvem úmida, mas de luz. Esta luz se comporta de maneira diferente a cada ano. Algumas vezes, ela cobre apenas a pedra, enquanto que em outras, ela ilumina o sepulcro todo, de forma que as pessoas que estão do lado de fora do túmulo e olham para dentro deles o virão cheio de luz. A luz não queima. Eu jamais queimei a minha barba nos 16 anos que eu fui patriarca em Jerusalém e recebi o Fogo Sagrado. A luz é de uma consistência diferente do fogo normal que queima numa lâmpada de óleo. A certo ponto, a luz sobe e forma uma coluna na qual o fogo é de uma natureza diferente, de tal forma que eu sou capaz de acender as minhas velas nele. Quando eu termino de receber a chama desta forma em minhas velas, eu saio e entrego o fogo primeiro para o patriarca armênio e depois para o copta. Depois, para todos os presentes na igreja[5] | ” |
O Fogo Sagrado foi mencionado pela primeira vez peloperegrino Bernardo, o Monge, em 870[6]. Uma descrição detalhada do fenômeno aparece no diário de viagem dohegúmeno russo Daniel, que esteve presente na cerimônia em 1106. Ele menciona uma incandescência azulada descendo dacúpula daedícula onde o patriarca esperava pelo Fogo Sagrado. Alguns alegam ter testemunhado essa incandescência nos tempos modernos.[7]
Por muitos séculos, o Fogo Sagrado não desceu apenas em algumas ocasiões específicas, geralmente quando sacerdotes não ortodoxos tentaram obtê-lo. De acordo com a tradição, em 1099, por exemplo, a falha doscruzados em obtê-lo provocou revoltas pelas ruas de Jerusalém[carece de fontes?]. Alega-se também que, em 1579, o patriarca armênioHovhannes I de Constantinopla rezou dia e noite para obter o Fogo Sagrado, mas um raio atingiu milagrosamente uma coluna perto da entrada e acendeu a vela do patriarca grego ortodoxo de JerusalémSofrônio IV, que estava por ali[8]. Até hoje, ao entrar no templo, os cristãos ortodoxos abraçam esta coluna que contém as marcas - e uma grande rachadura - que eles atribuem ao raio.
Em 1969-1970, opatriarca grego ortodoxo de Jerusalém Benedito introduziu umcalendário juliano revisado a pedido doConcílio Mundial das Igrejas, baseado emGenebra, que mudou o cômputo da data deste evento. No mesmo ano, o Fogo Sagrado não apareceu no Santo Sepulcro. A cronologia esclesiástica original foi imediatamente restaurada e Fogo Sagrado voltou a aparecer no anos seguinte e desde então[9][10].
Em 3 de maio de 1834, a igreja estava tão lotada que um pânico provocou a morte de quatrocentas pessoas, sendo que o governadorIbrahim Paxá só sobreviveu porque os seus guardas cortaram o caminho com espadas, como reportado porRobert Curzon.[11]
Em 26 de abril de 1856,James Finn assistiu peregrinos gregos lutando contra os armênios com pedras e paus escondidos previamente. Opaxá teve que ser carregado para fora antes que seus soldados atacassem com asbaionetas em posição de ataque.[12]
O viajanteotomanoEvliya Celebi alegou que um jarro dezinco comnafta foi descido através de uma corrente por um monge escondido.[13]
Edward Gibbon de formamordaz sobre o evento no último volume de suaHistória do Declínio e Queda do Império Romano:
“ | Esta fraude piedosa, elaborada pela primeira vez no século IX, foi devotamente celebrada pelos cruzados latinos e é anualmente repetida pelos clero das seitas grega, armênia e copta, que a impõem sobre os crédulos espetadores em benefício próprio e dos seus tiranos[14] | ” |
Alguns gregos criticaram o Fogo Sagrado, comoAdamantios Korais, que condenou o que ele considera como uma fraude religiosa em seu tratado"On the Holy Light of Jerusalem" ("Sobre a Luz de Jerusalém"). Ele se referiu ao evento como uma"maquinação de padres fraudulentos" e à"profana" luz de Jerusalém como o"milagre dos aproveitadores".
Em 2005, numa demonstração ao vivo na televisão grega, Michael Kalopoulos, autor e historiador, mergulhou três velas emfósforo branco. As velas espontaneamente se acenderam após aproximadamente 20 minutos por conta das propriedades do material em contato com o ar. De acordo com o site de Kalopoulos:
“ | Se o fósforo for dissolvido num solvente orgânico apropriado, a autoignição é atrasada até o ponto que o solvente tenha se evaporado completamente. Repetidos experimentos mostraram que a ignição pode ser atrasada por meia-hora ou mais, dependendo da densidade da solução e do solvente empregado. | ” |
Kalopoulos também nota que as reações químicas desta natureza já eram bem conhecidas nos tempos antigos, citandoEstrabão, que relatou que"NaBabilônia, havia dois tipos denafta, a branca e a negra. A nafta branca é a que se acende em fogo"[15]. Ele afirma ainda que o fósforo teria sido utilizado pelos magoscaldeus no início do século V a.C. e pelos antigos gregos, da mesma forma que ele é utilizado hoje pelo patriarca de Jerusalém[16].
O cético russo Igor Dobrokhotov[17] analisou em profundidade as evidências em seuwebsite, incluindo as fontes antigas[18] e fotos e vídeos modernos[19]. Ele e outros críticos, incluindo o pesquisadorrusso ortodoxo Nikolay Uspensky[20], Dr. Aleksandr Musin daSorbonne e algunsVelhos Crentes citam trechos dos diários do bispo Porphyrius (Uspensky) (1804–1885)[21] que afirma que o clero de Jerusalém sabia que o Fogo Sagrado seria fraudulento.
Porphyrius era umarquimandrita russo ortodoxo que foi enviado numa missão oficial de pesquisa a Jerusalém e a outros lugares (Egito,Monte Atos). Enquanto ele esteve em Jerusalém, ele esteve com a missão russa local e, após retornar aoImpério Russo, ele foi consagrado bispo dadiocese de Kiev.